Produtos da Civilização: Um Neonazista Opressor analisado pelo Judeu Oprimido?

Fazendo uso dos conhecimentos possibilitados por Freud, em “O Mal-Estar na Civilização”, como a impossibilidade de se amar incondicionalmente o próximo e a produção de sofrimento causada pelo processo civilizatório para que possamos viver em harmonia, realizei um trabalho cuja proposta foi analisar a dinâmica social colocada sob os dois personagens principais do longa-metragem “Um Skinhead no Divã” e possibilitar um olhar mais critico acerca daquilo que chamamos de “civilização”.

“Um Skinhead no Divã” é uma produção Sueca de 1993, quinto filme da Diretora Suzane Osten, que apresenta dois indivíduos, frutos de uma mesma civilização, porém, antagônicos. De um lado encontramos Soren, um jovem Neonazista, um skinhead; e do outro Jacob, um psiquiatra judeu que se dispõe a ajudar o primeiro com as suas questões, rumo ao melhor entendimento de sua vida psíquica.

Tudo se inicia com o encontro desses dois personagens em um trem, local no qual o psiquiatra vem a cuidar de alguns ferimentos do neonazista e a convida-lo para ir a seu consultório. Esse filme diz muito da sociedade nazista e dos indivíduos os quais ela produziu, sejam os agressores ou os agredidos, trazendo um pouco acerca de um processo de (não) civilização que se fez presente e causou atrito entre dois grandes grupos culturais.

Existe ódio na relação que foi estabelecida, como não o poderia? Um se torna igual a um violento grupo que odeia os supostos diferentes e o outro é o “diferente”. Toda essa trama de ódio pode ser problematizada a partir da Obra de Sigmund Freud, “O Mal-Estar na Civilização”, a qual nos fornece ferramentas para compreender melhor de onde surge tanto ódio e por que ele é descarregado de forma tão hostil e até mesmo elucidar por que o outro, diferente de mim, merece meu ódio e não o meu amor.

Pode-se inferir, segundo Freud, que a civilização tenta frear a grande descarga de ódio direcionada no outro, isso para que seja possível estabelecer alguma ordem entre os humanos, para que seja possível as pessoas se unirem e viverem juntas, dentro de uma organização social estável. Mas esse ódio não desaparece, ele precisa ser direcionado para algo/alguém, a solução é desferir o ódio contra si mesmo, assim nasce a grande instância do Super-eu que vem a lhe vigiar e a lhe causar sensações de culpa, não apenas por infligir regras sociais, mas por meramente pensar em infringi-las.

Soren aparenta se sentir culpado por descarregar tanto ódio no meio externo, no outro, mas acaba por sofrer ao realizar o caminho inverso. O terapeuta vem para ajuda-lo a compreender a organização social a qual ele se insere e a mostrar que ele, e o seu grupo, não são tão diferentes quanto parece.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

UM SKINHEAD NO DIVÃ

Diretor: Suzanne Osten
Elenco: Etienne Glaser; Simon Norrthon; Anna-Yrsa Falenius e outros.
País: Suécia
Ano: 1993
Classificação: 16