Ana Carla Olímpio Soares (Acadêmica de psicologia) – anacarlaolimpio@rede.ulbra.br
O sistema educacional ao passo que se instaurou o período de pandemia devido ao COVID-19, passou por diversos conflitos, desafios e necessidade de adaptações que por vezes não eram suficientes para o enfrentamento da situação. Ao passo que o vírus se espelhava pelo país/mundo, foi necessário aderir estratégias como,
fechamento de escola, universidade e templo religiosos; proibição de realização de eventos das mais variadas espécies, proibição de viagens interestaduais e até intermunicipais na tentativa de evitar aglomerações e assim a doença fosse disseminada de forma mais rápida e sem controle (Carvalho et al. 2020, p. 3).
Diante dessas medidas tomadas pelos governantes, cada sujeito experienciou de uma maneira diferente, enquanto para alguns não gerou muito impacto no modo de viver, para outros os impactos foram mais críticos, mas de acordo com os estudos de Ornell; Schuch; Sordi; Kessler (2020) levantados por Carvalho et al. (2020), situações como essas podem gerar ou ampliar aos sujeitos envolvidos sintomas ansiosos, estressantes e acentuação em casos de depressão e que situações como essas e suas consequências, perpassam pelos indivíduos independentemente de sua classe social, idade ou sexo.
Com a necessidade de adaptações,
No período da pandemia, novas relações afetivas e profissionais foram criadas e ressignificadas, muitas pessoas passaram a trabalhar remotamente; famílias passaram a conviver cotidianamente com vários conflitos; pessoas ficaram afastadas de entes queridos para se proteger e proteger o outro; muitos continuaram nas suas atividades por serem essenciais, por não terem outra opção para se manter ou mesmo por não acreditarem que o vírus é real (Souza, 2020, p. 111).
Para além dessas mudanças, a pandemia também trouxe problemáticas e necessidade de adaptações no campo educacional, pois com a precisão dos estudantes permanecerem em suas casas, causou uma ruptura abrupta no modelo tradicional de ensino, aulas presenciais em sala de aula passando para um ensino digital, por meio de aulas online ou gravadas. Souza (2020) traz em seu estudo, dados importantes acerca dos indivíduos com acesso à internet e celular, esses dados foram retirados do IBGE de 2018 em que constava que por volta de 15 milhões de residências não possuíam acesso à internet, enquanto cerca de 79,1% tinham acesso à internet, sendo o aparelho celular o meio mais utilizado pelos indivíduos, mas que apesar disso, em algumas residências, era um único celular para todos os moradores.
Além dos dados levantados pelo IBGE, Souza (2020) evidencia o estudo do CETIC de 2019 em que constava que cerca de “11% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos não têm acesso a internet, correspondendo a 3 milhões de pessoas, sendo que 1,4 milhão nunca acessou a rede” (p. 111-112). Indo além do acesso à internet e posse de aparelhos celulares, a autora traz um ponto de grande importância, o local em que esses sujeitos residem são de grande importância, pois quanto mais confortável e possuir espaços adequados, melhor poderá ser o rendimento do estudante, enquanto sujeitos de baixa renda podem encontrar dificuldades de obter um bom desempenho nos estudos devido a falta de um ambiente amplo e adequado para estudar.
Referente às dificuldades durante a pandemia no contexto de ensino, Souza (2020) levantou pontos como por exemplo, dificuldades em manter o vínculo com os alunos mesmo distante, como ensinar por meio das tecnologias enquanto há alunos que não possuem acesso a mesma e principalmente, como superar o modelo tradicional da educação. Além dessas, a autora ainda complementa com preocupações em relação ao modelo em que a graduação preparou esses professores para darem aula diante do cenário sala de aula, quadro e alunos presentes e com a ocorrência da pandemia teve necessidade do ensino online, levando a sala de aula para a estrutura da residência dos professores e adiante disso, apresentavam impacto no momento de gravar ou dar as aulas.
Souza (2020) traz um adentro importante de se levar em consideração, onde ao passo que o ensino se tornou remoto, ele retira o aluno do lugar de sujeito ativo, deixando de lado as metodologias ativas que eram utilizadas no presencial, tornando assim, o que a autora traz como “educação instrucionista, conteudista” (p. 113), levando ao cansaço e dispersão dos alunos. Além disso, trouxe efeitos aos professores também, pois ao lidarem com o novo jeito de ensinar, pôde se observar o aumento de sintomas ansiosos e a sobrecarga profissional, pois além de professores se adaptando, também eram sujeitos com medo e dúvidas acerca do novo cenário que se instalava.
Senhoras (2020) traz que com a ocorrência da pandemia, foi perceptível também o crescimento no número de desistência de alunos e os problemas no processo de aprendizagem, podendo ser levado em conta que ao utilizar-se do ensino online, a figura de auxílio no ensino, se tornou os pais, em que dependendo da escolaridade e classe social deles, poderiam não saber o conteúdo e consequentemente, não conseguir acompanhar os filhos.
(…) surge a problematização da ausência do preparo de pais e responsáveis para assumirem o papel de tutores/mediadores. Ferreiro e Teberosky (1999, p.17), ao apoiarem-se na referência piagetiana quanto o processo de aquisição do conhecimento, propuseram interpretar a criança como “sujeito que produz seu próprio conhecimento”. Desta forma, faz-se necessário que lhes sejam apresentados meios de desenvolvimento. No entanto, para a grande maioria dos pais falta-lhes conhecimento pedagógico para propiciar e acompanhar este processo de aprendizagem (Queiroz et al. 2021, p. 6).
Senhoras (2020) complementa que, quanto melhor a condição financeira e maior for o grau de escolaridade, mais fácil é para que haja continuidade nos estudos independentemente se seja online ou presencial.
Fonte: https://encurtador.com.br/crxFU
Em seus estudos, os autores Queiroz et al. (2021) realizaram pesquisas direcionadas aos responsáveis de alunos que estudavam a primeira série do ensino fundamental, onde estavam em processo de aprender a ler. Diante das pesquisas, foi relatado pelos pais que as maiores dificuldades no processo de aprendizagem na pandemia se deram ao fato de não possuírem ou terem dificuldade em acessar à internet, a ausência de interações sociais que as crianças possuíam antes, levando-os a um baixo acompanhamento de maneira regular nos conteúdos que eram disponibilizados e como relatado tanto por Senhoras (2020) quanto por Queiroz et al. (2021), o despreparo dos responsáveis em prestar auxílio nas atividades.
No trabalho de Santos et al. (2021, p. 4) evidencia outros problemas ora enfrentados no processo do ensino online, como por exemplo, “a conexão instável e lenta à internet, excesso de trabalho e questionamentos acerca das melhores estratégias metodológicas para o ensino de Ciências e Biologia de maneira remota”, indo além desses, os autores trazem também dificuldades em decidir que recurso utilizar nas aulas, as maneiras de estabelecer a comunicação com os alunos, a idade dos alunos também se mostrou um fator importante e ao levar a sala de aula para dentro de casa, os professores tiveram um maior gasto financeiro para que pudessem dispor dos recursos necessários para prestar um bom ensinamento.
Dessa maneira, observa-se a “uberização” do trabalho realizado pelo professor na modalidade remota, pois como afirma Silva (2019) o trabalho na empresa Uber exige que o trabalhador seja responsável pela mercadoria que vai vender e pelo serviço que será prestado. Esse cenário reflete o aumento da carga horária de trabalho e a transferência de gastos e riscos para os docentes do país (Barbosa, Ferreira & Kato, 2020). A realidade torna-se ainda mais difícil para as mulheres docentes, pois sobre elas recaem maior carga de stress com os filhos e outros familiares na residência (Santos, 2020). Devido ao machismo ainda vigente, as tarefas domésticas não são divididas, e assim, as mulheres se desdobram para lidar com os afazeres de casa e as múltiplas atribuições do trabalho (Santos et al. 2021, p. 4).
Ao passo que a pandemia foi amenizando e com o surgimento das vacinas, as pessoas foram retornando às suas rotinas de trabalho, estudo e relações sociais. Com a volta para as escolas, foi possível perceber as dificuldades de socialização, estabelecer vínculos sociais/afetivos devido ao tempo em que passou em isolamento, dificuldade no processo de adaptação das atividades, por vezes até mesmo uma queda no ritmo de aprendizado e consequentemente, notas de trabalhos e provas, baixa concentração nas atividades, comportamentos hiperativos. Apesar disso, pode-se observar que a volta “ao normal”, os professores buscam mais ainda tornar os alunos sujeitos ativos e com autonomia para que consigam buscar o aprendizado, mas sempre promovendo meios e disponibilizando materiais e apoio quando buscado.
REFERÊNCIAS
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SANTOS, D. R. dos .; OLIVEIRA, K. F. .; SOARES, Z. C. B. . Challenges faced by teachers in the pandemic and post-pandemic scenario: teachers and the challenges encountered in time of a pandemic. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 15, p. e02101523083, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i15.23083. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/23083. Acesso em: 5 dec. 2023.
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SOUZA, E. P. de. Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas, [S. l.], v. 17, n. 30, p. p. 110-118, 2020. DOI: 10.22481/ccsa.v17i30.7127. Disponível em: <https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/7127> Acesso em: 4 dez. 2023.
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