Quando falamos em estilo pessoais e interpessoais, identificamos uma diversidade de formas de ser e de se relacionar com o outro, do engraçado ao mais reservado, do corajoso ao medroso, tagarela ou quietinho. Todas essas características são levadas e compartilhadas nas relações de amizades que estabelecemos ao longo da vida. Hartup (1996) mostra que o que há de comum entre os diferentes tipos de amigos é que boas amizades geram laços de confiança e que as aventuras e decepções, se tornam momentos de extrema importância ao longo da vida.
Amigo se refere à alguém ou um grupo de pessoas que compartilham suas experiências, felicidades, frustrações e que servem como rede de apoio para todos os momentos da vida. Com amigos, além de nos sentirmos bem, sentimos que podemos contar com alguém, que podemos ser nós mesmos e podemos ouvir não só o que queremos como resposta. Para Bowlby (1988) essa rede de apoio está associada ao fortalecimento de competência e gera um sentimento de pertencimento, além de possibilitar adotar estratégias eficazes em situação de crise ou desamparo. Para Bronfenbrenner (1979) a ausência dessa rede de apoio, pode aumentar a vulnerabilidade das pessoas frente a uma situação de risco.
Um bom amigo te coloca para frente, te apoiando e incentivando a encarar os medos e buscar os seus desejos. Para Hartup (1996), a ciência da amizade é compreendida como uma importante fonte de felicidade e bem-estar, que proporciona compartilhar experiências, interesses, sentimentos e emoções. A forma como enxergamos a amizade difere conforme as etapas da vida, e o texto trará algumas características de cada fase do desenvolvimento.
Hartup (1996) trás que ainda nos primeiros anos de vida, o uso da palavra amigo se inicia, e na infância essa relação é pautada por afeto, companheirismo, muita diversão e reciprocidade, e é com esses momentos que o indivíduo passa a estabelecer laços e habilidades sociais, aprende a lidar com conflitos e a desfrutar da troca social. Quando a criança possui amigos, ela consegue desenvolver diversas habilidades, como a capacidade de comunicação, e até mesmo o conflito com outras crianças são experiências que vão contribuir para um crescimento mais sólido para o futuro, favorecendo uma melhor postura ao encarar situações parecidas, fazendo da amizade na infância uma importante ferramenta para saúde emocional.
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Salisch (2001) aponta que estabelecer relações de amizade na infância representa um papel importante para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional. A amizade desempenha um papel fundamental ao impor desafios ao desenvolvimento emocional da criança, pois envolve experiências emocionais onde a criança aprende a administrar a raiva, o ciúmes, inveja, amor, confiança, as expectativas e o senso de competição. Rizzo e Corsaro (1995) completam que o apoio social, para as crianças, pode contribuir para a redução de estresse no enfrentamento de preocupações compartilhadas.
Rawlins (1992) disserta que na adolescência a amizade é uma dimensão da vida muito importante, junto à confiança e intimidade nas relações. É na transição da adolescência para a vida adulta que o jovem em sua relação de amizade atinge um ápice funcional desenvolvimental, ajudando o indivíduo em sua adaptação a novas tarefas da vida, como os desafios na universidade e na carreira profissional . Esse momento, principalmente da adolescência para a vida do adulto jovem, é um fase em que o indivíduo costuma estabelecer diversas conexões duradouras, e também momentos de desafios como as mudanças do corpo, das responsabilidades, das relações amorosas e decepções.
Para Rawlins (1992), ao entrar na vida universitária, geralmente na transição da adolescência para a vida adulta, o indivíduo necessita se reorganizar emocionalmente e construir essa rede de apoio social, e reorganizar a relação familiar o novo sistema criado na universidade e as amizades já preexistentes. Esse período geralmente é marcado por desafios e dúvidas sociais e intelectuais e uma grande expectativa quanto à vida após a universidade.
Rodriguez, Mira, Myers, Morris e Cardoza (2003) realizaram um estudo com 338 pessoas jovens adultas, com o propósito de avaliar o bem-estar na redução de estresse na relação com os familiares e com os amigos. A pesquisa apontou que ambos os apoios contribuem para o sentimento de bem-estar nas pessoas.
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Carbery e Buhrmester (1998) traz que, no decorrer da vida a quantidade de amigos diminui com a adultez e o envolvimento em romance estável, casamento, surgimento de filhos e dedicação ao trabalho. Com o avançar da idade, as responsabilidades continuam a aumentar e o encontro entre amigos costumam ser cada vez mais pontuais, e muitas vezes associado a um evento. Tendo em vista o quão importante é ter um ciclo de amizade, e o quanto isso pode trazer qualidade de vida para as pessoas.
Rodrigues (2010) Com a saída dos filhos de casa, e a chegada da velhice, cultivar amizades mostra ser também grande relevância, pois a partir disso o idoso pode compartilhar suas experiências, trocar confidências, relembrar momentos que passaram no decorrer de suas vidas, aconselhar e até mesmo se abrir para novos romances, evitando também a solidão e o sentimento de desamparo, aproveitando para desfrutar de mais momentos de lazer e de interação social. O autor completa que desenvolvimento e a manutenção de uma boa rede social de apoio com a inserção de novos amigos é uma das formas de amenizar o impacto das perdas e limitações naturais da velhice.
Referências
BOWLBY, J. (1988). Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes.1988.p.64
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados (Tradução VERONESE, M. A. V.) Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CARBERY, J., & BUHRMESTER, D. (1998). Friendship and need fulfillment during three phases of young adulthood. Journal of Social and Personal Relationships, 15(3), 393-409.
HARTUP (1989). Behavioral manifestations of children’s friendships. In T. Berndt & G. Ladd (Eds.), Peer relationships in child development (pp. 46-70). New York: Wiley.
RODRIGUEZ, N., Mira, C., Myers, H., Morris, J., & Cardoza, D. (2003). Family or friends: who plays a greater supportive role for Latino college students? Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, 9(3), 236-250.
SALISCH, M. von (2001). Desenvolvimento emocional infantil: desafios em sua relação com pais, colegas e amigos. Jornal Internacional de Comportamental Desenvolvimento, 25 (4), 310-319.
RIZZO, T.A. & Corsaro, W.A. (1995). Processos de apoio social na primeira infância amizade: Um estudo comparativo das congruências ecológicas no apoio encenado. americano Journal of Community Psychology, 23 (3), 389-417.
ROWLINS (1992). Friendship matters. New York: Aldine de Gruyter.
RODRIGUES, AG. (2010). Habilidades comunicativas e a rede social de apoio de idosos institucionalizados. [Tese]. São Paulo: Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2010.