Admirável Mundo Novo: Pré-condicionamento biológico e psicológico

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A obra Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, foi escrita em 1931 e o futuro vislumbrado pelo autor corresponde a meados da década de 60, pois a história se passa em VII d. F (depois de Ford). Esta obra é um grande clássico da literatura universal por abordar de forma sucinta como o Estado vem tentando dominar a população e como ele vem conseguindo tal proeza, a maneira como o Estado seduz e controla toda a massa.

O livro percorre situações rotineiras e comuns das massas onde sem perceber elas estão sendo influenciadas e controladas de maneira silenciosa e velada pelo estado, e como os conceitos vão perpassando de uma massa para outra e principalmente das mais fortes para as mais fracas de maneira que acontece uma espécie de alienação generalizada, onde o controle se torna algo aparentemente normal por acontecer de uma maneira sutil sem imposições e violência, mas não deixando de ocorrer de maneira autoritária.  

Fonte: Editora Biblioteca Azul

 

Na obra o autor nos traz o conceito de distopia que corresponde a contagem de anos é feita a partir do nascimento ou do falecimento do indivíduo de Ford, por isso é utilizado o termo d.F (depois de Ford) e a.F (antes de Ford). E a distopia trazida por Huxley, não corresponde aquele conceito de que a sociedade futura era controlada por um regime autoritário, porém era controlada e mantida por um regime que estava livre da repressão e da violência, entretanto mantinha o domínio de maneiras mais sutis e implícitas, sendo pelo incentivo ao comportamento que o Estado julgava como certo e também, eliminando e não reforçando ou não considerando relevantes os comportamentos tidos como incorretos e errados, desta forma o estado reforçava apenas os comportamentos que eram de acordo com o que eles queriam, e os indivíduos eram submetidos a este controle sutil sem ao menos perceber. 

Huxley além de abordar Henry Ford, aborda também Freud. O livro começa com um professor mostrando a seus alunos uma espécie de laboratório onde são produzidos bebês, onde o controle da população é feito, eliminando ali o conceito de identidade trazido por CIAMPA (1987), onde é abordado que a identidade é formada por múltiplos personagens que ora se evocam, ora se sucedem, ora coexistem, ora se alternam. Pois nas configurações que essa sociedade se encontra e existe, os indivíduos já saem programados a agir, ser e pensar de determinada maneira, eliminando assim sua subjetividade e seu interesse e olhar próprio da vida e do mundo, eliminando também suas vontades, anseios, desejos e tudo aquilo que o compõe e o forma.

Os bebês são todos de proveta e os vínculos familiares e de amizades não existem ou são extremamente superficiais, pois as pessoas são individualistas e sozinhas, além de serem também extremamente independentes, entretanto uma independência dentro dos moldes previstos e estabelecidos pelo estado e coordenados e controlados por ele. Outra questão interessante trazida no livro é que quanto maior o número de parceiros sexuais alguém tiver, mais bem-sucedido e reconhecido dentro do sistema aquela pessoa se torna. 

As pessoas são dividias em castas que vão do Y que corresponde a classe mais baixa, o proletariado e até o Alfa++ que corresponde ao grupo de pessoas mais inteligentes e que contribuem mais para o estado, seja no meio de produção como grande empresário e investidor, ou seja no âmbito intelectual doando seu saber para o estabelecimento e melhoria das ferramentas do estado para controle e domínio velado da população. 

E desde que o bebê nasce ele já é condicionado a aceitar e a aprender a lidar com o que lhe foi imposto desde antes do seu nascimento, ou seja, ele desde o princípio será preparado para entender, aceitar e viver de acordo com o que foi estabelecido e determinado pelo estado. Essas imposições e determinações do estado para com o futuro do bebê são feitas por meio de gravações que são escutadas diariamente no turno da noite onde essas pessoas ouvem dia após dia repetidamente e exaustivamente quem elas são, o que devem fazer, como devem agir, como devem se comportar e o que é esperado que elas façam.

 De acordo com Hunter (2002), a persuasão ocorre de cima para baixo, ela vem da elite para as classes mais baixas, e no admirável mundo novo, é visível como o poder de persuasão do estado atua diretamente na vida dessas pessoas que apesar de ouvirem diariamente uma gravação sobre o que elas devem fazer, pensar e agir, elas acham isso absolutamente normal, pois vem hierarquicamente de alguém superior e que elas acreditam que seja para o bem delas e para a preservação de suas vidas, então elas seguem piamente todos os conselhos e recomendações com total normalidade. 

Vale evidenciar que no admirável mundo novo há a distribuição e uso de uma substância chamada Soma, essa substancia atua nas emoções e sentimentos dos indivíduos onde eles passam a ser controlados e determinados, ou seja, essas pessoas não possuem controle nem mesmo de suas próprias emoções e vivem como máquinas que são controladas o tempo inteiro por outra pessoa, que nesse caso é o estado que mantem esse controle e toda essa dominação das massas. Entretanto há um personagem em particular chamado Bernard Marx que não se submete ao sistema, dizem que houve algum problema na sua programação biológica que fez com que ele agisse de maneira completamente oposto e inesperada do que estava programado e determinado que ele agisse, ele então se revolta.

O governo distribui a Soma para a população periodicamente com uma frequência estabelecida e essas pessoas então fazem uso regular e de forma religiosa dessa substancia obedecendo as dosagens e a ordem que devem ser tomada, sendo que alguns chegam a tomar até seis por dia. Essa substancia faz com que as pessoas sejam mais calmas e tolerantes, faz com que elas aceitem de maneira mais completa e fácil as coisas que são estabelecidas pelo estado, inclusive um fato curioso é que sempre que alguém mostra-se diferente, irritado ou até mesmo com traços de rebeldia, sempre aparece alguém por perto para perguntar ou sugerir se essa pessoa já tomou sua dose de Soma naquele dia e até as crianças tomavam Soma regularmente. 

As pessoas que compõe essa sociedade do admirável mundo novo prestam culto a Ford e a religião seguida é o Fordismo, onde existem diversos templos onde essas pessoas prestam culto a Ford, também existe uma região isolada onde há uma reserva designada aos rebeldes ou aqueles que não aceitaram e não se submeteram as regras determinadas pelo estado, e Bernard Marx acaba indo para esta reserva onde encontra uma família composta por uma mãe e um filho que faziam parte também do admirável mundo novo, entretanto a criança nasceu na reserva, então Bernard Marx dedica-se a leva-los de volta para o admirável mundo novo, porém ele causa um extremo alvoroço e mal estar pois a mãe quebrou os protocolos e desobedeceu as regras visto que ela teve um filho fora dos padrões estabelecidos.

O jovem que nasce fora do Admirável Mundo Novo se chama John e é um personagem cheio de atitudes e com um vasto conhecimento, tanto é que grande parte de suas falas são referenciadas em Shakespeare. A chegada e a entrada dele no admirável mundo novo causa grande alvoroço porque ele é alguém de fora que está entrando em contato pela primeira vez com toda aquela loucura de controle velado e suas ideias e a forma como ele se comporta levam a grande reflexão acerca do que está acontecendo naquele lugar e a forma como estado vem controlado e tornando aquelas pessoas como fantoches.

Como supramencionado, vimos que o autor Aldous Huxley expõe de uma maneira real como o estado mantém uma relação de poder e domínio com as massas e como somos afetados diretamente por essa persuasão, o livro inteiro acontece de forma que fica explícito mesmo que de maneira implícita como a perca da identidade ou o não direito a tê-la ou a ser alguém faz com que sejamos fantoches e secundários em nossas próprias vidas, e a crítica social trazida pelo autor ao sistema que estamos imersos desde a revolução industrial é de suma importância também para a compreensão dos fenômenos trazidos e abordados ao longo dos capítulos do livro.

O posicionamento de Bernard Marx e John fazem toda a diferença no rumo que as coisas tomam e nos trazem um olhar mais apurado acerca da alienação, e de como é importante levar em consideração a sustentabilidade das relações e o respeito e a liberdade para a subjetividade se expor e existir. 

REFERÊNCIAS 

JACQUES, M. G. C. Identidade. Em: JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. 

HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Porto Alegre: Editora Globo, 1979.

MYERS, D. G. Preconceito. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014. 

MYERS, D. G. Persuasão. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014. 

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Admirável Mundo Novo: perspectiva da Psicologia Social

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Fonte: http://migre.me/vF3ks
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A Psicologia Social tem por objetivo estudar os comportamentos no que são influenciados socialmente (LANE, 2006). Dessa forma, a disciplina de Psicologia Social buscou discorrer acerca dessa ciência e de temas que são relevantes para sua compreensão. A partir dos conteúdos discutidos em sala de aula o presente trabalho busca articulá-los com o livro “Admirável Mundo Novo”, tendo que em vista que a obra aponta diversas interferências sociais na forma dos personagens se comportarem, o que possibilita a identificação de diversos fenômenos sociais. O livro “Admirável Mundo Novo” (1932) de Aldous Huxley, apresenta a história de dois mundos, o “Civilizado” e o “Selvagem”.

Fonte: http://migre.me/vEZoD
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A narrativa tem início no Centro de Incubação e Condicionamento, que tem como lema do Estado Mundial: Comunidade, Identidade e Estabilidade, é localizado em Londres, no chamado estado da civilização. A história se passa nesses dois cenários, que embora completamente distintos interferem diretamente na construção da identidade de seus habitantes. No entanto, de acordo com suas especificidades produzem diferentes impactos e “jeitos de ser” dos indivíduos.

Diante dessas discrepâncias entre os contextos, surgem também preconceitos com relação ao outro, no qual o diferente é menosprezado e essas vivências também geraram impactos na forma de se comportar dos indivíduos. Assim, o presente trabalho visa realizar articulações entre o livro e os temas Identidade segundo Jacques (1998) e Preconceito de acordo com Myers (2014), a partir de textos que foram discutidos em sala de aula ao longo da disciplina.

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No Centro de Incubação e Condicionamento, os indivíduos eram condicionados a agirem de maneira estável e social, elementos que constituem suas identidades. Isto, considerando que identidade diz respeito a “um conjunto de representações para responder a pergunta quem és”, Jacques (1998, p.161). Os embriões eram divididos por castas, de forma hierarquizada e suas características biopsicossociais eram definidas a partir disso. Estatura, cor de pele, sensibilidade a determinadas temperaturas e outras especificidades eram estabelecidas previamente de acordo com a casta e suas atribuições.

O sujeito era condicionado a exercer as atividades de seu grupo e não conhecia outras possibilidades, por isso não se importavam com o papel desempenhado ao longo de sua vida. É possível notar que os indivíduos pertencentes a esse estado, o chamado “Civilizado”, tinham seus destinos previamente traçados, bem como suas identidades e características já pré-determinadas, que iam sendo reafirmadas ao longo dos anos, a partir do desempenho de determinadas funções e da ausência de criticidade.

Fonte: http://migre.me/vEZDL
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A partir dessa hierarquia, era notório o preconceito existente no trato com as castas tidas como “inferiores”. Referiam-se a eles como negros, horrorosos, pequenos e outros adjetivos que remetiam a desprezo. Preconceito segundo Myers (2014) consiste em um julgamento negativo de um grupo e seus membros, que predispõe contra uma pessoa apenas por ela pertencer a determinado grupo. Isso fica evidente no livro, à medida que um indivíduo era considerado inferior devido fazer parte de um referido grupo. Os Gamas, Deltas e Epsilons foram condicionados a associar massa corporal com superioridade social.

As castas representam a identidade social do indivíduo, que é uma das subdivisões dos sistemas identificatórios e diz respeito a atributos que demarcam a pertença a uma categoria ou grupo (JACQUES, 1998). Dessa forma, a identidade dos indivíduos nesse contexto era totalmente voltada para o aspecto social, uma vez que a maioria não reconhecia suas características pessoais, tendo em vista que isso não era bem visto pelos seus superiores.

Bernard, um dos personagens, era um Alfa que tinha oito centímetros menos do que o esperado para sua casta, por isso era tido também como “esquisito”, fora do padrão esperado o que o isolava de seus semelhantes. O rapaz se isolava e sentia-se inferior e quando se reportava aos seus “inferiores”, acreditava que eles não lhes respeitavam, por isso era hostil e ríspido para obter atenção. Myers (2014) relata que a frustração pode levar à hostilização, o preconceito pode ajudar a camuflar sentimentos de inferioridade, já que pode proporcionar sensações de superioridade. Isto pode justificar as condutas de Bernard.

Diante dos preconceitos sofridos, Bernard intensificava sentimentos de desprezo a si próprio devido aos seus “defeitos físicos” que o excluíam de sua casta, aumentando sentimentos de exclusão e solidão, apesar da sociedade civilizada não ser programada para vivencia-los. Nesse sentido, a medida que o preconceito “pode defender nossa individualidade contra a ansiedade que vem da insegurança ou do conflito interior” (MYERS, 2014, p. 190), o rapaz pode utilizar desse tipo de atitude para minimizar suas conturbações pessoais.

Fonte: http://migre.me/vF0Gl
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Bernard sempre se sentiu como um indivíduo à parte, mas encontrou Helmholtz, que havia percebido seu excesso mental e o que lhe diferenciava de outras pessoas, por isso poderiam compartilhar suas angustias. Bernard relatava ter o desejo de agir mais por si, e não tão parte de outra coisa, de ser apenas uma célula do corpo social. Esses desejos escandalizavam os outros, que diante do condicionamento não cogitavam essas possibilidades e achavam absurdos esses desejos, já que era tão felizes e se sentiam livres.

Aqui fica explicita uma relação de devoção, os indivíduos não tinham conflitos e nem passavam por dificuldades, por isso eram agradecidos ao grupo social que faziam parte, a “civilização”. Essa devoção pode predispor uma pessoa a menosprezar os outros (MYERS, 2014).  Os demais recomendavam o consumo de “soma” para que eles não tivessem essas ideias horríveis e se sentissem alegres.  Os rapazes tinham suas identidades distintas dos demais e se apropriaram do contexto de forma diferente. No entanto, por causa da necessidade de se sentirem pertencentes precisaram se conformar com as normas do grupo.

Cada grupo vestia uma determinada cor, e até por isso eram alvos de preconceito. Até mesmo os jornais eram destinados a castas. Em Londres tinham três jornais, Londres sendo eles o Rádio Horário, jornal para as castas superiores, A Gazeta dos Gamas, verde-pálido, e, em papel cáqui e exclusivamente em palavras monossilábicas, O Espelho dos Deltas. Tudo isso, atuava reafirmando a identidade social das pessoas que ali habitavam,  a medida que tudo era separado para cada grupo, fazendo com que cada vez mais eles se entendessem como Gama, Delta e outros.

Fonte: http://migre.me/vF01V
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A segregação favorece o preconceito, bem como a identidade social. Um grupo que usufrui de uma superioridade econômica e social pode justificar essa posição por meio de convicções preconceituosas (MYERS, 2014). Isso fica evidente no livro, pois as castas superiores se utilizavam de argumentos preconceituosos para relatar as diferenças.

Lenina, uma das personagens, era uma típica jovem de casta superior que seguia a risca os regulamentos e tinha atitudes preconceituosas com as outras castas. Isso é potencializado devido a identidade social fortalecida, segundo Myers (2014) é possível que essa identificação leve o indivíduo a detestar grupos diferentes. Além disso, o autor acrescenta que pertencer a um grupo implica também na definição de quem não se é. Por isso, a moça agradecia constantemente por não ser inferior, já que sabia que o grupo ao qual pertencia era de superiores.

Existiam regulamentos para nortear as condutas, por exemplo, as mulheres não deveriam engravidar, mas deveriam relacionar-se sexualmente com quantos homens elas desejassem, por isso, eram sujeitas a anos de hipnopedia intensiva e, dos doze aos dezessete, exercícios malthusianos três vezes por semana, de modo que esses cuidados se tornavam quase automáticos. Tudo isso, reforçava a identidade social e impediam os indivíduos de tomarem consciência de suas singularidades.

Emoções, laços de maternidade/paternidade e conjugalidade também eram descartados na civilização, uma vez que poderiam gerar instabilidade. Para evitar tais “desconfortos”à sociedade, as pessoas ouviam repetidamente comandos que influenciariam seus comportamentos, eram anos de hipnopedia. Além disso, se por ventura, ocorresse algo desagradável eles utilizavam a “soma” medicamento que lhes permitiam fugir da realidade e suportar as adversidades sem acionar recursos pessoais de enfrentamento.

Ao longo da história, Bernard, decide ir passar suas férias em uma reserva, e leva com ele Lenina. A reserva era conhecida como o estado “Selvagem”, onde se encontram os nãos civilizados, ou chamados índios e mestiços. Lá existiam piolhos, suor, mau cheiro e as pessoas envelheciam. Bem como, casamento e famílias o que para o mundo civilizado era antiquado devido ao condicionamento.  Diferente de Londres e a sociedade civilizada de onde vinham.

Fonte: http://migre.me/vF0Tc
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Existiam os civilizados e os selvagens e para Myers (2014) as etnias são uma forma de categorizar as pessoas, na qual rotulamos os indivíduos na tentativa de simplificar o mundo.Os chamados civilizados viam os índios como sujos e merecedores de todas “mazelas” do mundo selvagem, ou seja, como tendo características que justificavam essa situação e fortalecem essa diferença de “status” (MYERS, 2014).

Durante a viagem Bernard e Lenina conheceram outra realidade que lhes gerou espanto, desconforto e atitudes preconceituosas.  O preconceito pode ser advindo de uma série de convicções negativas, os estereótipos (MYERS, 2014).Para Lenina, as pessoas da reserva eram sujas, imundas, feias, desprovidas de sabedoria, antiquadas, conforme lhe era descrito em Londres.

Conheceram ainda Linda que também trabalhou no Centro de Condicionamento e há alguns anos foi visitar a reserva e se perdeu, estava grávida e lá teve seu bebe. Tendo em vista que e gestação e a relação materna eram inconcebíveis na sociedade civilizada, ela não quis retornar para Londres com seu filho John.

Ao longo do livro são apontadas as dificuldades que Linda teve em se adaptar ao novo contexto e como foi conturbada a relação entre ela e seu papel de mãe. Tendo em vista que sua identidade a resposta para a pergunta quem és era voltada apenas para suas atribuições socais, frente a perda delas Linda não conseguia prosseguir. Isso também se deve ao fato dela ter sido condicionada ao uso de “soma”, um medicamento milagroso que lhe permitia fugir da realidade e evitar solucionar conflitos a partir de seus próprios recursos.

Fonte: http://migre.me/vF1ch
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Foi difícil para John se inserir na comunidade local e compreender as regras passadas por Linda. O preconceito era frequente não apenas na sociedade civilizada, mas também no estado selvagem. John era descendente de brancos tinha olhos azuis e pele clara, por isso fora excluído de algumas atividades da comunidade.

Lenina fica espantada com a aparência física de Linda, que devido à idade tinha rugas, dentes manchados e era gorda. Tudo isso, era inadmissível em Londres, pois lá não era permitido que ninguém ficasse assim. Eram utilizadas diversas estratégias para evitar o envelhecimento e esse aspecto “assustador”.

Linda e John retornaram para Londres e são narradas as dificuldades do rapaz para adaptação ao novo ambiente e os novos costumes. Quando Selvagem chegou, todos queriam conhece-lo e por isso tratavam Bernard bem, já que o contato se daria por meio dele. Diante dessa “aceitação” o rapaz mudou seus comportamentos, ficou deslumbrado com a possibilidade de inclusão, tinha quantas mulheres quisesse e sentia necessidade de gabar-se por isso. Aqui, nota-se que a identidade pessoal que está em constante modificação através das novas experiências, começou a se moldar a partir do novo perfil de relações estabelecidas.

Bernard vivenciou sentimentos de exclusão durante todo o tempo devido a suas características físicas desproporcionais a sua casta, por isso não tinha uma identidade pessoal positiva. Myers (2014) relata que nesses casos é comum que as pessoas busquem auto-estima por meio da identificação com grupo e do estabelecimentos de laços. Essa explosão de experiências positivas e de inserção na comunidade, caracterizavam uma grande oportunidade para se firmar com indivíduo.

Fonte: http://migre.me/vF1la
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Quando John foi pra civilização ele era uma pessoa distintiva, pois era diferente do grupo dos civilizados, o que fez com que ele se tornasse uma atração. Além disso, as pessoas o tomavam como modelo dos demais Selvagens, o que fazia com que os estereótipos se intensificassem (MYERS, 2014).

Inconformados com a civilização acrítica, Bernard, Helmholtz e Selvagem buscam falar com o diretor, a fim de questionar as motivações para as regras impostas. São informados que isso é para a felicidade de todos, pois as pessoas precisam de estabilidade e para isso precisam viver em hierarquia e sem muitos questionamentos. Aqui nota-se a mudança na identidade deles, que até então não tinha tido coragem de desafiar as regras, mas como o “eu” está em constante transformação passaram a questionar a sociedade na qual estavam inseridos.

Diante dessa petulância, Bernard e Helmholtz foram levados para ilhas longe dali, na qual vão todos que adquiriram demasiada consciência de sua individualidade, que não se satisfizeram na ortodoxia da comunidade ou os quem tem ideias próprias ou independentes.  Essa conduta era baseada na tentativa de evitar que outros fossem “contaminados” com essa consciência de si. Selvagem permaneceria na civilização para ser estudado, porém ele resolveu ir também, pois não desejava modificar-se a agir conforme a comunidade civilizada. A mídia local ia a ilha para filmá-lo e observar o seu modo de viver.

Fonte: http://migre.me/vF1Cf
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A partir da história contada no livro “Admirável Mundo Novo” e dos conteúdos discutidos por meio da Psicologia Social é possível ressaltar o quanto de social tem em cada indivíduo. O contexto em que cada um está inserido influencia diretamente na sua forma de ser, mesmo que o indivíduo não perceba essas interferências e considere-se livre.

Durante a narrativa os habitantes do estado civilizado foram condicionados a terem uma falsa impressão de liberdade e autonomia, e qualquer um que chegasse a ter consciência dessa ausência de individualidade era tirado da sociedade afim de não contaminar os demais. Diante dessa identidade previamente moldada e da força desse papel social, os preconceitos aumentavam, tendo em vista que o diferente era visto como inferior. Todavia, os preconceitos, rótulos e discriminações estavam presentes nos dois mundos, ainda que por vezes se mostrasse da maneira mais sútil possível.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

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Editora: Globo
Assunto:  Ficção científica e distópica
Idioma: Português
Ano: 1979
Páginas: 178
Ano de lançamento: 1932

REFERÊNCIAS: 

HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Porto Alegre: Editora Globo, 1979.

JACQUES, M. G. C. Identidade. Em: JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998.

LANE, Silvia T. Maurer. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.

MYERS, D. G.Preconceito: o ódio ao próximo. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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