Desigualdades Sociais e Saúde: um panorama inconveniente

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A obra “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à  saúde“ (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009), da médica Rita Barradas, com experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, é organizada em seis capítulos, que apresentam informações detalhadas, baseadas em pesquisas e estudos quantitativos, sobre como a desigualdade social faz mal à saúde e o por que da sua ocorrência.

As desigualdades sociais são amplas e envolvem as desigualdades de classe social, de raça ou etnia e de gênero. Sendo um livro que contém dados quantitativos sobre os fatos é possível ser comprovado as hipóteses do senso comum e se surpreender com outras, como riqueza e bem-estar não é necessariamente uma relação mútua. O livro retrata  sobre  os impactos que essas desigualdades causam na saúde (patologias causadas pela insalubridade, pelo estresse, pela falta de informações entre outros fatores).

Fonte: encurtador.com.br/msvT0

O primeiro capítulo tem como título: ‘O que queremos dizer com desigualdades sociais em saúde?’. Desigualdades sociais, nesse contexto, são diferenças no estado de saúde entre grupos definidos por características sociais, tais como riqueza, educação, ocupação, raça e etnia, gênero e condições de local de moradia ou trabalho. A palavra desigualdade está se referindo às situações que implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a características que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação ao acesso à saúde. Em todas as sociedades as situações de risco, dos comportamentos relacionados à saúde e o estado de saúde física e mental tendem a variar entre os grupos sociais, existe um gradiente entre as posições sociais e os efeitos sobre a saúde e não há um limiar a partir da qual as diferenças desaparecem.

Na falta de uma teoria, tenta-se explicar as desigualdades sociais em saúde de maneira relativamente simplista. Como a explicação de que os serviços à saúde é diferenciado para os vários grupos e, portanto, os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponíveis, mas esta explicação é derrubada pela constatação de que as desigualdades não desaparecem países em que existe sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Esta e outras explicações, como: a doença como principal determinante da posição social, estilo de vida e explicações baseadas em fatores genéticos não são válidas para compreender as desigualdades sociais em saúde e deixa clara a necessidade de estudos que possibilitem a compreensão desse fenômeno.

Há quatro teorias principais que visam fornecer elementos para compreensão do processo de produção da saúde e da doença e seus reflexos sobre a distribuição do estado de saúde na população. A teoria mais antiga e mais facilmente aceita é a estruturalista ou materialista, que confere maior importância à estrutura econômica da sociedade. De acordo com ela o montante de renda ou riqueza dos países grupos sociais dos indivíduos é o principal determinante do estado de saúde, a falta ou insuficiência dos recursos materiais para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida acaba por produzir a doença e diminuir a saúde, essa teoria é capaz de explicar a grande parte das desigualdades mas tropeça diante do paradoxo de que nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde.

Fonte: encurtador.com.br/beCFK

Outra teoria desenvolvida para enfrentar o paradoxo entre riqueza e nível de saúde é a psicossocial. Ela dá mais importância à percepção da desvantagem social como fonte de estresse desencadeador de doenças. Na América Latina a discussão sobre as desigualdades sociais vem sendo feita principalmente à luz da teoria da determinação social do processo saúde-doença. Essa teoria analisa a constituição do próprio sistema capitalista com ênfase aos mecanismos de acumulação do capital e à distribuição de poder, prestígio e bens materiais deles decorrentes. A posição de classe e a reprodução social passam a ser vistos como os principais determinantes do perfil de saúde e doença.

E por fim a teoria ecossocial que chama a atenção para processos de incorporação pelos organismos humanos dos aspectos sociais e psíquicos predominantes no texto nos quais os indivíduos vivem e trabalham, esta teoria considera impossível a separação entre o biológico, o social e o psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/efOR5

As quatro teorias apresentadas compreendem o processo saúde-doença como intrinsecamente histórico, isto é, determinado pelas condições estruturais e conjunturais em que vivem as populações humanas. As relações econômicas, sociais e políticas afetam a forma como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e, desse modo acabam por moldar os padrões de distribuição das doenças, sendo assim toda e qualquer doença e sua distribuição populacional produtos da organização social, o que significa que todos devem ter acesso e utilizar os serviços indispensáveis para resolver as suas demandas de saúde, independente do grupo social ao qual pertençam, e aqueles que apresentam maior vulnerabilidade em decorrência da sua posição social devem ser tratados de maneira diferente para que a desvantagem inicial possa ser reduzida ou anulada.

No segundo capítulo fala sobre a posição social, de acordo com a concepção de Marx, e Weber e seus reflexos sobre a saúde. As explicações sócio-históricas das desigualdades em saúde baseiam-se na ideia de que saúde é um produto social e algumas formas de organização social são mais sadias do que outras. Assim, os mesmos processos que determinam a estruturação da sociedade são aqueles que geram as desigualdades sociais e produzem os perfis epidemiológicos de saúde e doença. Conceito-chave nessas abordagens é o processo de reprodução social que por sua vez implica a reprodução de diferentes domínios da vida como a reprodução biológica do indivíduo o das relações com o ambiente e o da cultura.

Fonte: encurtador.com.br/qGMY1

Todos esses processos produzem impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos, cujo resultado final será a preservação da saúde, a ocorrência da doença ou agravos à saúde. Na concepção marxista as classes sociais são definidas como grandes grupos de indivíduos que se diferenciam entre si pela posição que ocupam no sistema de produção historicamente determinado, pelas relações que estabelecem com os meios de produção, pelo papel que desempenham na organização social do trabalho e pelo modo como se apropriam de parte da riqueza social.

O conceito engloba as dimensões econômicas, sociais jurídicas, políticas e ideológicas. O conceito de classe social é importante para que possam pode ser identificados grupos definidos a partir de seus vínculos sociais estruturais que são os determinantes mais imediatos das condições de vida das famílias e, portanto, da situação de saúde dos indivíduos.

Na concepção weberiana a posição social dos indivíduos decorre da classificação segundo três dimensões: classe econômica, prestígio e poder político. Os estratos sociais são compostos por indivíduos que compartilham determinadas características de inserção econômica (ocupação), prestígio social (escolaridade) e poder ou riqueza (renda), características essas utilizadas para alocá-los em uma escala ou gradiente de valores crescentes ou decrescentes.

As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde para ações preventivas ou assistenciais. Na população brasileira segundo dados da pesquisa Mundial de Saúde a auto avaliação do estado de saúde varia marcadamente com o nível de escolaridade, a prevalência de doenças crônicas também varia com os anos de escolaridade após ajuste por idade. E uso de serviço de saúde também é influenciado pelo grau de escolaridade mas as diferenças são muito menores a criação do Sistema Único de Saúde possibilitou o acesso para a grande maioria da população brasileira.

Fonte: encurtador.com.br/hsA19

A análise dos eventos de saúde em relação ao local de moradia tomando o espaço geográfico como um indicativo das condições de vida da população que nele reside mostra que os indicadores socioeconômicos dos países têm impacto sobre o nível de saúde da população. As desigualdades sociais em saúde repetem-se também no interior dos países em suas regiões e cidades. Há um nítido gradiente de mortalidade infantil que acompanha o PIB per capita em cada capital brasileira, mostrando que quanto maior riqueza menor a taxa de mortalidade infantil.

A posição social dos indivíduos e grupos sociais, medida por indicadores de classe social, variáveis isoladas como escolaridade e classes ocupacionais, ou a partir das condições de vida em determinados espaços geográficos, é um poderoso determinante do estado de saúde das populações, atuando sobre o perfil de morbidade e mortalidade e também sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde. Há inúmeras investigações científicas demonstrando a existência das desigualdades sociais em saúde buscando modelos de interpretação para as mesmas, procurando entender os processos sociais e processos mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.

Neste capítulo (Ser rico faz bem à saúde?), o terceiro, Barata adentra a correlação comumente feita seja de que a riqueza traz mais qualidade de vida a partir do pressuposto de que se pode evitar situações como fome, doenças atribuídas a pobreza e a morbidade em geral, as pesquisas em diferentes países indicam que uma coisa não necessariamente está atrelada a outra, pois as correlações não indicam necessariamente causalidade.

As comparações seriam viáveis, no entanto, se existissem no âmbito de análise que se restringe apenas aos países desenvolvidos, onde o índice de riqueza absoluta atesta para as necessidades sociais básicas como atendidas. Em 1980, Wilkinsons demonstrou, após pesquisar nove países desenvolvidos, que menores taxas de mortalidade infantil estavam mais ligadas a uma boa distribuição de renda do que, de fato, PIB per capita. Outros estudos mostram que embora o nível de satisfação e bem-estar geral aumente com o acúmulo de riqueza no país, estes níveis são bem maiores em países com uma boa distribuição de renda. Temos, portanto, que uma boa distribuição de renda traz, no geral, mais benefícios quanto à saúde do que aumento de riqueza absoluta de um país.

Fonte: encurtador.com.br/cFXYZ

O quarto capítulo aborda as influências dos grupos étnicos nas desigualdades sociais na posição social, na saúde e na inserção social. Existe uma complexidade em explicar as causas das desigualdades étnicas e/ou raciais, pois ela abrange vários aspectos, como o contexto socioeconômico, histórico, político e cultural.

Essas visões de mundo que competem na explicação das desigualdades e iniquidades sociais, entretanto, não dão conta das iniquidades relacionadas com o pertencimento a determinados grupos étnicos, uma vez que os indivíduos não são livres para escolher a qual grupo pertencer, nem esta determinação está relacionada diretamente com a posição de classe. Qualquer consideração das desigualdades sociais em relação a grupos étnicos carrega a dupla determinação: a posição social que tais grupos ocupam na sociedade e a aceitação/rechaço que possam ter frente aos grupos majoritários (BARATAS, 2009, p. 56).

A raça ou etnia não é definida biologicamente, mas sim como uma construção sociopolítica, que dividiu grupos de acordo com suas peculiaridades (costumes, crenças, cor). Essa construção sociopolítica tem impacto nas condições de saúde, no acesso ao mesmo e também contribui para  que esse grupo seja inserido na sociedade da pior maneira. O Brasil não tem uma segregação racial explícita, ele é considerado como um país  miscigenado e multicultural (e ele é), porém é notório que as minorias étnicas sofrem uma desvantagem social. A maioria dos negros encontram-se presentes nos bairros periféricos, têm menor escolaridade, têm pior acesso ao trabalho, saneamento básico, saúde, educação  e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é inferior aos demais povos.

A discriminação é uma ideologia que se apresenta através das interações, tendo uma dominação, à custa das minorias, dos grupos superiores a frente dos outros, privando-os e os excluindo. O racismo é uma forma de discriminação, onde as vítimas são as minorias étnicas. Um dos aspectos fundamentais dos direitos humanos é a igualdade no tratamento, não podendo então haver nenhum tipo de discriminação, seja ela qual for.

Fonte: encurtador.com.br/boFY2

O quinto capítulo refere-se a gênero e sua relação com as desigualdades sociais. Embora a palavra ‘gênero’ possua diferentes significados dentro do seu contexto de utilização, biológico, gramatical ou da saúde, em termos gerais significa conjunto de objetos ou seres que possuem características compartilhadas e têm mesma origem. No âmbito da saúde, a palavra gênero vem para contrastar o masculino e o feminino, seus comportamentos no contexto social e para o acesso aos serviços de saúde.

Segundo a epidemiologista Nany Krieger, o termo gênero passa a ser usado na saúde a partir do ressurgimento do movimento feminista em meados do séc. XX. Essa inserção vem calcada na observação de inserção dos gêneros nos papeis sociais e sua repercussão dentro da saúde coletiva. Para Krieger, somos todos sexo e gênero. Sexo biológico, que influencia algumas de nossas condições de saúde, mas também gênero, este uma construção social, processo sociocultural, que define os papeis masculinos e femininos na sociedade e define as relações entre ambos.

A importância de salientar as diferenças entre os conceitos se dá pois um não toma o papel do outro, a variável sexo não dá conta das questões de gênero enquanto saúde, por um ser um processo sociocultural. Esse ressurgimento dos movimentos feministas no séc. XX vai atribuir uma grande importância ao gênero dentro do sistema de saúde e dos processos saúde-doença e seus atendimentos, pois ao nascer o indivíduo já está inserido neste paradigma e as suas consequências são inevitáveis, seja na questão social, cultural, da saúde etc. Como essas relações construídas permeiam todos os aspectos sociais, é impossível não levar em consideração quando se pensa em saúde pública e suas políticas.

Levando essas diferenças para o âmbito da saúde, as pesquisas indicam que há uma maior taxa de mortalidade para o gênero masculino em todas as faixas etárias, tirando situações com onde o infanticídio feminino e precariedades no parto são grandes. Esses dados, no entanto, refletem a diferença de gênero, pois não seria uma questão do sexo biológico, mas sim do gênero e sua imposição em relação à identidade cultural, nos trabalhos insalubres, na construção social, modo de vida etc. Paradoxalmente, o gênero feminino possui indicadores de saúde menores e recebe menos por horas de trabalho efetuadas, ao ponto que o homem recebe mais com menor grau de exigência e maior autonomia, sendo que as mulheres geralmente são forçadas a exercerem cargos com trabalhos mais monótonos e de perspectivas mais curtas, vínculos trabalhistas mais precários e maior desgaste psicológico e emocional.

Fonte: encurtador.com.br/EHJQ0

Não apenas isso, mas o uso dos serviços de saúde também reflete diferenças socioculturais apontadas por questões econômicas, de idade, etnia e de gênero. Embora o uso de consultas médicas aumente consideravelmente com a condição socioeconômica, a presença majoritária é de mulheres, aumento da diminuição do contraste de gênero ao ponto onde a condição socioeconômica aumenta. Para o estado de saúde, a maior desigualdade de gênero é observada entre famílias com até dois salários mínimos, mas as condições de saúde ruins e regulares são encontradas nas famílias com renda média.

O gênero, enquanto construção social, parece adentrar as várias camadas da sociedade na dimensão macrossocial e microssocial, ao ponto que os gêneros representam seus papeis em diversas esferas, esses papeis que são impostos.  Quanto ao sistema de saúde, a conclusão a que Barata (2009) chegou é de que não parece haver discriminação nos serviços de saúde quanto à gênero, uma vez que a maior utilização do sistema se dá pelas mulheres. No entanto, esse uso poderia ser decorrente das políticas públicas voltadas à saúde reprodutiva das mulheres, acarretando nesse maior uso das unidades de saúde.

No sexto e  último capítulo, Barradas (2009) sugere algumas políticas para o enfrentamento das desigualdades. É necessário políticas públicas de controle à gravidez indesejada, incentivo ao pré-natal, possibilidade de boa alimentação, grupos informativos sobre tabagismo na gravidez, pois estes atos juntamente com a pobreza são fatores de risco para incidência de baixo peso em recém-nascidos.

Fonte: encurtador.com.br/juHP0

Existem  três níveis diferentes de ação política para reduzir as desigualdades sociais, essas ações  dependem do contexto social e político de cada país. As políticas macrossociais, como as políticas que modificam a estratificação social,as condições de exposições e vulnerabilidade dos grupos sociais ou políticas de saúde que ajam sobre as consequências ruins das desigualdades, minimizando seus efeitos impactantes. As políticas redistributivas têm positiva ligação com a menor mortalidade infantil, simultaneamente, o nível de distribuição de renda e a esperança de vida estão altas, tais acontecimentos são comuns nos governos social-democratas.

Os princípios para a ação política devem ser o compromisso ético com a equidade; a abordagem baseada em evidências científicas; a preocupação com todo o gradiente de desigualdades, e não apenas com os extremos da distribuição ou com as diferenças individuais; a atuação na vida cotidiana, pois é nela que experimentamos o impacto da estrutura social; e a consciência de que as evidências são importantes, mas há outros ingredientes na tomada de decisão, dentre as quais talvez a mais relevante seja a vontade de transformar as evidências disponíveis em estratégias para a ação. As experiências levadas a efeito para promover a equidade em saúde incluem políticas de redução da desigualdade de renda e de redução da pobreza, políticas fiscais progressivas, controle sobre o capital volátil, perdão da dívida e novas fórmulas de cálculo baseadas na atenção às necessidades básicas, políticas de redução da vulnerabilidade e investimentos em saúde (BARATAS, 2009, p. 101).

Temos ainda que:

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma política setorial em que vacinas são disponibilizadas de forma continuada  na atenção primária (ex. postos de saúde), tendo Campanhas de Vacinação para que a prevenção  atinja toda a comunidade. Apesar da abrangência da vacinação, ela apresenta diferenças entre as camadas socioeconômicas da população. Algumas pessoas da classe alta não usufruem do PNI, não por falta de acesso às informações, mas por outros motivos, dentre eles, a desconsideração das vacinas tradicionais e a vacinação em setores privados. Já as pessoas de classe baixa não vacinam por falta de informações da gratuidade do serviço e dos seus direitos sociais. Assim, mesmo um programa de ampla abrangência como o de imunizações não consegue em sua execução superar todas as desigualdades geradas na estrutura social. O fato de pertencer a uma determinada classe ou estrato social significa não apenas poder desfrutar de determinadas condições materiais, mas também acaba por moldar toda uma visão de mundo com complexas implicações para a saúde (BARATAS, 2009, p. 104).

É indispensável  a atenuação das desigualdades sociais com ofertas de serviços de saúde, quando outras medidas como a modificação da estratificação social e da vulnerabilidade dos grupos diferentes não atingem toda população. Além da inquietação em executar  sistemas de saúde para proteção às famílias  dos efeitos nocivos das doenças, há um cuidado para que  as pessoas não  sofram desigualdades sociais pelos profissionais  dos serviços de saúde.

Fonte: encurtador.com.br/uBORZ

O sistema nacional de saúde com acesso universal juntamente com a distribuição correta de serviços e de equipamentos no espaço geográfico são essenciais para que os indivíduos os utilizem, independentemente de suas particularidades. Além do mais é necessário um preparo dos profissionais e das instituições de saúde para trabalharem da melhor forma. A obra de Barata é rica em informações sobre as desigualdades sociais — classe social, etnia, gênero e inserção social— que afetam negativamente à saúde, pois através dos fatos em que ela está embasada (estudos e pesquisas quantitativas), são vistos a veracidade da obra. A autora que é uma médica social mostra os impactos que as desigualdades sociais têm na saúde, de tal maneira que nos faz refletir sobre tais impactos, impulsionando-nos a contribuir para mudar essa realidade.

Os profissionais da saúde mental que agem especificamente no social são o psicólogo social e o comunitário, trabalhando diretamente com as pessoas que vivenciam, nitidamente, as desigualdades sociais, e que também sofrem, pois a demanda é grande e existem poucos profissionais para atendê-la e também demais fatores não colaborativos para melhor execução da profissão. Barata expôs as informações de uma maneira fácil para avaliação e compreensão das contingências envolvidas na saúde. Portanto, o ideal é que os profissionais da saúde tenham acesso ao conteúdo do livro. Além disso, o Ministério da Saúde deve implantar políticas públicas para amenização desse quadro.

 

REFERÊNCIAS:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. 1ª Ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 120p. (Coleção Temas em Saúde).

* Trabalho resultante da disciplina de Antropologia, ministrada pelo prof. Sonielson Sousa.

 

 

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A saúde como um processo histórico-social e de ordem econômica

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Autora do livro ‘Como e porque as Desigualdades Fazem Mal a Saúde’, Rita de Cássia Barradas Barata possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1975). Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia. A autora apresenta breves considerações teóricas sobre a temática em questão, apontando correntes e tendências existentes na pesquisa epidemiológica sobre o assunto. Desigualdades sociais na saúde, classe social, influência da renda, relações entre riqueza e estado de saúde, etnia e discriminação e por fim, relações de gênero e a produção da saúde e da doença são assuntos questionáveis no livro.

Do ponto de vista acadêmico, o foco principal recai sobre as teorias das desigualdades sociais em saúde. Recorre-se a elas para deixar claro as injustiças como dimensões multideterminadas. A teoria estruturalista citada no livro da ênfase na economia da sociedade; a teoria psicossocial, destaca a desvantagem social como geradora de estresse que possa desencadear doenças; a teoria da determinação social na qual foi adotada na América Latina e no Brasil, cuja seu fator de maior importância é dado ao modo de vida; e conseguinte a teoria ecossocial que enfoca de igual valor, aspectos biológicos, socais e psíquicos.

Juntamente são descritas críticas as vertentes que enfatizam apenas as distinções biológicas entre indivíduos e entre populações e, negligenciam os aspectos políticos que participam da constituição das iniquidades em saúde, ligadas às formas de organização da sociedade. As questões das classes sociais (segundo a tradição marxista), é examinada sua influência sobre o processo saúde-adoecimento das pessoas segundo a “posição social” que cada indivíduo ocupa nessa estratificação (marcadamente definida pelas diferenças econômicas intra e interpopulacionais, mas também jurídicas, políticas, ideológicas e de poder).

Fonte: encurtador.com.br/krCSW

E defende que as pesquisas epidemiológicas devem servir para a identificação dos grupos sociais precarizados, cujos vínculos estruturais determinam diretamente as condições insalubres de vida das famílias e de seus membros.  Identifica ainda que ao se utilizarem (nas categorizações de classes sociais) variáveis como escolaridade, ocupação profissional (trabalho) e condições de vida em um espaço geográfico específico, pode-se obter um indicador do processo saúde doença nas populações.

O enfoque do terceiro capítulo da obra está relacionado na associação entre saúde e riqueza, onde países com um produto interno bruto (PIB) maior são capazes de proporcionar um melhor atendimento para as necessidades básicas de seus habitantes. Um leigo no assunto pactuaria sem questionamentos a essa informação, mas a autora é firme em seu posicionamento ao afirmar que a premissa é falsa. “Desde a década de 1970 pesquisas tem demonstrado que […] a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem mais em saúde” (BARRADAS, 2009, p. 41) assim como em uma mesma região as rendas são inversamente proporcionais, ou seja, há ricos e pobres.

A saúde está ligada diretamente ao poder aquisitivo, aquele que a possuir poderá garantir uma melhor qualidade de vida, mesmo em países desenvolvidos a situação ainda é alarmante, a maior parte da população tem suas necessidades aprovisionadas, já os mais pobres ultrapassam a fronteira da miséria. Uma vez que países com receitas altas possuem residentes em extrema carência concluímos que países de terceiro mundo acabam vivendo em calamidade.

Fonte: encurtador.com.br/vNTX2

A partir do momento que falamos em bem-estar, estudos mostram que países com menor desigualdades na distribuição de renda oferecem uma saúde e qualidade de vida melhor pois quase toda a população está no mesmo nível financeiro. A mortalidade causa impacto em todos os grupos sociais, porém a expectativa de vida se torna ainda menor nos países mais pobres devido à ausência de saneamento, fome e doenças. É fundamental que políticas públicas sejam implantadas ou modificadas em caráter de urgência, a fim que contribuam na amenização da desigualdade sociais promovendo melhores condições para população em geral.

É mostrado o que as desigualdades e igualdades, equidade e iniquidade expressem e logo é exposto um conceito mais claro de inequidade, a qual pode ser encontrada dentro das determinantes socais dentro da saúde em sociedade. As desigualdades sociais na área da saúde são vistas como reflexo das suas escolhas o que eleva algumas pessoas e rebaixa outras. Já no ponto de vista do materialismo histórico são a colocações das pessoas dentro da classe social que irá influenciar em suas escolhas e consequentemente nos reflexos que serão recebidos no futuro.

Dentro desses conceitos há uma competição dada como finalidade a explicação das desigualdades e das iniquidades sociais, entretanto, segundo a autora essas explicações caem por terra quando se trata das iniquidades em um contexto de agrupamento étnico pois os indivíduos não são livres para escolher qual grupo pertencer e qualquer opinião sobre as desigualdades sociais nesse contexto carregam uma dupla determinação e encontram-se melhores explicações dentro da teoria ecossocial. É colocado por ela que a pratica da discriminação étnica seria uma forma mostrar uma relação de dominação e repressão.

Fonte: encurtador.com.br/mouN0

Logo é dado outro conceito, o de raça, que para a biologia seria o sinônimo de divisões dentro de uma mesma espécie, mas o ser humano utiliza esse contexto como justificativa de uma superioridade inata sobre outros grupos, como os negros e indígenas. Sendo que segundo a interpretação da lei da “sobrevivência dos mais adaptados”, os mais fortes são os sobreviventes e com isso ganham poder sobre as outras espécies e sobre os povos “inferiores”.

A autora mostra claramente que embora ciência tenha mostrado que os seres humanos sejam praticamente idênticos ainda há uma persistência na questão de raça superior, tendo em mente também que esse conceito de raça/etnia é uma construção sociopolítica. Com os anos raça passou a ter a mesma definição de grupo étnico que seria definido com base nas características socioculturais apresentadas em um determinado conjunto de pessoas, dentro desse conceito existe uma relação complexa de sociedade para a execução da vontade de domínio sobre o próximo anteriormente citada.

Essas desigualdades existentes em todos os lugares trazem consigo prejuízos a saúde e é notório um prejuízo maior aos povos negros, tanto em necessidades básicas, como em escolarização, emprego, lazeres e a saúde. Isso pode afetar a futura geração desde a gestação, esses prejuízos podem ser notados em diversos países, tanto em homens quanto nas mulheres. Esses danos à saúde também se remetem a uma diferença ao acesso aos meios necessários para a manutenção da mesma, isso tudo depende dos fatores determinantes.

Tais fatores seriam as condições socioeconômicas e a também a forma como é organizada a maneira de acesso a esses serviços de saúde, a relação da clientela com os profissionais também influencia nesses quesitos. No Brasil o SUS (Sistema Único de Saúde) é uma forma de unificar o acesso aos tratamentos necessários, sendo usado por brancas (o), pardas (o), negras (o) ou mulatas (o), um exemplo seria que todas elas agora podem ter acesso ao pré-natal durante a gestação.

Fonte: encurtador.com.br/gqFK7

Entra em questão outro termo também, a questão do racismo que seria basicamente uma ideologia de inferioridade bastante presente na saciedade e também a discriminação racial/étnica que é um fenômeno sancionado socialmente que é baseada na dominação. Nas sociedades onde o racismo está presente existe um limitação e restrição do desenvolvimento econômico e social por conta da reprodução desses atos de inferioridade. Esse assunto traz à tona novamente a questão sobre os problemas a saúde que o racismo pode acarretar a saúde da vítima, que seria hipertensão arterial, transtornos mentais, prematuridade, baixo peso, doenças cardíacas, diabetes e obesidade, abuso de álcool, drogas e tabagismo.

O livro esclarece de forma detalhada o significado da palavra “gênero” em diversos contextos, mas o que mais interessa nesse capítulo é o que esse termo surgiu como a definição mais adequada voltada à gramática e à biologia, tendo o significado como útil para aglomerar os comportamentos adquiridos socialmente pelo sujeito, levando em consideração a cultura do meio em que vive e a influências que isso tem tudo nas diferenças entre o masculino quanto ao feminino.

Em termo começou a ser utilizado também influenciado pelo movimento feminista, em torno do século XX. Pois, questionava, na época no Ocidente, as características atribuídas para homens e mulheres, como no que diz respeito às suas funções e papéis a exercer, quanto a características determinadas culturalmente em seus comportamentos. Mas a grande questão era, se essas desigualdades de saúde estavam diretamente relacionadas de diferenças entre os sexos que eram já impostas geneticamente, ou seja, inatas ou se estavam ligadas aos comportamentos designados para cada sexo moldados pela cultura social (falamos aqui de sexo e gênero como dois conceitos diferentes, porém, que podem haver relação entre si).

Fonte: encurtador.com.br/bzU37

Levando em consideração que somos feitos tanto de sexo, quanto de gênero, sendo o primeiro, aquilo que nos é determinado biologicamente, e o segundo termo, somos resultados de moldagens constantes do meio social. Porém, ambos interferem no que diz respeito à desigualdade na saúde. Tendo em vista que se estudarmos mais afundo nosso biológico (o feminino e o masculino) encontrarem diversas diferenças no que torna muitas vezes, mulheres a estarem mais propensas a certos tipos de doenças em que, em outros casos, os homens não possuem a mesma “pré-disposição”. Mas pode ocorrer o contrário também.

Ao mesmo tempo, essas hierarquias sexuais e de gênero na sociedade em que vivemos, onde o grupo “homem” tem mais direitos e vantagens que a mulher na maioria das situações, é também um forte motivo de desigualdades na saúde. Diversos movimentos consideram que o fator determinante para essas desigualdades na saúde são os fatores sociais que influenciam o gênero. Pois eles argumentam que diversas dessas características da nossa existência que temos já ao nascer, são motivos já consideráveis para influenciar gravemente o perfil epidemiológico. Já em outros casos, os costumes e questões comportamentais que são adquiridos socialmente a interação com outros indivíduos e com o meio, tornando-o fundamental para o perfil epidemiológico também.

Quanto menos focamos na importância de estruturação social, menos entenderemos e consideraremos os gêneros, sendo que essa última causa extrema influência nos aspectos que tem relação com as classes sociais, por isso é importante ser discutido e questionado. A definição sobre o que realmente causa essas desigualdades, ou se é por discriminação, é difícil de determinar. As relações sociais e a divisão sexual de poder na sociedade são ambos os fatos que mais influenciam fortemente, mas que não se dividem nessa questão de desigualdade social, pois em todos os problemas que serão analisados é trazido junto fatores que envolvem o gênero e o sexo, muitas vezes, em posição de determinantes.

Fonte: encurtador.com.br/kmoz8

Na grande maioria das culturas, a taxa de mortalidade é maior entre os homens, pois geralmente são eles que estão mais expostos a situações de risco durante a vida, seja no trabalho, ou o uso de álcool, cigarro e drogas, violências e acidentes também, até óbitos por AIDS. Isso faz questionar as questões de sexo, pois as causas citadas acima de mortalidade não provenientes de características inatas biologicamente, e sim questões de gênero, que implicam em divisões no trabalho por sexo, valores machistas construídos socialmente, gosto adquiridos influenciados pelo ambiente, enfim, comportamentos aprendidos e absorvidos, reflexo de situações vivenciadas.

Porém, a mulher possui muitas vezes uma morbidade mais acentuada, devindas de questões hormonais e genéticas, levando em consideração o biológico. Mas como irão lidar e se comportar diante do mesmo, deixa de ser determinado pelo sexo e passa a relacionado como gênero, pois eles têm comportamentos distintos, que causam resultados também distintos. Mas como a mulher é designada desde pequena para desempenhar papéis na sociedade que dizem respeito a cuidar dos filhos, elas acabam adquirindo uma maneira mais adequada de lidar com os próprios problemas.

Ainda assim, a partir dessas ressalvas sobre a figura do papel é do homem na sociedade e seus adquiridos, aqui no Brasil não há tanto privilégio para um ou outro sexo no quesito saúde, não causando tanta discriminação, mas é importante questionar no que influência as áreas de saúdes que, aqui, principalmente são voltadas para saúde reprodutiva da mulher.

Fonte: encurtador.com.br/fmpV6

Na abordagem, políticas para o enfrentamento das desigualdades é estudado o processo saúde-doença na perspectiva da epidemiologia social, doenças produzidas na população. No primeiro momento será feito uma pesquisa para ter conhecimento da causibilidade dessas doenças, por exemplo o hábito de fumar das mães e classe social como fatores de risco ao nascimento do bebê.

Segundo os dados de Silva (1992) é possível comparar e afirmar “mães adolescentes que fumam e são pobres e apresentam maior risco de ter recém-nascidos com baixo preso quando comparados a mães com 20 anos ou mais de idade”. As políticas públicas visam atuar com ações e atividades desenvolvidas pelo estudar diretamente ou indiretamente ao âmbito social, cultural e econômico do indivíduo, e como nosso principal foco é a desigualdade entre as mães adolescentes fumantes e pobres, as políticas deveriam interferir com palestras visando passar um entendimento para essas mães adolescentes, para que o risco com a mãe e o bebê não seja tão significativo.

Porém nem sempre é exercida essas práticas para amenizar o problema. Segundo Leonard Syme há três problemas significativos na prática em saúde pública. Primeiro é colocado como prioridade a identificação dos fatores de risco mesmo quando há o conhecimento desses riscos, a uma dificuldade em mudar seus hábitos, mas sempre haverá novas pessoas entrando na população. Em segundo não podemos considerar exclusivamente fatores de risco e nas doenças. O terceiro é considerar que o principal determinante é a classe social é mais que importante essas identificações.

Com relação aos dados de Navarro et al, 2006 as políticas redistributivas é a prática de ampliar o acesso da população a serviços públicos e, consequentemente a melhorar a qualidade de vida das pessoas uma vez que esta ação benéfica o grupo. Com isso a taxa de mortalidade infantil, a índices negativos com a quantidade de anos de governo socialdemocrata e com nível de distribuição da renda.

REFERÊNCIAS:

BARATA, RB. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.

* Trabalho desenvolvido para a disciplina de Antropologia, ministrada pelo professor Sonielson Sousa.

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Você sabe como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde?

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Livro escrito por Rita Barradas Barata, da coleção Temas em Saúde, publicado pela Editora Fiocruz, em 2009 no Rio de Janeiro, “Como e porque as desigualdades fazem mal á saúde” é de leitura interessante e indispensável. Barata traz em seu livro questionamentos sobre a desigualdade, como e porque ela afeta a saúde.

Muitos tentam esvaziar o conteúdo político e as conotações de injustiça social e desrespeito aos direitos humanos expressos nessas desigualdades, reduzindo-os simplesmente a diferenças entre indivíduos ou grupos de indivíduos definidos segundo as características biológicas. (BARATA, 2009, p. 11)

Barata traz em seu discurso a ideia de que a dimensão das desigualdades sociais é maior que só “características biológicas”. Ela marca o início do capitalismo como um ponto em que esse tema foi bastante abordado, onde a sociedade burguesa, que defendia os princípios de igualdade, fraternidade e liberdade, contradizia a realidade da vida da maioria dos indivíduos dos países industrializados.

Mas, quando falamos em desigualdade social geralmente estamos nos referindo a situações que implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a características sociais que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação à oportunidade de ser e se manter sadio. (BARATA, 2009, p. 12)

Fonte: goo.gl/oDXayP

A autora defende que os sistemas nacionais de saúde e outras políticas sociais deveriam trabalhar em busca da universalidade, integralidade e equidade. Complementa dizendo que as instituições sociais formais de diferentes setores até levam em sua estrutura, um ideário de estratégias contra as desigualdades, porém, os discursos usados são simplórios, sem levar em consideração os fatores que provocam a desigualdade de fato.

Barata, junto a outros teóricos da medicina social, investiga as variáveis sociais deixando de lado explicações simplificadas e analisando as complexidades dos problemas sociais. Como exemplo dado no livro: Uma gestante, fumante, possivelmente trará malefícios para a criança como; baixo peso, fragilidade corporal, etc., mas, são impactos diferentes se essa gestante é da burguesia, do proletariado ou do sub-proletariado.

Em seu livro, cita as explicações “sócio-históricas” das desigualdades e Barata (2009, p. 23) afirma: “O conceito-chave nessas abordagens é o processo de reprodução social, que, por sua vez, implica a reprodução de diferentes domínios de vida”.

“O sistema de reprodução social dos diferentes grupos inclui os padrões de trabalho e consumo, as atividades práticas da vida cotidiana, as formas organizativas ou de participação social, a política e a cultura.” (BARATA, 2009, p.24).

Ao adotar este tipo de explicação teórica significa romper com a concepção linear de causalidade e abandonar qualquer pretensão de identificar cadeias de causa-efeito entre características ou indicadores sociais e problemas de saúde, bem como entre indicadores de desigualdades sociais. (BARATA, 2009, p. 35)

Fonte: goo.gl/wbrEoZ

A autora segue abordagem na qual defende a não linearidade para eficácia nas resoluções dos problemas sociais. Uma vez que cada indivíduo sofre e reage a uma determinada situação de determinadas formas que são possíveis e que se enquadram na sua classe social.

“O estudo das desigualdades sociais em saúde deveria, idealmente, ter como variável explicativa a classe social construída com base nas relações fundamentais estabelecidas a partir da posição dos indivíduos na estrutura produtiva da sociedade.” (BARATA, 2009, p. 35).

A classe social tem tamanha importância para a saúde, porém

Há vários aspectos a considerar no chamado paradoxo entre riqueza e saúde: a comparação de países, a comparação de regiões de um mesmo país e a comparação entre ricos e pobres […] é importante prestar atenção a dois aspectos relacionados à renda e à riqueza: os valores absolutos e a distribuição ou valores relativos. (BARATA, 2009, p.42).

Barata (2009, p. 56) explica baseado na Teoria Ecossocial, que a discriminação sofrida por certas etnias é um exemplo de imposição do domínio de etnias mais evoluídas economicamente.

Fonte: goo.gl/xZYBJb

Dentro desse entendimento, percebemos claramente, que, o sistema de saúde jamais pode manter o padrão de atendimento com base nas etnias, e sim com base nas necessidades de cada indivíduo.

[…] Além das condições socioeconômicas já assinaladas em relação ao estado de saúde, nas desigualdades no acesso a serviços importa também a configuração da política nacional de saúde, isto é, quais os princípios que a constituem, a forma de organização dos serviços e as formas de relação que se estabelecem entre clientela e profissionais de saúde. (BARATA, 2009, p.63)

Barata (2009, p.63) diz que na saúde, há uma procura de um sistema mais igualitário, regidos pelos princípios de universalidade, integralidade e equidade. Cita como exemplo o SUS (Sistema Único de Saúde).

Barata (2009, p.75) coloca em seu livro um breve discurso sobre a diferença entre sexo e gênero, conclui que sexo possui um perímetro restrito, contendo caráter biológico e gênero possibilita a miscigenação do genótipo com o ambiente, onde, recebe influências sociais.

Fonte: goo.gl/DA8PA9

“[…] as desigualdades em saúde observadas entre homens e mulheres devem ser analisadas a partir dessa dupla determinação: as relações de gênero e as peculiaridades do sexo biológico” (BARATA, 2009, p.75).

“[…] um dos aspectos mais salientes dessas relações é a assimetria do poder que se estabelece entre homens e mulheres na maioria das sociedades […]” (BARATA, 2009, p.75).

Paradoxalmente, as mulheres, em praticamente todas as populações estudadas referem a pior avaliação do próprio estado de saúde e maior frequência de morbidade do que os homens. Algumas explicações para a morbidade mais acentuada nas mulheres baseiam-se nas diferenças hormonais e genéticas entre os sexos, considerando estritamente o ponto de vista biológico. O enfoque nas relações de gênero, entretanto, assinala os diferentes papéis sociais dos homens e das mulheres que acabam por determinar diferentes percepções sobre o processo saúde doença, assim como comportamentos distintos em relação à doença (BARATA, 2009, p.82)

Barata esclarece nesse trecho um a grande diferença entre o ponto de vista biologista e o ponto de vista social. Percebe-se que de fato a influência do ambiente para o indivíduo é de tamanha importância, porém, existe ainda, a influência da classe social, da raça ou etnia, do gênero.

Barata baseia sua obra na não-linearidade, no caso de gestantes que possuem o hábito de fumar, aponta a solução a partir de um controle a essa prática, porém, defende a presença de “[…] políticas compensatórias que possibilitem a melhor alimentação durante a gestação para evitar o baixo peso.” (BARATA,2009, p.96)

Fonte: goo.gl/SPDZwt

“No modelo de determinação social do processo de saúde-doença, as variáveis seriam tratadas através de um modelo hierárquico no qual o principal determinante é a classe social […] A inserção de classe determina igualmente as chances de ocorrência” (BARATA, 2009, p.97).

A autora enfatiza o princípio da equidade para a resolução dos problemas das desigualdades sociais envolvendo etnias ou raças, gênero e a classe social. O texto da autora Rita Barradas Barata apresentou uma visão bastante afrontadora para com o sistema capitalista. Onde o que é implantado pela sociedade nem sempre condiz com a realidade de grande parte da população de um país.

Barata traz de forma genial as diferentes reações dos indivíduos de acordo com a classe social. E se já carrega um passado de inferioridade, na sociedade Patriarcal, como as mulheres ou se trazem uma história de escravidão, exemplo: as etnias que já habitavam o Brasil, antes da chegada dos portugueses, tidas como inferiores por não alcançarem o padrão de normalidade dos portugueses.

Além do princípio de “equidade” defendido por BARATA (2009), acredito que possa aumentar impostos pagos pela burguesia e que essa renda arrecadada seja investida em progressos para indivíduos do proletariado e do sub-proletariado.

Fonte: goo.gl/RBtVQK

Essa pode ser uma alternativa, levando-se em consideração que grande parte da população possui baixa renda e apenas uma minoria possui renda alta.

Podemos notar também que BARATA (2009) traz em seu livro a desigualdade entre gênero, raça ou etnia. O contexto social construído com uma história de escravidão que homens, no caso do Brasil, português com a pele branca, que autoconsiderava mais evoluídos, por meio da força, obrigou índios e negros a trabalharem em condições desumanas.

E o passado de uma vivência em uma sociedade Patriarcal trazendo a mulher durante séculos como inferiores aos homens, cultura que permeia os dias de hoje, como exemplo, a Igreja Católica, que não possui mulheres à frente de suas hierarquias.

Acredito que, levando-se em conta todo esse passado, há uma necessidade de uma base educacional engajada para o desenvolvimento crítico do indivíduo, baseada em uma ideologia de igualdade.

Com a passagem dos anos esse ideário pode ser atingido.

FICHA TÉCNICA:

COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL A SAUDE

Fonte: goo.gl/Ppm7uQ

Título Original: COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL A SAUDE
Autor: Rita Barradas Barata
Idioma: Português
Editora: Fiocruz
Páginas: 118
Ano: 2009

REFERÊNCIA:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

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