Avaliação Psicológica no Contexto da Cirurgia Bariátrica

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A cirurgia bariátrica é um procedimento médico que, tipicamente, é requisitado como método de tratamento da obesidade mórbida. Por causa de sua complexidade, esse procedimento abarca a atuação de vários profissionais, dentre os quais: o psicólogo. Em meio às inúmeras funções desse profissional, é realizada a avaliação psicológica no paciente que almeja ser submetido a bariátrica. Isto posto, será comentado a respeito da obesidade, o que é a cirurgia bariátrica e descrito o procedimento de avaliação psicológica nesse contexto.

Em primeiro lugar, é importante pontuar que, atualmente, a obesidade é descrita como doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associado aos riscos à saúde e comorbidades: dislipidemia, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia do sono etc. De acordo com a OMS (2016), a gravidade da obesidade pode ser categorizada em três níveis.

O primeiro é definido em relação ao Incide de Massa corporal (IMC) entre 30 e 34,9 kg/m². O segundo é quando o IMC está na faixa de 35 e 39,9kg/m². O terceiro é definido quando o IMC é superior a 40kg/m² (FLORES, 2014, p.59). Para além dos problemas físicos, a obesidade interfere nas relações interpessoais sob a forma de estigmas, discriminação e preconceito. Isso se dá porque a boa forma e a imagem corporal são aspectos enfatizados pela cultura ocidental, fator que aumenta o sofrimento das pessoas que destoam desse padrão.

Convém destacar que a orientação dietética, programação e inserção de atividade física na rotina do indivíduo, bem como o uso de fármacos anti-obesidade, apesar de serem os principais tipos de tratamento, muitos pacientes não respondem na manutenção da perda de peso. Portanto, perante a complexidade, o sofrimento e a gravidade da obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica é uma abordagem indicada e eficiente para a redução e manutenção do peso nesses pacientes (SILVA, 2018, p.3).

Em segundo lugar, é importante esclarecer o que é a Cirurgia Bariátrica. De acordo com Flores (2014), no Brasil, o IMC acima de 40kg/m² ou maior que 35kg/m² com comorbidades são critérios que qualificam o paciente para a cirurgia, além de ter feito tratamento clínico insatisfatório por pelo menos dois anos. A cirurgia bariátrica pode ser definida como intervenções cirúrgicas para a redução do estômago aliadas a implantação de artefatos nessa localidade que visem proporcionar a redução do peso do paciente.

De modo geral, a cirurgia bariátrica pode ser categorizada em três tipos: gastroplastia vertical com bandagem, Lap Band, Cirurgia de Capella e Bypass. Tipicamente, os resultados esperados com essa intervenção são a perda de peso, redução das comorbidades e a melhora na qualidade de vida (APPOLINÁRIO; BENCHIMOL; COUTINHO e FANDIÑO. 2004, p.48). Paralelamente, de acordo com o Consenso Latino Americano de Obesidade, a avaliação dos candidatos no pré e pós-operatório deve ser feita por uma equipe multidisciplinar composta por nutricionistas, psicólogos, endocrinologista, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras e cirurgiões (Silva, 2018, p.4).

Em terceiro lugar, é importante pontuar o papel do psicólogo nesse processo. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o psicólogo e/ou psiquiatra que integram a equipe de avaliação pré-operatória, precisam averiguar a possibilidade de uso de substâncias, quadros psicóticos ou demenciais no paciente, bem como o nível intelectual e cognitivo de compreensão dos riscos da operação e cuidados necessários durante o procedimento durante o pós-operatório. Nesse sentido, Flores (2014) contribui na exposição de elementos fundamentais na processo de avaliação psicológica dentro do contexto da cirurgia bariátrica: fatores relevantes, recursos utilizados, tempo de duração e a sua importância.

Para a autora, os aspectos mais importantes para a se considerar um paciente apto ou inapto para a cirurgia são: a compreensão do paciente quanto à operação e as mudanças de estilo de vida necessárias; expectativas sobre os resultados; habilidade de adesão às recomendações do procedimento; comportamento alimentar; comorbidade psiquiátricas; motivos para a realização do procedimento; suporte social; uso de substâncias; status socioeconômico; satisfação conjugal; cognição; autoestima; histórico de trauma/abuso; qualidade de vida e ideação suicida.

Em termos de recursos, a entrevista clínica e a testagem psicológica são instrumentos fundamentais para a coleta de informações sobre o funcionamento psicológico do paciente, uma vez que a entrevista psicológica coleta dados subjetivos sobre o ajustamento psicológico do paciente, os quais, por sua vez, são complementados pelas medidas objetivas da testagem psicológica. Cabe pontuar que os instrumentos de avaliação mais citados na literatura são: o Inventário de Depressão de Beck e Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade. Porém, além desses instrumentos não serem criados com o foco na avaliação doo paciente bariátrico, não são aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia e, portanto, vedado o uso pelos psicólogos. Nesse sentido, instrumentos como o Boston Interview (protocolo de avaliação) e o PsyBari (teste psicológico) foram criados para suprir essas demandas, porém não são traduzidos e adaptados para a cultura do Brasil.

A respeito do tempo de duração, nota-se que não há consenso na literatura a esse respeito. Apesar disso, é possível, segundo a autora, inferir que esse procedimento exija mais do que uma sessão, uma vez que deverá ser aplicado testes e realizada a entrevista clínica.

Sobre a importância da avaliação psicológica, é pontuado que prepara o paciente para o período pós-operatório, aumentando a probabilidade dos resultados da cirurgia. Além disso, a avaliação psicológica prepara o paciente para procurar ajuda, caso perceba dificuldade após o procedimento. Vale destacar que nesse momento, realiza-se a psicoeducação sobre as mudanças consequentes à cirurgia bariátrica, bem como fornecido apoio psicológico e preparo ao cliente para as mudanças exigidas na fase pós-operatória.

Torna-se evidente, portanto, a necessidade da avaliação psicológica no contexto da cirurgia bariátrica e o papel do psicólogo nesse processo complexo. Contudo, é importante ressaltar a necessidade de pesquisas sobre o tema no sentido de traduzir e elaborar testes e prólogos de avaliação psicológica específicos para esse procedimento de acordo com a cultura brasileira. Dessa forma, os pacientes que buscam fazer a cirurgia bariátrica terão maior probabilidade de sucesso nesse procedimento.

REFERÊNCIAS

1 FANDIÑO, J. et al. Cirurgia Bariátrica: Aspectos Clínico-Cirúrgicos e Psiquiátricos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul [online]. 2004, v. 26, n. 1 Acessado 22 Novembro 2022, pp. 47-51. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-81082004000100007

2 FLORES, Carolina AitaPsychological assessment for bariatric surgery: current practices. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo) [online]. 2014, v. 27, suppl 1 Acessado 22 Novembro 2022, pp. 59-62. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-6720201400S100015. ISSN 0102-6720. https://doi.org/10.1590/S0102-6720201400S100015.

3 SILVA, P. F. S. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica. Revista On-Line IPGO: Goiânia – Ano 9, Edição nº 16 Vol. 0, (2018).

Autora: Jennifer Lorena Riveros Lima Mascarenhas

Coparticipação: Ana Paula de Lima Silva

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Autismo, comorbidades e Covid-19

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Muitos pais ficam com dúvidas sobre como o novo coronavírus (COVID-19) pode ser perigoso ou não para quem tem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). É importante deixar claro que pelo diagnóstico de autismo em si, essa pessoa não estaria no grupo de risco. O transtorno não aumenta as chances dela de ter problemas em relação ao Covid-19. Entretanto, a pessoa com autismo pode estar mais suscetível à doença caso tenha alguma comorbidade médica que possa representar maior exposição aos perigos da infecção. 

Quem tem TEA costuma ter mais alergias, bronquite, asma, ou seja, cerca de 30% deles têm algum tipo de condição alérgica associada. Outros têm, além do autismo, uma síndrome genética associada que pode ter correlação, dependendo do tipo de síndrome, com alguma imunodeficiência, tratamento recente de alguma neoplasia, de algum câncer, ou pode apresentar alguma malformação que envolva o sistema respiratório ou a deixe mais exposta a complicações intestinais, renais ou cardíacas. Então, com a presença de algumas dessas particularidades clínicas, ele passa naturalmente a ser do grupo de risco. 

Os autistas gostam de ter uma rotina e mantê-las. O isolamento acabou mudando a rotina das famílias e dos profissionais. Isso passou a ser difícil para a estabilidade mental e comportamental destas pessoas. Entretanto, ao se criar condições dentro de casa para manter uma rotina específica e oferecer coisas que ela gosta de fazer, pode-se ajudar a amenizar os problemas, pois ela acaba desenvolvendo um hiperfoco e motivação que aliviará as instabilidades. 

Fonte: encurtador.com.br/djNS2

Neste processo, são indicadas atividades pedagógicas, lúdicas e visuais que ela goste de fazer. É uma forma da família continuar a estimulação, não só social, mas a acadêmica dessa criança também. Aproveitar para ajeitar horários, não deixá-la dormir ou acordar muito tarde para manter a rotina de antes. Assim, quando retomarmos a volta às aulas, ela já estará com essa rotina praticamente inalterada.

O isolamento pode deixar a criança com autismo mais agressiva, com crises de ansiedade e quadros depressivos. Mas vale ressaltar que ela vai estar com a família, dentro de um ambiente em que já está habituada a ficar, com os sons e os processos visuais e auditivos de sua preferência.

Fonte: encurtador.com.br/iprFU

Os pais de autistas podem ajudá-los a se conscientizar sobre todo esse trabalho de prevenção do Covid-19, através de desenhos, figuras, vídeos e músicas, mostrando para ela como proteger a mão e o porquê de não colocar a mão na boca. Tudo o que for visual, concreto, com informações simples e sequenciais, são recursos que a criança com autismo tem mais facilidade em assimilar.

É muito importante o tratamento deles ser mantido pela família durante todo esse período. Mesmo que ela venha a ficar doente e precise tomar anti-inflamatórios, ou tomar remédio para a febre, ou até mesmo tomar antibióticos, as medicações que normalmente toma para o controle do seu comportamento devem ser mantidas e as consultas também. A tecnologia ajuda com as consultas e manejos online preservando seu tratamento. 

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