Augusto Cury diz que, sem gerenciamento interno, “risco de adoecer nesta sociedade estressante é altíssimo”

Compartilhe este conteúdo:

Em Palmas neste sábado, 19/09, para a abertura do 9º Salão do Livro do Tocantins, onde ministrará a palestra “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”, o médico psiquiatra Augusto Cury, autor de vários livros e recordista de vendas no Brasil vai abordar alternativas para que as pessoas tenham mais qualidade de vida e, sobretudo, sejam atores/atrizes das suas próprias vidas.

De acordo com o Dr. Augusto Cury, o “ser humano moderno tem uma mente tão complexa e abarcada por tantos estímulos da atualidade que não é mais gestor de sua mente. É marionete dos pensamentos acelerados e perturbadores”. Desta forma, é necessário “gerenciar a mente” através da inteligência emocional.

Questionado sobre o que trouxe de novo às pesquisas relacionadas aos papéis da consciência e do inconsciente, Cury disse que sua grande contribuição foi “produzir conhecimento voltado a desvendar os mistérios da mais complexa das máquinas, a mente humana”. Neste sentido, acabou por descobrir a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), que trata-se de uma ansiedade com características novas, “embora tenha alguns sintomas semelhantes aos transtornos clássicos de ansiedade, como o Estresse Pós-traumático, a TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizada, Ansiedade fóbica”.

Ao longo de 25 anos de carreira, atuando como psiquiatra, pesquisador e escritor, o Dr. Augusto Cury alcançou o reconhecimento nacional e internacional, tornando-se o autor mais lido da última década, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo e revista Veja. Seus livros são publicados em mais de 70 países. Recebeu o prêmio de melhor ficção do ano de 2009 da Academia Chinesa de Literatura, pelo livro – O Vendedor de Sonhos – que em 2015 será lançado como filme nos cinemas.

Dr. Augusto Cury também é autor da teoria Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos, sendo um dos poucos pensadores vivos cuja teoria é estudada em cursos de mestrado e doutorado nos EUA, Europa e Brasil. Abaixo, confira a íntegra da entrevista exclusiva. (Com informações da ascom/Grupo Augusto Cury)

(En)Cena – Muita gente acha que o Mal do Século é a Depressão, mas o Sr. irá abordar em sua palestra que se trata da Ansiedade. Por que exatamente este enfoque?

Augusto Cury – A Síndrome do Pensamento Acelerado é o mal do século, superando a depressão, por atingir pessoas das mais diversas idades, das crianças aos adultos, e de todas as classes sociais. Crianças e adolescentes estão esgotados mentalmente. Pais e professores estão fatigados sem saber a causa. Profissionais das mais diversas áreas já acordam sem energia e carregam seu corpo durante o dia.

A depressão é o último estágio da dor humana, é uma doença gravíssima que precisa ser tratada. Atingirá 20% da população até o final desta década, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde).  Mas a SPA, infelizmente, tem atingido uma parcela ainda maior da população, pois estimamos que mais de 85% das pessoas são acometidas por essa síndrome.

(En)Cena – O senhor diferencia as várias matizes da Ansiedade. E, a partir destas diferenciações, foi o descobridor da “Síndrome do Pensamento Acelerado”. Em que consiste?

Augusto Cury –  A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) é uma ansiedade com características novas, embora tenha alguns sintomas semelhantes aos transtornos clássicos de ansiedade, como o Estresse Pós-traumático, a TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizada, Ansiedade fóbica. Eu descrevi essa síndrome e há várias pessoas estudando-a, inclusive utilizando-a em teses acadêmicas.

As causas da SPA são os excessos da modernidade: excesso de informações (atualmente o número de dados dobra-se a cada um ano, enquanto no passado dobrava-se a cada dois séculos), excesso de trabalho, de atividades, de uso de celular, games, internet, mudanças sociopolíticas.

Os sintomas são: fadiga ao acordar, sofrimento por antecipação, irritabilidade, baixo limiar para frustrações, dificuldade em lidar com pessoas lentas, déficit de concentração, de memória, transtorno do sono e sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça e muscular. Dois a três sintomas já refletem um cérebro esgotado.

(En)Cena – O senhor costuma dizer em algumas palestras que pensar demais é uma bomba para o desenvolvimento psíquico e emocional. Essa dinâmica é uma antítese à criatividade?

Augusto Cury –  O Homo Sapiens, ser humano moderno, tem uma mente tão complexa e abarcada por tantos estímulos da atualidade que não é mais gestor de sua mente. É marionete dos pensamentos acelerados e perturbadores, não consegue dar um choque de lucidez nas informações que recebe. Têm uma mente que é um depósito sem gerenciamento, absorve tudo, desde os jornais, livros, processos das empresas, mas não consegue dar uma administração adequada para utilizar, de maneira racional e assertiva, os dados que têm para desenvolver criatividade e capacidade de resposta.

A criatividade é bastante privilegiada quando desenvolvemos a inteligência emocional. Ela não deve ser atrelada tão somente à capacidade de criação concreta, ou seja, associada à inventividade, elaboração tecnológica, produção literária, musical, cênica, cinematográfica, mas é preciso expandirmos a nossa visão de criatividade sobre múltiplas possibilidades nos desafios cotidianos.

Quantas vezes nos deparamos com um problema anteriormente enfrentado sem conseguir vislumbrar caminhos para solucioná-lo diferentes dos outrora trilhados? Somos criativos ao surpreendermos saudavelmente os outros, ao trabalhar nossas argumentações diante de uma discussão, ao elaborarmos uma comunicação não agressiva, ao sermos mais afetuosos em apontar erros. Muitas vezes nos tornamos reféns da velha forma de ver e pensar sobre as coisas, sem nos permitir mudar o foco, ver por outro prisma, tentar novas possibilidades.

(En)Cena – Na sua nova teoria, que é objeto de teses de doutorado pelo mundo todo, afinal de contas, qual o grande diferencial em relação às demais teses? O que trouxe de novo aos papéis do consciente e do inconsciente?

Augusto Cury –  Minha grande contribuição foi produzir conhecimento voltado a desvendar os mistérios da mais complexa das máquinas, a mente humana. Foi perceber que brilhantes pensadores como Sócrates, Platão, Aristóteles, Spinoza, Hegel, Marx, Freud, Jung, Skinner, Piaget, Gardner, usaram o pensamento pronto como matéria-prima para produzir filosofia, o processo de formação da personalidade, o processo de aprendizagem, as ciências sociopolíticas. Mas raramente tiveram a oportunidade de estudar o processo de construção de pensamentos e os papéis vitais do EU como gerente psíquico. Eles promoveram a ciência, as artes e as ideias humanistas mas foram, ainda que minimamente, caminhantes nas trajetórias do seu próprio ser e amantes da arte da dúvida e da crítica, enquanto produziam conhecimento sobre os fenômenos que contemplavam.

(En)Cena – Na sua palestra, serão dadas dicas sobre o papel de compreensão e modificação das memórias? Como isso é possível?

Augusto Cury –  Tenho dito em minhas palestras que, para nós, Homo Sapiens, não é possível deletar os arquivos da memória por nossa vontade consciente, mas podemos e devemos reeditar as experiências traumáticas, enxertando novas experiências nos focos de tensão, ou seja, quando elas estão abertas, quando estão patrocinando a claustrofobia, fobia social, impulsividade, ansiedade, timidez, ciúmes.

O papel principal do ser humano é dirigir o script da sua história e dirigir esse script não passa por apagar o passado, mas reeditá-lo no presente. A cada crise, introduz a esperança, em cada frustração, introduz novas ideias, a cada lágrima, se irriga a sabedoria. Só se muda história escrevendo outra e não deletando a primeira.

(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o que alguns críticos chamam de “excessiva patologização da vida” e, em igual medida, o excesso na prescrição de medicamentos na área psiquiátrica?

Augusto Cury – A medicação, quando necessária, é um ator coadjuvante do tratamento. Os ansiolíticos são úteis, em especial quando há transtorno do sono. O sono é o motor da saúde física e psíquica. Se alguém desprezar o seu sono sofrerá sérias consequências. Mas o Eu deve ser o ator principal. Como digo nas metodologias do Programa Escola da Inteligência e das Escolas Menthes, desenvolvidas por mim com base em minha Teoria da Inteligência Multifocal, que visam a educação emocional e a qualidade de vida, se não treinarmos nosso Eu para gerir pensamentos e proteger nossa emoção, o risco de adoecer nessa sociedade estressante é altíssimo.

(En)Cena – Nos Estados Unidos, já há uma corrente crescente de profissionais de toda ordem que, aos poucos, estão aderindo ao chamado “essencialismo”, procurando focar na simplicidade e na qualidade das ações, em detrimento de uma infinidade de coisas a fazer. Esta realidade pode ser vislumbrada no Brasil a médio prazo?

Augusto Cury – Cada vez mais pessoas no mundo todo estão tomando consciência de que a vida é um grande espetáculo, mas apesar de ser belíssima, ela é muito breve, tal como uma chama que rapidamente cintila e logo se dissipa. Tal consciência nos estimula a buscar a sabedoria e investir em qualidade de vida, tornando-nos profissionais mais eficientes, amigos mais compreensivos, pais mais profundos, mães mais amorosas, jovens mais inteligentes, pessoas mais felizes.

Felizes são aqueles que conseguem transpassar a cortina do seu dinheiro, status social e títulos acadêmicos e se apaixonar pela vida, enxergando que cada ser humano é um ser único no palco da existência. Para esses, cada dia é um novo dia.

É fundamental investir naquilo que o dinheiro não compra e o status não propicia. Para desenvolver as funções mais importantes da inteligência e viver dias felizes, é necessário garimpar nos recônditos anônimos do espírito humano, no anfiteatro de nossa mente e na arena de nossa emoção. É preciso sonhar, pois os sonhos são verdadeiros projetos de vida, resgatam nosso prazer de viver e nosso sentido de vida, que representam a felicidade essencial que todos procuramos.

(En)Cena – Quais os seus projetos futuros, na área educacional e editorial?

Augusto Cury – Meus objetivos são continuar disponibilizando, por meio de meus livros e da metodologia das Escolas Menthes e do Programa Escola da Inteligência, as ferramentas necessárias para o gerenciamento emocional. Espero atingir cada vez mais pessoas, para que possam alcançar a felicidade inteligente, fruto de uma mente livre e uma emoção saudável.

(En)Cena – O senhor vem a Palmas participar do 9º Salão do Livro. Sua abordagem é cada vez mais popular entre os brasileiros. Qual a contribuição de seus escritos e palestras para a construção de uma sociedade mais consciente destes temas?

Augusto Cury – A humanidade tem percebido que não adianta ter os conhecimentos e habilidades necessários para gerenciar o mundo de fora se, primeiro, não aprendermos a gerenciar o mundo de dentro. E, para isso, devemos ter em mente que não há fórmulas mágicas, a palavra de ordem da gestão da emoção é a educação, o treinamento constante e o exercício contínuo.

Compartilhe este conteúdo:

Má indole na juventude: a formação do ego e as consequências

Compartilhe este conteúdo:

A Associação Brasileira de Psicopedagogia defende a importância das brincadeiras para um melhor desenvolvimento social e psicológico da criança. Porém mentir, roubar e matar são ações cada vez mais presentes na infância. Deve-se a isso o excesso de exposição a situações que podem comprometer a formação da índole do ser humano. É o que diz o psicopedagogo Augusto César Baratta – psicólogo, especialista em Terapia de Grupos: Drogas / Bullying, Sexualidade e transtornos.

Dr. Augusto César Baratta (Foto: Walter Riedlinger)

(En)Cena – Como é composta a índole infantil?

Dr. Augusto César – A índole infantil é a formação do ego mais as experiências dela. É claro que uma criança que nasce num assentamento, sendo subjulgada, ela não vai ter a mesma formação do caráter, o lado social. A índole dela já é reflexo do medo, da rejeição familiar, da primeira infância, a falta do afeto do grupo familiar. Isso vai levando-a a viver com a má indole, socialmente. Para si, ela não é má. É um instinto de defesa.

(En)Cena –Com que idade isso começa a se manifestar?

Dr. Augusto César – Aos 3 anos de idade, podemos ver o instinto da criança. Ela já começa a querer dominar o espaço dela. Você dá o brinquedo e ela brinca até quebrar. Ela não sabe responder, apenas rejeita coisas que não são agradáveis. A socialização vai ajudá-la a controlar esse instinto. Essa agressividade pode ser temporaria ou não. Se a família começar a ter o amor, ensinando a se socializar, ela consegue controlar o instinto.

(En)Cena – Esta fase pode, de alguma forma, definir o comportamento da criança no futuro?

Dr. Augusto César – Estará sempre presente, acompanhá-la durante a vida toda. Mas a socialização pode controlar isso. Com autocontrole, ela consegue viver normalmente, porém pode ser agressiva de repente. E isso tem tudo a ver com aquela rejeição e desafeto da infância.

(En)Cena – Qual a responsabilidade dos pais neste processo?

Dr. Augusto César – Os pais, muitas vezes, zelam demais. O excesso de afeto cria a facilidade da criança ter o que quer. Se zelar demais, no dia em que tiver alguma barreira, ela não vai aceitar, porque não está preparada para o “não”. Há pessoas que me perguntam: Os pais são maravilhosos, a vida é maravilhosa, então porque aquela criança não se tornou uma boa pessoa? Porque nunca teve dificuldade na vida, não teve noção de mundo, nem viu os limites do querer.

(En)Cena – Sabendo que o jovem pode ter momentos de descontrole, como podemos definir ações como bullying, muito presente nas escolas e outros círculos sociais? 

Dr. Augusto César – O bullying é a índole de agressividade. Os amigos que estão assistindo o rapaz praticar o bullying até acha o máximo, mas depois vai ver que aquilo é horrível. O bullying se divide entre agressor, vítima e ouvinte. O agressor é aquele que comete o ato, a vítima é o que acometido pela agressor e o ouvinte são os cúmplices do ato, aqueles que apoiam o agressor. Os ouvintes apoiam até para não se tornarem vítimas. O bullying foi potencializado pelas redes sociais, o qual chamamos de cyberbullying, porque na internet o jovem perdeu a noção de espaço, não sente o mesmo pudor.

(En)Cena – Como explicar, clinicamente, a má formação da índole?

Dr. Augusto César – A má índole se desenvolve como uma fobia de não conseguir o que quero, não ser reconhecido como espero. O traficante quer o que? Demonstrar o poder dele para e na comunidade, até para se sentir protegido. Ter o reconhecimento que não teve na infância.

(En)Cena – A má índole  pode ser camuflada de alguma forma pelo indivíduo?

Dr. Augusto César – A criança pode passar a vida inteira sem demonstrar o transtorno de conduta. O que é transtorno de conduta? É a falta de noção de limite entre os seres. Na ficção vemos muito isso. Inclusive, os filmes de ficção podem, sim, influenciar nas decisões do ser humano afetado pelo transtorno.

(En)Cena – Pode citar um exemplo?

Dr. Augusto César – O caso de Realengo, no Rio de Janeiro, é bem forte. Parece-me que ele se se baseou em um filme sobre terrorismo (“Nova Iorque sitiada”). O assassino se dizia mulçulmano, que era de uma seita, ou seja, se passou por um personagem, porque ficou provado que não era. Aí já temos um certo desvio de conduta.

Wellington Menezes de Oliveira, o assassino de Realengo (Divulgação: Polícia Civil – RJ)

Saiba mais:

Relembre o caso de Realengo. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/e-preciso-investigar-sim-se-assassino-do-rio-tinha-vinculo-com-terrorismo-islamico/

“Precisamos falar sobre Kevin”: Gênese da psicopatia.http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=4564&id_coluna=13

As crianças más do cinema. http://cinepop.virgula.uol.com.br/10-melhores-criancas-malvadas-do-cinema-3403

Compartilhe este conteúdo: