Ser submisso é sujeitar-se forçadamente ou voluntariamente. A condição da mulher em décadas passadas era de submissa aos homens “[…] que viva sob uma estreita vigilância, veja o menor numero de coisas possível, ouça o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível” (XENOFONTE apud ALVES E PITANGUY, 1985, p.12). Tal submissão não era por escolha, mas literalmente imposta pela sociedade e pela igreja católica.
Nessa época a influência da igreja sobre a sociedade era bastante intensa, determinando a superioridade masculina, com base na bíblia. “Era função da Igreja “castrar” a sexualidade feminina, usando como contraponto a ideia do homem superior a qual cabia o exercício da autoridade. Todas as mulheres carregavam o peso do pecado original e, desta forma, deveriam ser vigiadas de perto e por toda a vida.” (CORRÊA DA SILVA et al, 2005).
As famílias eram formadas não por escolha dos cônjuges, mas por acordos benéficos aos pais da moça e do rapaz. Dentro desse contexto a mulher era apenas uma peça a ser negociada para fechar o acordo, ela precisaria cumprir com os afazeres do lar sendo uma boa esposa. Era também papel da mulher na antiguidade manter uma boa imagem da sua família e esposo.
Essa condição em que as mulheres se encontravam dava-se também á acomodação delas mesmas, pois aprendiam com as gerações anteriores que seu papel no futuro era de ser uma boa esposa. Ao mesmo tempo em que as mulheres aceitavam a condição imposta á elas, os homens se aproveitavam do poder que tinham em mãos.
Entretanto, as mulheres que não se conformavam foram as que marcaram a história, uma delas foi Joana D’arc, guerreira francesa que comandou um exercito com cerca de sete mil homens. Contudo em consequência desse inconformismo, muitas mulheres que viveram nessa época foram brutalmente punidas e mortas, acusadas de bruxaria.
Inicio das transformações do cenário feminino
A partir do século XIX inicia-se a discussão de gêneros na construção social e identitária dos papéis masculinos e femininos. A mulher começou a ter suas primeiras conquistas, como a inserção no mercado de trabalho, mas exercendo funções inferiores. Frente a isso veio o feminismo, onde as mulheres aliadas ao movimento operário buscavam de melhorias trabalhistas. Na metade desse mesmo século a mulher teve acesso as primeiras instituições destinadas a educá-las, mas ainda uma educação primaria. Educação forjada em conteúdos morais e quanto a sua postura social, como mãe e esposa. Só então a partir do século XX a mulher teve então acesso ao ensino secundário e ensino superior. Na formação de sua identidade após anos de luta a mulher conseguiu o direito de votar, e também de ser eleita.
A busca pela liberdade sexual e direitos reprodutivos ganhou forças na década de 1960 quando surgiu o primeiro anticoncepcional oral. “A revolução sexual e a emancipação feminina tiveram papel fundamental nas mudanças que ocorreram no casamento, no amor e na sexualidade.” (ARAÚJO, 2002). Ao contrario da antiguidade onde o casamento era por benefícios a partir do século XVIII ele passa a incluir como centro o amor romântico.
O modelo de casamento atualmente dá-se pela relação igualitária entre os parceiros, a valorização do companheirismo, da amizade, e a mulher não tem como dever procriar. A sexualidade que até então era reprimida e abominada pela igreja foi aos poucos substituída pelo direito de amar e de explorar sua própria sexualidade dando lugar ao prazer. Atualmente as mulheres se despertam mais cedo para a atividade sexual ao contrario de antigamente onde era um pré-requisito, que as jovens se casassem cedo e virgens. Em grande parte a sexualidade adquiriu papel bastante influente nesse despertar, levando em consideração as necessidades da mulher e não só do homem.
Considerações sobre mudanças, ideias e reais
Ao fazer um comparativo entre o antes e o agora, percebe-se que a igualdade conquistada não se concretiza por inteiro. De fato as mulheres conseguiram o direito á muitas ações que não tinham antes, porém elas não se desfizeram literalmente das suas práticas antigas. O dever feminino ainda engloba lavar, passar, cozinhar, limpar e cuidar dos filhos. O que difere é o seu direito de também poder trabalhar fora de casa. Denomina-se aqui a mulher multifuncional.
Pensar em igualdade de gêneros é acreditar que homens e mulheres possuem os mesmos direitos e deveres, mas, contudo os direitos iguais não chegaram até o homem. Para o gênero masculino já é suficiente se ele for o provedor do lar, propiciando a alimentação e todos os custos necessários, dessa forma não se sente obrigado a ajudar nos afazeres domésticos. Observa-se que a figura masculina foi mal acostumada pela cultura dominante, que pregava a opressão ao “sexo frágil”.
Uma das conquistas mais influentes do sexo feminino foi à inserção no mercado de trabalho. Hoje em dia os cargos que eram especificamente para os homens, estão sendo ocupados pelas mulheres também. Porém, é importante destacar que apesar dessa uniformidade em relação ao trabalho, os salários ainda são menores para o lado feminino. Isso não se dá por falta de qualificação por parte das mulheres, já que as mesmas têm se profissionalizado de maneira intensa e responsável. Pode-se dizer que a causa, é a não aceitação integral pela economia capitalista, em relação ao contingente feminino profissionalizado.
Apesar de essa revolução cultural em relação a transformação do papel da mulher-esposa ser bem conhecida hoje, a mídia publicitária ainda tem como base, na maior parte do tempo, a “mulher dona de casa”. As propagandas televisivas, impressas, auditivas, representativas, educativas entre outras, apresentam a mulher exercendo os afazeres primários a sua condição inicial. Sabe-se que essas propagandas alcançam praticamente a todos os públicos, e o que traz consequência e preocupação é o alcance delas a população infantil.
Na maioria das vezes, o sistema educacional e a instituição familiar não têm ensinado as novas gerações sobre a igualdade de gênero de uma forma transformadora. O que predomina até os dias de hoje é a tradicional divisão das práticas pertencentes a cada grupo sexual. De início é necessário, que a sociedade comece a educar as crianças, ensinando-as a construir um novo cenário menos opressor e preconceituoso, abrindo espaço para uma verdadeira justiça social.
Ao fazer uma sintetização de todo os conteúdos aqui apresentados têm- se um rico acervo de informações que propiciam uma curiosidade a respeito da instituição familiar moderna. Na atualidade os casamentos não têm adquirido tanta importância como em épocas passadas. As pessoas estão construindo suas vidas em função de realizações extremamente individuais. Realizações essas que na maioria das vezes não incluem o matrimônio.
Seria uma observação presunçosa, dizer que foram os indivíduos independentemente que escolheram essa nova forma de se relacionar. Sabe-se que a sociedade contemporânea, com sua nova reorganização econômica e com as mudanças sobre as necessidades mais abrangentes, contribuiu e muito para esse processo evolutivo acontecer.
REFERÊNCIAS:
Araújo, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Brasília, vol 22, n 2, Junho. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141498932002000200009&script=sci_arttext>
Araújo, Maria de Fátima. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/pc/v17n2/v17n2a04.pdf>
Corrêa da Silva et al, Glauce. A mulher e sua posição na sociedade: da antiguidade aos dias atuais. Rio de Janeiro, vol 8, n 2, dezembro, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582005000200006>
Santos, Ramaiane. O antes, o depois e as principais conquistas femininas. V 5, n 1, 2011. Disponível em:< http://www.revistas.usp.br/anagrama/article/view/35598>
Vieira, Josênia. A identidade da mulher na modernidade. São Paulo, vol 21, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502005000300012&script=sci_arttext>