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O sofrimento é uma condição sine qua non da existência humana. O bebê nasce chorando, talvez por já pressentir a dor permanente da existência. Não só a pobreza material faz sofrer. O sofrimento nos faz perceber em quê somos iguais, e está aí para lembrar-nos de nossa condição carnal, da deterioração da vida física.
Vivemos em uma época de pessoas sensíveis, onde se tenta a todo custo evitar o menor arranhão físico ou emocional. Com o avanço econômico e tecnológico dos últimos tempos avança também a tendência de querer tornar tudo mais cômodo. Isso embota os sentidos e deixa o espírito frouxo. Pais que passaram por dificuldades para “vencer na vida” buscam meios para que seus filhos não passem pelos mesmos desafios, e assim constroem uma redoma de vidro para eles. Mesmo que as ações sejam baseadas em boas intenções, elas impedem que os filhos aprendam com os próprios erros.
O sofrimento pode ser encarado como uma oportunidade. Uma porta que se abre para uma nova realidade. “Essas pessoas estão se esquecendo de que, muitas vezes, é justamente uma situação exterior extremamente difícil que dá à pessoa a oportunidade de crescer interiormente para além de si mesma”, alertava o psicólogo Viktor Frankl. Não há autoconhecimento sem sofrimento. E como seremos capazes de evoluir sem sabermos quem somos?
Em diversas culturas existem ritos de passagem que representam a transição de um estágio da vida para outro. Um jovem índio coloca a mão em uma luva cheia de formigas para demonstrar sua virilidade. De alguma maneira, tais rituais têm um simbolismo que dão sentido a quem os vive, e representa uma evolução em sua vida.
Na era do politicamente correto e do bullying, qualquer tipo de desconforto é abominado. O projeto de acabar com a pobreza e o sofrimento, além de utópico, é ingênuo e indesejado. Caso não houvesse dor e necessidade, o ser humano perderia sua característica mais nobre: a virtude da caridade.
A capacidade de enxergar no próximo seu semelhante e condoer-se com sua situação faz o homem transbordar o seu ser e abrir os olhos à miséria humana e o coração à caridade. “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor de teu irmão que é humilhado e pobre em sua terra”, é o conselho presente em Deuteronômio. De que seria feito o herói e o mártir senão da superação e do sacrifício? A marca dos santos são as provações pelas quais são submetidos.