A militância da “torneira aberta”

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Eu era uma iniciante na militância de esquerda quando escutei algo que não entendi muito bem na ocasião, mas nunca mais esqueci. O tema era política de meio ambiente e preservação da água, e se não estou enganada, foi o então querido deputado petista Paulo Delgado quem disse algo assim: “Toda política pensada para a preservação da água só será eficiente se continuar funcionando mesmo quando eu e você esquecermos nossa torneira aberta”

Eu só fui compreender, de fato, essa bela metáfora algum tempo depois, mas ela mudou imediatamente meu olhar para a política e para a militância, tanto que eu nunca mais a esqueci. Entendi que, no campo da política, a mudança do comportamento das pessoas no um a um pode ser importante, mas ela de nada vale se as questões estruturais não forem tocadas. Entendi que é uma ilusão, e as vezes uma ferramenta ideológica (neoliberal), achar que vou fazer algo pela preservação do Planeta fechando minha torneira ao escovar os dentes, sem tocar na questão das monoculturas de soja, dos grandes produtores de gado e dos madeireiros da Amazônia. Entendi também que brigar com meu vizinho quando ele lava o carro fazendo um discurso ambiental-apocalíptico, só vai me tornar uma chata, arrogante e cheia de superioridade moral. Vou criar uma treta inútil que não vai salvar o Planeta, além de poder provocar o vizinho a odiar todas as causas ambientais e a lavar o carro duas vezes por semana ao invés de uma, só pra baixar a minha bola.

Essa metáfora me fez dimensionar a minha militância, tomar a distância necessária de uma certa situação a fim de entender quando ela se faz realmente necessária e quando ela serve apenas para alimentar meu ego, minha arrogância, me tornar uma chata moralista ou culpabilizar pessoas e comportamentos que não são a causa, mas efeito daquilo que estou combatendo. Me fez entender que a boa militância, a que faz realmente o efeito desejado, tem lugar para acontecer e deve ser dirigida às estruturas e superestruturas, ainda que o efeito dela no um a um possa ser estimulado e celebrado.

Fonte: encurtador.com.br/uCDFT

Vejo, por exemplo, muitas mulheres usando os argumentos do discurso feminista para se impor ou brigar com seus parceiros. Eu não recomendo. É inútil para a causa e péssimo para estreitar a comunicação do casal e amadurecer o relacionamento. Se meu companheiro me diz algo do tipo: “Você não vai sair assim” ou “Eu não quero que você faça tal coisa” eu simplesmente vou dizer “Fodasse, meu amor! Eu te amo, mas você não manda em mim”, e fazer o que eu quero fazer. Não preciso fazer discurso de militância, não preciso citar Simone de Beauvoir, não preciso chamá-lo de macho opressor abusador. Só preciso me posicionar e garantir meu espaço. E isso é mais educativo e fará muito mais pelo feminismo do que qualquer discurso militante que eu faça, além de ser muito melhor para o nosso relacionamento, porque ele logo vai entender que ou me respeita ou cai fora. Se eu preciso do anteparo do discurso feminista para me posicionar diante do homem que eu escolhi como parceiro, meu feminismo já falhou.

Certa vez, eu presenciei uma defensora das causas animais militando pra cima de um morador de rua porque ele, na ausência de uma coleira, amarrou um cachorro com um pedaço de fio. O cachorro, sabendo de que lado ficar, latia em defesa do seu dono, enquanto a mulher, aos berros, acusava o rapaz de maltratar o animal. Desde quando a população de rua é a verdadeira ameaça aos direitos dos animais? Não seria mais eficiente simplesmente comprar uma coleira para o cachorro e dar ao cidadão? Tenho certeza que ele não negaria o presente.

Resumindo, o discurso militante deve se reservar aos debates públicos, às instituições, às arenas de debate democrático e às construções coletivas. Para o caso a caso, para a conversa informal presencial ou nas redes, para os relacionamentos, para a sala de aula ou para a mesa de bar, mais vale a boa e velha conversa, ou até mesmo uma briga sincera. Para os excessos que adoecem, valem a psicoterapia e a psicanálise. Para os excessos que infringem os limites impostos pela sociedade, vale o rigor da lei.

Por fim, toda vez que uma situação me provoca o discurso militante, eu me pergunto se estou fazendo algo que realmente fará diferença para a causa que defendo ou se estou apenas dando lição de moral pra alguém que esqueceu a torneira aberta.

Fonte: encurtador.com.br/xzM34
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Apontamentos da medicina, frente ao distúrbio emocional da “Ansiedade”

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A presente experiência de estudo busca apresentar apontamentos acerca dos profissionais da saúde, mais precisamente aos especialistas da Medicina, que servem como atuantes fundamentais nos diagnósticos relacionados à ansiedade. Desta forma, esta análise toma como recorte temático o distúrbio emocional frente à ausência de domínio interior e exagero de controle exterior, que, por conseguinte, implica na insegurança pessoal de pacientes que sofrem deste distúrbio e que depositam uma maior confiabilidade no outro do que em si mesmo.

O autor Zandomeneghi (2008) nos coloca que o controle pessoal é um aspecto importante no manejo da ansiedade: se aprendemos a ver-nos controlando o ambiente ou sendo controlados por ele. O comportamento recebe a influência do controle externo e sua vida passa a ficar à mercê do mundo exterior, ou seja, controle está nas mãos do outro. Nosso comportamento também recebe influência do controle interno: quando alguém tenta jogar problemas ou mau humor em nós, colocamos em ação o autocontrole, buscando internamente recursos para lidar de maneira adequada com aquela situação, sem deixar-nos influenciar pelo outro e sim por nós mesmos, tomando as rédeas da própria vida. (ZANDOMENEGHI, 2008).

Toda via, em se tratando do conceito real deste distúrbio emocional, temos que a ansiedade ocorre por antecipação de ocasiões. Considerada como atributo biológico do ser humano, aponta percepções físicas desagradáveis, tais como: medo intenso, vazio no estômago e outras tantas sensações.

A ansiedade é um estado emocional de apreensão, uma expectativa de que algo ruim aconteça acompanhado por várias reações físicas e mentais desconfortáveis. (Zandomeneghi, 2008)

É importante destacar que alguns comportamentos “estranhos” podem ser apresentados uma vez ou outra por todos nós, em função da nossa vida ser cheia de estados emocionais variados, normalmente implicados por crises e transições psicológicas vivenciados em nosso cotidiano.

Desta forma, a ansiedade igualmente pode ser uma reação a um impulso sexual ou agressivo reprimido, o qual ameaça extrapolar as defesas psicológicas que normalmente mantêm tais abalos sobre o domínio. Entretanto, a ansiedade indica uma aparência de conflito psicológico, que dialoga com apontamentos de pesquisas realizadas pelo núcleo educacional cientifico.

Essa sensação pode se transformar em um distúrbio quando fica crônica e tende a se concentrar em questões da vida real, como problemas no trabalho, nas relações, nas finanças ou na saúde, os quais, dessa maneira, passam a ser encarados como perigosos ou ameaçadores para nossa segurança e bem-estar. (N.E.C., 2009)

Assim, a análise do histórico familiar de ansiedade é imprescindível nos diagnósticos, pois este pode ajudar o médico a estabelecer o exame, uma vez que tanto a predisposição para uma ansiedade específica como a predisposição geral para a ansiedade tem, muitas vezes, caráter hereditário. (Manual Merck, 2012)

Neste sentido, o estudo aqui oferecido, é de suma importância no sentido de nos atentarmos a fazer uma auto-análise para entender os agravos que este distúrbio da ansiedade pode nos causar. Vale lembrar que este problema vem se repetindo através dos séculos desde a Grécia Antiga e que poucos estão aptos a fazerem juízo dessa imperiosa precisão que pode gerar graus múltiplos de adoecimento, necessitando assim, da assistência especializada em saúde da Medicina.

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