Manejo da Ansiedade a partir da Análise do Comportamento

No Brasil, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), há mais de 18 milhões de pessoas que sofrem de ansiedade.

Joel Chaves – Psicólogo Clínico – E-mail: joel.sousa.chaves@gmail.com 

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É notável o grande número de casos de ansiedade que vem sendo acompanhados pelos psicólogos atualmente, o que evidencia a necessidade de dedicação em lidar da forma mais profissional e ética possível com tal demanda. Isso porque passamos por cenário inédito na história do mundo atual e também porque as pessoas frequentemente encaram a ansiedade, o medo e a incerteza, em suas vidas. É importante que os psicólogos se apresentem habilidosos, com conhecimento e responsabilidade o bastante para atender às demandas recorrentes da ansiedade (ALBUQUERQUE et al., 2022, p. 726).

            A Análise do Comportamento se apresenta como uma das abordagens científicas que contribuem na discussão e manejo da ansiedade, definindo-a como um fenômeno comportamental complexo onde variáveis que mantém o comportamento ansioso podem abranger a filogenia, ontogenia e cultura (VON BACKCHAT e LAURENTI, 2020, p. 15).

Pode-se afirmar, conforme Albuquerque et al. (2022, p.732), que “a ansiedade é um conjunto de respostas de interação com o meio”, onde tem-se um estímulo que anuncia a apresentação de um estímulo aversivo, abreviando a frequência do comportamento que produz, gerando junto ao estímulo pré-aversivo, estados corporais e cessação de comportamentos operantes vigentes (ALBUQUERQUE et al., 2022, p.727).

De modo geral, entende-se que no nível ontogenético, “o comportamento ansioso exibe interações de respostas reflexas e operantes, com topografias abertas e encobertas, que ocorrem com a função de evitar o contato com estímulos aversivos condicionados” (VON BACKCHAT e LAURENTI, 2020, p. 1).

                                                                                                                                         Fonte: Pixabay

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, as mulheres tendem a ser duas vezes mais ansiosas do que os homens, pois estão à mercê das oscilações hormonais.

 

É importante destacar que existe a ansiedade “normal” e a patológica, onde entende-se que a primeira é um estado emocional existente em todos os seres humanos (SANCHES; GOUVEIA-JUNIOR, 2011, P. 23) caracterizada a partir de eventos agradáveis que podem eliciar sentimento de ansiedade em contextos que demandam algum tipo de espera, e a segunda refere-se ao tipo de ansiedade que impede a execução de tarefas do cotidiano do indivíduo, ao envolver grau significativo de sofrimento e frequente emissão de respostas de fuga e esquiva (ZAMIGNANI; BANACO, 2005).

            Como formas de tratamento da ansiedade de acordo à Análise do Comportamento, Pezzato, Brandão e Oshiro (2012) sugerem a utilização de recursos que construam o processo terapêutico menos aversivo e mais reforçador, cooperando para uma relação reforçadora ente o cliente e o terapeuta.

            O psicólogo, ao se utilizar dos conhecimentos oriundos dos estudos analítico comportamentais, realiza análises funcionais dos comportamentos para verificar o que está gerando e mantendo tais comportamentos e qual a função destes para o indivíduo, ou seja, quais as contingências e os estímulos reforçadores ou punitivos estão afetando o cliente/paciente (ALBUQUERQUE et al., 2022).

A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) também entra como importante estratégia e instrumento de intervenção que pode propiciar maior adesão do cliente à terapia (PEZZATO; BRANDÃO e OSHIRO, 2012). A interação entre terapeuta e cliente é o foco dessa psicoterapia, onde o terapeuta responde contingentemente aos comportamentos manifestados em sessão pelo cliente, no “aqui e agora” (Tsai, Kohlenberg, Kanter, Kohlenberg, Follette & Callaghan, 2011).

Para a FAP, um indivíduo age de maneira semelhante fora e dentro da sessão, ou seja, seus comportamentos alvos são evocados durante a sessão, na relação terapeuta-cliente onde tais comportamentos, reconhecidos como CRBs (Comportamentos Clinicamente Relevantes), são divididos em “comportamentos problemas do cliente emitidos em sessão (CRB1), os comportamentos de melhora do cliente em sessão (CRB2) e os comportamentos de interpretação do cliente sobre seu comportamento (CRB3)” (LOVO, 2019, p. 34), tendo como objetivos principais o aumento da frequência de comportamentos de melhora do cliente (CRB2) e a diminuição da frequência daqueles comportamentos problema (CRB1) (LOVO, 2019).

            Pode-se utilizar também do Reforço Diferencial do comportamento verbal no manejo clínico da ansiedade, uma vez que refere-se à realização de questionamento reflexivo com o objetivo de elevar a frequência do comportamento verbal do cliente, lançando mão de perguntas abertas e selecionadas tendo como base o controle discriminativo do comportamento verbal que se caracteriza por instigar o cliente a ser bem sucedido nas suas ações discriminatórias, levando também à elaboração de auto regras (ALBUQUERQUE et al., 2022).

            Além dessas técnicas há o Treino de Habilidades de Solução de Problemas, que contribui para que o indivíduo identifique seus próprios problemas e consiga resolve-los ao invés de praticar a fuga-esquiva, como antes, melhorando assim sua resposta adaptativa para tais situações problema (ALBUQUERQUE et al., 2022). Existem também as técnicas de relaxamento e treino respiratório que auxiliam no equilíbrio das reações físicas da ansiedade e, uma vez praticados, podem reforçar positivamente o indivíduo o levando a realizar essas técnicas mais vezes para que consiga de fato um equilíbrio e consiga realizar suas atividades cotidianas com maior tranquilidade (ALBUQUERQUE et al., 2022).

            Por fim, destaca-se que a literatura analítico comportamental tem definido a ansiedade como um fenômeno comportamental complexo, onde as variáveis que mantém o comportamento ansioso podem abranger os três níveis de variação e seleção (filogenético, ontogenético e cultural), sendo necessários novos estudos principalmente no nível cultural para que novas técnicas e instrumentos possam ser construídos a fim de alcançar melhores resultados no tratamento da ansiedade (VON BACKSCHAT e LAURENTI, 2020).

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Amanda et al. A ANSIEDADE PARA A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 8, n. 6, p. 725-734, 2022.

LOVO, Aline Redressa Boni Rayis. Psicoterapia analítica funcional como tratamento de transtorno de ansiedade social. 2019. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

PEZZATO, F. A; BRANDÃO, A. S; OSHIRO, C. K. B. Intervenção baseada na psicoterapia analítica functional em um caso de transtorno de pânico com agorafobia. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 14, n. 1, p. 74-84, 2012.

SANCHEZ, C. N. M.; GOUVEIA JUNIOR, A. O teste da simulação do falar em público não gera ansiedade em adolescentes surdos ou ouvintes. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 13, n. 2, p. 21-32, 2011.

Tsai, M., Kohlenberg, R. J., Kanter, J. W., Kohlenberg, B., Follete, W. C., & Callaghan, G. M. (2011). Um guia para a Psicoterapia Analítico Funcional (FAP): consciência, coragem, amor e behaviorismo (F. Conte, & M. Z. Brandão, trads.). Santo André, SP: ESETEc (Obra publicada originalmente em 2009).

VON BACKSCHAT, Letícia De Paula; LAURENTI, Carolina. Um panorama da discussão sobre ansiedade nos periódicos nacionais de análise do comportamento. Revista Uningá, v. 35, p. eRUR3411-eRUR3411, 2020.

ZAMIGNANI, D. R; BANACO, R. A. Um panorama analítico-comportamental sobre os transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 7, n 1, p. 77-92, 2005.