Características psicológicas da Geração Floco de Neve

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Quando falamos de floco de neve logo nos vem em mente não só sua beleza, mas também sua fragilidade e vulnerabilidade, e essas duas características são as que definem pessoas que atingiram a fase adulta na década de 2010. A “geração floco de neve” (“snowflakes”), “milênio” (“millenial”) ou geração “Y”, é uma geração formada por pessoas extremamente sensíveis em pontos de vista que desafiam sua visão de mundo, jovens adultos que se acham melhores e mais especiais que os outros e são tratados como flocos de neve, pois “derretem” com muita facilidade.

Essa expressão teve origem no filme Clube da Luta, quando Brad Pitt fala “vocês não são especiais, não são um floco de neve, o único, o singular. Vocês são feitos da mesma matéria de que vai se decompor como todo mundo”. Essa geração geralmente tem a atitude de filtrar e só permitir entradas de opiniões que não irão ferir sua sensibilidade tendo como suas possíveis consequências à preparação de mentes frágeis do ponto de vista da saúde mental e maus profissionais para o mercado, já que sempre vai existir a diversidade de pensamentos e comportamentos entre as pessoas.

O fato de se achar especial e melhor que os outros acabam deixando o jovem muito mais vulnerável, segundo a psicóloga Jean Tweng, geralmente essas pessoas crescem em famílias onde qualquer atitude da criança os pais já o tratam como se fosse diferente dos outros, ela dá como exemplo uma criança que faz um traço em um papel e seus pais já trata como se fosse Picasso, a criança vai crescendo com muita pressão vinda das pessoas ao seu redor, tanto para sobrevivência financeira quanto para suas ações, que devem ser sempre extremamente legais, amáveis e corretos, havendo assim certo determinismo sócio histórico pressionando e fazendo com que essas crianças cresçam como uma grande projeção narcísica dos pais, que sempre se enchem de expectativas sobre os filhos, imaginando e criando assim uma personalidade que seus filhos devem seguir.

Segundo Luiz Felipe Pondé o crescimento das expectativas dos pais de hoje está ligado a diminuição do número de filhos, pois com o passar do tempo houve essa diminuição e isso consequentemente acabou fazendo os pais colocarem todas suas expectativas e neuras em uma criança.

Estes Jovens acabam se tornando super dependentes dos pais, demoram mais a sair da casa dos pais e ao saírem acabam afundando uma parte de sua vida, já que geralmente ganham menos que seus genitores, tendo relacionamentos líquidos por terem dificuldade e medo do desejo, pois ao entrar em um relacionamento longo começam a lidar com pessoas reais (o que é uma das maiores dificuldades dos jovens), e cada vez menos querem ter filhos, já que será uma responsabilidade muito grande cuidar e bancar um filho. Ao sair de casa o jovem precisa trabalhar, agir como adulto, tendo cada vez mais que se preocupar com as coisas ao seu redor, não podendo depender ou correr para seus pais no primeiro problema a sua frente.

Fonte: Freepik

Como dito, na visão da chamada geração floco de neve, as pessoas se negam as frustrações da vida cotidiana, buscando sempre estarem em suas zonas de conforto, na “mesmice” não a espaço para novas experiências e, portanto novos possíveis fracassos. A humanidade deveria rumar à alteridade, a capacidade de reconhecer e conviver com o diferente e a diversidade, pois este é um belo caminho para evolução.

Atualmente as redes sociais tem sido um mecanismo de espaço de fuga para expressão da geração floco de neve. Nesse espaço virtual é cada vez mais fácil fazer comparações surreais e injustas com a vida de pessoas com realidade completamente distintas, o que gera a frustração na pessoa de pensar que nunca poderá chegar a determinado “pódio” e devido a isso se acomodar em sua rotina, seu cotidiano sem ambição e sem vontade de ir além. As pessoas dessa geração também expressam extrema sensibilidade, uma fragilidade e um papel de vítima, indivíduos que por tudo se ofendem.

Nesse sentindo, tem sido estabelecido nas universidades aos redores do mundo o chamado “espaço seguro”, que se trata de uma reclusão aceitável e voluntaria daqueles que não se sentem à vontade em dialogar, ouvir ou falar sobre determinados assuntos que possam o infringir como individuo por algum motivo, independente de qual seja. Todavia esse espaço pode acabar se tornando uma bolha de reclusão daqueles que não enfrentam determinadas questões, e isso pode influenciar muito na evolução desta pessoa. Pois nem sempre nos meios em que ela se encontrará haverá essa opção de se opor ao debata fala ou escuta.

“Eu não me sinto confortável”, “não aguento mais” ou “isso não é para mim’ são frases marcantes desta geração em questão, de pessoas que privam de realizar e ir em direção aos seus sonhos e objetivos, por se encaixarem na zona de conforto, se colocam em posição de vítima por ser uma válvula de escape mais fácil do que sair em busca de um sentido a sua vida.

Quanto a essa geração no âmbito profissional, estima-se que em 2025 o mercado de trabalho será 70% composto por jovens pejorativamente chamados “flocos de neve”. As características deste grupo no mercado de trabalho são diversas, observa-se muitas vantagens e contribuições na inserção e atuação deste grupo dentro das organizações, contudo, há também muitos pontos a serem discutidos.

Fonte: Freepik

Lombardia (2008) define a Geração Y como “as pessoas nascidas entre 1980 a 2000, conhecida como a geração dos resultados, tendo em vista que nasceu na época das tecnologias, da Internet e do excesso de segurança”. E Oliveira (2009) ressalta que “ela não viveu nenhuma grande ruptura social, vive a democracia, a liberdade política e a prosperidade econômica”.

Após estudos e pesquisas realizadas por grandes autores comprometidos com o assunto em questão, observou-se que os adultos jovens pertencentes à Geração Y são inovadores, criativos, buscam crescimento dentro das organizações, dominam a tecnologia, gostam de serem desafiados, precisam ser constantemente motivados e valorizados pelo seu chefe ou superiores, sempre procuram um lugar que se sintam satisfeitos e precisam trabalhar felizes, se sentindo bem.

Em empresas que são comandadas por essa geração, geralmente os colaboradores são livres para trabalharem quando e como quiserem, eles também possuem espaço de lazer e diversão dentro da empresa que pode ser acessado caso estes atinjam suas metas, e caso isso ocorra, eles ainda podem ganhar premiações para se sentirem valorizados.

Em contrapartida, esta geração “sofre” muitos questionamentos e falta de propósito, estão desacostumados a reconhecer seus erros e a lidar bem com frustrações. Conhecida também como a geração “mimimi”, se faz constantemente de vítimas e transferem a culpa de seus fracassos a terceiros, são imediatistas e visto também como ressentidos e hipersensíveis.

De acordo com Lipikin e Perrymore, os jovens Y não enxergam o chefe como uma figura superior que está lá para ser respeitada, mas sim alguém cujo dever é ajudá-las e orientá-las – sendo uma pessoa que merece respeito como qualquer outra.  Isso retrata também que colaboradores da geração Y não lidam bem com hierarquia, vêem seus superiores como colegas de trabalho e não são nada flexíveis a hierarquia tradicional, além de apresentarem pouca predisposição a escuta, e isso se constitui como um desafio para as empresas.

Referências

Augusta de Oliveira Melo, Fernanda. Cristina dos Santos, Daniele. Cristiane Mendes de Souza, Cleiva.  A Geração Y e as Necessidades do Mercado de Trabalho Contemporâneo: “um Olhar sobre os Novos Talentos”. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia 2013, Volta Redonda – Rio de Janeiro, vol 1, p. 6. Outubro, 2013.

COVEY, Franklin. Os principais desafios da geração Y no mercado de trabalho: Quais são os desafios da geração Y no mercado de trabalho?. In:  Artigo. 01. ed. Não consta: Franklin Covey, 29 abr. 2019. 00. Disponível em: https://franklincovey.com.br/blog/geracao-y-no-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 25 nov. 2021.

PONDÉ, Luiz Felipe. Geração Floco de Neve. Youtube, 22/04/2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X7rdZwSA4G0&t=2128s. Acesso em 25/11/2021

TORRES, Leonardo. As redes sociais e a geração “floco de neve”. Campo Grande News, 2019. Disponível em: https://amp.campograndenews.com.br/artigos/as-redes-sociais-e-a-geracao-floco-de-neve. Acesso em:25/11/2021.

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Dependência Emocional: Você é capaz de perceber quando ela está presente nos relacionamentos interpessoais?

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A expressão “amar demais”, aparentemente pode ser vista como algo positivo, em primeiro momento, no entanto a sua mensagem traz algo que muitas vezes é desconhecido para muitas pessoas, a dependência emocional. Um ciúme de cá, um ciúme de lá, uma desconfiança que vai além do normal, um sentimento de posse pelo outro, aquele desejo de atenção em tempo integral, são comportamentos que indicam sinais de dependência afetiva. É preciso levar em consideração esses sinais que não podem ser tidos como normais, apesar de todo romantismo que propagou-se em novelas brasileiras, no decorrer de décadas. Quando a mocinha sofria muito para conseguir a atenção do bem-amado.

Sentimentos que podem tornar-se destrutivos quando não tratados com um profissional da área da psicologia, aborda o psicólogo e escritor Walter Riso, em sua obra Amar ou Depender? Sobre as consequências da dependência emocional, as quais podem ser devastadoras.  Por isso, a importância do desenvolvimento do amor-próprio, o que difere de um vício, comportamento inadequado e prejudicial à saúde psíquica.

Fonte: encurtador.com.br/pCHK2

Sobre o tema, Martini (2012) refere-se que a insegurança e falta de confiança são causas inerentes a padrões comportamentais de pessoas com dependência. Segundo ela, estas ações são explicadas pela maneira que o indivíduo foi formado na sua infância, em especial, quando não teve um ambiente seguro familiar. Nesse sentido, ainda reforça que essa insegurança ainda na infância não favorece o desenvolvimento da capacidade de autonomia e tomada de decisões, o que acarretara um adulto com dificuldades de adquirir relações saudáveis, podendo se tornar alguém dependente. 

Bowlby (2002) observa que existe uma forte relação entre as experiências que o indivíduo vivenciou com sua família de origem e a forma como estabelecerá seus vínculos afetivos e relações sociais. Por isso, a importância de uma criança desenvolver sua identidade e valores em um lar saudável, suprida com o amor paterno e materno para ser um adulto completo, sem a necessidade de buscar no outro o preenchimento emocional, que foi negado na infância. 

Beattie (1987) compara a dependência emocional com a dependência química.  De acordo com a escritora, muitas mulheres são viciadas em relacionamentos destrutivos e acreditam que o sofrimento ao qual são inseridas é indispensável para conquistar a pessoa desejada. Para isso, será necessária uma mudança profunda para transformar o paradigma de relacionamento. Em sua concepção, a pessoa precisa entender que o problema está em si, e não no outrem para buscar a saúde emocional.

Fonte: encurtador.com.br/yLPS8

De acordo com Norwood (1989), pessoas oriundas de lares desajustados têm uma grande predisposição a desenvolver dependência emocional, pelas suas necessidades não terem sidos supridos na infância, como foi mencionado por Martini. Nesse contexto, muitas mulheres em busca de algo que não teve quando criança buscam em relacionamentos suprir suas ausências, quando tornam-se dependentes emocionais. Fazendo com que a ausência afetiva dos pais venha contribuir para esse tipo de comportamento, quando o vício em depender da presença de alguém é confundido com amor.

Baseado em sua obra Mulheres que Amam Demais, criou -se, no Brasil, o Mada, grupo de homônimo ao livro, o qual acolhe mulheres dependentes emocionais, que sofreram ao extremo por conta de relacionamentos tóxicos. Muitas vindas de relacionamentos abusivos, em que a violência doméstica fora presente. Para isso, o Mada reúne mulheres, as quais não precisam se identificar para contar sobre suas dores. O movimento vem ganhando força no Brasil, e tem se espalhado pelos estados.

Com o intuito de ajudar mulheres que amam demais o Mada realiza o programa de 12 passos para autorrecuperarão. Para se identificar com o grupo, é disponibilizado, uma lista com algumas características de uma dependente emocional. Ter medo de ser abandonada com o fim do relacionamento, está mais em contato com o sonho do que a realidade e habituada à falta de amor em relacionamentos interpessoais. São alguns aspectos da dependência. 

Referências

Beattie Melody. 1987. Co dependência Nunca Mais: Para de controlar os outros e cuide de você mesmo. 

Martini, Juliana. 2012. Dependência Emocional Familiar: possíveis manifestações nos filhos. Disponível em < file:///C:/Users/Daniel/Downloads/12430-Texto%20do%20artigo-46320-2-10-20121023.pdf>. Acesso 06. de Out. 2021.

Grupo de apoio Mulheres que Amam Demais (Mada). Disponível em: https://grupomadabrasil.com.br/ Acesso 06. de Out. 2021.

Riso, Walter. 2010. Amar ou Depender?. Tradução Marlova Assev. Porto Alegre. 

Norwood, Robin. 1989.  Mulheres que Amam Demais.

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A dependência afetiva nas redes sociais

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Quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais são perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acabam não se desenvolvendo.

Pode-se observar claramente uma dependência que fica evidente nas redes sociais, onde usuários buscam que outros façam uma averiguação, avaliação e validação de suas vidas e isso pode demonstrar, em alguns casos, que apenas não estão convencidos do que são virtualmente ou da forma como vivem no real. Essa fragilidade pode ser anterior ao uso da internet e, com esta, apenas eclodiu com o uso das ferramentas de redes sociais que, implicitamente, mostram a insatisfação e a insegurança das pessoas consigo mesmas.

Vê-se todos os dias pessoas fazendo postagens onde exibem algo da sua vida no intuito de buscar uma auto-afirmação: “eu tenho o melhor carro”, “eu tenho amigos importantes”, “eu sou uma pessoa religiosa”, “eu sou uma pessoa linda”. Esse ego exagerado tem a função de compensação que acaba criando uma pessoa com fixação em agradar e ser agradada o tempo todo e que busca nos “likes” uma gratificação e exaltação de que ela aparentemente tenta construir nas postagens.

Dessa forma as redes sociais podem funcionar como um escudo protetor que na verdade nos priva de ter um real contato com a vida, pois podemos ser quem idealizamos ao mesmo tempo que falamos o que queremos, podendo apenas bloquear o perfil daquele que vai contra nosso ego. Bauman (2001) fala que tudo o que era sólido se liquidificou, o que reverberou também nas relações sócio/afetivas, agora regidas a partir de acordos temporários, passageiros, válidos até uma segunda ordem.

Fonte: encurtador.com.br/glnIL

Neste sentido, quando ocorre uma frustração com algo ou alguém, ao invés de ter um diálogo, as pessoas recorrem às redes para despejar palavras na intenção de achar outro que apóie seu discurso que acaba sendo apenas um eco da própria voz – as chamadas bolhas políticas. Então quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais tendem a ser perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acaba não se desenvolvendo.

A rede social Instagram retirou a quantidade de “likes” na tentativa de resgatar o que foi proposto no início, que era mostrar momentos da sua vida sem a importância da popularidade. A idéia é que os usuários possam buscar por conteúdos que realmente sejam atrativos e não porque determinado perfil é famoso, se desprendendo desse mundo de números e recompensas.

Na psicanálise existe o conceito de gozo imagético que está relacionado com a imagem que o sujeito constrói de si, e o tipo de prazer que a pessoa sente com isso. Mas quando se fala de gozo, na psicanálise, acaba se remetendo a Lacan que fala que o gozo vai além do prazer, pois a pessoa deseja ser mais especial que todas as outras.

Fonte: encurtador.com.br/stwP3

Portanto, o uso de qualquer rede social deve ser um ponto de reflexão, se estamos usando ou sendo usados a fim de perceber se o prazer que temos ali é real. Se existe espaço para autenticidade e aceitação das diferenças como algo comum e assim preservar a saúde mental. Compreendendo que o virtual não é de todo mal, mas não deve ser substituto das relações fisicamente próximas, pois é com o embate de ideias e com o diferente que se aprende.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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