Reintegração de posse afetiva!

Compartilhe este conteúdo:

É doloroso sentir a falta de alguém quando a consciência acusa que nem devesse sentir!

Mas ainda assim, sentir…

O outro nem responde mais.

Talvez nem se importe, ou nunca se importou!

mas a falta ainda é sentida!

É uma falta que dói…no fundo, no fundo, sempre houve a falta, mesmo quando havia a presença.

Havia a presença?

Mas o outro nunca esteve inteiro e agora você percebe que você também não era, pois se tolhia, se encolhia todo para caber no espaço da primeira fresta de carência que emergia do egoísmo ensimesmado do ser que tinha a sua presença como Capacho.

Você gostava da esperança que ele oferecia, mas era sempre um SE e, ávido pelo futuro ofertado, nem percebia que seu presente era sorvido por um carrasco chamado passado e que fez do seu medo de ficar sozinho a sua prisão e, nem se deu conta que você já estava só!

Ao encolher-se para caber no incabível, você se despejou, tornando-se inquilino de si mesmo, pagando aluguel para manter a sensação agradável de ter alguém, mas do tributo que pagou ao vício de caber onde não havia espaço, não sabe como reintegrar à posse afetiva de si.

Sente a falta do amigo ou do amor que, talvez você tenha construído somente dentro de você…

…sem comunhão de bens! Sem a conjugação do nós. Ficou só o NÓ!

O outro levou tudo e, restou a falta da pessoa que fazia com que você se sentisse um pouco mais visível, ou, talvez, menos invisível?

Era tanto para o lado de lá, que quase nada restou da imagem distorcida que lutou por refletir por você e pelo outro!

Embora tenha sido uma ilusão criada a partir do seu medo da solidão, o amor era de verdade…

e ele dói de verdade…

Parece que é só você que perdeu algo… No entanto, você se perdeu e para esquecer alguém assim, urge lembrar quem você é!

Quando se lembrar quem é, saberá o que fazer com a dor…

Por enquanto, são só tentativas para preencher o espaço com outras ilusões!

Se não abraça a dor da cura,

você se sentirá para sempre a

própria doença!

Desintoxicar-se de sentimentos para alcançar a sobriedade, também nos relacionamentos é o que salvaguarda a consciência.

Pois a consciência é a alma da Liberdade!

 

Referência:

REIS, Ed. Reintegração de posse afetiva. Palmas-TO: Palmas, 2022.

 

 

 

Compartilhe este conteúdo:

“Além da Sala de Aula”: afetividade no processo de aprendizagem baseada em Wallon

Compartilhe este conteúdo:

Lançado em abril de 2011, com a direção de Jeff Bleckner, o filme Além da Sala de Aula é baseado em fatos reais e conta a história de Stacey Bess, que sonhou desde criança em ser professora e, aos 24 anos, enfrenta o desafio de lecionar pela primeira vez num projeto de ensino, em um abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade social. O foco do filme está na relação que Stacey constrói com os alunos, formada com o alicerce da afetividade, que resulta em transformações biopsicossociais retratadas durante o longa.

Os desafios começam no momento em que a professora recém-formada chega para ministrar as aulas e se depara com um local totalmente inapropriado, com uma sala suja adaptada para ser a de aula, sem livros e estímulos visuais, sem iluminação, com partes da construção desmoronando e sem estrutura para a realização de atividades de ensino. Também há uma grande quantidade de crianças com variação de idade e falta de alimentação, o que dificulta a realização do trabalho. Ao perceber os obstáculos, Stacey pensa em desistir do projeto, mas decide transformar a vida e o processo de aprendizagem das crianças através da afetividade, relação professor-aluno e proporcionando recursos educacionais e de estrutura física mais adequados.

Segundo Wallon (1995), a criança “[…] atribui a emoção como os sentimentos, desejos e manifestações da vida afetiva, demonstra os sentimentos como um papel fundamental no processo de desenvolvimento humano”. O teórico sustenta que as emoções possuem um papel essencial para o desenvolvimento da pessoa por inteiro como consequência de uma construção dos conjuntos motor, cognitivo e afetivo, o que resulta na aprendizagem original.

Dentre as contribuições da professora para as transformações biopsicossociais estão a reforma física na sala, construção de mural com conteúdos lúdicos, a disponibilização de alimentos para que as crianças possam comer para se concentrarem mais e o trabalho com cantos temáticos que retratam suas personalidades para expressarem suas emoções.  Além de conversar com os alunos focando na afetividade e considerando a subjetividade, Stacey também requer a participação dos pais, o que fortalece os vínculos afetivos e cria novos significados para o processo de ensino-aprendizagem de forma integradora.

Fonte: encurtador.com.br/nvAM0 – Foto: Reprodução/Rede Globo

A professora Stacey Bess proporcionou mudanças significativas na vida das crianças e seus familiares, utilizando a construção de uma nova sala de aula para fortalecer a participação dos alunos e a afetividade para influenciar no desenvolvimento biopsicossocial dos mesmos. A Teoria da Afetividade de Wallon veio questionar o ensino tradicional com seu autoritarismo, falta de criatividade, forte característica abstrata, exigindo um aluno passivo, sem personalidade, e sem levar em conta o caráter afetivo, social e político da educação, pois, a escola, como um fato social, deve: “refletir a realidade concreta na qual esse sujeito vive, atua e, muitas vezes, procura modificar”. (LAKOMY, 2003 p.60).

Na visão do construtivismo, desenvolvida pelo psicólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget, a aprendizagem é um processo e resultado entre fatores biológicos, psicológicos e sociais construídos ao longo de experiências e vivências, sendo um movimento biopsicossocial. No filme, a afetividade presente na relação professor-aluno, a mudança no ambiente físico, a colaboração e a motivação proporcionaram a realização de atividades lúdicas, o que intervém no processo de aprendizagem e vivências das crianças.

Com as modificações que a professora viabilizou, fica evidente que o vínculo afetivo interfere e contribui com o processo de ensino-aprendizagem demonstrando que a afetividade é um fator potente no desenvolvimento humano de forma biopsicossocial. Na concepção de Wallon (1968), a afetividade é vista como uma linguagem, pois o ser humano se comunica com o outro desde sempre.

Portanto, durante diversos contextos do filme “Além da Sala de Aula” é perceptível o quanto a afetividade interfere e resulta em implicações para a educação das crianças. A influência da afetividade contida na relação professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem, bem como fatores como motivação, paciência, consideração da subjetividade, adaptação à situação vulnerável, consciência de classe e o incentivo resultaram no crescimento biopsicossocial e educativo das crianças.

A afetividade, as emoções, a paixão e os sentimentos presentes nesses momentos afetaram de forma positiva e contribuíram para o processo de aprendizagem, o que deve-se considerar a importância não apenas dos conteúdos ministrados, mas a relação construída entre a facilitadora e as crianças. O olhar de Stacy interfere na sua atuação e, consequentemente, faz com que os alunos se sintam mais acolhidos, valorizados e desenvolvedores de suas capacidades. A afetividade e as relações tornam-se, portanto, ponte para a qualidade e transformações biopsicossociais no processo de ensino-aprendizagem entre o facilitador e o aluno, assim como defende a perspectiva da teoria do filósofo, médico e psicólogo pós-construtivista Henri Wallon.

FICHA TÉCNICA

Fonte: encurtador.com.br/ntyBQ

Título Original: Beyond the Blackboard

Título no Brasil: Além da Sala de Aula

Ano: 2011

Dirigido por: Jeff Bleckner

Duração: 95 minutos

Gênero: Drama

Classificação: Livre

País de origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil/Izabel Galvão. – Petrópolis, RJ ; Vozes, 1995. – (Educação e conhecimento)

WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1995a.

LAKOMY, Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Curitiba: FACINTER, 2003.

Martins Tassoni, Elvira Cristina; da Silva Leite, Sérgio Antônio. Afetividade no processo de ensino-aprendizagem: as contribuições da teoria walloniana Educação, vol. 36, núm. 2, mayo-agosto, 2013, pp. 262-271 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil.

Compartilhe este conteúdo:

Como lidar com a tristeza das crianças na pandemia

Compartilhe este conteúdo:

Uma coisa que a pandemia nos mostrou é o quanto estamos não só preocupados com o risco de contaminação, mas também estressados, cansados e tantos outros deprimidos. Mas esse problema não atinge só adultos. As crianças estão sendo muito afetadas. Algumas se tornaram mais agressivas, outras ficaram mais tristes ou com variações de humor. 

Sabemos o quanto os pais estão transtornados com a demanda de trabalho em casa. O home office pode ter deixada as famílias no mesmo recinto, com a sensação de que estão mais próximos. No entanto, nem sempre isso significa que os pais estão dando a atenção na qual as crianças acham necessárias. Com isso, os filhos confundem a presença do adulto com a atenção em que gostariam de receber, afetando suas emoções na pandemia.

Família, amigos e colegas são fatores fundamentais que formam a sociedade, mas têm sido atravessadas pelo momento atual. Com as crianças, não são diferentes. Elas não sabem como lidar com algo que não se tem entendimento. Ainda é muito confuso para nós, adultos, imagina para eles?

Fonte: Freepik

Por exemplo, uma pesquisa conduzida, recentemente, pelo Children’s Hospital of Chicago, nos Estados Unidos, veiculada na revista médica JAMA Network Open, mostrou dados preocupantes sobre a saúde mental das crianças e adolescentes americanas e como foram afetadas pelo ensino à distância na pandemia. 

Das consultadas, uma parte, cerca de 25%, mostrou-se estressada, ansiosa e irritada. Outras, cerca de 33%, sentiram-se solitárias. Além disso, uma outra parte das crianças, cerca de 30%, que antes mostravam-se felizes, começaram a desenvolver sentimentos como raiva, ficaram deprimidas, sentindo-se solitárias ou estressadas no período em que suas escolas não recebiam os alunos fisicamente.

Isso confirma o quanto as crianças e adolescentes necessitam de uma troca afetiva entre amigos e professores. Vale lembrar que esse contato físico na primeira infância está ligado às funções emocionais cognitivas do cérebro. É nesse “ambiente família” que a escola constrói a identidade social do ser humano.

Fonte: Getty Images

O fato delas estarem isoladas dentro de casa colabora para que a criança passe a não interagir com outras crianças, nem mesmo com os adultos. Isso ainda gera comportamento agressivo, birras intensas, timidez exagerada, redução no desempenho escolar entre outros conflitos emocionais.

Portanto, pais e professores, mesmo que à distância, precisam prestar atenção na forma como os jovens se expressam e algumas atitudes que possam manifestar, pois podem ser sinalizações ou respostas de como estão se sentindo. Sempre que puderem, tirem um tempo de qualidade para conversar com eles, deem atenção e mostrem o quanto eles são importantes para vocês. Isso pode fazer toda a diferença!

Compartilhe este conteúdo:

A obsolescencia dos vínculos afetivos na perspectiva de Zygmunt Bauman

Compartilhe este conteúdo:

A pós-modernidade é marcada pela propagação da individualidade hedonista e do consumismo desenfreado.

Zygmunt Bauman (1927-2017), sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, de grande importância para a sociedade contemporânea, sendo uma das vozes mais críticas da atualidade (morto recentemente), foi também responsável por criar a expressão “Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo em que os indivíduos não têm aqueles padrões de referências que antes norteavam e davam propósito para as gerações passadas.

A pós-modernidade é marcada pela propagação da individualidade hedonista e do consumismo desenfreado; a pessoa passa a dar ênfase a coisas mais supérfluas, que venha dar uma significado a sua existência mesmo que isso seja momentâneo. Guy Debord (2003) traz o termo “Sociedade do Espetáculo”, para personificar essa sociedade que tem os seu sentidos atrofiados, com supervalorização da visão, pois é através deste sentido que a mídia exerce um maior controle sobre o desejos das pessoas. Sendo assim, essa sociedade  molda seus comportamentos sobre a perspectiva do consumo, dentro daquilo que os meios midiáticos transmitem como ideal e importante. Neste âmbito, o que é mais importante é a busca pelo prazer, assim como a sociedade líquida de Zygmunt Bauman, isso é algo que o modelo econômico capitalista tem tido êxito em  inserir em seus discursos, que a busca pelo prazer é o único propósito da vida humana, isso tem levado a massa a consumir o que é oferecido sem as devidas críticas, mas ao mesmo tempo levam a crer que são críticos pelo simples fato de  serem consumidores de produtos e informações.

Esse discurso adquirido que vivemos para gozar o prazer que a nós é legado acaba por reverberar nos relacionamentos afetivos, criando barreiras de  incertezas, pois o contato com o próximo tornou-se frágil e sem relevância; vínculos afetivos duradouros  tornam-se cada vez mais difíceis de se manter, relacionar-se com o outro de forma mais autêntica e profunda não é tido com relevante para o contexto social da pós-modernidade. Daí parte indagações dos motivos que levaram estas mudanças de paradigmas humanos, ao mesmo tempo que somos seres sociáveis, damos as costas para a criação de vínculos afetivos duradouros, tudo isso para não entrar em conflito com a busca da liberdade e segurança, que não é mais caracterizada pela permanência das coisas. Amizades e relacionamentos amorosos nunca foram tão fáceis de se desfazer. Bauman traz um exemplo simples comparando as relações como uma revisão em um automóvel, que constantemente precisa ser revista (BAUMAN, 2004).

Fonte: encurtador.com.br/psY89

A modernidade que se tornou liquefeita agora é um agente que dificulta a manutenção de vínculos de maior durabilidade e de laços de qualidade, que venha dar às pessoas  vivências humanas providas de  maior responsabilidade e comprometimento para com o Outro; no capítulo dois da obra Modernidade Líquida de Bauman, temos a  afirmação “neste mundo aquilo que tenha um propósito ou um uso não tem espaço” (BAUMAN, 2001). A sociedade capitalista implantou no cerne do ser humano o desejo de ter mais do que aquilo que possa lidar criativamente e com qualidade, um exemplo disso é a era da informação em que vivemos, graças ao advento da mídia televisiva e da internet, possibilitou ainda mais  para o desenvolvimento da espécie humana, mas isso acabou por gerar pessoas temerosas em ter que perder a sua liberdade em prol de um relacionamento mais sólido.

A configuração de relacionamentos afetivos na pós-modernidade é de curto prazo pautado na individualidade podendo ser chamados de “relacionamentos virtuais” pois parecem ser feitos sob medida para este cenário líquido, relacionamento que antes era indesejáveis e impossíveis de se romper, na “rede” o ato de conectar e de excluir torna-se possível em uma capacidade silenciosa, estas conexões indesejáveis são rompidas sem que se torne detestáveis (BAUMAN, 2004).

A rede de internet, com seu muitos aplicativos de conversas e relacionamentos, contribui para que as pessoas se relacionem de forma que venha ter o mínimo de contato possível, os relacionamentos não podem colocar em risco a “identidade” e a “individualização”, por isso quando há uma relação que exige comprometimento ou é discordante dos ideais da pessoa opta-se por desfazer esses laços na mesma velocidade que se levou para criar, assim será para desfazer. “Você sempre pode apertar a tecla para deletar. Deixar de responder um e-mail é a coisa mais fácil do mundo”  (BAUMAN, 2004, p. 61).  A pós-modernidade é marcada por dispor a nós uma infinidade de informação e escolhas, seja comprar ou se relacionar, temos infinitas opções, isso gera a sensação de liberdade  que nos  é dada a todo momento, gerando infelicidade e angústia, não pela falta de escolhas, mas sim pelo excesso delas (BAUMAN, 2001).

Fonte: encurtador.com.br/rtLQ7

As relações afetivas duradouras passam a ser um objeto de pouca importância na sociedade pós-moderna pelo mesmo fato de que por haver muitas opções não há a necessidade de ser manter em um relacionamento por um longo prazo, isto demanda compromisso algo que é expurgado do mundo líquido (BAUMAN, 2001), pois compromisso remete a padronização ao sólido termo que foi derretido para dar lugar ao líquido. A obra Amor Líquido Bauman traz uma distinção entre amor e desejo para ele amor e desejo pode ser  irmãos e que podem ainda ser gêmeos, mas nunca idênticos, univitelinos (BAUMAN, 2004). O desejo tem sido o “combustível” que move as pessoas em suas vidas por algo novo e que lhe proporciona muito prazer. Esse desejo, por vezes, permeia o vazio existencial dos indivíduos e em muito casos é visto dentro dos relacionamentos como  amor genuíno.  Contudo, há  diferença entre eles: o desejo é egocêntrico, motivado para a saciedade de uma falta, já no amor a falta existe, mas não tem o objetivo central de ser saciada de forma intensa.

Segundo Colombo (2012) a vida moderna nos mostra que tudo é efêmero e em vão e que estamos inseridos em uma cultura regida pelo vazio que impulsiona as ações humanas  na busca irrefreada do prazer e do poder. A sociedade consumista produz cada vez mais pessoas individualistas e narcisistas, apresentando o “ter” como algo de maior importância na nossa cultura ao mesmo tempo que desvaloriza totalmente o “ser” sendo em muitas das vezes algo que não deve ser levado em consideração, isso se mostra nos relacionamento humanos de hoje.

Esta característica torna-se difícil para que o homem pós-moderno crie relacionamentos duradouros e vínculos afetivos resistente, passa assim a almejar o poder e a liberdade que a consumo pode lhe proporcionar, através do modelo econômico  capitalista, que redirecionou o foco de visão humano não sendo importante a durabilidade e qualidade, mas sim a facilidade de se adquirir e descartar. Nesta perspectiva as relações não são feitas para durar pois acabam por seguir o mesmo princípio do consumo dentro do  capitalismo, (BAUMAN, 2004)  compromisso a longo prazo se tornou um enfado para manter o convívio com o outro, a sociedade mantém longe o compromissos e também nos impede de exigi-los,  Bauman (2004) nos traz o termo “relacionamentos de bolso” que seria usado em momentos casuais e sem nenhum problema tornaria a guardá-lo.

Fonte: encurtador.com.br/jNVW6

Este momento em que vivemos é a era da liquefação dos padrões de dependência e interação (BAUMAN, 2001) ou seja não temos mais o dever de nos mantermos reféns de padrões tão rígidos e delimitados como vivia as gerações passadas. O homem contemporâneo vivendo o deslumbre da liberdade que esta modernidade líquida oferece, passou se séculos de privações, sendo elas impostas pela sociedade ou pela religião (que tinha aspectos rígidos e sólidos  e que reprimia este homem), passando a não ser mais reprimido podendo assim desfrutar de sua “liberdade”, essa liberdade chega também para os relacionamentos deste sujeito, não sendo necessário manter laços fortes com mais ninguém, pois isso implica na limitação ou  perda deste bem conquistado.

“A Vida Líquida é uma vida de consumo” (BAUMAN, 2009, p. 16), esta vida a qual Bauman se refere apresenta uma característica bastante importante. O objetos passam a ter uma expectativa de vida útil limitada por isto não há uma preocupação em manter algo por muito tempo, pois pode ser trocado com total facilidade. Isto refletiu nos relacionamentos afetivos dos seres humanos, uma dinâmica voltada ao consumo não poderia priorizar o cuidado, a paciência, a tolerância, pois são virtudes que demandam tempo e o tempo para a Modernidade Líquida passa a ser visto de forma diferente algo que deve ser usufruído para manter a individualidade.

Os relacionamentos afetivos e amorosos, neste contexto descrito por Bauman (2004), transformam-se em bênçãos ambíguas que oscila entre o sonho e o pesadelo (amor), algo que pode ser o sonho por ser uma mercadoria de grande valor e que antes na sociedade sólida a característica de durabilidade era visto como parâmetro primal dentro dos convívio humanos. Esse sentido de durabilidade não nos atrai, mas sim o sentimento de pertencer a algo ou alguém; ao mesmo tempo, esse tipo de relacionamento é um pesadelo pois exige de quem o busca que coloque a sua liberdade e comprometimento com o Outro, tendo que se dedicar a manutenção constante desse relacionamento.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 133 p.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 258 p.

BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. 210 p.

COLOMBO, Maristela. Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo. Rev. bras. psicodrama,  São Paulo ,  v. 20, n. 1, p. 25-39, jun.  2012 .   Disponível em                                          <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932012000100004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em                                                     11  nov.  2019.

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Ed. Tradução de prefácios e versão par ebook. 2003 Disponível em:  https://www.marxists.org/portugues/debord/1967/11/sociedade.pdf . Acessos em    11  nov.  2019.

Compartilhe este conteúdo:

O começo da vida: O maravilhoso mundo dos bebês

Compartilhe este conteúdo:

As interações sociais no início da vida são fundamentais para o desenvolvimento.

A maternidade é um aprendizado único; é uma experiência de transformação pessoal; é sentir o movimento da vida que inicia dentro do útero; é aprender a comunicar-se sem palavras. A vida inicia como uma única célula, menor que um alfinete. Nove meses depois, existimos como organismos extraordinariamente complexos, formados de bilhões de células diferentes. E esta intricada dinâmica é apresentada em pormenores através do documentário ‘O Começo da Vida’, disponível na Netflix.

Os bebês geralmente nascem minúsculos, vermelhos, enrugados e mal conseguindo aguentar a própria cabeça. As primeiras alterações bio-psico-comportamentais da criança ocorrem no momento do nascimento, na saída de dentro do útero para um ambiente quente e úmido, no qual os pulmões se inflam pela primeira vez, são fechados os canais secundários, que desviam o sangue dos pulmões para a placenta, e as artérias umbilicais. O recém-nascido tem a visão de outros seres humanos pela primeira vez e dá o início à construção de um relacionamento social e do relacionamento pai, mãe e filho(a). Os familiares têm a expectativa da aparência do bebê e expectativas sociais desse novo ser.

Fonte: http://twixar.me/md3K

Logo a criança respira por conta própria, consegue explorar o mundo usando os sentidos, se alimenta e começa a assumir seu lugar dentro do contexto familiar e na comunidade em que faz parte. Porém o bebê é totalmente indefeso e aprende uma imensidão de coisas nos primeiros anos de vida, sendo uma fase importante e que pode refletir durante o resto da vida. Os bebês nascem “míopes” e passam por processos sensoriais referentes à visão. Ele conseguirá enxergar com clareza por volta dos oito meses de idade. Contudo, o bebê já explora o ambiente com o olhar desde o nascimento, assimilando formas visuais.

Fonte: http://twixar.me/hd3K

Os bebês passam por outros processos sensoriais referentes ao olfato, paladar, tato, temperatura e posição. Aos oito e dez dias de vida os bebês já são aptos de distinguir o odor do leite materno em relação ao leite de outra mulher, podem apresentar expressões faciais diferentes para gostos diferentes, reagem a toques desde o período pré-natal e mostram sensibilidade às alterações de temperatura e estudos apresentam que reagem com movimentos distintos dos olhos ao serem girados. O documentário reforça que eles aprendem mais do que jamais imaginamos, uma vez que as vias associativas funcionam antes mesmo da criança nascer e, mesmo no útero da mãe, o feto já percebe as vibrações do som, começando pela voz e pelos batimentos cardíacos da mãe.

Conforme o documentário, a cada segundo o cérebro do bebê faz milhares de conexões entre as células nervosas, o que proporciona todos os tipos de experiências, interações físicas e sensações que permitem à criança o processamento do que está acontecendo ao seu redor. O bebê passa pela habituação que se refere ao processo em que a atenção à novidade diminui com a exposição repetida, realizando um processo de aprendizagem e a desabituação que ocorre quando o interesse é renovado após uma mudança no estímulo. Ambos os processos ocorrem automaticamente, sem qualquer esforço consciente. Portanto, o que comanda tais processos é a relativa estabilidade e a familiaridade do estímulo.

Fonte: http://twixar.me/Xd3K

Segundo Jean Piaget, psicólogo do desenvolvimento, o conhecimento dos bebês é construído através da ação (construtivismo) e através de esquema que se refere a uma estrutura mental que proporciona a um organismo um modelo de ação em circunstâncias similares ou análogas. Em cada comportamento ocorre a adaptação que proporciona a assimilação. Piaget conceitua a aquisição da aprendizagem pelo processo de adaptação, assimilação e acomodação. Os reflexos e as coordenações sensoriais e motoras presentes no recém-nascido tornam-se mais complexos, coordenados e propositais enquanto se desenvolvem no processo de adaptação, no qual o ser humano adapta-se ao meio e organiza suas experiências (WADSWORTH, 1997).

No documentário a mente da criança é totalmente aberta, não planejada e à espera de descobertas, passando pelo processo cognitivo e psicológico mediante os quais as crianças adquirem, armazenam e usam o conhecimento sobre o mundo. Piaget apresenta o desenvolvimento percepto-motor como umas das conquistas dos primeiros anos de vida da criança a qual ocorre quando a percepção e o agir da criança estão intimamente conectados e ela tem a capacidade de girar, mover, sacudir um objeto, segurar com uma mão e depois, com as duas mãos, brincar de encaixar, erguer a cabeça, rolar o corpo, sentar-se sem apoio, caminhar sozinha, levantar, subir degraus dentre outros.

Nos primeiros anos de vida, os bebês categorizam o gênero dos sons de voz, conseguindo reconhecer a voz da mãe e diferenciar das demais, categorizam os adultos como sendo confiáveis versus estranhos imprevisíveis. A memória desenvolve-se rapidamente  e o desenvolvimento cerebral é tão influenciado pelo ambiente quanto pela genética. As experiências e interações que uma criança pequena tem literalmente ficam marcadas na pele e no cérebro, além de afetarem a constituição dos circuitos e da arquitetura do cérebro.

Fonte: http://twixar.me/Jd3K

O documentário apresenta casos de pessoas que foram seriamente privadas de afeto quando eram bebês, podendo manifestar na fase adulta uma dificuldade em ter afeto com crianças pequenas pois essa experiência afetiva não fez parte do seu repertório comportamental da infância.

Destarte, o documentário mostra que o contato com a família, o afeto e a demonstração de amor e carinho são melhor que brinquedos, uma vez que a interação com outros seres humanos é fundamental para o desenvolvimento da criança. Logo, a comunicação, o contato e o convívio social são inerentes ao bebê, à medida que os primeiros laços são estabelecidos nos primeiros anos de vida.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título Original: O Começo da Vida
Direção: Estela Renner
Elenco: Nenhum
Ano: 2016
País: Brasil
Gênero: Programa e séries, série documental

Referências:

BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: ArtMed, 1997.

COLE, M. COLE, S. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2003.

WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget: fundamentos do construtivismo. 5. ed. rev. São Paulo: Pioneira, 2003

Compartilhe este conteúdo:

“Call me by your name” numa perspectiva gestáltica

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 03 indicações ao OSCAR:

Melhor filme,  Melhor ator (Timothée Chalamet), Melhor roteiro adaptado

Love my way it’s a new road
I follow where my mind goes”

(Psychedelics Furs)

Call me by your name (Me chame pelo seu nome), produzido pelo italiano Luca Guadagnino e como obra homônima do livro de André Aciman (2007), é o romance que abriu 2018 derretendo os corações dos cinéfilos. Ambientado no norte da Itália, nos anos 80, o filme mostra mais um verão que Elio (Timothée Chalamet), um adolescente de 17 anos, passa na casa rural de seus pais. Porém, dessa vez ele é abalado pela presença de um novo visitante, Oliver (Armie Hammer), um americano que vai para outro continente desfrutar dos saberes de seu hospitaleiro professor, o pai de Elio.

Inicialmente, percebe-se que o cotidiano dos personagens é recheado por conhecimento erudito. A família Perlman domina as línguas inglesa, italiana e francesa, além de terem afinidade com a literatura, gramática, música e dados históricos que o rodeiam. Toda essa dinâmica dialoga com o ambiente rural e ensolarado, onde são aproveitados intensamente espaço e tempo (aqui e agora) em que se perpassa o filme.

Caracterizado como filho único e como um garoto muito reservado, Elio sente diversos impactos ao receber Oliver como visitante em sua casa. Ele cede seu quarto; de certa forma, também cede o pai, pois sabe que o mesmo terá uma dedicação maior a Oliver em detrimento aos seus estudos; e ainda convive diariamente com os costumes diferentes do que está habituado, como o modo de se despedir “Até mais!”, os cuecas jogadas pelo banheiro que compartilham e os não comparecimentos de Oliver durante algumas refeições.

Além disso, o fato de Oliver ser um homem galanteador e que atrai atenções de todos, também contribui para que Elio se distancie e seja um pouco ríspido com o hóspede. Isto pode ser contextualizado segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997) onde “O contato é awareness da novidade assimilável e o comportamento com relação a esta; e rejeição da novidade inassimilável. O que é difuso, sempre o mesmo ou indiferente, não é um objeto de contato”. Porém, com o passar dos dias ele toma consciência (awareness, na Gestalt-terapia) que também sente uma admiração pelo mesmo e, ainda mais, uma atração afetiva. E, assim, os dois estabelecem uma trégua entre si e começam a se aproximar.

Fonte: https://goo.gl/TXkBYB

Tal aproximação se deu através do estabelecimento de contato. Loffredo (1994, p.83) ressalta que “[…] Todo contato é, então, um processo dinâmico e criativo […] deve ser entendido não como um estado, mas como uma ação: o contato é feito na fronteira eu-outro”. Enquanto que Silveira (2007) traz a ideia de que a vida entre companheiros (casal) se torna mais plena quando o contato e a empatia elaboram um ambiente facilitador e é delimitado de forma adequada o espaço entre esses.

O romance desenrola-se com as demonstrações de afeto de Elio e, a princípio, a negação de Oliver em viver o lhe que estava sendo proposto naquela ocasião. Também conta com alguns encontros entre Elio e Marzia (Esther Garrel), uma amiga da sua idade, por quem aparentemente ele é apaixonado, mas não tanto quanto Oliver. E, depois, com este se permitindo demonstrar e viver afetos com o jovem Elio.

Fonte: https://goo.gl/NDVQ6i

Para além da percepção do drama como de caráter homoafetivo, o foco principal do autor do livro e do diretor é a fluidez da sexualidade (SOBOTA, 2018). Em decorrência a isso, no filme mostra-se como se dá o envolvimento amoroso de duas pessoas num curto período de tempo. Entretanto, não quer dizer que não possa ser admirado e usado pela militância LGBT.  Aciman afirma, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, que:

A ambiguidade é problemática porque faz com que as pessoas se questionem mais sobre o que a sexualidade é de verdade. Temos um sistema em que as pessoas querem saber se estão ou não apaixonadas, se é ou não amor. É isso ou aquilo. Sempre odiei todo tipo de rótulo. Não uso a palavra gay nem a palavra amor no meu livro. Não quis especificar nada. Sempre tive um pressentimento de que se você nomeia as coisas, o que acontece é parar de pensar e de sentir (SOBOTA, 2018).

Sem rótulos e com o apoio de uma família culta, aberta às novas culturas e modos de afetos, Elio se permite viver uma experiência inovadora, numa interação organismo-meio, que acrescentará no seu modo de constituir-se como sujeito. Na gestalt-terapia, essa experiência é conhecida como fronteira de contato e implica em mudanças e transformações no indivíduo (CARDELLA, p. 49).

“Me chame pelo seu nome e eu te chamarei pelo meu”. Fonte: https://goo.gl/z3tEx7

De acordo com Melo (2008), na fase do contato os parceiros compartilham um encontro genuíno e intenso, de forma que um se inclui no modo de vida do outro e se compreendem e se aceitam na sua singularidade, agindo de forma conjunta para solucionar a figura formada a partir da fusão de seus desejos. No caso, a figura que se formou nessa relação foi de obter êxito numa experiência conjunta, uma comunhão de afetos, saberes, ou melhor, vivências.

A autora ainda afirma que a fase conseguinte ao contato é a de resolução/conclusão. Nessa etapa, o casal faz a reflexão e, depois, expressa tudo aquilo que vivenciou; tenta entrar em acordo unanimemente; seus integrantes contemplam a si próprio e ao outro ou se compadecem do que poderiam ter vivido. Dessa forma, se finda esse período com o retraimento, cujo atua como uma pausa para dar início a um novo período (MELO, 2008). A despedida entre Elio e Oliver demonstra que como um casal eles já entraram nesse momento de conclusão e partem, de certo modo, felizes com tudo o que lhes foi experimentado.

Fonte: https://goo.gl/AWGnri

 É importante fazer contato e se afastar, tocar e ser tocado, e depois deixar ir” (MELO, 2008).


FICHA TÉCNICA 

ME CHAME PELO SEU NOME

Direção: Luca Guadagnino
Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar;
Gêneros: Drama, Romance
Ano: 2017

Referências:

CARDELLA, Betriz Helena Paranhos. A construção do psicoterapeuta – uma abordagem gestáltica. Editora Summus, 2002.

PEARLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. (1997). Gestalt-terapia. 2ª edição. São Paulo: Ed. Summus.

LOFFREDO, A. M. A cara e o rosto: ensaio sobre Gestalt-terapia. São Paulo, Escuta, 1994.

MELO, Maria Luíza da Silvera. (Monografia) O contato na relação conjugal.  Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES. Brasília – DF, 2008.

SILVEIRA, T. M. (2007). O papel da criatividade nas relações conjugais: os limites do “eu” e os limites do “nós”. Revista IGT na Rede. 4. 7. 199-207. Recuperado em 15 out 2008: www.igt.psc.br/ojs/include/getdoc.php?id=1021&article=165&mode=pdf

SOBOTA, Guilherme. ‘Call Me By Your Name’ foi a primeira ficção da elogiada obra de André Aciman. O Estado de S. Paulo, 2018.  Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,call-me-by-your-name-foi-a-primeira-ficcao-da-elogiada-obra-de-andre-aciman,70002152818>. Acesso em 14 de fev de 2018.

Compartilhe este conteúdo:

Estudo da Subjetividade na Família: a importância da comunicação

Compartilhe este conteúdo:

No texto de Peres (2005), “O Estudo da Subjetividade na Família: Desafios Metodológicos”, a autora aborda aspectos da subjetividade no contexto familiar a partir da situação de “crianças de rua”, observando perspectivas econômicas, materiais e psicológicas, e considerando ainda, um método que contemple as especificidades de cada criança e família. Tendo como fonte a subjetividade individual constituída na comunicação da família para compreensão do desenvolvimento, são adotadas no texto concepções que contemplam a história e cultura dos indivíduos.

Peres (2005) pontua o social como importante catalisador para o desenvolvimento, de modo que a significação dos papéis de cada indivíduo se dá primeiramente através da família. As emoções como processos psicológicos, produziriam sentidos subjetivos das experiências, que devem compreendidos em cada momento da história pessoal. As necessidades da criança, por sua vez, seriam constituintes das emoções e motivariam o desenvolvimento, e por isso deveriam ser organizadas inicialmente na família por meio da comunicação entre os membros. Porém, isso seria dificultado devido aos vários modelos de família influenciados por situações socioculturais (PERES, 2005).

Fonte: http://zip.net/bdtLlG

Os papéis iniciais assumidos pela criança na família, oriundos da afetividade necessária, seriam gradualmente diferenciados e singularizados e também se tornariam mais complexos. A formação da subjetividade influenciada pela linguagem seria dependente da afetividade, tornando nossas condutas dependentes do social. Para a autora, a compreensão do caráter intersubjetivo dos papéis auxiliaria o desenvolvimento de um autoconceito, sendo a família um lugar de possível produção de subjetividades individuais, construindo um Sujeito (PERES, 2005).

A comunicação, segundo Peres (2005), seria uma via de acesso a construção informações sobre processos subjetivos familiares, sendo a qualidade de suas relações dependente disso. Porém, dificuldades e desigualdades no âmbito social tornariam a comunicação penosa e até mesmo impraticável, que é o caso das famílias de “crianças de rua”. A comunicação intersubjetiva permitiria o compartilhamento de expressões de subjetividades individuais, incluindo aspectos de reciprocidade no grupo. Uma comunicação autêntica seria, portanto, fundamental para o desenvolvimento individual na família e sociedade (PERES, 2005).

Fonte: http://zip.net/bctKMC

Dessa maneira, para a construção de um método que contemple qualidades construtivas e interpretativas, é necessário que haja “zonas de sentido do real”, ou seja, elementos que façam sentido para a família na sua relação com o pesquisador, através do contexto das subjetividades e histórias desse grupo (PERES, 2005). A formação dessas zonas em conjunto, propiciaria uma autonomia ou uma expressão aberta de ideias e sentimentos que são singulares, possibilitando ao investigador a construção de sínteses, e à família a oportunidade de entendimento das informações.

A compreensão da subjetividade na família seria, portanto, fundamental para seu estudo, sendo o método, responsável pela qualidade da relação com o pesquisador e também pela autonomia dos indivíduos. Vê-se desse modo, a família como responsável pelas construções subjetivas dos indivíduos, que são fundamentadas no social.  A formulação de necessidades no âmbito familiar de modo geral proporcionaria a sensibilização entre os membros do grupo, independentemente das condições da comunicação, que por sua vez é singular devido às subjetividades.

Fonte: http://zip.net/bgtKPs

O incentivo a comunicação familiar se apresenta, desse modo, como ferramenta indispensável para a compreensão de sua subjetividade. Além de uma oportunidade de expressão de suas construções subjetivas, os indivíduos ganhariam secundariamente, pois às organizariam para poder se comunicar, e a partir dessa organização conseguiriam perceber suas novas necessidades e emoções.

 A relação entre necessidades, emoções e comunicação no âmbito familiar demonstra a importância da qualidade de suas relações, pois refletem no autoconceito de cada um, bem como a maneira como o indivíduo interage com a sociedade. Logo, o papel do mediador/profissional que intervém nesse grupo, seria o de identificar as singularidades da família em questão e incentivar a comunicação entre os membros de acordo com essas características, de modo que seja possível compreender melhor sua subjetividade, bem como encorajar sua autonomia.

REFERÊNCIA:

PEREZ, Vannúzia L. A. O Estudo da Subjetividade na Família: Desafios Metodológicos. In: F. González Rey. (Org.). Subjetividade, Complexidade e Pesquisa em Psicologia. São Paulo: Thomson, 2005.

Compartilhe este conteúdo:

Família e afetividade: a configuração de uma práxis ético-política

Compartilhe este conteúdo:

Em “Família e afetividade: a configuração de uma práxis ético-política, perigos e oportunidades”, o autor Bader B. Sawaia, aponta a importância e também os perigos da adoção da família e da afetividade como estratégia de ação emancipadora, que permite enfrentar e resistir à profunda desigualdade social modelada pelo neoliberalismo, e o conjunto de valores individualistas. Segundo Sawaia, a afetividade é a força mantenedora da família, e que apesar de diversas tentativas e previsões sobre seu desaparecimento, ela continua sendo a mediação entre o indivíduo e a sociedade, assistindo-se na atualidade ao enaltecimento dessa instituição. A família é o único grupo que promove a sobrevivência biológica e humana.

É uma instituição baseada em conservação e, ao mesmo tempo, em expansão e sua eficácia depende da sensibilidade e da qualidade dos vínculos afetivos. Por esse motivo, Sawaia diz que essas características podem se tornar perigosas ao fazer da família um instrumento de sustentação do poder, concentrando a política na ordem emocional, que domina o corpo inteiro, ao associar amor com submissão, ao confundir intimidade com democracia e liberdade, e por último, o risco de idealizar e estereotipar a vida em família.

Fonte: http://zip.net/bttJPx

Nesse sentido, a preocupação está em formar políticas que trabalhem o valor afetivo da família, evitando os problemas causados pela tentativa de transformá-la em um instrumento de sustentação de poder. Pretende-se ainda construir o desejo de se estar em família , e construir a liberdade e a felicidade de se estar em conjunto. Assim, são apontadas algumas medidas para que seja alcançada uma práxis ético-política que evite os perigos de se trabalhar a afetividade na família. Entre elas estão: eleger o valor afetivo na ação social com famílias pobres, potencializar as pessoas para combater o que causa o sofrimento, analisar a afetividade que une a família, negar a política de afetividade dominante, etc.

Fonte: http://zip.net/bytJxQ

Portanto, essa práxis ético-política atua no sentido de combater o exercício da dominação e da pobreza, atuando diretamente no cerne afetivo e nas emoções da família. Tal ação se faz importante  no que tange a um atendimento mais assistido e atencioso para com a instituição familiar, acabando ou pelo menos diminuindo a criminalidade nesta, de modo a torná-la um lugar seguro e agradável para a formação do ser humano.

REFERÊNCIAS:

SAWAIA, B. B. Família e afetividade: a configuração de uma práxis ético-política, perigos e oportunidades. PUC-SP, 2005. p. 39 a 50.

Compartilhe este conteúdo: