Apatia emocional no (quase) pós-pandemia: um recorte para adolescentes em idade escolar

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A longa duração da pandemia do covid-19 tem revelado um vasto cenário de consequências e imprevisibilidades comportamentais que acometem pessoas das mais variadas idades, mas principalmente os jovens a partir de 12 anos de idade em idade escolar. Apatia emocional e cansaço extremo tem sido a maioria das queixas dos adolescentes na escola. Estudantes enfrentam a dura luta de reaprender a pensar, estudar, estabelecer relações lógicas, e fazer uma prova ou uma simples atividade avaliativa em sala de aula. O ato em si de concentrar-se em uma sala de aula incorre em incômodos que vão desde a inquietação e ansiedade a total apatia emocional.

Muitos dos efeitos da pandemia sobre a nossa saúde mental são facilmente identificáveis. Um desses efeitos sentidos as vezes permanece escondido e é até difícil de nomear. O Sociólogo Corey Keynes nomeou esta sensação “languishing”. Tal sentimento foi descrito pelo psicólogo organizacional Adam Grant no jornal The New York Times, é um estado emocional que, em sua essência, se define pelo vazio…. O Psicólogo definiu esse estado de moleza, cansaço e desânimo como “definhamento”.

De acordo com o autor, isso acontece quando uma pessoa tem a sensação de vazio e estagnação na forma como ela se percebe diante da vida. Os sinais são variáveis e passam por esquecer que dia da semana é hoje frequentemente, e por uma impressão de que se está observando a própria por meio de um para-brisa enevoado. Uma parcela da população mundial já lida com as consequências da apatia persistente, marcada, substancialmente, pela sensação de vazio que determina o languishing, sensação que não passa, perdura dia após dia.

É como se a pessoa estivesse no limbo, num estado de indecisão, incerteza, indefinição e nada a movesse para sair desse lugar. É viver com sentimento de desalento e desamparo.

Fonte: encurtador.com.br/cmPW2

Para Adam Grant, esse sentimento poderia se tornar a emoção dominante em 2021, o que de fato presenciamos isso nos estudantes nas escolas. Em 2022 o cenário mudou pois já com muitas pessoas vacinadas a incidências de casos da covid-19 caiu drasticamente, porém agravou-se pelo estado de irritação e impaciência de adolescentes inseridos em ambiente escolar. Enquanto estudantes, eles tem que lidar com sua rotina de estudos que inclui o tempo de permanência dentro da sala de aula por até seis horas aulas por turno com um intervalo de recreio em média de 30 minutos. Essa rotina que antes da pandemia era considerado tranquila, hoje é reforçado por comportamentos de desprezo, inquietação, imediatismo, irritabilidade e apatia emocional. Todo esse comportamento é resultado de período longo de enclausuramento pandêmico, fato que levou os adolescentes a repensarem o tempo de permanência dentro da escola e até a metodologia de ensino neste período quase pós pandêmico.

Não podemos deixar de considerar o fato de que a pandemia acentuou a diferença entre aqueles que já apresentavam dificuldades na aprendizagem, hoje o simples ato de aprender exige muito mais deste aluno como do professor regente. O ensino online modelou o comportamento dos estudantes e consequentemente é um causa para o medo e a desmotivação atual na escola.

Diante deste cenário é fato que o ensino aprendizagem apresenta grandes desafios que envolvem desde novas metodologias e estratégias de ensino a formas empáticas de acolher, escutar e tentar perceber as diversas nuances comportamentais afloradas e repercutidas dentro da sala de aula como também ter um olhar diferenciado para aqueles alunos de inclusão social e pedagógica. Esse movimento é perfil característico de um novo educador, que também precisou de reinventar, aprendendo novas tecnologias e utilizando novas metodologias transformando um ambiente virtual em uma sala de aula.

Fonte: encurtador.com.br/qPVWZ

Infelizmente ainda vivemos em um mundo onde muito se estigmatiza a saúde mental, onde é mais fácil rotular do que pensar sobre as causas de comportamentos afetivos. Hoje vivemos um tempo em que o ser humano grita para ser ouvido e entendido. De acordo com (GRADIN, 2018) rotineiramente adolescentes e jovens buscam ajuda psicológica com sintomatologia de tédio, apatia e vazio existencial. Tais casos são corriqueiros e frequentes em consultório e trazem uma narrativa de carregarem um vazio incômodo, pesado e paralisante.

É necessário pensarmos na complexidade do ser humano, observando as premissas que norteiam as causas e relações dos comportamentos humanos. Assim poderemos perceber que há fatores determinantes que afetam a saúde emocional de muitos e que no caso dos adolescentes, esses fatores são mais intensos, profundos e por muitas vezes paralisantes. Ao reconhecer que muitos adolescentes estudantes estão definhando, podemos começar a dar voz ao desespero silencioso e iluminar um caminho para sair do vazio.

De acordo com Morin ao pensar complexo deve-se considerar a incerteza e as contradições como parte da vida e da condição humana e ao mesmo tempo o autor sugere que a solidariedade e a ética deve ser o caminho para a religação dos seres e dos saberes.

Fonte: encurtador.com.br/azFJK

No início do século XX ocorreram duas revoluções, uma envolvendo a teoria da relatividade de Albert Einstein e a outra a mecânica quântica de Max Planck. Tais teorias obrigaram a humanidade a rever doutrinas e tiveram aplicações nas mais diversas áreas, da filosofia à indústria bélica. A teoria quântica, por exemplo, derrubou certezas da Física e as substituiu pela noção de probabilidade. A relatividade pôs em questão os conceitos de espaço e tempo.  Essas e outras reformulações do conhecimento humano levaram Morin a definir sete “princípios-guia” da complexidade, interdependentes e complementares. São eles os princípios sistêmico (o todo é mais do que a soma das partes), hologramático (o todo está em cada parte), do ciclo retroativo (a causa age sobre o efeito e vice-versa), do ciclo recorrente (produtos também originam aquilo que os produz), da auto-eco-organização (o homem se recria em trocas com o ambiente), dialógico (associação de noções contraditórias) e de reintrodução do conhecido em todo conhecimento.

A escola da contemporaneidade precisa pensar nessas novas ferramentas de estratégias para serem utilizadas livremente desde o planejamento das aulas até a ministração da aula em si de forma a contemplar os diversos estados emocionais que podem eclodir dentro da sala de aula.

A psique juvenil está em fase de desenvolvimento, muitos pensamentos e sentimentos se conflituam deixando ainda mais intenso e dolorosos os processos relacionais. É necessário que na escola haja um olhar empático, uma visão de todos, sem fragmentações, encaixar todos no mesmo quadrado e sim pensarmos o ser humano com Carl Jung pensou, quando disse: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.

REFERÊNCIAS 

AVENTURA DE CONSTRUIR. Um novo normal também na escola. Disponível em: https://aventuradeconstruir.org.br/. Acesso em: 24 abr. 2022.

BOCK, A. M. B. A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) • Volume 11  • 63-76, , v. 11, n. 1, p. 63-76, null.

CORREIO BRAZILIENSE. Entenda o languishing: entorpecimento da vida e sensação de vazio. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2022/01/4981358-entenda-o-languishing-entorpecimento-da-vida-e-sensacao-de-vazio.html. Acesso em: 24 abr. 2022.

MORIN, Edgar. A Educação e a Complexidade do Ser e do Saber. 13. ed. São Paulo: Editora Vozes, 2011.

NOVA ESCOLA. Edgar Morin, o arquiteto da complexidade. Disponível em: https://novaescola.org.br. Acesso em: 24 abr. 2022.

VIVA BEM UOL. Languishing: o que é essa sensação de apatia que cresceu durante pandemia?. Disponível em: https://www.uol.com.br/. Acesso em: 24 abr. 2022.

VOCÊ RH. Desânimo e apatia se proliferam na pandemia: como enfrentá-los? . Disponível em: https://vocerh.abril.com.br/. Acesso em: 24 abr. 2022.

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Saúde Mental

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A Saúde Mental é uma área complexa e é uma teia extensa de conceitos que se entrelaçam. Amarante (2011) afirma ser um campo com saberes complexos, plurais, intersetoriais e transversais. Visto que o saber da saúde mental não está apenas na área da psiquiatria, mas em um conjunto diverso de disciplinas.

Saúde mental não é apenas psicopatologia, semiologia… Ou seja, não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais… Na complexa rede de saberes que se entrecruzam na temática da saúde mental estão, além da psiquiatria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise (ou as psicanálises, pois são tantas!), a fisiologia, a filosofia, a antropologia, a filologia, a sociologia, a história, a geografia (esta última nos forneceu o conceito de território, de fundamental importância para as políticas públicas). (Amarante, 2011, p.16)

A terminologia da palavra complexus é ´´aquilo que é tecido junto“. Paulo de Tarso (2012, p. 70) diz que esta complexidade é tecida por vários saberes e estão entrelaçados “entre domínios imanentes a um dado corpo, corpo biológico, corpo social, corpo psíquico, corpo emocional, dentre outros corpos em interferência”. Diante disto, se torna evidente que a saúde mental é um campo multifacetado, plural e de inúmeras trocas de saberes.

Mas nem sempre a saúde mental se interligou com essa coletividade de saberes.   Inicialmente, a prática continha condutas de isolamento, exclusão e intolerância com tudo que destoasse das normativas sociais.  Há pouco tempo a saúde mental ainda era interligada ao objetivo de tratar a doença mental apenas em hospícios e manicômios. A definição de normal e anormal é o mesmo que definir um local ideal para cada um.  E este pensamento ainda é presente nos dia de hoje, pois é permeado de cresças de difícil desconstrução. Amarante (2011, p. 19) postula: “Qualquer espécie de categorização é acompanhada do risco de um reducionismo e de um achatamento das possibilidades da existência humana e social”.

Fonte: encurtador.com.br/cjEGR

Assim como a sociedade é plástica, o campo da saúde mental também é caracterizado por uma constante desconstrução e construção.  Franco Rotelli (2007, apud AMARANTE; CRUZ, 2008, p. 37), afirma: “O ato mais importante realizado por Franco Basaglia, a ação de maior coragem científica foi a de dizer eu não sei nada sobre a loucura, eu não sei nada sobre esse homem ou esta mulher que estão à minha frente…”. Diante da fala de Amarante, vale questionar se realmente sabemos algo sobre a loucura. Quando se trata de loucura, é importante que reconheçamos o nosso “não-saber”, dando lugar a reflexão e a constante busca de um modelo de atenção psicossocial mais humanizado possível.  Paulo Amarante, em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (2011), declara:

Porque temos que pensar de forma dualista, antinômica, simplificada? A natureza do campo da saúde mental vem contribuindo para que comecemos a pensar de forma diferente, não mais como este paradigma da verdade única e definitiva, mas sim em termos de complexidade de saberes, de ‘construcionismo’, de reflexidade.   (Spink,2004 apud Amarante,2011, p.17 e 18)

Ou seja, quando falamos em atenção psicossocial humanizada, não nos referimos apenas às mudanças nas práticas assistenciais, mas à quebra de paradigmas de toda uma lógica cultural de olhar e compreender a loucura.

Referências:

AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. Saúde mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

TARSO, Paulo De. Heterogênese, Saúde Mental e Transcomposições. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012.

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‘Você’: uma perspectiva Sistêmica das relações

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Série exalta complexidade, instabilidade e intersubjetividade do ser humano

Amar e ser amado! A grande máxima da vida de milhares de pessoas. ‘Você’, série recém-lançada pela Netflix, traz um enredo que flutua em torno da busca incessante de Joe por alguém que o ame assim como ele ama. E como ele ama? De uma forma uma tanto intensa e assassina!

Vários personagens estão envolvidos nessa trama, no entanto, essa análise se atentará a três principais: Joe, Beck e Peach.

A história de amor construída por Joe – Joe trabalha numa livraria que herdou de seu acolhedor, por ter sido ele abandonado pelos seus pais que eram adictos. Em um dia comum de trabalho, Beck adentra a livraria e os dois se conhecem. Esse primeiro encontro não rende muita esperança para ele, já que Beck deixa suas intenções soltas no ar.

E o que Joe faz? Segue a vida normalmente e espera ver se o tempo colabora com esse romance? Não mesmo! Ele determina que esse romance irá acontecer e para isso começa procurando por ela nas redes sociais e descobrindo seu endereço, para então passar a espiá-la todos os dias pelas janelas de sua casa.

De início Joe descobre que ela tem uma relação com um homem chamado Bengi, que na verdade é um completo mulherengo que não sente nada por Beck. Vendo o quão ruim era esse relacionamento para ela, o que Joe faz? Mata Bengi, porque para ele é totalmente compreensivo que ele tire esse homem da vida dela, já que ele só piora as coisas e se coloca como um obstáculo para seu possível namoro.

Fonte: encurtador.com.br/cqLQS

Na cabeça de Goldberg (Joe) facilitar os acontecimentos da vida de Beck para que eles possam ter um relacionamento sem nenhum impedimento ou complicação, é simples e o correto a se fazer. E ele realmente consegue estar na hora certa e no local certo para que o namoro aconteça, e ele acontece.

É incrível pensar a partir dessa ótica, como seria se pudéssemos controlar todas as ações que envolvessem as pessoas que “amamos”, com o intuito de nunca perdermos elas. É como se realmente tivéssemos o poder de controlar a vida, fazendo com que tudo aquilo que quiséssemos acontecesse, e tudo que não gostássemos não acontecesse mais. Essa habilidade traria muita segurança para a pessoa dotada, já que nada sairia do seu comando. Entretanto, o que Joe não sabia era que mesmo que ele tentasse controlar as coisas, as coisas não se tornariam constantes e estáveis, porque afinal o indivíduo é um ser Complexo, Instável e Intersubjetivo (VASCONCELLOS, 2002).  

A seguir uma analogia será feita entre os três personagens citados no início e os três pilares do Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático trazido por Maria José Esteves de Vasconcellos.

Fonte: encurtador.com.br/hst14

Joe e a ‘Complexidade’ – Joe sabe muito bem o que quer desde o início, ficar com Beck acima de qualquer coisa e fazer todo o possível por ela. É por isso que a partir do momento em que eles se conhecem, ela passa a ser o único foco da vida dele, e é para esse foco que ele direciona toda a sua atenção e importância.

Dessa forma, ele não estabelece outros tipos de relacionamentos ou de hobies. E a sua visão geral de felicidade na vida, está totalmente atrelada a um relacionamento perfeito com Beck.

Joe age totalmente de forma oposta ao olhar da complexidade sobre a vida. A dimensão da complexidade da vida traz que é necessário entendermos que pensar a existência de maneira complexa, é ampliar o foco de observação, percebendo que um único fenômeno isolado nunca será livre das mais variadas influências (VASCONCELLOS, 2002). Portanto, uma tentativa de manter um relacionamento livre de complicações ou estímulos de outras pessoas, é no mínimo uma tentativa fracassada e ingênua de estabelecer uma ordem, o que Joe descobrirá apenas na prática.

A complexidade implica no conhecimento de que múltiplos sistemas estão em contato uns com os outros, e se afetam mutuamente. Esses sistemas são definidos como “um conjunto de componentes em estado de interação” (VASCONCELLOS, 2002, pág. 198). Na vida de Beck existiam vários sistemas, que eram suas amigas, sua vida de escritora, seus flertes no Tinder, seu psicoterapeuta, seu pai adiccto, seus próprios comportamentos e dilemas existenciais, e esses sistemas influenciavam sua relação com Joe e, portanto, de acordo com a visão reducionista de funcionamento vital dele, todos esses sistemas deveriam sumir e não os atrapalharem nunca mais.

Fonte: encurtador.com.br/ftzGO

Beck: a ‘Instável’ – Beck é a personificação da instabilidade. Formada em Literatura, egressa num programa de mestrado, residente em uma casa fornecida pela universidade, professora de Yoga, amiga de três garotas ricas, interessada em homens instáveis e voláteis, aventureira no Tinder, escritora. É a garota que em um dia sabe tudo o que quer e no outro duvida se realmente quer aquilo, uma hora pensa que consegue lidar com sua vida, outra hora se sente totalmente incapaz. Beck é a realidade do jovem nova-iorquino de classe média, e porque não dizer da maioria dos jovens da geração millenium.

A instabilidade da vida se compara exatamente a forma como Beck vive, já que a dimensão da instabilidade retrata o quão imprevisível e incontrolável os acontecimentos podem ser. Apresentando ainda como devemos enxergar essa desordem que é viver, como normal, já que é inevitável que as coisas mudem e evoluam independente se muitas vezes achamos estar no controle (VASCONCELLOS, 2002).

E como já deu pra perceber, é óbvio que Beck daria “muito trabalho” para Joe. É possível notar na maioria das cenas de desentendimento do casal que Beck era a quem sempre saía transtornada e sem ver solução para os conflitos, e Joe era o que sempre tinha uma solução para normalizar a situação. Essa diferença de paradigmas, ou seja, de maneiras de pensar (VASCONCELLOS, 2002), ia desde escolher a comida para o jantar, escolher entre sair com as amigas ou sair apenas o casal, decidir sobre a hora certa de escrever ou não. Para Joe todas essas decisões eram simples de serem feitas, mas para Beck eram difíceis de serem tomadas, e quando eram, podiam e mudavam facilmente. Beck era a tempestade impetuosa no mar calmo da vida de Joe.

Fonte: encurtador.com.br/ryIV4

Peach: a ‘Intersubjetiva’ – Peach era o centro da complicação do relacionamento do casal antagônico. A amiga de Beck que queria a todo custo separá-la de Joe. Peach vinha de uma família rica, tinha glamour, fama, viagens, roupas bonitas e caras, beleza, casa luxuosa, mas não tinha relações profundas com ninguém, e foi na amizade com Beck que ela estabeleceu a sua intersubjetividade e conseguiu se ver parte de um processo de intimidade na relação com o outro.

A intersubjetividade coloca as interações e as relações entre os indivíduos como construtora da experiência da realidade, é através dela que tudo pode existir. O indivíduo quando sabe que sua intersubjetividade nasce na interação com o outro, se percebe como parte de algo e entende que tudo pode ser coconstruído nessa relação (VASCONCELLOS, 2002).

E o que seria essa coconstrução? A coconstrução é a capacidade de unir aquilo que é de sua existência com a existência do outro, sem o estabelecimento de qual experiência é correta ou não, porque na verdade qualquer uma delas é válida partindo do princípio da intersubjetividade (VASCONCELLOS, 2002).

Mas é importante ressaltar que essa coconstrução não parte do pressuposto de algo positivo ou negativo, mas sim de um reconhecimento da realidade do outro como importante e válida também para a sua realidade. Isso é o que acontece com Peach e Beck, já que apesar de o relacionamento delas ser marcado por uma toxicidade e instabilidade, as duas em diversos momentos aprendem a serem e existirem uma com a outra.  

Fonte: encurtador.com.br/iACEL

‘Você’ e a performance do Pensamento Sistêmico – Joe, Beck e Peach, o que eles têm em comum? A busca pelo amor. E o que acontece nesse meio tempo de 10 episódios, é o que o Pensamento Sistêmico defende. Dez episódios que nos mostram o quanto a visão do que é amor para cada um deles é totalmente diferenciada. Cada um viveu e experimentou as experiências românticas a sua maneira, acreditando ser a maneira como eles experimentaram a única correta e aceitável.

No entanto, isso não é possível a partir do instante em que você percebe e leva em consideração as três dimensões da teoria Sistêmica: Complexidade, Instabilidade e Intersubjetividade. Maria José Esteves de Vasconcellos diz que “(…) se não há leis definitivas sobre a realidade, se só temos afirmações consensuais, não teremos mais as expectativas da previsibilidade e controlabilidade. E encontrar diferentes afirmações nos levará a perguntar pelas condições, pelos contextos em que foram feitas (2002, pág. 152).”

Fonte: encurtador.com.br/pyDLR

É aqui que você deve se perguntar, em quais condições e em quais contextos cada personagem viveu? O que os levou a ver e construir as formas de amar da maneira como elas são apresentadas na série. Talvez aí você entenda e coconstrua junto com os personagens, ou talvez não. Pode ser que de acordo com a sua experiência de vida, nem mesmo esse texto inteiro faça o menor sentido para você. Porque é realmente disso que se trata, da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade do ser humano, do ser ‘VOCÊ’!

REFERÊNCIA:
VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: O Novo Paradigma da Ciência. Campinas: Papirus, 2002. 272 p.

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Ensaio de um dia (in)feliz

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Há todo momento estamos nos reinventando.

A cada segundo uma nova descoberta, repleta de novas verdades.

E no mesmo instante em que são descobertas, as respostas deixam de ter seu valor.

O limite espaço temporal se tornou obsoleto.

É que estamos cada vez mais próximos, mais juntos, e sempre conectados.

As relações se tornaram superficiais.

As emoções só são expressas por meio de citações no facebook.

E quando isso termina?

Onde vamos parar?

Mais importante do que ter as perguntas, e saber das respostas.

É o Bang do Big! O mundo em eterna expansão… Até chegar o Big Crunch1.

Parafraseando Sócrates: A grande certeza, é que não há certezas.

Agora imagine o contrário de tudo isso?

Saia da sua caixinha por um instante. Pare a leitura, feche os olhos, e por cinco segundos, imagine o nada!

Se você é como eu, não deve ter feito. Mas se não é como eu (afinal, há aqueles que são diferentes) e fechou os olhos para imaginar a não cena, não conseguiu nada além de ouvir seus próprios pensamentos.

Eu fico imaginando uma liberdade2, para longe de tudo isso…
Imagine um cenário diferente.

Não, o mundo não seria tão louco quanto você pensa, talvez ainda tivéssemos carroças circulando pelas ruas, chaleiras em cada casa, e mesmo assim, possivelmente ainda persistiria alguma desigualdade social. Nada nunca é perfeito. E até pode ser um retrocesso, mas gosto de pensar que: talvez, apenas talvez, ainda seriamos mais humanos.

Pensar uma ética da cumplicidade, da complexidade e da (com)paixão é deixar-se mover por uma estética do pensamento que abre mão dos limites confortáveis da ciência – reino último da palavra, para lançar-se na errância da criação, outra forma de dizer da condição humana. A obsessão pela predição e controle, que encarcerou as ideias de homem e de mundo em conceitos contaminados pela racionalidade fechada, abre-se a uma nova e bem vinda obsessão: a compreensão poética das coisas. (CARVALHO et. al.,1998, p.20).

Um tantinho de humanidade que seja já basta, e faz muita diferença.
As pessoas pregam o respeito à diferença, a tolerância, mas se esquecem do essencial: aquilo que um dia nos diferenciou dos demais animais – nossa humanidade.

Imerso em minha loucura – Acredite! Cada uma tem a sua – Imerso em minha loucura eu gosto de reinventar o dia, talvez seja um delírio, utopia, ou quem sabe não. Mesmo assim, eu tento reinventar o dia, a cada dia.

Começo do nada, como penso que o foi o começo das coisas: Do Nada. Um grande espaço branco, como o da Matrix3. É assim todo dia: um grande fundo branco; então algumas cores; aumento o volume; e o dia nasce sem música. De fundo: talvez o som de algum carro passando na rua, ou do vizinho abrindo o portão da garagem. De paisagem: algumas janelas fechadas, a cor gélida dos muros, as mobilhas da casa e mais nada.

Não parece grande coisa, eu sei, mas é um começo.

E sem grandes pretensões, pego o notebook (nem lembro a ultima vez que precisei de uma caneta, ou consultar um dicionário para escrever) e digito o que penso ser um insight, ou vários em um mesmo texto. Na esperança de que sejam estas, de algum modo, varias das respostas às questões que possivelmente irão surgir.

Notas:

1. O Big Crunch, ou em português, o Grande Colapso, é uma teoria segundo a qual o universo começará no futuro a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. Essa teoria suscita um mistério ainda maior de se analisar do que o Big Bang.

2. Ainda assim a liberdade, tal qual como ela é idealizada, não existiria.

3. A trilogia Matrix (1999) é uma produção cinematográfica Warner Bros. Dirigido pelos irmãos Wachowski e protagonizado por Keanu Reeves e Laurence Fishburne.

Referências:

CARVALHO, Edgard de A. et al.  Ética, Solidariedade e Complexidade. 1.ed. São Paulo – SP: Palas Athena, 1998.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Crunch
http://www.sofisica.com.br/conteudos/Termologia/Entropia/entropia.php
http://pt.scribd.com/doc/22744318/Analise-do-filme-The-Matrix

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