Entrevista com a Psicóloga Janinne Costa sobre Avaliação Psicológica Forense

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Aconteceu no em maio o  3° Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. O evento, foi realizado no Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), abordou a avaliação psicológica aplicada a diferentes campos de atuação do profissional de psicologia, dentre elas a avaliação psicológica forense.

O Simpósio, recebeu a psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861), mediadora da oficina  “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”. Egressa do curso de psicologia do CEULP/ULBRA. Especialista em psicologia clínica na abordagem da Gestalt-Terapia, formada pelo Instituto Carioca de Gestalt-terapia (ICGT). Estagiou na equipe multidisciplinar da Defensoria Pública do Estado do Tocantins. Na área de psicologia jurídica desde 2017,  hoje atua como supervisora dos entrevistadores credenciados no projeto Depoimento Especial.

Nesta entrevista a psicóloga destaca pontos importantes acerca do cenário da avaliação psicológica forense voltada para crianças e adolescentes vítimas de violência, esclarece dúvidas acerca da temática e conta ainda um pouquinho do que podemos esperar da oficina.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Como começou seu percurso ? O que te despertou interesse por essa área?

Comecei no Estágio I da faculdade, onde fomos conhecer os campos de atuação de Psicologia e acabei conhecendo os campos da Psicologia Jurídica, sendo o IML.

(En)Cena – Existem diferenças entre a psicologia jurídica e a psicologia forense? Se sim, quais?

Sim, a Psicologia Jurídica é uma área da psicologia e dentro dela tem subáreas: psicologia forense, psicologia criminal, psicologia penitenciária e psicologia investigativa.

A Psicologia Jurídica é o estudo do comportamento humano perante a Lei, e a Psicologia Forense é quando esse estudo ocorre dentro do Tribunal da Justiça, fórum, defensoria pública, etc.

(En)Cena – Quais os principais aspectos de diferenciação entre a utilização da avaliação psicológica no contexto clínico e forense?

A avaliação psicológica na clínica é uma avaliação de um sofrimento psicológico, de uma demanda de desenvolvimento humano, algo que demonstra um cuidado e apoio com o avaliado. Já a avaliação forense tem a finalidade de auxiliar uma demanda trazida pelo agente jurídico, sobre uma questão legal, tem caráter mais investigativo.

Fonte: encurtador.com.br/htEI4

(En)Cena – De que forma a demanda de avaliação psicológica  forense chega ao profissional de psicologia?

Falando sobre a realidade do Estado do Tocantins essa demanda pode chegar através da rede de proteção, ou das partes do processo, por exemplo quando os genitores estão em disputa de guarda, então um pede para fazer avaliação da criança com intuito de revelar qual será o ambiente mais seguro para a criança viver. Também pode ser solicitado por um advogado da parte.

(En)Cena – No caso de avaliação psicológica para crianças e adolescentes vítimas de violência existem protocolos especiais para condução do processo de avaliação? Se sim, quais?

Sim, um dos protocolos mais utilizados é o protocolo NICHD para entrevista investigativa no ambiente forense. E também tem o Protocolo Brasileiro de Entrevista Forense, que é utilizado para realização da audiência de Depoimento Especial

Fonte: encurtador.com.br/cgqH4

(En)Cena – Quais competências poderiam ser definidas como fundamentais para um profissional de psicologia que deseja atuar na área de avaliação psicológica forense voltados para crianças e adolescentes vítimas de violência?

Acredito que é necessário ser imparcial, ter uma bagagem de estudos na área, compreender os limites pessoais e profissionais, entender que está trabalhando em prol do direito da criança e do adolescente, entender sobre o trabalho multidisciplinar (agente da justiça, rede de proteção).

(En)Cena – O que os nossos inscritos podem esperar desse encontro?

Podem esperar que vou tentar trazer um resumão sobre a avaliação psicológica no âmbito forense e vou contar um pouco da minha história trabalhando nessa área. Se preparem, pois essa área é encantadora!

A oficina de “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”, mediada pela psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861), será realizada na sala 221, no dia 25 de maio de 2022.

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A escuta sensível na interface Psicanálise-Paulo Freire

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A Psicanálise faz uso do discurso que coloca o outro da relação na posição de sujeito e o psicanalista consegue recuar da sua posição de saber e poder para escutar o outro na sua verdade. Conteúdo este, que vem de encontro com a pedagogia de Paulo Freire com essa posição discursiva, de escutar o outro em sua verdade e, assim, produzir a aprendizagem e a comunicação política. Entra-se então a importância política da escuta, em tempos de cultura do ódio e do cancelamento.

Paulo Freire usou a escuta como uma grande ferramenta em sua teoria, essa escuta freiriana na prática pode mudar relações. O autor em sua obra Pedagogia da Autonomia (2009), aborda sobre a importância de respeitar o conhecimento que o discente leva para a escola. Isso implica na troca que pode ocorrer entre professor e aluno.

Outro ponto importante a se retirar importância de lidar com o outro, é praticar essa escuta sem objetificação. A escuta política surge como uma arma potente para aqueles que querem utilizá-la. “Tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro” (FREIRE, 2009, p. 118).

Fonte: encurtador.com.br/htFN0

Freud em sua essência traz essa preocupação com a escuta qualificada, abordando sobre o valor dado ao autoconhecimento e consequentemente a liberdade pessoal, a partir essa escuta trabalhada, isto foi considerado como um diferencial entre a psicanálise e as demais abordagens.

A importância dessa escuta para Freud é evidenciada a partir do momento em que você começa a ler os seus textos. Para além, pode observar uma crítica ao analista:

É possível pretender que fórmulas simples permitam compreender o processo analítico? Não, analisar é hipercomplexo: escutar com atenção flutuante, representar, fantasiar, experimentar afetos, identificar-se, recordar, auto-analisar-se, conter, assinalar, interpretar e construir (2003, p. 105).

Fonte: encurtador.com.br/cFJWY

Observa-se a preocupação entre os dois autores em relação a escuta, uma vez que esta prática está interligada a compreensão de realidades concretas, do seu contexto histórico, para além disso, observa a sua inserção no mundo a partir dessa escuta.

A escuta produz a conscientização libertadora e transformadora. Conscientização esta que traz um caminho para reinvenção de novos seres, cada um com a sua subjetividade, buscando a necessidade de coerência para ação e reflexão do ser existencial.

REFERÊNCIA

HORNSTEIN, L. Intersuibjetividad Y clínica. Buenos Aires: Paidós, 2003.

SOUZA, Anna Inês. Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia Autonomia: Saberes Necessários à prática da educativa. Editora Paz Terra, Rio de Janeiro. 2009. Disponível: https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Pedagogia-da-Autonomia-Paulo-Freire.pdf

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Você sabe como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde?

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Livro escrito por Rita Barradas Barata, da coleção Temas em Saúde, publicado pela Editora Fiocruz, em 2009 no Rio de Janeiro, “Como e porque as desigualdades fazem mal á saúde” é de leitura interessante e indispensável. Barata traz em seu livro questionamentos sobre a desigualdade, como e porque ela afeta a saúde.

Muitos tentam esvaziar o conteúdo político e as conotações de injustiça social e desrespeito aos direitos humanos expressos nessas desigualdades, reduzindo-os simplesmente a diferenças entre indivíduos ou grupos de indivíduos definidos segundo as características biológicas. (BARATA, 2009, p. 11)

Barata traz em seu discurso a ideia de que a dimensão das desigualdades sociais é maior que só “características biológicas”. Ela marca o início do capitalismo como um ponto em que esse tema foi bastante abordado, onde a sociedade burguesa, que defendia os princípios de igualdade, fraternidade e liberdade, contradizia a realidade da vida da maioria dos indivíduos dos países industrializados.

Mas, quando falamos em desigualdade social geralmente estamos nos referindo a situações que implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a características sociais que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação à oportunidade de ser e se manter sadio. (BARATA, 2009, p. 12)

Fonte: goo.gl/oDXayP

A autora defende que os sistemas nacionais de saúde e outras políticas sociais deveriam trabalhar em busca da universalidade, integralidade e equidade. Complementa dizendo que as instituições sociais formais de diferentes setores até levam em sua estrutura, um ideário de estratégias contra as desigualdades, porém, os discursos usados são simplórios, sem levar em consideração os fatores que provocam a desigualdade de fato.

Barata, junto a outros teóricos da medicina social, investiga as variáveis sociais deixando de lado explicações simplificadas e analisando as complexidades dos problemas sociais. Como exemplo dado no livro: Uma gestante, fumante, possivelmente trará malefícios para a criança como; baixo peso, fragilidade corporal, etc., mas, são impactos diferentes se essa gestante é da burguesia, do proletariado ou do sub-proletariado.

Em seu livro, cita as explicações “sócio-históricas” das desigualdades e Barata (2009, p. 23) afirma: “O conceito-chave nessas abordagens é o processo de reprodução social, que, por sua vez, implica a reprodução de diferentes domínios de vida”.

“O sistema de reprodução social dos diferentes grupos inclui os padrões de trabalho e consumo, as atividades práticas da vida cotidiana, as formas organizativas ou de participação social, a política e a cultura.” (BARATA, 2009, p.24).

Ao adotar este tipo de explicação teórica significa romper com a concepção linear de causalidade e abandonar qualquer pretensão de identificar cadeias de causa-efeito entre características ou indicadores sociais e problemas de saúde, bem como entre indicadores de desigualdades sociais. (BARATA, 2009, p. 35)

Fonte: goo.gl/wbrEoZ

A autora segue abordagem na qual defende a não linearidade para eficácia nas resoluções dos problemas sociais. Uma vez que cada indivíduo sofre e reage a uma determinada situação de determinadas formas que são possíveis e que se enquadram na sua classe social.

“O estudo das desigualdades sociais em saúde deveria, idealmente, ter como variável explicativa a classe social construída com base nas relações fundamentais estabelecidas a partir da posição dos indivíduos na estrutura produtiva da sociedade.” (BARATA, 2009, p. 35).

A classe social tem tamanha importância para a saúde, porém

Há vários aspectos a considerar no chamado paradoxo entre riqueza e saúde: a comparação de países, a comparação de regiões de um mesmo país e a comparação entre ricos e pobres […] é importante prestar atenção a dois aspectos relacionados à renda e à riqueza: os valores absolutos e a distribuição ou valores relativos. (BARATA, 2009, p.42).

Barata (2009, p. 56) explica baseado na Teoria Ecossocial, que a discriminação sofrida por certas etnias é um exemplo de imposição do domínio de etnias mais evoluídas economicamente.

Fonte: goo.gl/xZYBJb

Dentro desse entendimento, percebemos claramente, que, o sistema de saúde jamais pode manter o padrão de atendimento com base nas etnias, e sim com base nas necessidades de cada indivíduo.

[…] Além das condições socioeconômicas já assinaladas em relação ao estado de saúde, nas desigualdades no acesso a serviços importa também a configuração da política nacional de saúde, isto é, quais os princípios que a constituem, a forma de organização dos serviços e as formas de relação que se estabelecem entre clientela e profissionais de saúde. (BARATA, 2009, p.63)

Barata (2009, p.63) diz que na saúde, há uma procura de um sistema mais igualitário, regidos pelos princípios de universalidade, integralidade e equidade. Cita como exemplo o SUS (Sistema Único de Saúde).

Barata (2009, p.75) coloca em seu livro um breve discurso sobre a diferença entre sexo e gênero, conclui que sexo possui um perímetro restrito, contendo caráter biológico e gênero possibilita a miscigenação do genótipo com o ambiente, onde, recebe influências sociais.

Fonte: goo.gl/DA8PA9

“[…] as desigualdades em saúde observadas entre homens e mulheres devem ser analisadas a partir dessa dupla determinação: as relações de gênero e as peculiaridades do sexo biológico” (BARATA, 2009, p.75).

“[…] um dos aspectos mais salientes dessas relações é a assimetria do poder que se estabelece entre homens e mulheres na maioria das sociedades […]” (BARATA, 2009, p.75).

Paradoxalmente, as mulheres, em praticamente todas as populações estudadas referem a pior avaliação do próprio estado de saúde e maior frequência de morbidade do que os homens. Algumas explicações para a morbidade mais acentuada nas mulheres baseiam-se nas diferenças hormonais e genéticas entre os sexos, considerando estritamente o ponto de vista biológico. O enfoque nas relações de gênero, entretanto, assinala os diferentes papéis sociais dos homens e das mulheres que acabam por determinar diferentes percepções sobre o processo saúde doença, assim como comportamentos distintos em relação à doença (BARATA, 2009, p.82)

Barata esclarece nesse trecho um a grande diferença entre o ponto de vista biologista e o ponto de vista social. Percebe-se que de fato a influência do ambiente para o indivíduo é de tamanha importância, porém, existe ainda, a influência da classe social, da raça ou etnia, do gênero.

Barata baseia sua obra na não-linearidade, no caso de gestantes que possuem o hábito de fumar, aponta a solução a partir de um controle a essa prática, porém, defende a presença de “[…] políticas compensatórias que possibilitem a melhor alimentação durante a gestação para evitar o baixo peso.” (BARATA,2009, p.96)

Fonte: goo.gl/SPDZwt

“No modelo de determinação social do processo de saúde-doença, as variáveis seriam tratadas através de um modelo hierárquico no qual o principal determinante é a classe social […] A inserção de classe determina igualmente as chances de ocorrência” (BARATA, 2009, p.97).

A autora enfatiza o princípio da equidade para a resolução dos problemas das desigualdades sociais envolvendo etnias ou raças, gênero e a classe social. O texto da autora Rita Barradas Barata apresentou uma visão bastante afrontadora para com o sistema capitalista. Onde o que é implantado pela sociedade nem sempre condiz com a realidade de grande parte da população de um país.

Barata traz de forma genial as diferentes reações dos indivíduos de acordo com a classe social. E se já carrega um passado de inferioridade, na sociedade Patriarcal, como as mulheres ou se trazem uma história de escravidão, exemplo: as etnias que já habitavam o Brasil, antes da chegada dos portugueses, tidas como inferiores por não alcançarem o padrão de normalidade dos portugueses.

Além do princípio de “equidade” defendido por BARATA (2009), acredito que possa aumentar impostos pagos pela burguesia e que essa renda arrecadada seja investida em progressos para indivíduos do proletariado e do sub-proletariado.

Fonte: goo.gl/RBtVQK

Essa pode ser uma alternativa, levando-se em consideração que grande parte da população possui baixa renda e apenas uma minoria possui renda alta.

Podemos notar também que BARATA (2009) traz em seu livro a desigualdade entre gênero, raça ou etnia. O contexto social construído com uma história de escravidão que homens, no caso do Brasil, português com a pele branca, que autoconsiderava mais evoluídos, por meio da força, obrigou índios e negros a trabalharem em condições desumanas.

E o passado de uma vivência em uma sociedade Patriarcal trazendo a mulher durante séculos como inferiores aos homens, cultura que permeia os dias de hoje, como exemplo, a Igreja Católica, que não possui mulheres à frente de suas hierarquias.

Acredito que, levando-se em conta todo esse passado, há uma necessidade de uma base educacional engajada para o desenvolvimento crítico do indivíduo, baseada em uma ideologia de igualdade.

Com a passagem dos anos esse ideário pode ser atingido.

FICHA TÉCNICA:

COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL A SAUDE

Fonte: goo.gl/Ppm7uQ

Título Original: COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL A SAUDE
Autor: Rita Barradas Barata
Idioma: Português
Editora: Fiocruz
Páginas: 118
Ano: 2009

REFERÊNCIA:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

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