Diálogos Antimanicomiais: um debate urgente e necessário

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O movimento da luta antimanicomial, sintetizado na reforma psiquiátrica, é uma iniciativa que se iniciou há aproximadamente trinta e cinco anos, e produz debates e reflexões até hoje. A questão da saúde mental, enquanto assunto de interesse público, tem ganhado relevância crescente ao longo dos últimos anos, ao passo em que há uma tomada de consciência acerca da importância do assunto, acompanhada de uma crescente incidência de transtornos psicológicos na população de maneira geral. 

Nesse sentido, o Brasil aponta como um dos países com maior prevalência de transtornos psicológicos no mundo, e apesar de ser esta uma questão multifatorial, torna-se imperiosa a análise das iniciativas de tratamento neste âmbito, sobretudo no que tange às políticas públicas. Não obstante os avanços inquestionáveis conquistados pela reforma psiquiátrica no sentido de estabelecer diretrizes mais humanas e condizentes com os direitos civis de cada cidadão, o sistema público de saúde no Brasil, em termos de saúde mental, ainda se mostra muito carente e defasado. 

Para além do debate envolvendo as políticas públicas de saúde nesse contexto, pode-se ponderar acerca da influência da cultura nesse sentido, e de como uma lógica medicalizante/biologizante, ainda que importante em alguns casos, por vezes suprime a possibilidade de se levar em conta aspectos subjetivos que se fazem por ouvir. E de como esta lógica está, de alguma forma, inserida em uma dinâmica de mercado na qual incidem interesses de múltiplos setores da economia. 

Sob esse prisma, a luta antimanicomial adquire novas nuances, uma vez que se mostra um movimento que se coloca para além dos infaustos manicômios de outrora, mas se apresenta como um espaço onde se pode discutir práticas e paradigmas atuais que reproduzem uma lógica asilar, ainda que sob uma roupagem mais palatável.

A própria prática clínica – que ocorre na maioria das vezes de forma individualizada – é passível de uma reflexão nesse sentido, uma vez que por vezes desconsidera sintomas que possuem uma etiologia proveniente de um contexto social e econômico. Nesse sentido, a subjetividade emerge como possibilidade não somente de compreender o sintoma que se manifesta no indivíduo, mas também oportunidade de analisar o contexto em que o mesmo está inserido, dando ensejo para discussões acerca dos aspectos que nos envolvem coletivamente. 

O campo da saúde mental é relativamente recente em nossa cultura, embora tenha ganhado cada vez mais visibilidade. Justamente por isso, a promoção de espaços de debate neste âmbito é tão necessária quanto salutar. 

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Roger Scruton defende em “A alma do mundo” a experiência do sagrado frente aos ateísmos contemporâneos

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No livro, o escritor levanta uma série de discussões sobre arte, mente, música e política para mostrar o que está em risco nos debates atuais a respeito da natureza e do fundamento da crença religiosa

Um dos mais respeitados nomes do conservadorismo britânico, Roger Scruton evita defender a prática ou doutrina de uma fé em especial.  No entanto, em seu novo livro, “A alma do mundo”, o filósofo lança seu olhar sobre uma visão religiosa do mundo, que, a seu ver, não pode ser captada pelas lentes dos materialistas e dos naturalistas.

Longe de apresentar uma defesa da existência de Deus, Scruton argumenta que, independentemente do significado evolucionista que possa ser atribuído à crença religiosa e seu papel na seleção natural, há uma função fundamental que ela representa, referente à manutenção da vida humana:

 “As religiões dão foco e ampliam o senso moral; elas cercam aqueles aspectos da vida nas quais as responsabilidades pessoais estão enraizadas, notavelmente, o sexo, a família, o território e a lei. Elas alimentam as emoções distintamente humanas, como esperança e caridade, que nos elevam acima dos motivos que regem a vida dos outros animais e nos levam a viver pela cultura, não pelo instinto”, conclui.

O autor afirma que as discussões atualmente em voga sobre as crenças religiosas estão relacionadas ao confronto entre o cristianismo e a ciência moderna e aos ataques terroristas do 11 de setembro, que aumentaram a tensão entre o Islã e o mundo ocidental.  No entanto, Scruton reforça que os embates têm origens diferentes. Sendo o primeiro intelectual e o segundo emocional.

“A alma do mundo” propõe uma reflexão sobre a importância do sagrado no mundo e o que seu esvaziamento pode significar.

Trecho:

“Se há alguma mensagem a ser extraída dos meus raciocínios é que a ideia de salvação — de uma relação correta com o criador — precisa aceitar a morte, no sentido de que, diante dela, encontramos o nosso criador, a quem devemos prestar contas das nossas falhas. Retornamos ao lugar de onde surgimos, à espera de sermos bem recebidos ali. Este é um pensamento místico e não há como traduzi-lo no idioma da ciência natural, que fala do antes e do depois, não sobre o tempo e sobre a eternidade. A religião, tal como eu a considero, não descreve o mundo natural, mas o Lebenswelt, o mundo dos sujeitos, com o uso de alegorias e de mitos para nos lembrar, no nosso nível mais profundo, quem e o que somos nós. E Deus é o sujeito que tudo conhece e que nos recepciona assim que atravessarmos para o outro domínio, além do véu da natureza. Abordar a morte dessa maneira é, portanto, se aproximar de Deus: nos tornamos, por meio das nossas obras de amor e de sacrifício, uma parte da ordem eterna; realizamos a ‘travessia’ para aquele outro lugar, para que a morte não se torne mais uma ameaça para nós. A vida da oração nos resgata da Queda e nos prepara para uma morte que podemos significativamente ver como uma redenção, pois ela nos une à alma do mundo.”

Roger Scruton foi professor de Estética na Birkbeck College, Londres, e professor da Universidade de Boston. Escreve regularmente para The Times, The Telegraph e The Spectator. É auto de diversos livros, entre eles,  Como ser um conservador, também publicado pela Record.

Fonte: goo.gl/J5Vygf

A ALMA DO MUNDO
Autor:
Roger Scruton
Tradução: Martim Vasques da Cunha
Preço: R$ 44,90
Editora: Editora Record

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