Participação no mercado de trabalho e formalização são menores entre tocantinenses com deficiência

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Os tocantinenses que possuem alguma deficiência estão menos presentes no mercado de trabalho. É o que aponta o estudo Pessoas com Deficiência e as Desigualdades Sociais no Brasil, divulgado nesta quarta-feira, 21, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2019, a taxa de participação para essas pessoas era de 33,9%, quase a metade do que entre àquelas sem deficiência (63%). Esse indicador mede a proporção de ocupados e de desocupados da população com 14 anos ou mais de idade.

Conforme o estudo, que tem como principal fonte a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, publicada em agosto do ano passado, a taxa de desocupação no Tocantins, por sua vez, era ligeiramente superior para pessoas sem deficiência (7,6%) do que para as pessoas com deficiência (6,9%). Mais enquanto quase metade (40,6%) dos trabalhadores sem deficiência estavam empregados em postos formais, esse indicador (taxa de formalização) era de 24,7% entre aqueles com deficiência.

“Há dificuldades em entrar no mercado de trabalho, e quando elas conseguem, essa vaga é proporcionalmente mais informal, de pior qualidade e com menos direitos. Também existem diferenças entre os tipos de deficiência. No caso das pessoas com deficiência mental, a inserção no mercado de trabalho é ainda mais difícil”, explicou o analista do IBGE Leonardo Athias.

População com deficiência

A edição 2019 da PNS identificou que 8,4% da população do país com dois anos ou mais de idade tinham algum tipo de deficiência. A maior proporção foi observada no Nordeste (9,9%), e a menor, no Centro-Oeste (7,1%). Entre as unidades da Federação, as maiores concentrações de pessoas com deficiência estavam em Sergipe (12,3%) e na Paraíba (10,7%), enquanto as menores estavam no Distrito Federal (5,2%), seguido por Mato Grosso (5,6%). No Tocantins, 9,4% da população com dois anos ou mais tinham alguma deficiência.

A pesquisa também constatou que a deficiência se concentra na população mais idosa e do sexo feminino: 31% das pessoas com 60 anos ou mais tinham alguma deficiência, enquanto entre as pessoas de dois a 59 anos esse percentual caiu para 5,4%. Entre as mulheres tocantinenses o percentual ficou em 9,9% e entre os homens 8,7%.

Acesso a benefícios

No Tocantins, cerca de 548 mil pessoas viviam em domicílios com rendimento inferior a meio salário mínimo per capita, sendo que 8,5% (47 mil) tinham alguma deficiência. Segundo a pesquisa, 53,8% (25 mil) dessas pessoas com deficiência receberam algum benefício social em 2019. O restante, 46,2% (22 mil), não tiveram acesso a benefícios.

O saneamento básico e a internet no domicílio também foram abordados no estudo. Apenas 18,9% das pessoas com deficiência tinham acesso simultâneo a serviços de esgotamento sanitário por rede coletora, pluvial ou fossa ligada à rede, água por rede geral e coleta de lixo (seja direta ou indireta). Entre aqueles sem deficiência, esse percentual era de 25,1%. Enquanto 80,2% dos tocantinenses sem deficiência tinham internet em casa, essa proporção era de 58,1% para as pessoas com deficiência.

Educação

O estudo também apontou uma diferença entre pessoas com deficiência e sem deficiência em relação à educação: entre os tocantinenses de 10 anos ou mais com deficiência, a taxa de analfabetismo foi de 32,7%, contra 7,9% do restante da população dessa faixa etária sem deficiência. Já entre a população idosa (de 60 anos ou mais) a taxa foi de 42,4% (com deficiência), contra 31,4% (sem deficiência).

A pesquisa revelou, por fim, que 72% da população tocantinense com deficiência acima de 18 anos não tinha nenhuma instrução ou possuía apenas o ensino fundamental incompleto; 10% tinha o ensino fundamental completo e médio incompleto; 13,3% estava no grupo de ensino médio completo e superior incompleto e apenas 4,4% tinha nível superior completo. Entre as pessoas sem deficiência, esses percentuais foram de: 35,2%, 13,9%, 36,6% e 14,3%, respectivamente.

Autor:

Unidade Estadual do IBGE no Tocantins

Supervisão de Disseminação de Informações

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Como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde

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Rita Barradas Barata apresenta em seu livro “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”, seu grande interesse e conhecimento sobre o tema. Visto que já tinha como área de trabalho e estudo a saúde coletiva, estruturou esse tópico para coleção “temas em saúde” com dados epistemológicos mais abreviados. Utilizando-se de uma linguagem clara e objetiva, tornou a leitura mais acessível a outros públicos além de profissionais da saúde, discorrendo de forma rica o impacto das desigualdade social na saúde dos indivíduos.

A primeira parte do livro, começa com um esclarecimento do que de fato seria o impacto da desigualdade social no processo saúde-doença. Compreende-se a partir das informações apresentadas que existem muitas explicações divergentes para apontar as causas dessas desigualdades. Entretanto, não se deve focar somente nas explicações simplistas, como uma visão voltada somente para questões biológicas, pois, não se possui argumento suficiente para explicar essa causa. Geralmente, as desigualdades são classificadas como as situações em que algumas pessoas ou grupos estejam vivendo algum grau de injustiça. Torna-se necessário o aprofundamento nas teorias relacionadas ao tema, deixando para trás as explicações reducionistas e de senso comum para melhor compreender as desigualdades sociais em saúde.

As teorias discorridas por Barata, foram: a estruturalista, psicossocial, determinação social e a teoria do ecossocial. A partir deste ponto de vista “as relações econômicas, sociais e políticas afetam a forma como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e, desse modo, acabam por moldar os padrões de distribuição das doenças” (p.20). A autora apresenta um dado importante para o desenvolvimento de sua obra, o marco na saúde em 1988, o qual foi o ano da criação do SUS pela Constituição Federal Brasileira. Ela também reflete sobre um dos princípios do SUS, a “EQUIDADE”, que tem como função dar direito a saúde de forma mais justa a população.

encurtador.com.br/fqCNO

A autora ressalta que os mesmos caminhos e processos que formulam a estruturação da sociedade são também os que produzem as desigualdades sociais em saúde/doença, em perfis epidemiológicos. Portanto, a explicação para essa questão tem que ser analisada de forma minuciosa como também global, porque surgem através dos processos biológicos, relacionais e culturais. Logo, são expressados através da política, ideologias e poder das instituições existentes que são causadores de inúmeras iniquidades para com determinadas posições sociais.

Para fomentar essa visão, Barata traz o conceito de “classes sociais” de Marx e pesquisas epistemológicas com dados equivalentes à renda, escolaridade e estratificação ocupacional. Essas informações apresentam elementos comprovativos de que a classe do proletariado e sub proletariado tem mais prejuízos quando se fala do processo de saúde-doença, sendo que a taxa pela procura de centro de saúde preventivas são bem menores. Nas palavras da autora, “As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde para ações preventivas ou assistenciais” (p.32).

encurtador.com.br/orJMQ

Quando se fala nisso, a maioria das pessoas pensam que se o país tivesse um elevado índice de economia, ter-se-ia menos prejuízos na saúde da população. Todavia, Barata demonstra, com muita habilidade, que “a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem em mais saúde” (p.41). Visto que, fatos epidemiológicos apresentam informações de que apesar de alguns países e municípios aparentarem ter um alto capital econômico, eles possuem distribuição de renda injusta. Isso impacta como um todo os sistemas da sociedade, gerando sempre mais prejuízos aos menos favorecidos, uma vez que, a saúde é fornecida socialmente e as formas como ocorre a organização social são determinantes para que um grupo social seja mais saudável que outros.

O enfrentamento das desigualdades sociais em saúde depende de políticas públicas capazes de modificar os determinantes sociais, melhorar a distribuição dos benefícios ou minorar os efeitos da distribuição desigual de poder e propriedade nas sociedades modernas (p.53).

Em dois capítulos específicos, a escritora aborda com propriedade as categorias de etnia e discriminação/racismo e de gênero. Visto que toda forma de exclusão a determinados grupos, seja por gênero, religião, etnia, orientação sexual ou incapacidade tem como resultado impactos negativos na saúde. Esse impacto reverbera tanto no grupo atingido diretamente como também no grupo social por inteiro que vive num ambiente de práticas opressoras.

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A nossa sociedade está repleta de preconceito e discriminação voltada para os grupos étnicos, contribuindo para que na estruturação social, esses grupos fiquem presentes nas classes médias/baixas. Coordenados pelas classes elitizadas, replicadoras do poder de dominação e repreensão, apresentando uma falsa liberdade de escolha da estruturação da vida a esses grupos, manejo esse, que é conduzido com diversas práticas de iniquidades sociais, que reflete em todos os campos, incluindo na saúde.

Os integrantes dos grupos étnicos ou raciais discriminados sofrem vários tipos de desvantagens, acumulando-se os efeitos da discriminação econômica, segregação espacial, exclusão social, destituição do poder político e desvalorização cultural (p.66).

Para melhor explicar, Rita descreve que: “A maioria das desigualdades sociais em saúde é injusta porque reflete a distribuição dos determinantes sociais da saúde na sociedade, remetendo, portanto, à distribuição desigual de poder e propriedade” (p.55). Logo, quando se tenta explicar as desigualdades não se atinge o objetivo a partir de estudos direcionais dando ênfase somente numa questão específica. Deve-se pesquisar de maneira minuciosa e de forma abrangente por envolver os sistemas estruturais, históricos e culturais.

Os efeitos da discriminação sobre a saúde decorrem de diferentes mecanismos que envolvem a segregação residencial e ocupacional, com aumento da probabilidade de viver em bairros sem acesso a condições mínimas de vida saudável; aumento do risco de exposições a contaminantes ambientais; acumulação das sensações de medo e raiva; aumento de comportamentos insalubres como o consumo de álcool, drogas e tabaco; diagnósticos e tratamentos tardios ocasionados pela menor possibilidade de acesso aos serviços, agravada pela discriminação institucional (p. 67).

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Quando Barata vai discorrer sobre a questão de gênero no processo saúde-doença, ela aponta a importância de utilização do termo “gênero”, nas pesquisas científicas, ao invés, de somente “sexo”, o qual é direcionado exclusivamente ao sexo biológico. Em vista que, gênero abarca diversas características do que pode ser classificado como feminino ou masculino. Ou seja, as relações e posições de gênero é resultado de uma construção social e cultural, dos papéis estipulados como femininos e masculinos e isso impacta na relação saúde- doença. O que vem a explicar o porquê de o índice de mortalidade ser bem maior em homens é a busca por atendimentos nas bases de saúde serem mais realizadas por mulheres.

As desigualdades de gênero no estado de saúde e na utilização de serviços resultam da ação complexa de diversos determinantes que incluem desde a dimensão biológica, com a carga de problemas relacionados à função reprodutiva, até a dimensão política relacionada à divisão do poder na sociedade (p.94).

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Ademais, Barata não poderia deixar de fazer uma complementação da importância que as políticas públicas têm para o enfrentamento dessas desigualdades. Além disso, elenca-se a necessidade de ter um olhar amplo que proporcione mudanças para determinados grupos, fornecendo uma melhor qualidade de vida e saúde. Ao apresentar uma análise de tudo que foi discorrido no decorrer do livro, ela demonstra a complexidade que é descrever, definir e intervir nessas desigualdades sociais existentes na sociedade. Salienta também, a importância de uma postura éticas e voltada para equidade, vindas de profissionais da saúde.

Há uma preocupação crescente não apenas em desenhar e implementar sistemas de saúde capazes de proteger as famílias dos efeitos catastróficos das doenças, mas também em que a atuação dos serviços e profissionais de saúde não aumentem ainda mais as desigualdades sociais, através de ações que estigmatizem ou discriminem grupos de indivíduos segundo idade, sexo, etnia, preferência sexual, religião, condição econômica ou outras características (p.105).

Reconhecer as desigualdades sociais em saúde, buscar compreender os processos que as produzem e identificar os diferentes aspectos que estabelecem a mediação entre os processos macrossociais e o perfil epidemiológico dos diferentes grupos sociais é uma condição indispensável para que seja possível buscar formas de enfrentamento, sejam elas no âmbito das políticas públicas, sejam elas no âmbito da vida cotidiana (p. 109).

Sendo assim, esta obra é incrível para compreender os impactos das desigualdades sociais na saúde, despertando interesse para um possível aprofundamento nos estudos e pesquisas sobre o assunto. Para que, cada vez mais possa ter profissionais que lutem pela causa, de maneira ética, firmes nas práticas que buscam uma mudança na estruturação social e cultural. Inclusive, dando voz e visibilidade as pessoas que sofrem iniquidades, construindo uma sociedade mais saudável e justa, para todos.

FICHA TÉCNICA

COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL À SAÚDE

Autora: Rita Barradas Barata
Editora: Fiocruz
Ano de publicação: 2009

Referência:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde [livro eletrônico]. Coleção Temas em Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1° edição, 2009.

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O que se quer dizer com desigualdades sociais em saúde?

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A redução das desigualdades sociais em saúde não é uma tarefa fácil, nem sempre as boas intenções resultam em intervenções com o impacto esperado. A relação existente entre a divisão social e a desigualdade em saúde foi analisada considerando as consequências da distribuição e controle desigual dos recursos socioeconômicos dos grupos na população, sem reduzir essa compreensão apenas no processo de produção da saúde.

Quando falamos em igualdade ou desigualdade, estamos comparando situações sociais que vem sendo documentadas há muito tempo, a partir do século XIX. No Brasil, a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de política pública, quando os diferenciais em mortalidade geral ou específica são apresentados, é que o acesso aos serviços de saúde é diferenciado para vários grupos, os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponíveis por incapacidade do indivíduo ou por características de organizações dos próprios serviços, onde afetam mais os pobres, marginalizados e muitos deles são incapacitantes.

Fonte encurtador.com.br/pCIMO

Podemos identificar teorias que fornecem elementos para a compreensão do processo de produção da saúde e seus reflexos sobre a distribuição do estado de saúde na população. A estruturalista, com maior importância à estrutura econômica da sociedade, capaz de explicar grande parte das desigualdades. A psicossocial que dá mais importância à percepção da desvantagem social como fonte de estresse e desencadeadora de doenças predomina a privação relativa, uma vez ultrapassado o limiar de atendimento das necessidades básicas.

A versão brasileira da determinação social do processo saúde dá maior ênfase explicativa ao modo de vida, características sociais de produção, distribuição e consumo. A teoria ecossocial representa o esforço de articular, no sentido forte do tempo, pelos organismos humanos aspectos sociais e psíquicos nos quais os indivíduos vivem e trabalham. Há diferentes eixos de análise possíveis no estudo das desigualdades sociais, essa discussão dá maior destaque a posição de classe social, a renda, o gênero e a etnia.

A posição social e seus reflexos sobre a saúde

A saúde de uma sociedade é resultado de um processo histórico de organização e reprodução social, que pode ser analisado partindo de diferentes domínios da vida. Características da espécie biológica, das relações ecológicas do grupo e sua cultura delinearão ao longo do tempo, sistemas de reprodução social que perpetuaram processos mantenedores ou deletérios à saúde.  Segundo Barata (2009) “tal conceito torna falha a tentativa de estabelecer relações lineares de causa-efeito entre indicadores sociais e problemas de saúde”.

O conceito Marxista de classe social é definido por posições no processo de produção. Visto na relação de dominação e exploração por parte da burguesia (donos dos meios de produção) com o proletariado, (operários) que vendem sua força de trabalho. Esse conceito inclui as dimensões sociais, jurídicas, ideológicas e demais aspectos. Tal desigualdade só seria desfeita através do que Marx chamou de ditadura do proletariado ou sociedade comunista que acabaria com o sistema de classes.

Nesta perspectiva, o status de saúde do indivíduo está diretamente ligado à classe social a que pertence. Segundo o que busca explicar o levantamento do departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, em 1992, que demonstrou que a prevalência de baixo peso em filhos de mães não fumantes do proletariado era maior que a prevalência de baixo peso em filhos de mães fumantes da burguesia. Este estudo demonstrou que a determinação da classe social é mais significativa do que o tabagismo, já conhecido fator de risco para tal condição.

Fonte: encurtador.com.br/muGWZ

Já na conceituação de Weber a classificação social ocorre nas esferas econômica (ocupação), prestígio social, (ligada à escolaridade) e poder político (poder ou riqueza renda). Ficando assim a sociedade dividida em camadas de acordo com as condições socioeconômicas correlacionando novamente a qualidade de saúde e as desigualdades sociais à classe social de cada indivíduo, sendo a ocupação a variável mais utilizada nos países europeus como medida de classe social, os Ingleses assim a fazem em cinco classes: profissionais (formação universitária) técnicos (form. Técnica) trabalhadores qualificados manuais e não manuais, trabalhadores semiqualificados e não qualificados.

Outra variável bastante usada é o nível de escolaridade, associada ou não a ocupação. A escolaridade materna, por exemplo, interfere diretamente na maioria dos problemas de saúde infantil, sendo um indicador do nível de compreensão para colocar em prática as orientações de cuidados com a criança. As desigualdades sociais refletem não apenas no estado de saúde, mas também em relação ao acesso e uso do serviço de saúde.

No Brasil, a Pesquisa Mundial de Saúde, constatou que a autoavaliação de saúde, a prevalência de doenças crônicas e o uso de serviços de saúde, sobretudo preventivos, possuem forte relação com a escolaridade. Exemplificando, Novas e Braga em 2003 demonstram que uma parcela de 75% das mulheres brasileiras com mais de 25 anos fez exame Papanicolau, a maioria possuía melhor grau de escolaridade.

Fonte: encurtador.com.br/apyZ5

Diversos estudos comparativos tais como indicadores socioeconômicos e impactos sobre a saúde em países selecionados- 2006, PIB per capta e mortalidade infantil em cinco capitais brasileiras mostram que quanto maior o IDH, investimento em tecnologia e saúde, melhores os níveis de saúde e de expectativa de vida, menor a taxa de mortalidade infantil e melhores as condições de vida.

Conforme Barata (2009, p. 39):

A posição social dos indivíduos e grupos sociais, medida por indicadores de classe social, variáveis isoladas como escolaridade e classes ocupacionais, ou a partir das condições de vida em determinados espaços geográficos, é um poderoso determinante do estado de saúde das populações. Atuando sobre os perfis de morbidade e mortalidade bem como sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde.

 

Ser rico faz bem à saúde?

O conceito de riqueza é relativo e não varia apenas entre as pessoas de diferentes países, mas entre pessoas de um mesmo país, a riqueza é algo completamente relativo e insatisfatório, tem uma definição particular de cada um, o que pensamos ou sentimos sobre riqueza, vem permeado pela nossa cultura, o que aprendemos socialmente e psiquicamente através de nossas relações.

O indivíduo de países mais ricos consegue garantir atendimento das necessidades básicas essenciais para saúde, moradia, alimentação, trabalho, educação. Não se observa uma relação do tipo quanto mais rico um país mais saudável sua população, a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem em mais saúde. Estudos que buscam explorar a relação entre nível de riqueza, distribuição de renda e satisfação com a vida, embora o nível geral de satisfação e bem-estar aumente com o crescimento de riqueza, o mesmo são maiores nos países que apresentam menor desigualdade na distribuição da renda.

Fonte: encurtador.com.br/bglBI

A esperança de vida com qualquer uma das medidas de concentração de renda, os impostos das desigualdades na qualidade de vida são diretos sobre os países mais pobres, mas afetam as demais camadas da sociedade porque provocam deterioração da vida pública, perda do senso de comunidade, aumento da criminalidade e da violência. A vida em sociedade com grandes desigualdades sociais parece menos civilizada, o combate à essa desigualdade pode vir a melhorar na distribuição desigual de poder e propriedade nas sociedades modernas.

As desigualdades étnicas necessariamente significam racismo?

A desigualdade racial é o resultado de distinções sociais hierárquica entre grupos étnicos. Parte desses tipos de práticas discriminatórias resultam de estereótipos como xenofobia e outras formas de discriminação. Isso continua a ocorrer nas sociedades com o aumento da globalização. Para Karl Marx existem duas classes sociais com desigualdades significativas (proletariado e burguesia). Nas ciências biológicas raças e sinônimo de uma divisão dentro de uma mesma espécie. Já entre nós os humanos a noção de raça aparece como construção ideológica de certos grupos. A desigualdade social e a pobreza são problemas sociais que afetam a maioria dos países na atualidade.

O termo racismo refere-se a uma ideologia social de inferioridade, que é usado para justificar o tratamento dado a membro de grupos raciais ou étnicos, acompanhado de atitudes negativas e depreciação. Uma sociedade racista acaba produzindo a discriminação em toda a estrutura social. Alguns problemas de saúde, comportamento apresentam maior associação com a exposição a situação de discriminação e racismo, os efeitos do racismo e da discriminação a saúde podem ser agudos ou crônicos, agindo provavelmente através dos mecanismos fisiopatológicos do estresse, baixa autoestima, doenças físicas, doença do sono e tentativas suicidas.

Fonte: encurtador.com.br/svwAH

Para que haja uma melhora nas desigualdades sociais em relação a saúde, dependem de políticas-públicas capazes de modificar os determinantes sociais entre outros motivos, pela má distribuição de renda em uma população, onde se concentra a maioria dos recursos nas mãos de uma minoria. A desigualdade social e a pobreza são problemas que afetam uma grande parte da população. É verdade que as desigualdades sociais são em grande parte gerados pelos jogos do mercado e do capital. De acordo com a sociologia, a saúde perdeu seu status de direito tornando-se um investimento na qualificação dos indivíduos.

Embora comecem a haver estudos de desigualdades sociais em saúde, enfocando especificamente os efeitos deletérios das situações em que a distribuição de poder é assimétrica entre diferentes grupos sociais, seja por questões relacionadas à idade, gênero, etnia, religião, seja por questões relacionadas à classe social ou às condições materiais de vida, ainda há um longo caminho a percorrer na compreensão de fenômenos com essa complexidade (BARATA, 2009, p. 71).

Relações de gêneros e saúde: desigualdade ou discriminação

Gênero possui inúmeros sentidos. Na biologia, refere-se à categoria taxonômica que agrupa espécies relacionadas filogeneticamente. Na gramatica, estabelece dentro da classe de palavras o contraste entre masculino e feminino. E na saúde esse conceito mescla algumas das características dos anteriores, ou seja, o termo gênero aqui é utilizado para marcar características próprias aos comportamentos de grupos de sujeitos sociais e assim diferenciar o masculino do feminino, porém com o enfoque aos serviços de saúde. Contudo, segundo Barata (2009, p. 73) “gênero significa o conjunto de seres ou objetos que possuem mesma origem ou que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades”.

Há uma grande confusão entre os termos sexo e gênero, como ao utilizar gênero como sinônimo de sexo ou utilizar o conceito para relacionar aos problemas referentes as mulheres, principalmente ligados a reprodução. Mas, antes de tudo, confusão no grave erro conceitual, principalmente na área da saúde. Pois o termo gênero só passou a ser utilizado no ressurgimento do movimento feminista para clarear esse pensamento e romper com as desigualdades em saúde.

Portanto, para esclarecer esses termos Krieger (2009, p. 74) afirma que: “Temos um sexo, biologicamente determinado, que influencia algumas das nossas condições de saúde, mas também somos gênero, isto é, produto do processo sociocultural que molda na sociedade os papeis femininos e masculinos e defini as pautas de relação entre homens e mulheres”.

É na segunda metade do século XX que surge a emergência de movimentos sociais diversos. E é nesse novo contexto que o movimento feminista ressurge e com ele manifesta-se as questões de gênero. Onde parte dos integrantes desse movimento considera que as determinações de gênero são mais importantes do que a posição do indivíduo na estrutura social. Alguns argumentam então que, ao nascer o indivíduo já passa a ter toda sua existência determinada pelas relações de gênero que moldam o seu perfil epidemiológico. Outros, dão maior peso aos determinantes de inserção social dos indivíduos, às classes sociais.

Fonte: encurtador.com.br/hrDJU

Contudo, as relações de gênero são independentes de outros processos sociais e são marcados pelo antagonismo na relação de dominação das mulheres pelos homens. Barata diz que, é muito difícil desembaraçar as diferentes dimensões de determinação e mediação presentes nos processos sociais, como as relações sociais na divisão sexual do trabalho, a divisão sexual do poder na sociedade, e a construção do feminino e do masculino na organização social e na divisão de papeis.

Todavia, a estrutura social tem sua importância, pois se esta for ignorada gera um enfraquecimento do poder explicativo da categoria gênero e impede a compreensão dos seus diversos fenômenos. Não há como estabelecer uma hierarquia rígida entre as diferentes categorias de determinação desse processo saúde-doença, pois a categoria gênero pode tanto ocupar a posição de determinação como de mediação dentro dos diferentes aspectos da organização social. Assim, “gênero é uma construção social baseada nas diferenças de sexo, mas cujo alcance ultrapassa largamente os aspectos exclusivamente biológicos” (BARATA, 2009, p. 78).

A mortalidade, para boa parte da população, é maior entre homens, desde o seu nascimento. Isso devido a sua exposição a fatores e situações de risco ao longo da vida, como a exposição a situações insalubres de trabalho, o consumo exagerado do álcool, cigarro e outras drogas, e a frequente situação de risco para acidentes e violências. Assim, para chegar nessa conclusão foi feita uma classificação por sexo dos indivíduos afetados, mas podem ser indicadas diferenças de gênero, ou seja, esses “homens” podem ser biologicamente do sexo masculino, mas não ter o mesmo gênero.

Em contrapartida, a maior parte das mulheres têm a pior avaliação de estado de saúde e maior frequência de morbidade. Isso partindo do ponto de vista biológico e parte sendo relacionado com as características do trabalho feminino, uma vez que as condições de trabalho atribuídas a elas são relevantes para seu estado de saúde. Segundo Barata (2009, p. 86), “As mulheres apresentam maior proporção de saúde regular ou ruim, em todos os grupos de idade, estratos de renda e níveis de escolaridade”.

Fonte: encurtador.com.br/oIX05

A violência é um problema de saúde com importância crescente e no qual a determinação das relações de gênero ocupa uma posição central. E dentre os diversos tipos de violência, destaca-se a violência urbana que têm os homens como alvo, onde a mortalidade por homicídio representa uma das facetas do crescimento dessa violência e que se compara aos acidentes de transito em seus números alarmante de mortos; e a violência doméstica que afeta as mulheres. E ainda tem os comportamentos violentos das camadas da população vivendo em condições de exclusão social, comportamentos esses que servem para reafirmar sua identidade, e é nessas áreas que os homicídios ocorrem majoritariamente no espaço público.

A utilização dos serviços de saúde se dá pela necessidade de cuidado com a saúde ou com a existência de um problema de saúde. Segundo Barata, os serviços de saúde são mais utilizados pelas mulheres, em consultas medicas; as consultas médicas aumentam proporcionalmente de acordo com a renda familiar, nos dois sexos; e nos últimos anos essas consultas aumentaram com a idade e o nível de escolaridade. Mas percebeu, desigualdade de gênero entre pessoas com bom estado de saúde, na utilização preferencial de consultas preventivas; pouca desigualdade entre gêneros, em pessoas com estado de saúde regular ou ruim; e nenhuma desigualdade nos grupos de maior renda.

Através de dados do inquérito nacional de saúde do Canadá, Barata reforçou a concepção de gênero como uma construção social. Pois diferentes sociedades produzem diferentes graus de desigualdade entre homens e mulheres. Não se pode generalizar essas evidências. Contudo, Barata (2009, p. 94), diz: “Gênero, como construção social, consiste em um sistema multinível, incluindo arranjos econômicos e políticos e crenças culturais na dimensão macrossocial, padrões de comportamento na dimensão intermediária e aspectos ligados a identidade individual na dimensão microssocial”.

Políticas para o enfrentamento das desigualdades

De acordo com Rita, a abordagem coletiva ou populacional do processo saúde-doença na perspectiva da epidemiologia social resulta em fazer perguntas, tais como as doenças se produzem, como chegam a diversas populações, por que somente uns adoecem e não todos, e quais medidas as políticas públicas podem interferir diante disso.

Para compreender de que forma as doenças são determinadas e como intervir, BARATA (2009, p. 95) diz que “é necessário inicialmente tratar dos modelos de causalidade em uso pela epidemiologia”. Com a abordagem convencional dos modelos multicausais, a variável ou fator de risco é analisado de início associado com a doença ou problema de saúde estudada. Rita cita exemplos de fatores de risco para baixo peso ao nascer, a idade materna, hábito de fumar das mães e a classe social ao qual pertencem. Levando em consideração os exemplos citados, Barata (2009, p. 96) conclui:

Consequentemente, se a idade materna é um fator de risco, as políticas para redução do baixo peso ao nascer devem incluir ações visando a diminuir a gravidez na adolescência. Do mesmo modo, se o hábito de fumar é um fator de risco, será necessário que as mães deixem de fumar para reduzir a incidência de baixo peso e, finalmente, se a pobreza também está relacionada, será preciso usar políticas compensatórias que possibilitem melhor alimentação durante a gestação para evitar o baixo peso. Teríamos assim um conjunto de intervenções educativas, de controle da gravidez na adolescência, redução do hábito de fumar e de suplementação alimentar para enfrentar o problema.

Rita cita que de acordo com Leonard Syme, existe três problemas na prática da saúde pública. A primeira seria que se perde bastante tempo ao tentar identificar quais são os fatores de risco. Em segundo, não se imagina que seja possível a promoção da saúde quando a atenção estiver totalmente no fator de risco e na doença. E por último, o mais importante é a identificação das determinantes de saúde, e o principal é a classe social.

Fonte: encurtador.com.br/knAMZ

Segundo Barata, há duas formulações que se destacam devido a abordagem complexa dos diferentes níveis da organização da vida social, são eles: o modelo do modo de vida elaborado por Naomar de Almeida Filho e o da comissão de Determinantes Sociais em saúde da Organização Mundial da Saúde.

O primeiro modelo reúne as esferas de produção e da reprodução material e simbólica da sociedade, o modo de vida dos grupos sociais, o processo de trabalho, a estrutura de classes, as práticas cotidianas e a construção cultural como determinantes das configurações de risco que se acoplam ao perfil de saúde-doença-cuidado no âmbito populacional. O segundo modelo destaca cada um dos aspectos mais relevantes das dimensões apontadas no modelo do modo de vida, visando a facilitar a identificação de possíveis áreas de intervenção para as políticas sociais que busquem a redução das desigualdades (BARATA, 2009, p. 99).

Rita diz que o contexto social é o que determina a cada sujeito sua posição e esta, determina as oportunidades de saúde. Segundo Rita, há pelo menos três níveis distintos de ação política com finalidade na redução das desigualdades. “Tais como políticas econômicas e sociais que modifiquem a estratificação social; políticas que modifiquem as condições de exposição e vulnerabilidade dos grupos sociais; ou políticas de saúde que atuem sobre as consequências negativas das desigualdades, buscando minimizar o impacto de seus efeitos” (BARATA, 2009, p. 99 e 100).

Além do sistema nacional de saúde com acesso universal, é preciso que exista distribuição adequada de serviços e de equipamentos no território, para que os mesmos possam ser utilizados pelos indivíduos que deles necessitam independentemente das condições socioeconômicas, gênero, etnia e outras particularidades. Os profissionais de saúde precisam estar adequadamente habilitados para garantir a qualidade técnica e humana do atendimento, e os serviços precisam estar organizados para responder às necessidades de saúde (BARATA, 2009, p. 107).

Por mais que haja boas intenções em tentar resolver as desigualdades, não há resultados com o impacto esperado. É necessário que haja o reconhecimento dessas desigualdades sociais em relação a saúde, para que possa achar meios de bani-las. É preciso buscar a compreensão dos processos que a produzem e identificar os diferentes grupos sociais. São vários desafios enfrentados sobre a desigualdade social em saúde, isso requer um conjunto de políticas públicas, exemplo é o SUS, que tem como finalidade amparar aqueles que não possuem renda, trazendo consigo uma equidade na sociedade, embora na grande maioria seja um sistema falho.

REFERÊNCIAS:

BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. 2ª. Reimpressão. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2016.

* Trabalho elaborado na disciplina de Antropologia, ministrada pelo prof. Sonielson Luciano de Sousa.

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Psicologia Social: conceitos, história e atualidade

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Conceito de Psicologia Social

A Psicologia Social pode ser entendida como o estudo das relações humanas a partir de um viés individual até uma perspectiva mais ampla, ou social, sendo que este ramo enfoca mais o indivíduo. Como escreve Sousa (2011), trata-se de uma ponte entre a Psicologia e a Sociologia, agregando valores dessas duas áreas científicas. Assim sendo, este ramo considera o indivíduo como influenciado pelo meio que o forma e também o sujeito como elemento que altera o ambiente em que vive.

A necessidade da atuação desse ramo está no fato de que as relações sociais influenciam a conduta e os estados mentais dos indivíduos. Por outro lado, a consciência coletiva de uma sociedade é um campo fértil para estudos, como assinala Regader (2015). Portanto, Cherry (2016) ressalta que a Psicologia Social não observa apenas as influências do meio, mas também estuda as percepções desse meio, tratando-o como uma entidade, visando compreender o comportamento social; e analisa as interações que compreendem a sociedade.

Cherry (2016) escreve que é comum o fato de que a Psicologia Social seja confundida com a sabedoria popular, Psicologia da personalidade e a Sociologia, e expõe as diferenças entre elas. Enquanto a sabedoria popular, que também pode ser chamada de senso comum, é baseada em observações anedóticas e interpretações subjetivas, a Psicologia Social emprega métodos científicos e estudos empíricos sobre os fenômenos sociais. Os pesquisadores não apenas fazem suposições sobre como as pessoas se comportam, eles planejam e fazem experimentos que permitem destacar a relação entre diferentes variáveis.

Ao contrário da Psicologia da personalidade, que estuda os traços individuais, características e pensamentos, a Psicologia Social estuda situações cotidianas, estando interessada sobre o impacto dos ambientes sociais e interações sobre atitudes e comportamentos.

Fonte: encurtador.com.br/cDVW0

Em relação à Sociologia, que se interessa pelo impacto de instituições e cultura sobre o comportamento dos indivíduos, a Psicologia Social considera variáveis situacionais que afetam o comportamento social. Portanto, percebe-se que estas duas áreas têm tópicos similares, mas analisam essas questões a partir de perspectivas diferentes.

Há quem veja psicologia social em todos as áreas dos estudos do comportamento humano. Sobre isso, a psicóloga Lauriane dos Santos ressalta: “é possível dizer que qualquer psicologia que se preocupe com a influência social sobre indivíduos e grupos é também Psicologia Social. Do mesmo modo, perceber que o social, muitas vezes colocado como um conceito quase abstrato, é constituído por pessoas que podem modificá-lo a partir dos seus interesses”.

Lane (1984, p. 19) apud Jacques et al (2013, p. 16) escreve:

Toda a psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social, mas sim cada uma assumir dentro de sua especificidade a natureza histórico-social do ser humano. Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas de intervenção, características do psicólogo, devem ser analisadas criticamente à luz dessa concepção do ser humano – é a clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano, isolando-o ou fragmentando-o, como existisse em si e por si. Também com essa afirmativa não negamos a especificidade da Psicologia Social – ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social. Porém, agora a Psicologia Social poderá responder à questão de como o homem é sujeito da história e transformador de sua própria vida e da sua sociedade, assim como qualquer outra área da Psicologia.

História da Psicologia Social

Lane (1981) escreve que o início da Psicologia Social remonta ao século XIX, sendo o filósofo francês Augusto Conte considerado o pai desta ciência. Para Conte, a Psicologia Social seria subproduto da Sociologia e da Moral, sendo encarregada em dizer como o indivíduo poderia ser, ao mesmo tempo, causa e consequência da sociedade. No entanto, só após a Primeira Guerra Mundial, por volta de 1920, é que esse ramo se desenvolveria como estudo científico e sistemático. Num mundo abalado por crises e conflitos, os pesquisadores encontraram um campo a ser amplamente estudado, visando descobrir uma maneira de preservar os valores de liberdade e os direitos humanos numa sociedade tensa e arregimentada.

Os cientistas buscavam entender diversos fenômenos sociais como a liderança, preconceito, propaganda, conflitos de valores e como os indivíduos se comportavam frente a estes. Nos EUA, essas pesquisas tinham o intuito de procurar formas de melhorar a vida do homem no contexto social, utilizando para isso os dados e conceitos de anos de pesquisas na psicologia. A sociedade era o grande objeto de estudo nessa época, suas motivações, atitudes frente á determinadas situações, padrões de comportamento, enfim, tudo que demonstrasse a dicotomia existente entre o ser e a sociedade. Por mais que um não exista sem o outro, são dois fenômenos diferentes.

Houve um clima de otimismo sobre o resultado das pesquisas da Psicologia Social durante algumas décadas, mas frente a resultados de pesquisa contraditórios e à crise mundial, que á cada dia se agravava mais, esta ciência entrou em declínio e passou por um momento chamado de “crise da psicologia social” (LANE, 1981). Esta crise se deu principalmente pela falta de conhecimento prático das pesquisas, muitos resultados que se contradiziam e nenhuma solução concreta para os problemas enfrentados pelos países.

Fonte: encurtador.com.br/byOPS

Críticas foram feitas aos psicólogos norte-americanos devido ao caráter ideológico dos seus trabalhos que eram reproduzidos em países da América Latina sem levar em conta as características próprias desses países. Conhecimentos dos Estados Unidos eram reproduzidos noutros lugares, usavam técnicas e conceitos que não se aplicavam plenamente aos locais em questão. Como escreveu a psicóloga entrevistada neste presente trabalho, a psicologia tradicional era descontextualizada e limitada. Obviamente os resultados seriam duvidosos e inúteis.

Foi então que pesquisadores latinos prepararam um simpósio para trazer as principais dificuldades enfrentadas nas investigações e possíveis soluções para os problemas que caiam sobre eles. Então, cientistas de países como México, Peru e Brasil perceberam pontos similares em suas visões, que apesar de serem semelhantes, tinham a mesma perspectiva devido todos terem as mesmas condições de trabalho. Desde o simpósio entre países latino-americanos, que os participantes decidiram dar um novo rumo para as pesquisas, onde o foco de cada uma seria a necessidade do país onde seria realizada e não mais o indivíduo, ou seja, agora as buscas focariam nas reais necessidades de cada país, independente da dinâmica econômica e geopolítica, sem influência de contextos próprios de outras nacionalidades.

Jacques et al (2013, p. 39) discorre sobre os resultados desta crise:

[…] originam-se múltiplos efeitos, sendo possível detectar, no contexto da psicologia social atual, pluralizações diversas que apontam para um quadro de fragmentação antes do que para a unidade. Novos espaços se constituem pelas conjunções e disjunções realizadas. Implicações antigas são questionadas e descentramentos são propostos. Tornam-se vigorosos os discursos da interdisciplinaridade e das conjunções, bem como o da ecologia social e cognitiva que lhe é consequente, revelando um contexto propício à análise cujos componentes se amalgamam, não se comportando como configurações isoladas. Redes de saberes se propõem a interconexões, possibilitando uma infindável trama de possibilidades de conhecer.


Psicologia Social no Brasil

A Psicologia no Brasil recebeu maior influência dos norte-americanos. Era para centro de estudos na América que nossos cientistas e professores iam para aperfeiçoarem seus conhecimentos, além disso, desses centros vinham professores dos Estados Unidos para lecionarem em nossas universidades. Por exemplo, o professor Otto Klineberg, da Universidade de Columbia, introduziu a Psicologia Social na Universidade de São Paulo na década de 50. Lane (1981, p. 80) acrescenta

E, por sinal, o primeiro livro de Psicologia Social publicado no Brasil foi a tradução da obra de Klineberg, em 1959, contendo tópicos como Cultura e Personalidade, Diferenças Individuais e Grupais, Atitudes e Opiniões, Interação Social e Dinâmica de Grupo, Patologia Social e Política Interna e Internacional.

Em 1980, é fundada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) que visava o intercâmbio entre cientistas de diversas regiões para discorrerem sobre problemas comuns. A fundação da ABRAPSO é importante no processo de consolidação desse campo de estudo no Brasil.

Houveram grandes nomes nacionais que representaram a Psicologia Social, eles influenciaram novas gerações de psicólogos e contribuíram com estudos importantes acerca da sociedade brasileira e dos problemas que esta enfrentava. Podemos citar 3 nomes que influenciaram grandemente esse campo, o percussor Eliezer Schneider, Aroldo Rodrigues e Sílvia Lane. Todos trouxeram contribuições que firmaram a Psicologia Social como uma ciência bem embasada no nosso País.

Eliezer Schneider entra para o ramo da psicologia antes mesmo desta ser reconhecida como profissão, exercendo o cargo “Técnico em assuntos educacionais” como um “psicologista”, termo este que era utilizado para o profissionais desta ciência. Trazendo uma visão crítica à Psicologia Experimental, em seus mais de 100 artigos e um livro, Eliezer afirma que existe uma psicologia cultural e histórica que não destoa das demais e pode ser usada para compreender os fenômenos sociais, este seria a primeira manifestação de estudos relacionados à Psicologia Social.

Fonte: encurtador.com.br/bgBHZ

Crítico também da forma que os estudos eram conduzidos nos EUA, ele traz uma visão que se atenta para a problemática humana, tendo como foco os problemas enfrentados pelos brasileiros e se abrindo para visões de outros cientistas que não tinham como objeto principal o indivíduo, como os Americanos, mas sim as influências socioculturais que todos recebem (LIMA, 2009).

Aroldo Rodrigues foi o maior porta-voz da psicologia social norte americana, além de se tornar mestre em psicologia na universidade do Kansas, trouxe consigo a visão e o método dos cientistas de lá para aplica-las nas universidades brasileiras. Ele também foi professor da PUC no Rio de Janeiro e constantemente criticava os métodos utilizados pelos que se encontravam no movimento da “crise da psicologia social, pois a grande maioria eram críticos ferrenhos das pesquisas e estudos vindos dos Estados Unidos.

Aroldo foi reconhecido por suas contribuições e foi convidado para ser presidente Associação Latino-americana de psicologia social, porém á partir das discordâncias entre os novos métodos, houve um rompimento e Silvia Lane funda a Associação Brasileira de Psicologia que tinha uma visão de embate contra as propostas de Aroldo Rodrigues (LIMA, 2009).

A brasileira Sílvia Lane começou sua vida profissional na docência e, segundo relatos de seus alunos, sempre teve a preocupação de procurar diferentes formas de pensar a psicologia, envolvendo eles em aprendizados que serviriam não só para a vida profissional, mas também para a vida pessoal. Instigava-os, trazendo vários jeitos de pesquisar, investigar e atuar com os conhecimentos teóricos, como a introdução do teatro, música, histórias em quadrinhos e outras expressões artísticas.

Por esses e outros motivos, Silvia Foi tida como uma grande referência entre seus alunos. Lane era marxista e fazia crítica á forma que o sistema socioeconômico capitalista moldava as identidades e como isso contribui para as injustiças tão escancaradas em nossa sociedade. Em “O que é psicologia social”, ela traz algumas dessas críticas, sendo a obra uma referência em vários cursos de psicologia no Brasil (SOUSA, 2009).

Psicologia Social: Importância e atuação no contexto brasileiro atual

Cherry (2016) mostra que uma simples conferida nas notícias jornalísticas diárias é suficiente para termos a dimensão de quão profundos são os impactos dos problemas sociais sobre as pessoas. Portanto, um psicólogo social, a fim de entender tais questões, estuda e procura prevenir, identificar e remediar os problemas que não só atingem um indivíduo como também afetam a saúde da sociedade como um todo.

Assim sendo, de acordo com a psicóloga Lauriane dos Santos, a Psicologia Social atua desde a adaptação social, indo de um modelo supostamente ideal de cidadão, até uma psicologia crítica, em prol dos movimentos sociais e da garantia de direito. As atuações se dão conforme as necessidades de um local e os interesses de psicólogos e instituições.

A entrevistada relata que, no Brasil, a profissão alcança desde a clínica, passando pela área organizacional até chegar aos campos vinculados a políticas públicas. Ela citou como exemplos: Centros de Referência da Assistência Social (CRAS); Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS); organizações não governamentais e movimentos sociais diversos.

No entanto, segundo a psicóloga em questão, há desafios que a profissão precisa vencer. Ela explica dizendo o seguinte

Apesar do entendimento da Psicologia Social crítica ser sabido – teoricamente – por boa parte dos psicólogos, a aplicabilidade desse entendimento nem sempre ocorre, uma vez que perpassa criticar muitas “verdades” instituídas, sendo um “nadar contra a maré”. A constituição de 1988 e as políticas públicas desenvolvidas a partir dela, especialmente o SUS e o SUAS, defendem esse modo crítico de atuar. Mas essa tentativa de crítica esbarra com os valores institucionais tradicionais, que ainda tem forte caráter individualista, biologicista, rotulador e culpabilizante.

Fonte: encurtador.com.br/dhCKN

O salário depende do campo de atuação. Ainda de acordo com a psicóloga entrevistada, em Palmas (TO), os profissionais recém-ingressados via concurso público recebem um salário de 3.500,00 reais para atuar 40 horas semanais, isso em termos de atuação nos CRAS E CREAS.

Tão diretamente ligado aos dilemas de populações carentes, os ambientes nos quais um psicólogo social trabalha pode lhe tornar muito desgastante, o que muitas vezes é usado para embasar concepções preconceituosas sobre a área. Zaith (2012) mostra que a atuação do profissional é negativamente afetada quando não há um eficiente trabalho interdisciplinar e troca de experiências. Além disso, é necessário que o psicólogo social, em sua formação, tenha adquirido os pré-requisitos necessários que o tornem capaz na luta pela melhora de realidades.

É necessário que o psicólogo social consiga romper várias barreiras para atingir seu objetivo de contribuir para uma sociedade melhor no Brasil, pois o meio social se encontra cheio de entraves para que se alcance um serviço público igualitário, integral e universal. Uma dessas dificuldades é a visão superficial e errônea de que nos bairros pobres e favelas existe um ambiente caótico, envolto por drogas e violência. Tal visão deixa muitos profissionais desmotivados para atuarem nesses setores, sendo que essas áreas tem tanta necessidade de pesquisa-ação quanto qualquer outra, independente do nível socioeconômico.

O CRAS, como já exemplificado, é um local de notória atuação dos psicólogos sociais, lá são recebidos casos emergenciais dos mais variados tipos e em sua grande maioria, pessoas com baixa ou nenhuma renda. O objetivo central dos profissionais que atuam nessa área é fortalecer seus usuários como sujeitos de direitos, promovendo terapias grupais, acompanhamento junto ás famílias e auxílio em momentos de dificuldade. Lamentavelmente há inúmeras dificuldades nessa honrada atuação, quase todas vindo do desinteresse e omissão do poder público.

Sobre esta política pública e suas dificuldades, Zaith (2012) escreve:

[…] Criado para aliviar as reflexões da pobreza imediata, […] para proteger seus usuários de maiores riscos relacionados à qualidade de vida, uma vez que já se encontram em situação de vulnerabilidade, passa a ser considerado o espaço o qual torna o trabalho do psicólogo social comunitário acessível ao seu objeto de estudo: a comunidade. Por isso suscita que estudos sejam realizados sobre as práticas envolvidas nessas unidades. O trabalho no CRAS é constituído por serviços burocráticos, visitas domiciliares, atendimentos descontínuos, dificuldade em obter recursos e verbas e intervenções em locais inusitados que convocam os psicólogos para fora do setting tradicional. Dessa forma, o foco se baseia em práticas grupais e a intervenção grupal se torna necessária para o desenvolvimento da consciência, no qual o componente do grupo se descobre no outro.

Portanto, ante os dados supracitados, percebe-se a importância da Psicologia Social não somente como produtora de conhecimentos a respeito dos indivíduos e suas interações, como também atuante determinante na própria sociedade, devendo tratar-se de uma atuação que ajude pessoas e diminua o impacto das desigualdades ou, quem sabe, reduza as próprias desigualdades sociais.

REFERÊNCIAS:

CHERRY, Kendra. Basics of Social Psychology. Verywell. Disponível em: <http://www.verywell.com/>. Acesso em 21 abril 2017.

JACQUES, Maria da Graça Corrêa et al. Psicologia Social Contemporânea: Livro-texto. Edição digital. Petrópolis: Vozes, 2013. 226 p.

LANE, Silvia T. Maurer. O que é Psicologia Social. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981,

88 p.

LIMA, Renato Sampaio. História da Psicologia Social no Rio de Janeiro: Dois grandes personagens. Fractal: Revista de Psicologia. Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, mai/ago 2009. Disponível em: <http://www.scielo.com.br/>. Acesso em 26 maio 2017.

REGADER, Bertrand. ¿Qué es la Psicología Social? Psicología y Mente. Disponível em: <http://psicologíaymente.net>. Acesso em 21 abril 2017.

SOUSA, Esther Alves de. Silvia Lane: Uma contribuição aos estudos sobre a Psicologia Social no Brasil. Temas em Psicologia. Ribeirão Preto, v. 17, n. 1, 2009. Disponível em: <http://www.pepsic.bvsalud.org/>. Acesso em 26 maio 2017. 

SOUSA, Felipe de. O que é Psicologia Social? Psicologia MSN. Disponível em: <http://www.psicologiamsn.com/>. Acesso em 21 abril 2017.

ZAITH, Michele Cristina. Os Principais Desafios Enfrentados Pelos Psicólogos no CRAS. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/>. Acesso em 02 junho 2017.

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O Desafio da Equidade nas Relações Sociais de Saúde na Perspectiva de Rita Barata

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A resenha desenvolvida a seguir, tem como objetivo principal descrever alguns pontos demarcados como preponderantes, bem como trazer reflexão e ao final fazer um apanhado geral, com base no livro, dentre outros artifícios que foram utilizados para melhor compreensão, a partir da visão das acadêmicas da disciplina de Antropologia e cujo tema central é a obra de Rita Barradas Barata: “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”Saúde e produção de doenças têm estrita relação com desigualdades sociais em saúde. Alguns Grupos ficam em desvantagem com relação às oportunidades de ser e se manter sadio. Na Constituição Brasileira de 1988, ficou estabelecido que a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de políticas públicas.

Muitas teorias verificam essas desigualdades e que estas não desaparecem naqueles países em que existem sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Nos indagamos o por quê as desigualdades vêm aumentando ao invés de diminuírem com o passar do tempo. Na teoria estruturalista, a falta ou insuficiência de recursos materiais, para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida, acaba produzindo a doença e diminuindo a saúde. Neste modelo, o montante de renda ou riqueza dos países, grupos sociais ou indivíduos, é o principal determinante do estado de saúde do indivíduo. No entanto, nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde, principalmente nos países cujas populações têm as suas necessidades básicas atendidas.

Fonte: https://goo.gl/L1ChLT

Na teoria psicossocial a percepção da desvantagem social é tida como desencadeador de estresse e de doenças. Em grupos sociais com necessidades básicas atendidas, as diferenças relativas na posse de bens e nas posições de prestígio e poder, passam a ser mais relevantes para a produção e distribuição das doenças do que simplesmente o nível de riqueza material. Essas duas teorias não se contradizem, o que as diferencia é o enfoque baseado na idéia de privação absoluta e relativa e seus determinantes. Já a teoria da determinação social do processo saúde-doença, os impactos da estrutura social sobre a saúde, são pensados nos processos de participação ou exclusão, associados às diferentes posições sociais e sujeitos a transformações em função de processos históricos. Com ênfase no modo de vida, estão englobados aspectos materiais e simbólicos que refletem características de produção, distribuição e consumo e relacionadas ao modo de vida.

A teoria ecossocial, considera impossível separar os meios biológico, social e psíquico. Soma aspectos sociais e psíquicos predominantes nas situações que os indivíduos vivem e trabalham. Portanto, as relações econômicas, sociais e políticas afetam a maneira como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e acabam por moldar padrões de distribuição de doença. Todos devem utilizar suas demandas específicas de saúde, com provisão de serviços prioritários para grupos com maiores necessidades, a fim de minimizar ou anular as desigualdades.As explicações sobre as desigualdades em saúde têm como base a ideia de que a saúde é um produto da sociedade, e então algumas organizações são mais saudáveis do que outras. O capítulo dois desse livro trata sobre como as posições sociais influenciam na saúde de cada sujeito.

Fonte: https://goo.gl/WdrHy3

Para a autora, o foco central das abordagens sócio-históricas sobre as desigualdades em saúde são os processos de reprodução social que resultam na propagação de diferentes domínios da vida. O primeiro domínio é a reprodução biológica do indivíduo, que certifica suas características como espécie que é marcada pela interação genética e o meio social. Vivemos em um ambiente sócio-interacional, onde compartilhamos tempo e espaço, tal reprodução social resulta na produção do segundo domínio: o das relações ecológicas dos grupos, ou seja, sua relação com o social constituído por comunidades que é onde estamos inseridos. Essas comunidades compartilham interações que nos leva ao terceiro e último processo de reprodução segundo Rita: o cultural.

Todos esses processos e reproduções causam impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos. Desigualdades nas condições de vida decorrem das diferenças nos processos de reprodução social que então ira refletir na saúde das pessoas. As vantagens de alguns grupos sobre outros, causa a exclusão, o que os afeta em todos os âmbitos da vida social. Desigualdades sociais em saúde podem estar associadas ao estado de saúde e ao acesso e uso inadequado de serviços de saúde para ações preventivas ou assistências da população. Existem várias investigações do meio científico que expõe a existência das desigualdades sociais em saúde, essas mesmas investigações buscam compreender os processos sociais e os mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.

       Fonte: https://goo.gl/AY2em5

No terceiro capitulo, intitulado “Ser rico faz bem à saúde?”, a autora Rita Barradas Barata, promove uma análise acerca das relações entre riqueza e saúde, demonstrando que nem sempre o nível de riqueza está intrinsecamente ligado a melhores condições de vida, tais como saúde de qualidade, maior expectativa de vida e, por conseguinte baixa mortalidade. Entre o século XIX e o XXI no mundo, houve um déficit na distribuição de riquezas bem como, um aumento nas desigualdades sociais. Segundo Barata (2009), quanto mais rico um país mais saudável é a sua população não é uma observação simples, visto que pesquisas evidenciam que a ligação entre a esperança de vida e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita tem a representação gráfica de uma parábola, e por isso a partir de um certo ponto o aumento da riqueza não resulta em mais saúde. Um exemplo claro dessa realidade, é que não são os países mais ricos que apresentam maior longevidade.

Nesse sentido, a má distribuição de riquezas, eleva as desigualdades, o que afeta diretamente a saúde. Dessa forma, a adoção de sistemas universais de saúde que promovam o acesso similar desses serviços pode reduzir as diferenças nas condições de vida da população, uma vez que sociedades mais equânimes possuem melhores índices de saúde e uma maior coesão social. Outra justificativa para situações de menores divergências apresentarem melhor nível de saúde se dá aos hábitos saudáveis adotados por parte da população. Estudos ingleses, sobre o risco de morrer por Doença Isquêmica do Coração (DIC) constatam que os tradicionais comportamentos de riscos são menos importantes que as relações de trabalho relacionadas a uma maior/ menor autonomia sobre o controle dos processos laborais.

Fonte: https://goo.gl/5Nzgzu

Segundo a autora, a noção que se tem de raça é construída socialmente e não biologicamente. A perspectiva de que há etnias superiores a outras foi reforçada pelas teorias evolutivas, sendo que povos que eram considerados mais aptos exerciam um domínio sobre aqueles considerados inferiores, visando manter privilégios para esses grupos. Os grupos étnicos devido à bagagem de desvalorização cultural por parte daqueles que se consideram superiores, também sofrem com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, escolarização e várias outras áreas que levam à econômica. Área essa que, em países capitalistas dificultam ainda mais a vida dessa população, afetando significativamente a saúde dos mesmos. Tal exposição à discriminação e racismo trazem junto problemas de saúde como: transtornos mentais, hipertensão, baixo peso, prematuridade e várias outras. Junto com esses problemas ainda moram em lugares com condições mínimas de uma vida saudável, e com acesso a saúde precário, causando um stress maior. Neste cenário, pessoas que passam por esse tipo de situação têm uma maior dificuldade em confiar nas outras pessoas e instituições.

Em relação à saúde e o gênero, os homens em grande parte possuem uma maior taxa de mortalidade, pois ao longo da vida é exposta a situações insalubres de risco, tanto com acidentes e violências, quanto a maior propensão em ingerir exageradamente álcool e cigarros. Isso de deve também a construção social e cultural de gênero. As mulheres por sua vez apresentam uma maior taxa de morbidade, que também pode ser atribuída à dupla jornada de trabalho que é a doméstica e a fora de casa. Excesso de trabalho e remuneração menor que a dos homens, mesmo ocupando os mesmo cargos, sendo expostas a assédios psicológicos e emocionais e funções sem muita autonomia geram stress que acabam levando ao adoecimento tanto físico quanto psíquico.

             Fonte: https://goo.gl/N4etxM

A obra de Barata nos mostra as diferenças culturais e raciais que enfrentamos e os riscos causados pelas mesmas. Nos apresenta de forma clara conceitos bastante relevantes e significativos na nossa sociedade atual, como raça, grupos étnicos diferentes, a desvalorização cultural, discriminação, entre outros. Também nos traz dados importantes que vem acontecendo com o hiper agendamento do tempo, onde nos tornamos mais suscetíveis ao adoecimento, podendo causar a morte, principalmente em mulheres. É importante ressaltar que, segundo a obra, vivemos em constante desigualdade, seja racial, cultural, socioeconômica, de gênero, etc. Se uma classe é mais favorecida financeiramente que a outra, não significa que a mesma viva mais, seja mais feliz. Portanto, não devemos ser etnocêntricos, não temos o direito de julgar alguém como sendo menor nós pelo fato de que eu tenho mais dinheiro ou mais saúde. Diante disso, essa obra é de muita relevância para entendermos aspectos sociais e culturais em que estamos vivendo.

FICHA TÉCNICA

Como e por que as Desigualdades Sociais Fazem mal à Saúde

Fonte: https://goo.gl/HtgbSP

Autora: Rita Barradas Barata

Editora: FIOCRUZ

Páginas: 118

Ano: 2009

REFERÊNCIA:

BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.

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