The Midnight Gospel: uma reflexão sobre a morte e a busca pelo perdão

Compartilhe este conteúdo:

The Midnight Gospel, uma série animada criada por Duncan Trussell e Pendleton Ward, destacou-se por seu formato inovador e temáticas profundas. Lançada na Netflix em 2020, a série combina uma estética psicodélica com diálogos filosóficos e espirituais que busca trazer ao espectador, reflexões sobre questões existenciais. A animação nos convida a uma jornada introspectiva pelos confins do multiverso. No episódio 4, “Ordenando um Corvo”, o protagonista Clancy, em mais uma de suas aventuras intergalácticas, encontra-se em um mundo medieval ao lado da Milady Trudy. Juntos, embarcam em uma jornada de vingança que, aos poucos, se transforma em uma profunda reflexão sobre o perdão. Milady Trudy, é uma figura complexa que encarna muitos dos temas centrais explorados na série. Ela é retratada como uma mulher medieval que vive isolada, contudo tendo alguns companheiros a qual busca quando necessário. Dominada por sentimentos de raiva, ressentimento e desejo de vingança, seu personagem serve como um símbolo da luta interna que muitas pessoas enfrentam ao lidar com emoções dolorosas e traumas do passado.

A temática do perdão, central neste episódio, é explorada de forma poética, psicológica e filosófica, utilizando analogias e metáforas que nos convidam a questionar nossas próprias crenças e valores. A Milady Trudy, com sua carga de ressentimento e desejo de vingança, personifica a dificuldade que muitos de nós enfrentamos em perdoar aqueles que nos feriram. A metáfora das “barras”, utilizadas por Clancy para representar as memórias dolorosas do passado, é particularmente reveladora. Ao carregarmos essas barras, carregamos também o peso emocional das experiências negativas, o que pode nos impedir de seguir em frente. Segundo Maraldi (2017), o perdão envolve um processo psicológico multifacetado, que inclui a tomada de decisão consciente de perdoar, a elaboração emocional das ofensas e o cultivo de sentimentos de compaixão e empatia. Ele enfatiza que o perdão é fundamental para a promoção do bem-estar psicológico e a recuperação de relacionamentos saudáveis”.

Fonte: Netflix – The Midnight Gospel

A jornada de Milady Trudy e Clancy nos mostra que o perdão é um processo gradual e complexo. A busca por vingança, muitas vezes, é uma forma de tentar recuperar o controle sobre uma situação que percebemos como injusta. No entanto, ao nos apegarmos à raiva e ao ressentimento, é nosso próprio bem-estar que colocamos em risco.

Além disso, o episódio aborda a importância do mindfulness e da aceitação, que são conceitos centrais na Psicologia contemporânea. A prática de mindfulness, que envolve estar presente no momento e aceitar a realidade como ela é, pode ser vista na maneira como o personagem aceita sua morte inevitável. Mindfulness ou Atenção Plena é o termo ocidental para denominar a prática de meditação praticada no Zen Budismo. Jon Kabat Zinn idealizou o programa “Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (Mindfulness Based Stress Reduction – MBSR)”. O termo Mindfulness traduzido para o inglês é conhecido como “Atenção Plena” (GERMER, SIEGAL & FULTON, 2016). Contudo, a tradução não corresponde com a amplitude da prática Jon Kabat-Zin (2017, p.26), que inclui prestar atenção de maneira particular no propósito, no presente e o mais importante, sem haver julgamentos.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) explora a aceitação incondicional como uma maneira de lidar com o sofrimento, e essa filosofia está fortemente presente nas interações entre Clancy e Trudy que ele entrevista. Estudos empíricos sugerem que a aceitação é uma estratégia eficaz para lidar com o luto e a ansiedade relacionada à morte, o que reforça a relevância das ideias apresentadas no episódio. Socialmente estamos cada vez mais conectados, em contrapartida tendemos a nos desconectar de nós mesmos e dos nossos momentos (Kabat-Zinn 2017, p. 91).

A solidão, outro tema recorrente no episódio, está intimamente ligada à dificuldade de perdoar. A Milady Trudy, isolada em seu castelo, busca consolo na vingança, na tentativa de preencher o vazio interior causado pela perda de seu amado. A série nos mostra que a conexão com os outros é fundamental para nossa saúde mental e que o perdão pode ser um caminho para superar a solidão e encontrar um novo sentido para a vida. Essa solidão pode ser vista como um reflexo de uma sociedade individualista, onde as conexões humanas autênticas se tornam cada vez mais raras. A busca pela vingança, nesse contexto, pode ser interpretada como uma tentativa desesperada de se conectar com algo maior do que si mesma, a ausência de uma comunidade solidária e acolhedora dificulta a superação do trauma e a busca pelo perdão.

A estética visual de “Ordenando um Corvo” é um elemento fundamental para a construção do significado e da atmosfera do episódio. A animação psicodélica, as cores vibrantes e as formas orgânicas criam um universo onírico e surreal que reflete a complexidade dos temas abordados. A animação pode ser vista como uma representação visual do interior da mente de Milady Trudy. As cores vibrantes e as formas distorcidas refletem a turbulência emocional que ela experimenta.

Muitas das imagens utilizadas no episódio possuem um significado simbólico. Por exemplo, o corvo pode ser interpretado como um símbolo da morte ou da má sorte. A natureza é representada de forma exuberante e selvagem, contrastando com a artificialidade do castelo de Milady Trudy. Essa oposição pode ser interpretada como uma metáfora da luta entre a natureza humana e a civilização.

“Ordenando um Corvo”, nos convida a uma profunda reflexão sobre a natureza do perdão, e a importância de cultivar relacionamentos saudáveis. Ao explorar os conceitos de perdão, solidão e busca por sentido, o episódio nos mostra que a jornada de autoconhecimento é um processo contínuo. A série como um todo, nos presenteia com uma obra que transcende a ficção científica, oferecendo ferramentas para lidarmos com as complexidades da vida e encontrar paz interior.

Referências 

GERMER, Christopher K; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paulo R. Mindfulness e psicoterapia. Tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro; rev. Melanie Ogliari Pereira. -2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

KABAT-ZINN, J. Viver a catástrofe total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença; tradução de Márcia Epstein; prefácio de Thich Nhat Hann. – Ed. rev. e atual – São Paulo: Palas Athena, 2017.

MARALDI, Everton de Oliveira. Perdão e espiritualidade na psicologia: uma revisão de literatura e considerações para pesquisa no Brasil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 22, p. 119-130, 2017.

WARD, Pendleton; TRUSSELL, Duncan. The Midnight Gospel. Los Angeles: Netflix, 2020. Disponível em: https://www.netflix.com. Acesso em: 16 ago. 2024.

 

Compartilhe este conteúdo:

Sobre aceitação e não aceitação: relato de uma mulher que namora outra mulher

Compartilhe este conteúdo:

Eu não me recordo exatamente com que idade eu me percebi “diferente”. Sei apenas que aos 15 anos beijei uma menina pela primeira vez. Para mim foi tão normal, que não me questionei tentando descobrir se realmente era aquilo, se realmente fazia parte de mim. O que eu sei é que, mesmo rodeada de muitas pessoas convencionais e certos costumes que iam contra esse acontecimento, nunca achei errado. Meu pensamento, desde sempre, foi que devemos respeitar as pessoas como elas são. Ainda mais quando elas estão simplesmente amando.

Entretanto, esse primeiro contato foi apenas uma brincadeira, não foi algo que pesou para mim. Quatro anos após o primeiro beijo, conheci uma mulher que despertou em mim sentimentos e desejos. E foi nessa época que eu de fato compreendi que eu tinha a capacidade de desejar uma pessoa do mesmo sexo. De sentir atração. E a partir daí, no auge dos meus 19 anos, iniciei uma luta que começou primeiramente contra a minha própria pessoa e as sensações que transbordavam meu corpo… 

Eram tantas dúvidas que preenchiam a minha cabeça. Será se eu não estaria apenas confusa? Será se eu não estaria sendo influenciada por colegas? Será se Deus se orgulharia de mim? Será que minha família me aceitaria? Será que a sociedade me abraçaria? Será que eu seria capaz de bater de frente contra cada obstáculo? Será se eu mesma me aceitaria? Será que eu tinha maturidade pra entender, me rotular e lutar infinitas batalhas?

Fonte: Imagem retirada do site Pixabay.

Esse arsenal de questionamentos, misturados com a fase de precisar escolher qual faculdade eu teria que fazer e outras tantas mudanças na minha vida pessoal, abalou meu emocional de maneira extrema e cruel. Mergulhei em uma depressão que sugou, por aquele período, toda a minha essência. Eu, que costumava ser tão sonhadora, já não enxergava meus sonhos e um futuro. A problemática acerca da minha sexualidade foi engavetada, afinal, eu mal saia de casa mesmo. Não socializava. O mundo se resumia ao meu quarto. As pessoas geralmente funcionam durante o dia. O meu dia se tornou noite. E assim, por alguns anos, eu me escondi de diversos ambientes e situações e eventos. E evitava me enxergar também. Não somente nos reflexos de espelhos. Eu evitava não pensar, olhar para o meu eu interno e aos poucos passei a ser uma desconhecida para mim mesma. 

O estrago emocional interno foi tão grande que cogitei sumir e de fato tentei desaparecer. Eu sinto como se tivesse chegado ao fundo do poço e não tivesse mais saída. Deixei de conhecer novas pessoas, por receio de me entregar e me envolver em novos relacionamentos. Foi nessas escolhas de privação que cheguei ao meu extremo. Ou ficaria para sempre afundada naquele poço ou sairia em busca da luz, não existia meio-termo. Por essa razão, mesmo sem forças, arranquei todas as camadas e muralhas que havia construído. E hoje posso dizer que a maioria delas está no chão, já não existem.

Fonte: imagem retirada do site Freepik.

No meio do caos, encontrei a força para ser quem eu sou. Comecei a enfrentar batalhas e me aventurar em lutas para defender a minha essência, a minha orientação sexual, a minha liberdade em amar. Não é fácil lidar com olhares de desaprovação, falas maldosas e atitudes por vezes, veladas. Porém, é libertador. Depois de tantos anos na escuridão, em uma cárcere abstrata e atroz, finalmente, arranquei as amarras e me afoguei em um relacionamento que me traz paz, que me move e me faz esquecer tantos medos que antes cegavam. 

Hoje finalmente posso dizer que me aceitei. Minha esperança agora é poder afirmar que cada pessoa que eu amo, cada familiar, cada amigo, as pessoas em geral desse planeta, também me aceitam, mas não dá para vencer tudo de uma vez. Enquanto esse dia não chega, decido a cada novo dia viver a minha verdade, enfrentando os desafios que teimam em surgir.

Compartilhe este conteúdo:

Relato de experiência anônima: ser uma pessoa gorda

Compartilhe este conteúdo:

Desde que me lembro por gente, meu peso já era uma preocupação. Sempre era comentado pelas pessoas e coisa do tipo, mas se fosse pra chutar alguma idade [Em que se percebeu como uma pessoa gorda] eu diria que por volta dos 8 anos, que enfim, acredito que a gente vá criando mais consciência das coisas e acredito que por isso eu sempre tive receio de ir a médicos em geral, desde criança. Pelo fato de saber que seria a primeira coisa a ser comentada mesmo que a minha doença não tivesse nada a ver com isso.

Esse receio ainda existe, mesmo que hoje em dia eu já tenha perdido muito peso e não possa ser classificada exatamente como uma pessoa gorda, o meu peso ainda é a maior preocupação que eu lido todos os dias. Isso nunca mudou na minha cabeça, quando eu vou ao médico ainda é comentado sim sobre meu peso, não como algo direto logo de primeira igual era antes, mas sabe um “ah e seria bom perder um pouco de peso também…” dito no final da consulta.

Isso tudo afeta a vida nas relações completamente, sempre afetou qualquer tipo de relação e afeta a minha vida em sociedade em geral. Até hoje eu não consigo me sentir bem em público e quase nunca saio de casa, em dias ruins não tenho nem vontade de sair do quarto. Sinto que eu passei a vida toda me privando e tentando fazer o máximo para as pessoas não verem meu corpo, então se não era algo necessário tipo ir pra escola ou enfim se não fosse alguma obrigação eu preferia não sair de casa. E em relações amorosas, por exemplo, ou relações de se envolver com alguma outra pessoa, aconteceram só duas vezes na minha vida provavelmente pela minha aparência e por eu ter me fechado tanto pra tudo. Mas sempre foi e ainda é difícil eu me enxergar como uma pessoa desejada, uma pessoa que possa ser desejada de qualquer forma. Mesmo estando em um relacionamento a mais dois anos eu ainda tenho problema pra me sentir desejado.

Eu acredito que sim isso possa mudar, mas às vezes também acho que é ter esperança demais talvez porque muita coisa da sociedade em geral teria que mudar, então não sei o quanto eu acredito que possa acontecer no contexto de todo mundo se aceitar sabe. Porque uma pessoa gorda pode trabalhar muito no próprio psicológico dela e com o tempo ir se aceitando e não sofrendo por algumas coisas, mas o mundo inteiro o tempo todo te lembra de que você é uma pessoa gorda, e não de forma indiferente, mas sim daquele jeito insinuando que tenha que mudar isso. O que faz tudo ser muito difícil, querendo ou não vivemos em sociedade e acredito que seja tudo muito complexo porque envolve realmente muita coisa.

E qual a diferença de antes pra agora, se é que tem uma? Psicologicamente eu não sinto diferença porque enfim a maioria das minhas inseguranças tão fincadas muito fundo em mim eu acho. Mas certamente tem diferença, talvez em como as pessoas me olham já que corpos gordos chamam a atenção de algumas pessoas não muito legais e em me sentir menos chamativa em geral. Mas ainda não mata o desconforto que sinto em público.

E algo que sempre me incomodou em relação a isso tudo que já vivi é aquilo de ser muito fácil pra todo mundo dizer o que é mais socialmente visto como correto, no sentido de que eu sempre estive rodeado de pessoas magras e às vezes tentando conversar sobre as minhas inseguranças com uma pessoa magra, em questões de aparência, sempre vem aquele padrão de resposta e afago “ah que nada você é lindo que isso!!!! se a pessoa não quer você só por você ser gordo ela não vale a pena”.

Mas ao mesmo tempo essas mesmas pessoas nunca se envolveram em momento algum com uma pessoa gorda, então em geral nunca senti que eu era realmente enxergado de uma maneira normal, um homem possível de ser desejado, porque todas as pessoas a minha volta não sentiam desejo em pessoas exatamente iguais a mim ou parecidas.

 

Compartilhe este conteúdo:

Uma Advogada Extraordinária e a socialização de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo

Compartilhe este conteúdo:

A série sul-coreana “Uma Advogada Extraordinária”, lançada em julho pela Netflix, se tornou uma das mais vistas da plataforma no Brasil e no âmbito global e já está com sua segunda temporada confirmada pelo streaming, com lançamento previsto para 2024. Com uma memória fotográfica que impressiona o público, alto QI de 164 e um amor infinito por baleias que caracterizam uma função essencial no seu processo de pensamento, a trama apresenta ao telespectador o mundo das baleias de Woo Young Woo, uma advogada de 27 anos que foi diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) na infância.

Caracterizado como um transtorno neurológico associado ao desenvolvimento, o TEA causa prejuízos na comunicação, interação social e comportamental. Segundo SCHWARTZMAN, “o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por alterações qualitativas e quantitativas na comunicação, interação social e no comportamento, em diferentes graus de severidade (SCHWARTZMAN, 2003, 2011; SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013; APA, 2013).

O K-drama conta a história de Woo Young Woo, que se formou em Direito com o destaque de melhor aluna na renomada Universidade Nacional de Seul e, após vivenciar obstáculos e preconceitos para conseguir um emprego, começa a trabalhar em um renomado escritório de advocacia da Coreia do Sul e passa a enfrentar as dificuldades características do TEA no processo de socialização. No escritório, começa a ser vista como estranha, solitária, fraca e incapaz, sendo alvo de discriminação e perseguição.

Fonte: Divulgação Netflix

Ainda que siga uma característica romantizada das produções coreanas, a série busca explanar de forma respeitosa, sensível e educativa as características do TEA, como a repetição, seletividade alimentar, aversão ao toque, comportamentos repetitivos e restritivos, dificuldade em interações sociais e aversão à exposição ao barulho. Woo Young Woo possui inteligência elevada na área do Direito, sabe todas as leis e seus artigos na ponta da língua e tem obsessão por baleias, sendo, por muitas vezes, o único assunto que lhe interessa conversar, características da Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista.

No desenrolar da série, a brilhante Woo Young Woo, à sua maneira com seu mundo de baleias e conhecimento esplêndido em assuntos que são suas especialidades, torna-se uma profissional essencial no escritório pela sua inteligência e seu olhar único para a resolução dos casos, geralmente percebendo detalhes que os outros advogados não constatam, o que a torna peça fundamental para a resolução dos casos, fazendo com que a empresa os ganhe nos tribunais.

A adaptação funcional da protagonista também está ligada à sua relação com o pai que a série retrata. Conforme ASSUMPCAO E SPROVIERI (2001), a forma como a família lida será influenciada pela aceitação, interpretação e pela maneira com a qual os indivíduos lidam com os desafios aos quais são submetidos. Um bom funcionamento psicossocial representa um bom quadro de equilíbrio na coesão e adaptabilidade. Ou seja, uma boa capacidade de adequação da família frente às situações potencialmente estressantes.

Temple Grandin / Fonte: encurtador.com.br/xFJN2

Baseada em fatos reais, a trama jurídica foi inspirada na cientista americana, zootecnista e psicóloga, Temple Grandin, que também foi diagnosticada com TEA na infância e ficou reconhecida mundialmente por revolucionar as práticas para o tratamento de animais em fazendas e abatedouros que sofrem com a agropecuária, lutando e contribuindo para maior bem-estar deles. Em uma entrevista, Temple Grandin disse: “eu penso em imagens, eu não penso em linguagem falada. A mente autista se prende aos detalhes” e defendeu que o mundo precisa de todos os tipos de mentes.

A adaptação pessoal e profissional da protagonista que a série explana conquista e envolve o público, causando um misto de emoções acerca das revelações e descobertas sobre a mãe, o amor e as relações. A mensagem que passa é que o maior objetivo é desconstruir preconceitos de forma empática, pedagógica e promover reflexão em relação a imprescindibilidade da inclusão.

Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” – Paulo Freire

Referências

SPROVIERI, M. ASSUMPÇAO JR, F.B. Dinâmica familiar de crianças autistas, Arquivos da Neuropsiquiatria, São Paulo, vol. 59(2-A): p. 230-237, 2001.

Compartilhe este conteúdo:

Como o grupo terapêutico pode ajudar as pessoas com esgotamento laboral?

Compartilhe este conteúdo:

Na atualidade em que vivemos, os ambientes de trabalho disfuncionais estão cada vez mais propícios para a contribuição do adoecimento mental de seus trabalhadores. A criação de um grupo terapêutico com indivíduos que se encontrem nessa situação é uma forma de intervenção capaz de amenizar os referidos sintomas. Dessa forma, o grupo permite que o trabalhador entre em contato com outras pessoas que passam pela mesma situação, além de proporcionar escuta especializada e um espaço seguro para que compartilhem suas experiências e angústias.

A princípio, é importante lembrar que o processo de evolução e adaptação dos seres humanos se deu graças aos inter-relacionamentos grupais. O grupo é formado quando os integrantes apresentam valores e interesses em comum. Assim, o que diferencia um grupo do outro é a finalidade para a qual ele foi criado.

Para a construção de um grupo, há de se planejar e manejar os fenômenos do grupo por meio de fundamentos técnicos. Assim, a estrutura deve conter o objetivo, ideias, o público alvo que se planeja atingir.  Ao decorrer dos encontros, o responsável pela condução do grupo tem que estar atento tanto às resistências que atrapalham alcançar objetivo grupal, quanto às formas de comunicação, aos vínculos e papéis assumidos. Ademais, é indispensável o desenvolvimento das funções do ego e o exercício das atividades interpretativas (ZIMERMAN, 1997).

Fonte: Imagem de Irina L por Pixabay

Mindfulness e dialética

A prática de Mindfulness ou atenção plena é frequentemente associada à meditação sendo um exercício de concentração, estando inserida dentro do contexto das terapias cognitivo comportamentais, sendo uma técnica primordialmente de concentração que visa em outros aspectos, trazer a atenção para o momento presente, trabalhando uma postura de aceitação e não julgamento, tendo como objetivo final a regulação emocional. É muito comum que vários dos sintomas e sofrimentos venham do funcionamento de remoer pensamentos e coisas do passado ou da antecipação de problemas do futuro, logo a prática da atenção plena, acaba sendo um recurso para tornarmos cada vez mais conscientes do momento presente (KABAT-ZINN apud VANDENBERGHE; SOUSA, 2006).

Atenção plena é a percepção consciente que emerge quando prestamos atenção de uma maneira particular as coisas como elas são: deliberadamente, no momento presente e de uma maneira imparcial. A atenção plena possibilita que enxerguemos de modo claro o que quer que esteja acontecendo na nossa vida TEASDALE; WILLIAMS; SEGAL, 2016).

Vivendo no controle automático não se pode reagir de maneira flexível aos acontecimentos momentâneos e dessa forma limitando as respostas ao ambiente. Muitas vezes, ao evitarmos os pensamentos ruins, situações e eventos que causam tristeza, somos levados a angústia e o Mindfulness pode aliviar e reduzir a situação estressora (KABAT-ZINN apud VANDENBERGHE; SOUSA, 2006).

No que tange a Dialética (do grego διαλεκτική (τέχνη), pelo latim dialectĭca ou dialectĭce) é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias. A tradução literal de dialética significa “caminho entre as ideias”.

Segundo Vieira (2006), existe uma dialética entre o indivíduo e o universo simbólico, que por sua vez é permeado pela cultura. A compreensão de pensamentos e idéias está em função para que se compreenda conteúdos inconscientes, ainda de acordo com tal autor, Jung considera que a psique é constituída historicamente, surgindo assim outra proposição de que a psique é coletiva.

Fonte: Imagem por Pixabay

Pessoas com sintomas de esgotamento emocional relacionados à atividade laboral

O mundo laboral na contemporaneidade gera impactos significativos na saúde mental, culminando assim na saúde física dos trabalhadores. As diversas formas de globalização, financeira, inovações tecnológicas e principalmente pelas novas formas de gestão interferem diretamente na saúde dos trabalhadores em seus diversos contextos de atuação, incluindo na maneira em que se organizam coletivamente.

Franco et al 2010 aponta que as relações de trabalho são permeadas flexibilização e precarização social e que tais aspectos repercutem negativamente na saúde do trabalhador. Uma pesquisa realizada pela startup Closecare, aponta que as doenças psicoemocionais são a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil, cujo atingiu recorde de concessão de auxílio doença em 2020 e destaca-se que será a principal até 2030. As organizações são de setores e portes variados e foram considerados os atestados com categorias F da CID-10, referente a transtornos mentais e comportamentais, foram avaliados quadros específicos de episódios depressivos, ansiedade e estresse.

Destarte, as pesquisas apontam que após a finalização dos encontros, os participantes dos grupos terapêuticos dispõem de habilidades para lidar com o estresse e ansiedade que possam ser causados pela atividade laboral, como também são capazes de ressignificar suas relações com sua ocupação profissional, a fim de encontrar bem-estar em sua realização.

REFERÊNCIAS

MOLITERNO, Ian Marinho de et al. A atuação do psicólogo com grupos terapêuticos. Cadernos de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde Fits. Maceió, 2012. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/view/460> Acesso em:  10  jun.  2022.

MORETTI, Luciana. Mindfulness na construção terapêutica do espaço comunicativo baseado na atenção conjunta ao corpo. Nova Perspectiva. Sistêmica, n. 60, p. 83-99. São Paulo, 2018. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-78412018000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  12  jun.  2022.

PARISI, Silvana. Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.

VANDENBERGHE, Luc. SOUSA, Ana Carolina Aquino de. Mindfulness nas terapias cognitivas e comportamentais. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872006000100004> Acesso em: 06 jun. 2022.

ZIMERMAN, David et al. Como trabalhamos em grupo. Artes Médicas. Porto Alegre, 1997.

SILVA, Mariana Pereira da; BERNARDO, Marcia Hespanhol; SOUZA, Heloísa Aparecida. Relação entre saúde mental e trabalho: a concepção de sindicalistas e possíveis formas de enfrentamento. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 41, 2016.

HONORAT; Ludmila.Atestados médicos traçam raio-X da saúde mental e guiam ações nas empresas. ESTADÃO: São Paulo, 04 de Junho de 2022. Disponível em: https://linklist.bio/carreira_empreendedorismo>Acesso em: 15 jun. 2022

Compartilhe este conteúdo:

Aceitação e resiliência – (En)Cena entrevista a pesquisadora Dra Flávia Matos

Compartilhe este conteúdo:

“Dá até vontade de chorar, porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo”.
Flávia Tavares de Matos

Para explicitar o cenário da pesquisa no Brasil de hoje, o documento acadêmico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul intitulado Produtividade Acadêmica Durante a Pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade conclui que 13% do total das pós-graduandas possui filhos. E que muitas delas tiveram sua produção acadêmica comprometida por causa das suspenções das creches e escolas, do isolamento compulsivo, do ensino remoto e da assunção de múltiplas tarefas domésticas.

O citado estudo destaca, ainda, que quanto às submissões de artigos, mulheres negras (com ou sem filhos) e mulheres brancas com filhos (principalmente com idade até 12 anos) são os grupos cuja produtividade acadêmica foi mais afetada pela pandemia. Por outro lado, a produtividade acadêmica de homens, especialmente os sem filhos, foi significativamente menos impactada ela pandemia. Nessa entrevista a pesquisadora da Embrapa em pesca e aquicultura e professora no Mestrado Profissionalizante em Engenharia Ambiental (Universidade Federal do Tocantins-UFT) Dra Flávia Tavares de Matos. Ela que destaca sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, mãe e produzir ciência no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos das triplas jornadas de trabalho e das aulas online das crianças na saúde mental das mulheres pesquisadoras.

Flávia Tavares de Matos. Foto: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, de mulher, profissional, pesquisadora, mãe e professora dos filhos em aula online e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Dra Flávia Matos – É uma situação muito desafiadora e ao mesmo tempo sem saída. A gente simplesmente tem que fazer o esforço de aceitar que a situação é essa. E pelos nossos filhos, a gente tem que se esforçar ao máximo e seguir adiante. É muito difícil mesmo a pessoa se dividir entre o trabalho doméstico, teletrabalho e aulas online. Então é muito complicado, muito mesmo porque as vezes a gente não tem a didática necessária para ensinar as crianças e tem o cansaço, enfim.

Fonte: encurtador.com.br/gTW46

(En)Cena – Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres, no contexto de pandemia, interfere em tomadas decisões acertadas ou equivocadas no trabalho?

Dra Flávia Matos – A saúde mental não interfere só no trabalho. Ela interfere aqui na vida pessoal, interfere nas aulas online também. A gente perde o equilíbrio e rende menos. A gente deixa de produzir um paper, deixa de fazer uma ligação que é necessária, deixa de mandar um email, deixa de participar de uma reunião por causa da aula online e isso tudo vai refletir no trabalho obviamente. A pessoa acaba que toma decisão errada, com emoção. Não usa tanto a razão para tomar decisões. A gente fica um pouco desequilibrada mesmo.

Fonte: encurtador.com.br/hlrRZ

(En)Cena –  Elizabeth Hannon, editora do British Journal for Philosophy of Science, destaca que durante o mês de abril de 2020, durante a primeira onda da COVID 19, quase não recebeu pedidos de submissões de trabalhos realizados por mulheres (https://revistapesquisa.fapesp.br/maes-na-quarentena/, recuperado em 29 de julho de 2020). Diante disso, pergunto: quais os desafios de produzir ciência sendo mãe e mulher, durante a pandemia?

Dra Flávia Matos – Dá até vontade de chorar. Porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo.  Então comprometeu tudo da produção científica.

Fonte: encurtador.com.br/oBWZ1

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Flávia Matos – Eu acho que as mulheres no pós-pandemia, primeiro têm que procurar uma psicóloga para abrir o coração. Eu tenho amigas psicólogas que estão atendendo muitos pacientes que tiveram COVID, pois a doença pode deixar sequelas físicas e psicológicas também.  No trabalho, as pessoas vão ter que ter compreensão e tentar ajustar da melhor forma. É preciso dar tempo ao tempo. Investir em trabalhos de autoajuda. E no nosso caso, de mães pesquisadoras, é importante que sigamos uma ajudando a outra e nos apoiando sempre.

Compartilhe este conteúdo:

Livro retrata histórias divertidas e sensíveis que vão do ódio ao amor na fase da menopausa

Compartilhe este conteúdo:

Autora Leila Rodrigues compartilha com o leitor sobre como reagiu aos inúmeros sintomas dessa etapa que é pouco difundida.

A menopausa é a soma de duas palavras gregas que significam mês e fim. Depois de passar por um período de altos e baixos, a autora nascida no interior de Minas Gerais, Leila Rodrigues, decidiu compartilhar sobre este assunto pouco difundido: a menopausa e o climatério. Assim, por meio de crônicas, nasceu o livro Hormônios, me ouçam!, publicado pela Literare Books International.

O caso de amor e ódio que viveu durante oito anos com sintomas de enxaqueca, insônia, ganho de peso, calorão, “chororô”, e mau-humor, entre outros, fez Leila perceber que ninguém nos prepara para essa surpresa da vida, e que teve por si só entrar nesse mundo desconhecido e silencioso.

Na obra, aponta-se que 35% das mulheres têm vergonha de falar que estão na menopausa. Esse foi um dos fatores que fizeram com que a autora não só vivesse essa metamorfose, mas mergulhasse no mundo das palavras. Leila também explica a diferença entre dois termos: o climatério significa período crítico e abrange a partir do começo dos sintomas ao término definitivo. Enquanto a menopausa é classificada 12 meses após o cessar permanente da menstruação.

Fonte: encurtador.com.br/fCV27

Com essa bagagem de experiência de quem viveu na pele, a autora conta de maneira bem-humorada tudo o que sentiu, são crônicas para o leitor rir e se identificar, além de se informar sobre um universo que não deveria ser confidencial.

Em um dos capítulos, ressalta-se a importância de ter uma rede de apoio para esses momentos, que vão desde a família a amigas verdadeiras. Para Leila, “envelhecer não é uma escolha, ser feliz, sim”. Por isso, a autora abraçou a causa e ajuda mulheres a pensarem que a menopausa pode, sim, ser vivida com mais autoestima e qualidade de vida.

Sobre a autora

Leila Rodrigues é palestrante, escritora e desenvolveu sua carreira como empresária no segmento de tecnologia. Partindo da sua experiência pessoal com a menopausa precoce, Leila Rodrigues se tornou uma estudiosa do assunto e fez desse tema a sua causa. Colabora, por meio de palestras e orientações nas redes sociais, para que as mulheres passem pela menopausa com mais dignidade, qualidade de vida e alegria de viver! Atua também como cronista em jornais e revistas na sua região. Nascida no interior de Minas Gerais e criada junto aos três irmãos, Leila Rodrigues carrega nas suas crônicas a simplicidade de suas raízes e a força da sua própria trajetória. É casada, mãe de dois filhos e hoje vive em Divinópolis/MG com a família.

Fonte: Arquivo Pessoal

Mais informações:
Livro: Hormônios, me ouçam!
Autora: Leila Rodrigues
Disponível na versão física e digital pelo link. 

Compartilhe este conteúdo:

Uma história de opostos em Green Book

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 5 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator (com Viggo Mortensen), Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem.

Don Shirley (interpretado por Mahershala Ali) é um pianista negro brilhante que deseja fazer uma tour no sul dos Estados Unidos, uma região marcada pelo atraso, pelo preconceito e pela violência racialPara acompanhá-lo durante esses dois meses de shows ele resolve ir a procura de um motorista/assistente. 

Tony Vallelonga (vivido por Viggo Mortensen) – também conhecido como Tony Lip – é um malandro de origem italiana que trabalha na noite em Nova Iorque. A boate onde atuava, chamada Copacabana, precisa ser fechada e Tony se vê sem trabalho durante alguns poucos meses.

Responsável pelo sustento da família, Tony, que era casado com Dolores e tinha dois filhos pequenos, começa a procurar emprego para subsistir durante os meses em que a boate estava fechada.

Fonte: https://goo.gl/opdKij

O início da viagem

Um belo dia, Tony recebe um telefonema de um conhecido anunciando que um médico estava a procura de um motorista. Sem saber bem o que lhe espera, Tony vai para a entrevista. Chegando ao lugar, sente-se perdido porque o endereço lhe leva a um teatro. 

Quando conhece Don Shirley, na entrevista, Tony se surpreende ao saber que o tal doutor é na verdade um doutor na arte do piano. E é negro. Uma questão especialmente delicada para Tony que, apesar de negar, era preconceituoso assim como uma grande parcela da sociedade em que estava inserido. 

Muito conceituado entre o público, Shirley costumava ser chamado de doutor como sinal de admiração. Depois de algumas discordâncias, Tony, que desejava ser apenas motorista e não assistente pessoal, acha melhor não trabalhar com Shirley, especialmente tendo em conta a remuneração proposta. 

No dia a seguir, recebe um telefonema inesperado do famoso pianista, que desejava pedir a autorização de Dolores, mulher de Tony, para contratá-lo, cumprindo as exigências que o marido dela havia feito. O acordo é fechado e os dois embarcam rumo aos shows no Sul do país.

Vale lembrar que o contexto norte-americano, na realidade dos anos sessenta, que é a época em que o filme se passa, havia extremo preconceito racial no país. Ao longo do percurso vemos alguns casos explícitos de segregação. Durante uma das apresentações, por exemplo, o pianista é impedido de usar o banheiro do espaço, destinado apenas para brancos. Em outra ocasião Shirley é proibido de jantar no mesmo restaurante em que seu público estava. Ao longo da turnê, o músico também não pode se hospedar em uma série de hotéis reservados só para brancos. 

Tony aos poucos vai criando afeto pelo peculiar pianista e se irrita com as regras antiquadas e racistas da região. Os dois vão gradativamente criando um laço de afeto e crescendo pessoalmente com a experiência de lidarem um com outro, com personalidades tão distintas.   

Personagens principais

Tony Vallelonga (Viggo Mortensen) 

Fonte: https://goo.gl/2KKCFb

De origem italiana, Tony Vallelonga, também conhecido como Lip, é casado com Dolores e tem dois filhos. Ele trabalha como uma espécie de segurança numa boate em Nova Iorque e se vê em apuros financeiros quando o clube noturno decide fechar as portas por dois meses.

Durante esse período, o valentão precisa encontrar um trabalho provisório para pagar as contas da casa e acaba sendo contratado por Don Shirley para atuar como motorista.

Ao longo do seu percurso pelo sul dos Estados Unidos ele passa a sentir na pele o racismo vivenciado pelo pianista afro-descendente. A viagem serve de alerta para ele, que era um cidadão americano branco comum, nascido e criado no Bronx, que não tinha que lidar com qualquer dificuldade devido a cor da sua pele.

Don Shirley (Mahershala Ali)

Fonte: https://goo.gl/LdHsTj

Extremamente solitário, o pianista, que é um virtuoso, não tem amigos e nem família. Ele menciona rapidamente um irmão, com quem não tem contato há muito tempo. Em uma conversa com Tony também deixa escapar que já havia sido casado, mas que o casamento foi por água abaixo devido aos compromissos da carreira. 

Correto e honesto, Tony muitas vezes se irrita com algumas atitudes do motorista, que tem uma noção de certo/errado mais fluida.

Rude, muitas vezes antipático e arrogante, Shirley vai se deixando cativar por Tony e os dois vão criando com o tempo uma convivência harmoniosa que se transforma numa amizade plena. 

Don representa os negros norte-americanos que sofriam uma série de limitações e humilhações cotidianas devido única e exclusivamente a cor da pele. 

Dolores (Linda Cardellini)

Fonte: https://goo.gl/fjyU7a

A mulher de Tony é compreensiva com o marido, embora seja extremamente preocupada com o destino da família. Responsável, ela é dona de casa, cuida do lar, dos filhos e da gestão do orçamento doméstico. Quando a boate Copacabana fecha as portas provisoriamente, Dolores se desespera sem saber como fará para pagar as contas.

Doce, amorosa e gentil, a personagem interpretada por Linda Cardellini é uma típica mulher norte-americana dos anos sessenta: voltada para a família, responsável pela criação dos filhos e pela manutenção da rotina do lar. 

Análise do filme Green Book

Baseado em fatos reais

No ano de 1962, o famoso pianista negro Don Shirley resolveu fazer uma turnê pelo sul dos Estados Unidos.

A viagem aconteceu gerenciada pela Columbia Artists, empresa que administrava a carreira do artista, e durou cerca de um ano e meio (o filme na verdade condensa a história, como se a turnê tivesse durado dois meses). Durante o trajeto, o pianista tocou apenas para um público composto por brancos.

Para acompanhá-lo nesse ambiente sulista não muito hospitaleiro, Shirley sentiu que precisava de um motorista, mas também um assistente pessoal e uma espécie de guarda-costas.

Vale lembrar que a preocupação com a segurança não era desmedida, apenas alguns anos antes (em 12 de abril de 1956), o também músico negro Nat King Cole foi atacado no palco enquanto se apresentava para uma audiência branca no Alabama.

O verdadeiro pianista Don Shirley

O Don Shirley da vida real nasceu na Flórida, no dia 29 de janeiro de 1927, filho de pais imigrantes jamaicanos. O pai do pianista era um pastor e a mãe era professora. Shirley ficou órfão de mãe quando tinha apenas nove anos de idade.

Profundamente ligado à música, o menino começou a tocar quando tinha apenas dois anos e se apresentou profissionalmente aos dezoito.

Como o filme menciona rapidamente, Shirley gostaria de ter seguido a carreira de pianista clássico, mas acabou por enveredar no jazz porque ouviu conselhos de produtores que afirmaram que o público norte-americano não aceitaria um negro tocando canções clássicas.

Alguns hábitos e a residência do pianista, que aparece no longa, também são compatíveis com a realidade. Don Shirley viveu num suntuoso apartamento no Carnegie Hall durante cerca de cinquenta anos.

Verdadeiro pianista Don Shirley e Mahershala Ali, que interpreta seu papel no longa metragem. Fonte: HistoryvsHollywood.com, CTF Media

A procura do pianista por essa pessoa que o acompanhasse resultou na descoberta do segurança de boate Tony Vallelonga, que trabalhava em um clube noturno chamado Copacabana. 

Com o fechamento provisório do espaço, Tony, então sem emprego e com obrigação de sustentar a família, foi a procura de trabalhos esporádicos.

O encontro com Tony

Criado no Bronx, no seio de uma família ítalo-americana, Tony era o provedor de um lar composto pela mulher e por dois filhos.

Embora no filme o personagem não se assuma declaradamente como preconceituoso, a mulher, Dolores, deixa transparecer esse defeito do marido, que é compatível com a história real.

Apenas em uma breve cena vemos um pouco do preconceito anterior de Tony. Quando dois negros estavam na sua casa, ao retirar a louça da mesa, Tony, ao chegar na cozinha, joga no lixo os dois copos que os negros usaram. Outra ocasião em que o preconceito aparece surge quando Tony rotula o pianista, usando uma série de estereótipos para caracterizar os negros.

Tony Vallelonga da vida real e o ator Viggo Mortensen, que interpreta seu papel no filme.
Fonte: HistoryvsHollywood.com, CTF Media

A história contada pelo filho de Tony

Green Book tem como um dos roteiristas o filho de Tony, que incluiu uma série de dados reais no longa. As cartas de amor direcionada à Dolores foram efetivamente escritas pelo pai de Nick com a ajuda do pianista.

A história bebeu muito do real porque o filho, desde os anos 1980, estava interessado em fazer um filme sobre a amizade improvável do pai com Don Shirley. Ele havia gravado uma série de entrevistas detalhadas sobre o que os dois viveram na turnê. 

Nick Vallelonga ajudou a contar, em Green Book, a história do pai, Tony.
Fonte: HistoryvsHollywood.com, CTF Media

O destino de Tony e Don Shirley

Quando a viagem acaba e os dois regressam para casa, segundo o filme Tony volta à trabalhar no Copacabana, mas ele e o pianista seguem sendo grandes amigos até o final da vida. Os dois curiosamente falecem em datas muito próximas: Tony morre em 4 de janeiro de 2013 e Don em 6 de abril de 2013.

Na vida real, no entanto, parte da família do pianista – que aliás se opôs à criação do filme Green Book – garantiu em uma série de entrevistas que Don Shirley e o pianista não ficaram amigos até à morte.

Fonte: https://goo.gl/d1NBGk

Duas versões pairam sobre a lenda da amizade de Tony e Don Shirley: o longa metragem garante que os dois ficaram grandes amigos até o final da vida, já a família do pianista afirma que essa versão é falsa.

Uma história de opostos

Habitualmente a sociedade estava acostumada a assistir um negro trabalhando para um branco, poucas vezes o statuo quo se alterou e viu-se um branco trabalhando para um negro.

Essa estranheza social compareceu muitas vezes no filme, quando, por exemplo, no Sul, os policiais pararam a viatura onde Tony e Shirley se encontravam para pedir esclarecimentos.

Pondo provisoriamente a parte as questões sociais, em termos de personalidade Don e Tony parecem opostos: o primeiro muito preocupado com a questão social (com a imagem, com a conduta) e o segundo desbocado e irreverente. A lógica dos opostos comparece se pensarmos no nível de refinamento e cultura de ambos os personagens.

Assim como na vida real, Don carrega muito mais a noção de requinte, de conhecimento e de estudo do que Tony, que possui pele branca.

Se historicamente os negros tiveram pouco acesso à informação e à formação, na história do pianista a lógica se inverte e vemos um sujeito cultíssimo de pele negra e um, de certa forma, ignorante, de pele branca. 

Don viveu imerso em um ambiente de alta cultura e frequentou os grandes salões enquanto Tony nunca saiu do seu bairro de imigrantes de classe baixa, convivendo sempre com um universo muito semelhante de indivíduos.

Outra distinção de comportamento se dá se pensarmos na conduta social dos dois amigos. Shirley demonstra ser consciente do racismo e da luta de classes, Tony, por sua vez, parece alheio à essas questões e deseja resolver os casos pontuais em que é confrontado através da força bruta.

Extremamente racional, o pianista pensa em cada movimento e em suas consequências, profundamente impulsivo, Tony vive à flor da pele e é movido pelos seus sentimentos.

A amizade de Tony e Don se contrói através da diferença.
Fonte: https://goo.gl/vV9AqQ

Por que o filme se chama The Green Book?

The Negro Motorist Green Book, editado por Victor Hugo Greenera uma espécie de guia de viagem para negros que quisessem viajar sem se preocuparem com a segurança.

A ideia era assegurar uma lista de restaurantes, hotéis e lugares turísticos que garantissem que eles seriam tratados com igualdade com os brancos, sem qualquer tipo de preconceito.

O livro foi publicado pela primeira vez no ano de 1936 e continuou a ser vendido até 1966. Habitualmente distribuído nos postos de gasolina, o guia vendia cerca de 15.000 cópias por ano.

*Texto originalmente publicado em Cultura Genial (https://www.culturagenial.com/filme-green-book/)

O verdadeiro The Negro Motorist Green Book foi efetivamente usado na viagem de Tony com o pianista.

FICHA TÉCNICA:

GREEN BOOK- O GUIA

Título original: Green Book
Direção: Peter Farrelly 
Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini; 
Ano: 2019
País: EUA
Gênero: Comédia Dramática, Biografia 

Compartilhe este conteúdo:

A experiência materna diante da revelação homossexual masculina

Compartilhe este conteúdo:

Recentemente foi apresentado no CEULP ULBRA um debate que abordou um tema por um ângulo diferente dos já comentados. Pudemos observar pelo estudo de caso elaborado por Ulisses Franklin Carvalho da Cunha, a questão da revelação homossexual de um filho para com a sua mãe. Foi levantado o porquê de ainda se falar sobre o assunto da homossexualidade que “ainda é objeto de violência, ainda não foi vencido”.

Ulisses começa o debate mostrando ao público a notícia de um caso que aconteceu em Janeiro de 2017, com a seguinte manchete “Prefiro um filho morto que um filho v*ado”, onde uma mãe homofóbica mata o próprio filho de 17 anos, levando o público presente a refletir se realmente existe o amor incondicional de uma mãe, ou se é apenas algo cultural. E em seguida mostrou dados que apontam a violência contra o grupo LGBTs em maior porcentagem no Brasil.

Fonte: https://goo.gl/PhzwAC

Usou em seu referencial teórico a questão da violência, o sofrimento, dúvidas, autoaceitação, preconceito, dor, discriminação etc. No problema da pesquisa o psicólogo buscou estabelecer correlação da mãe entrevistada para o caso com o modelo de Sofrimento de Kubler-Ross (1998), que basicamente consiste nos estágios de luto na perspectiva da psiquiatra Elizabeth Kubler Ross. São eles respectivamente: negação, a raiva, barganha, depressão e aceitação.

O objetivo do estudo de caso foi conhecer e compreender em que se constitui a experiência materna diante da revelação. Como sujeito de pesquisa usou apenas uma mãe e o local da usado foi o SEPSI (CEULP). A entrevista foi elaborada através da análise de conteúdo de Bardin. Vimos também que a homossexualidade foi de patologia mental à cidadania e respeito e, em 1985 no Brasil, através do Conselho Federal de Medicina (CFM) deixou de ser considerado desvio de sexualidade.

Fonte: https://goo.gl/tKfGyT

 Cunha abordou a relação de luto versus revelação e que, segundo a mãe entrevistada, teve que “viver uma espécie de luto”. Dentre os estágios de luto observados na mãe, o da raiva não foi observado.

Ela comentou sobre o receio da violência contra o filho pelo simples fato da orientação sexual dele, medo de não ter oportunidades de trabalho. Ficou visível também que não houve uma aceitação completa, visto que certos comportamentos do jovem no dia a dia ainda a incomoda, “eu não gosto de gayzisse”, brincou a mãe. Concluiu-se que os sentimentos, a aceitação e emoções da mãe são compatíveis com os estágios.

Ao final da exposição foram lançados comentários, relatos e perguntas dos espectadores, dentre elas se a mãe sabia ou quis se importar com o sofrimento do filho, que foi respondida que durante a entrevista não pôde observar, pois ela não deixou claro, e se ela algum dia poderá ter uma aceitação completa. Levantaram questões importantes, tais como até em que fato se aceita o outro plenamente, estigmas sociais, e uma finalização esperançosa de que não é impossível haver mudança, quando se virar essa página.

Como expectadora gostei bastante do debate e da pauta não tão comumente abordada, focada no lado materno. O condutor da pesquisa expôs todo o trabalho de forma tênue e agradável. Apresentou fatos, dados e comentários que fizeram todos ali presentes perceberem o quão importante é o assunto, e que deve sim, ser debatido, esmiuçado por várias vertentes, até se obter um resultado homogêneo e positivo por toda a sociedade.

Compartilhe este conteúdo: