No dia 03/05 foi realizado um debate sobre a concepção de Sennett sobre o caráter e sua relação com o trabalho. O evento foi conduzido por acadêmicos do curso de psicologia. Primeiramente foi apresentado o autor, que é sociólogo, historiador, e possui como obra mais conhecida “O declínio do homem público”. Antes de apresentarem a definição do autor sobre caráter, foram apresentadas definições sob outras óticas, como a geral, em que define como formação moral, honestidade, caracterização do próprio sujeito e da psicologia, para a qual é um conjunto de respostas coerentes que permite situá-lo em determinada categoria.
A definição geral faz parte também do senso comum, pois geralmente relacionamos caráter com honestidade e com o jeito de ser do sujeito, geralmente atribuímos juízo de valor ao caráter e relacionamos com a honestidade. Para Sennett caráter é “o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se preferirmos […] são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem” (1999, p. 10).
Sennett analisa a corrosão do caráter induzida pela instabilidade profissional sob o capitalismo flexível, a partir de relatos de trabalhadores. Afirma que essa forma de capitalismo flexível que ataca a burocracia, as conseqüências da rotina exacerbada e os sentidos e significados do trabalho e acaba criando uma situação de ansiedade nas pessoas, colocando em xeque o próprio senso de caráter pessoal. Ele explica que o caráter do sujeito é atingido á medida em que este tipo de capitalismo não oferece uma experiência estável, uma vez que aquele não sabe os riscos que está correndo e a que lugar irá chegar, as relações de trabalho, os laços com os outros não são em longo prazo.
Há uma dinâmica de incertezas e de mudanças constantes de emprego e de moradia que impossibilitam o estabelecimento de laços com vizinhos, fazer amigos e manter laços com a própria família. Ou seja, o capitalismo acarretou uma mudança nas relações de trabalho e interpessoais. Porém essa é uma configuração da sociedade atual, que vê a rotina e o controle como algo ruim e tenta vencê-la através da flexibilização. Sennett acredita que a mudança não acabou com o controle, apenas modificou a forma.
Como consequências dessas mudanças e incertezas na vida do sujeito, este pode adoecer, surgirem patologias, ele pode sentir-se desmotivado no trabalho, com sentimento de apatia e isso pode influenciar de maneira negativa em outras áreas de sua vida. Sennett acredita também que houve uma degradação do indivíduo, uma vez que a flexibilização do trabalho requer a flexibilização do caráter do sujeito. A visão de Sennett faz-nos refletir de forma crítica as relações de trabalho da atualidade e como estão entrelaçadas com o modelo de sociedade em que vivemos, além de identificar como os valores modificaram-se ao longo do tempo.
REFERÊNCIA:
SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.