Para me encher de mim

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Eu tô precisando arrotar as palavras para calar dentro de mim.
Calar a voz que me soa ofegante nesse desespero de resolver a vida.
Calar pela espontaneidade e fazer as pazes com os sentimentos.
E saber que não vale tanto esse desgaste de explicar o que é melhor para mim.
É para mim e só para mim o meu bem maior.
É amar o meu sorriso e admirar os meus talentos.
É aprender com os meus desatinos.
É cuidar da minha dor e serenizar o meu coração.
É esvaziar de mim o que não mais me cabe.
Pra eu voltar a caber em mim.
Eu preciso esvaziar essa vontade de dizer “chega eu não aguento mais”.
Não posso absorver as bagagens que não são minhas.
E parar de pedir tanto para que não faz questão de entender a minha dor.
E aprender a me dar e me receber.
E lavar a minha alma de tudo o que me suja.
Eu preciso me desinfetar.
Eu preciso me desenhar, me reinventar.
Eu preciso esvaziar as desculpas descabidas. As palavras mal ouvidas.
Preciso esvaziar essa agressão de mim.
Isso é cuidar de mim.
Eu me esvazio de você!
Para me encher de mim.

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O que me faz ser um bom Profissional?

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“O que me faz ser um bom profissional?” Você já se questionou sobre isso?

 

Não é preciso trabalhar na área da saúde para observar o que as pessoas esperam dos profissionais que irão atendê-las. Basta sermos o “outro lado”, nos colocarmos no lugar do outro, para sabermos, sem nenhuma sombra de dúvidas, o que é ser atendido por um bom profissional.

 

 

Dois anos e alguns dias depois da graduação em psicologia foram o suficiente para eu ter a audácia de escrever sobre o que, nitidamente, as pessoas esperam de nós. Esta não é a primeira vez que menciono que antes de termos uma profissão somos seres-humanos que necessitam igualmente das mesmas coisas: alimentação, educação, lazer, saúde, bem estar. Portanto, temos o conhecimento natural da importância de tudo isso em nossas vidas. E por termos essa consciência é que, possivelmente, desenvolvemos esta paixão pelo o cuidar do outro.

Trabalho há um ano em uma Unidade Básica de Saúde e tenho observado que o que realmente cura e dá conforto aos meus pacientes é a maneira como eles são recebidos e a forma como os problemas deles são tratados, sejam esses problemas graves ou “simples”. Tal como diz Rubem Alves “o que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio”. Talvez o segredo não está nas técnicas, mas no acolhimento e atenção. Sentir-se acolhido.

 

“O que me faz ser um bom profissional?” Antes de tudo, aprenda a se questionar sobre isso. Foram os anos de estudos, teorias, leituras, trabalhos e provas intermináveis? O diploma e o registro no conselho? É sua convivência passiva com seus colegas de trabalho, o respeito aos demais profissionais? A forma como você atende o outro, como o escuta, como trata seu problema e suas aflições? É manter-se humano e centrado, apesar dos percalços e dos problemas pessoais? É sua remuneração? O status atribuído ao longo dos anos?

 

Eu arrisco dizer que é justamente isso. Isso é  toda a trama, é um imenso emaranhado de linhas que sustentam o profissional que você é. Qualquer que seja a falta dessas características acima, faz com que deixamos de ser um bom profissional e nos tornamos apenas mais um profissional. É como em uma daquelas provas em que se errar uma questão, anula uma certa, compreende? Um sustenta o outro. De nada adianta sua teoria, se na prática você não consegue exercer metade do que os livros e suas notas “10” te apresentaram. Não adianta você ser ótimo na prática, se você nem sequer sabe o nome daquele que está à sua frente, esperando por uma resposta.

 

Para chegar onde realmente deseja é preciso, muitas vezes, ir além de um diploma. Não é o diploma que te faz profissional, serão seus pacientes, serão aqueles que trabalham com você, serão todos que estão intimamente ligados ao seu trabalho.

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Acolher, cuidar e amar: a transformação do CAPS em lar

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O Centro de Atenção Psicossocial de Paraíso do Tocantins, cidade localizada a 60 km da capital Palmas, lembra mais uma residência habitada por enorme família que compartilha junto as alegrias e aflições do mundo contemporâneo. Seja pela forma como as coisas são coordenadas por ali, seja pela arquitetura e atmosfera residencial que o prédio da instituição carrega, reforçadas pelas enormes mangueiras e também pelo conjunto de residências ligadas a instituição.

O Centro abriga aproximadamente 165 usuários – Foto: Victor Hugo Morais

Se todo lar precisa de alguém para colocá-lo em ordem, nesta pequena casa, que acolhe aproximadamente 165 usuários, a coordenadora Lucimar Mota Alves assume este papel. Desde 2005, ela coordena o CAPS de Paraíso, de acordo com a mesma, “com disponibilidade, dedicação e muito esforço”.

Graduada em Enfermagem pelo Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, e atualmente, estudante de Pós-Graduação no Instituto Brasileiro de Educação e Cultura – IBEC, especialização em Saúde Pública, a coordenadora recebeu a equipe do portal Encena nas dependências do CAPS para falar sobre responsabilidade de administrar o centro destinado a pessoas com problemas relacionados a saúde mental.

(En)Cena – Para entender melhor como é coordenar o CAPS voltaremos exatamente quando tudo começou. Relembre para nós como se deu seu ingresso frente à coordenação da instituição e quais foram suas impressões iniciais acerca da administração de centro psicossocial?

Lucimar – A título de curiosidade comecei a trabalhar no CAPS em outubro de 2004, como enfermeira. Foi somente em janeiro de 2005 que assumi a coordenação do centro, a convite da Secretaria Municipal de Saúde que acreditou em minha capacidade. É evidente que todo novo trabalho gera ansiedade, medo e incertezas, aliás coordenar é um grande desafio, pois não só a saúde mental, mais qualquer outro tipo de particularidade médica exige responsabilidade, compromisso, seriedade, ética e profissionalismo.

 

(En)Cena – E quais foram seus primeiros passos na coordenação da instituição?

Lucimar – De imediato foi elaborado relatório situacional da instituição e encaminhado a Secretaria municipal de saúde para que as autoridades competentes observassem as condições reais do centro no momento em que assumi. Na época, a instituição funcionava normalmente, com isso dei continuidade no serviço que já vinha sendo prestado.

(En)Cena – Tecnicamente o que é coordenar o CAPS?

Lucimar – (risos) Bem eu planejo, estabeleço algumas metas, delego algumas competências e faço avaliações dos serviços prestados, tudo isso com disponibilidade, dedicação e muito esforço.

(En)Cena – A luta pela saúde mental dos usuários da instituição é maior do que as competências estabelecidas para quem coordena?

Lucimar – Com certeza. Não é o simples dever de trabalhar e cumprir horário. É trabalhar com amor e dedicação. É contribuir para que o usuário tenha condições iguais a de qualquer outro indivíduo e ser visto como um cidadão.

(En)Cena – E quais são as pessoas que te auxiliam nesta luta diária?

Lucimar – Ao todo são 19 funcionários que colaboram pela manutenção do serviço, sendo 11 do setor administrativo, com funções que vão de auxiliares administrativos a vigiais, e, oito da parte técnica voltada à assistência psicossocial como psicólogo, farmacêutico, médicos, assistente social entre outros. Minha relação com eles é a mais estreita possível, aliás trabalhamos com os mesmos objetivos. Além disso, tenho em mente que é preciso saber cultivar boa relação a partir da troca de experiências e de vínculos afetivos. Implica ainda na capacidade de sensibilizar-se na partilha do sofrimento e de garantir atendimento de qualidade ao usuário.

Graduada em enfermagem, Lucimar coordena o CAPS de Paraíso desde 2005

Foto: Victor Hugo Morais

(En)Cena – O time é completo?

Lucimar – Não, no momento o centro possui demanda de um psicólogo e um terapeuta ocupacional. Mas já foram tomadas as medidas cabíveis para resolver esta situação.

(En)Cena –  Mas exatamente qual é essa luta?

Lucimar – O CAPS de Paraíso é classificado com CAPS I, sendo preconizado pelo Ministério da Saúde a atender municípios de 20 mil a 70 mil habitantes com capacidade para acolher 165 usuários. O atendimento é dividido em três modalidades, sendo 25 no sistema intensivo, 50 no sistema semi-intensivo e 90 no sistema não intensivo. Os usuários são pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico, impossibilitados de entender a realidade e realizar projetos de vida. Por outro lado, não atendemos somente a cidade de Paraíso, mas também 15 cidades circunvizinhas, o que consequentemente aumenta a demanda de usuários.

 

(En)Cena – Qual é a demanda de pacientes que apresentam problemas relacionados a saúde mental em toda essa região?

Lucimar – Estima-se que 15% da população destas 16 cidades apresentam problemas relacionados à saúde mental. Inclusive revelo a vocês que estamos caminhando rumo ao CAPS II devido a grande demanda reprimida.

 

(En)Cena – E a instituição possui recursos suficientes para suprir todo o serviço psicossocial estabelecido?

Lucimar – Sim. A instituição possui recursos suficientes.

(En)Cena – Você tem esta afirmação por que também coordena o recurso?

Lucimar – Na verdade eu não administro os recursos destinados ao CAPS. Falo isso devido ao fato que sempre que solicitadas, as verbas são repassadas pela Secretaria municipal de saúde, responsável pela coordenação do recurso oriundos do Ministério  da Saúde, através de laudos emitidos a partir das APAC’s – Autorizações para procedimentos de Alta complexidade. Sempre encaminho ofícios de solicitação, atendidos frequentemente pela pasta.

 

(En)Cena – Qual o atendimento dado ao paciente do CAPS de Paraíso?

Lucimar – Quando uma pessoa é atendida no CAPS, ela tem acesso a vários recursos terapêuticos, atendimento individual, em grupo, medicamentoso, atendimento a família, oficinas terapêuticas e atividades comunitárias, também não esquecendo atividades prática como processo de humanização, responsabilidade e compreensão. Damos atendimento com competência e tolerância.

(En)Cena – E quanto ao controle dos medicamentos oferecidos na Instituição. Como se dá?

Lucimar – A necessidade de medicação de cada usuário do CAPS deve ser avaliada constantemente com os profissionais do serviço. O CAPS organiza a rotina de distribuição de medicamentos e determina a família como responsável quanto à administração dessa medicação no que tange seu consumo pelo usuário. Os medicamentos são enviados constantemente pela Secretária de saúde.

 

(En)Cena – Há políticas voltadas também para o acompanhamento das famílias dos usuários?

Lucimar – É sabido que não somente o usuário precisa de atendimento, mas a família também necessita, pois ela adoece junto. É preciso que tenhamos uma atenção especial às famílias fragilizadas, que muitas vezes não encontram-se preparados para lidar com parente  que apresenta transtorno mental. Membros da equipe técnica como assistentes sociais e psicólogos, além de outros profissionais, realizam visitas domiciliares a fim de acompanharem as condições tanto financeiras como emocionais, seja do usuário ou de seus familiares. As visitas são relatadas no prontuário do paciente e também registrada no livro de visitas.

(En)Cena – Lucimar é sabido também que os CAPS devem atuar na tentativa de reinserção social de seus pacientes. Como é feito este trabalho?

Lucimar – A reinserção social dos pacientes se dá a partir de diversas atividades, dentre elas o acesso ao trabalho. São realizadas oficinas de artesanato, onde usuários produzem produtos que posteriormente são vendidos ou apresentados em exposições. Fazemos exercícios dos direitos civis e, atuamos no fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Além disso, realizamos o projeto Mostra de Cinema do CAPS que se encontra em sua 8ª edição, onde são apresentados filmes relacionados a saúde mental com efetiva participação da comunidade.

 

(En)Cena – Qual sua opinião acerca dessa aceitação social, ou seja, a população acolhe bem tanto o programa quanto o usuário?

Lucimar – Acredito que a população tem uma boa aceitação, pois quando levamos os projetos do CAPS para fora da Instituição somos bem recebidos. Afinal, a instituição tem reconhecimento, pois atua no alivio e amenização do sofrimento dos que ali buscam atendimentos.

(En)Cena – Quais são os parceiros do CAPS?

Lucimar – O centro tem como parceiros a Secretaria Municipal de Saúde, o Colégio Supremo, a Universidade Luterana Brasileira – Ulbra, Ruraltins, Frango Norte e demais entidades. Os apoios vão de ajuda em projetos desenvolvidos pelo centro à doação de alimentos, além da disponibilidade de estagiários para auxílio nos serviços desenvolvidos.

(En)Cena – Para finalizar vamos falar de futuro. Quais são seus próximos projetos ou planos para a instituição?

Lucimar – Atualmente, nós trabalhamos para a concretização da ampliação da estrutura física da unidade, visando oferecer à toda região o CAPS II. Paralelo a isso, busca-se a aquisição de mais profissionais a fim de atender com qualidade e prontidão toda a demanda existente.


Nota: texto originalmente publicado na Revista Laboratorio EU – www.revistaeu.blogspot.com – , do curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA vinculada à disciplina de Produção Jornalística II – Revista orientada pela professora Jocyelma Santana.

 

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