Especialistas discutem sobre os apelos excessivos da publicidade infantil

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As crianças, de um modo geral, têm um alto poder de absorção de qualquer tipo de conteúdo. Por exemplo, toda Páscoa, chovem propagandas sobre chocolates entre outros itens. O resultado é o consumo exagerado de doces que só pioram a saúde dos pequenos.

Por meio de diversas técnicas, as marcas conseguem exercer um poder de influência muito grande em cima das crianças para que possam incentivar os pais a comprarem brinquedos e guloseimas. Mas quais são efeitos negativos e como lidar com os desejos causados pela publicidade?

Para a psicóloga Livia Marques, as propagandas abusivas acarretam grandes influências negativas nas crianças. Ela diz que o efeito disso surge de uma forma muito ruim na mente delas, fazendo com que fiquem inflexíveis ao não e a qualquer argumento. “Tanto na TV como na internet, o conteúdo massivo pode causar uma fixação muito grande na mente delas”.

Livia fala que os sinais de que algo está errado com o desejo de ter um brinquedo ou de lanchar é refletido geralmente no comportamento agressivo e inflexível ao pedir aos pais. “Há casos que a criança não aceita de forma alguma o limite que é imposto”.

Fonte: Pixabay

Para Dario Perez, professor acadêmico e especialista em publicidade e marketing, o problema está no fato de que muitas empresas acabam “perdendo a mão” em suas ações publicitárias e comentem alguns excessos. Ele comenta que o público infantil é extremamente sensível a qualquer tipo de técnica de marketing que possa ser utilizado dentro dos parâmetros de um comercial de TV ou na internet, por exemplo.

– As crianças absorvem com muita facilidade todos os tipos de influências direcionadas. Mesmo as campanhas, que não possuem um bom comercial ou técnica apurada de publicidade, conseguem converter a venda, utilizando-se de uma comunicação lúdica e aspiracional, aproveitando personagens para gerar empatia e elevar sua credibilidade – explica.

Dario diz ainda que um dos objetivos da publicidade é gerar, por meio da influência, a sensação de felicidade através do consumo. Dessa forma, as crianças falam para os pais sobre a necessidade de ter tal produto. Eles, por sua vez, acabam satisfazendo o desejo para a alegria dos filhos.

Fonte: encurtador.com.br/adgkQ

Como lidar

A psicóloga Livia diz que a melhor forma de proteger a família é por meio do diálogo. Ela comenta que é importante os pais saberem dizer não, mesmo quando é muito difícil. Por outro lado, é preciso mostrar o porquê do não, talvez pela falta de condições financeiras, se a criança já tem muitos brinquedos e ganhou algum recentemente ou até explicando que determinado lanche ou doce pode fazer mal se comer muito dele.

– A conversa é fundamental. A criança também precisa saber para compreender e respeitar. Os responsáveis precisam entender também que a permissividade não pode ter espaço nessas lacunas – reforça.

Regulamentação

Para o especialista em marketing e publicidade, a regulamentação da publicidade infantil ainda é muito delicada no Brasil. Segundo o profissional, existe um projeto de lei mais rigoroso e voltado para a proteção da criança durante a exposição de alguma marca. Porém, ainda não foi aprovado. “Enquanto isso, observamos alguns efeitos colaterais, como, por exemplo, o alto índice de consumo de alimentos ditos como não saudáveis”.

– Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada três crianças no Brasil estão com sobrepeso. Além disso, o segmento de brinquedos para crianças só cresce, segundo os dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Claramente isso são reflexos do poder persuasão – destaca.

Dario diz que para que as marcas respeitem a ética, é preciso, primeiro, assumir sua responsabilidade no processo de influência das crianças.  Segundo, é fundamental que as empresas sejam claras. Ou seja, elas devem encarar do ponto de vista educacional, mostrando os benefícios e os malefícios desses produtos. “Não quer dizer que é preciso fazer uma campanha socioeducativa. E, sim, ser mais transparente”.

– Por exemplo, pode avisar que a criança não deve beber determinada bebida todo dia, pois pode fazer mal para a saúde. Isso vai mostrar que aquele produto em alto consumo pode gerar efeitos negativos – comenta.

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Hebe de Bonafini – Amor de mãe, amor demais

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Hebe de Bonafini – 30 mil pessoas foram torturadas e mortas no período da ditadura militar argentina.
Foto: Rodrigo Correia

 

Na Praça de Maio, em Buenos Aires, reúne-se um grupo de mulheres, com lenços brancos na cabeça.

São idosas, são de todos os cantos do país e são mães. E são mães.

A primeira reunião destas senhoras foi espontânea, eram mulheres que procuravam por seus filhos.

Eram mães que procuravam por seus filhos.

As Mães da Praça de Maio, como ficaram conhecidas as mulheres, se reúnem ali toda quinta-feira.

Toda quinta-feira é dia das mães.

Uma delas, vinda do interior, procurava por seu filho Jorge, em 1977 ela procurava seu filho mais velho que havia desaparecido.

Hebe de Bonafini tinha então 49 anos.

A procura de Hebe por Jorge – e depois por Raúl, seu filho mais novo e María, sua nora – já dura 35 anos.

Não há mãe que não espere seu filho com o coração apertado.

Os militares, responsáveis pelo sumiço dos filhos de Hebe, diziam que o grupo de mulheres eram “As loucas da Praça de Maio”.

Talvez o normal fosse esquecer, mas qual mãe esquece?

Eu conhecia Hebe de Bonafini antes mesmo de estar com ela.

Tinha visto aquela expressão em outros rostos.

Porque todas as mães têm na face de um amor que não cabe nelas.

Mas quando estive com ela, quando vi os cabelos brancos que o pañuelo também branco esconde, pude perceber algo mais.

As mães também tem um sofrimento que não cabe nelas.

Em Córdoba, em outra praça, Hebe discursava a uma pequena multidão.

Com ela, outras senhoras, outras esperas.  30.000 filhos – e também pais, mães, irmãos – são esperados.

Muitos dos que ouvem as palavras de Hebe não tinham idade para ter visto os horrores e a violência que aconteciam durante a ditadura argentina.

Mas ela não falava só do sequestro de seus filhos.

Era uma mãe que falava da fome, do desemprego, da falta de educação, do crime.

Ela falava do que faz crianças sumirem hoje.

“Estão vivos, estão vivos sim, todos os ideais dos desparecidos estão vivos!”.

Hebe diz ao microfone.

E os jovens que a ouvem aplaudem.

Hebe Pastor de Bonafini tem 83 anos.

Ela é uma mãe argentina que tem agora muitos filhos. Amor de mãe não é nenhum mistério.

É só amor demais.

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