Plataforma Mercosul audiovisual lança Ciclo de Curtas-metragens Infantis
17 de outubro de 2023 Jornal O GIRASSOL O GIRASSOL
Mural
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São doze curtas que abordam temas como paz e respeito ao meio ambiente e ainda características, regiões e idiomas do Mercosul.
O Brasil comemora em outubro o dia das crianças. Para celebrar a data, a Plataforma Mercosul Audiovisual lançou o Ciclo de Curtas-metragens Infantis do Mercosul, com apoio do Ministério da Cultura por meio da Secretaria do Audiovisual. A iniciativa é da Presidência Pro Tempore do Brasil no Mercosul.
Estão disponíveis para visualização online e gratuita, obras da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. São doze curtas que abordam temas como paz e respeito ao meio ambiente e ainda características, regiões e idiomas do Mercosul.
A programação do ciclo priorizou a escolha de filmes que já receberam prêmios ou menções, o que indica que contam com mais recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva, como língua de sinais, legenda descritiva e audiodescrição.
O coordenador-geral de Difusão da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, André Araújo, fala mais sobre a mostra com curtas infantis, em cartaz na plataforma Mercosul Audiovisual.
“Nesse momento está em cartaz na mostra um ciclo com curtas infantis, são doze curtas ao todo. Compõem essa programação curtas que foram premiados em festivais dos quatro países do mercosul premiados com prêmios oferecidos pela RECAM que possibilitaram nessa disponibilização desses curtas para um público mais amplo. São sete curtas brasileiros todos com uma trajetória bastante bonita e representativa em festivais em todo o mundo e, também, todos disponíveis com legenda em português e espanhol e, também, com recursos de acessibilidade. Então, são curtas com temática infantil, que dialogam muito com esse momento desse momento agora, do mês da criança, do mês de outubro e que integram o catálogo da RECAM e do Mercosul Audiovisual’.
A Plataforma Mercosul Audiovisual foi criada pela reunião especializada das autoridades cinematográficas e audiovisuais do Mercosul (RECAM), presidida pela secretária de Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, uma vez que o Brasil está à frente do Mercosul cultural no segundo semestre de 2023.
O objetivo é ampliar as janelas de exibição para a produção audiovisual regional, bem como as possibilidades de acesso a públicos diversos.
André Araújo, do Ministério da Cultura, fala sobre a necessidade de aprimorar e ampliar os canais de difusão de conteúdos entre os países do Mercosul.
“No âmbito da SAV e da RECAM, que é a Reunião de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul, a gente tem discutido muito a necessidade de aprimorar e de ampliar os canais de difusão de conteúdos entre os quatro países que compõem o Mercosul. O Brasil, a Argentina, Paraguai e Uruguai. Seja no âmbito das salas de cinema, seja no âmbito da difusão digital, seja numa articulação com mostras de festivais, enfim. E a constituição da plataforma de audiovisual surge justamente com esse objetivo de ampliar o intercâmbio de conteúdos e ampliar a difusão de conteúdos entre os quatro países, dos quatro países e entre os quatro países. E a nossa perspectiva é que ela seja ampliada e fortalecida cada vez mais com ampliação de catálogo, constituição de mostras periódicas e, também, fortalecendo a divulgação desse canal que é super estratégico para o compartilhamento e as trocas culturais entre os quatro países do Mercosul”.
Um dos curtas brasileiros disponíveis, é Teo, O Menino Azul, adaptado do livro de mesmo título, de Paulo Riani Costa. O diretor do filme, Hygor Amorim, diz estar feliz com a inclusão da obra na plataforma.
“O Teo é uma adaptação literária do livro de mesmo nome, cujo autor é da mesma cidade onde a gente se encontra, de São Carlos, São Paulo, uma cidade incrível, com muita produção cultural e intelectual. E o Teo recebeu menção honrosa no FAM, que é o Florianópolis Audiovisual Mercosul, e foi assim a nossa primeira seleção para plataforma do RECAM e o filme está disponível a partir disso na plataforma, é muito bacana porque abre bastante oportunidades pro filme no mercado aqui, né? No Mercosul. Então é bem bacana e a gente tá muito feliz de ter sido selecionado e poder ajudar na distribuição do filme e até com apoio numa legendagem descritiva, que a plataforma vai oferecer para o nosso filme”.
Outras obras brasileiras que fazem parte do ciclo de curtas-metragens infantis do mercosul são: O Menino Leão e a Menina Coruja, de Renan Montenegro, Quatro Bilhões de Infinitos, de Marco Antonio Pereira, O Malabarista, de Iuri Moreno, Meu Nome é Maalum, de Eduardo Lurnel e ainda, Sobre Amizade e Bicicletas, de Julia Vidal.
Hoje às vésperas do Dia das Crianças escolho homenageá-las contando um curioso relato de experiência de uma mãe moradora do Tocantins, interessada em arte e apaixonada por psicologia, que leva seus filhos de 7 e 10 anos a uma viagem para visitar a 34ª Bienal de Arte de São Paulo.
E com isso gostaria de problematizar alguns tópicos que, à luz do olhar daquelas crianças, tornam relevante a intersecção entre os temas: infância, arte, psicologia e direitos humanos.
Nossa jornada começa numa despretensiosa ida ao Parque do Ibirapuera para ver a obra Entidades que o artista Jaider Esbell, do povo indígena Makuxi de Roraima, apresenta no lago.
A obra faz referência à imagem da cobra grande, que por sua vez, pode ser símbolo de fartura e fertilidade, além de proteção no referencial simbólico de algumas nações indígenas.
É uma obra impactante e o desejo por conhecê-la mobilizou os pequenos para uma longa caminhada no refúgio verde da cidade grande. E, diante dela, no seu livre pensar, as crianças interpretaram o que viam, cada uma a seu modo segundo seus interesses e conteúdo pregresso, como: grandes cobras ou dragões mágicos.
Noutro ponto, é necessário destacar que a 34ª Bienal faz história por trazer destaque a diversas obras de artistas indígenas. E que o mesmo Jaider Esbell, também é curador de uma mostra “Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea”, no Museu de Arte Moderna (MAM) a qual tivemos a feliz oportunidade de conhecer.
Fonte: encurtador.com.br/BDKNP
Segundo publicação da Agência Brasil de Comunicação, a mostra apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas de Roraima dos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ’ũn_Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami.
E as obras são apresentadas em suportes diversos que vão desde desenhos criados por artistas como Ailton Krenak, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé e Yaka Huni Kuin; tecelagens de Bernaldina José Pedro; esculturas de Dalzira Xakriabá e Nei Xakriabá; fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó; vídeo de Denilson Baniwa; gravura de Gustavo Caboco; e pinturas de Carmésia Emiliano, Diogo Lima e Jaider Esbell.
Por ser moradora do Estado do Tocantins, onde estão localizadas muitas aldeias de 9 etnias diferentes, entendo que mereça reflexão o fato de termos conhecido arte indígena tão longe de sua fonte, em São Paulo-SP. E pergunto: caberia à Administração Pública e às instituições de educação em todos os níveis promover o acesso e a divulgação de arte indígena de grande qualidade, nos estados do Norte e Centro Oeste onde ela é produzida?
Como oportunizar às crianças do “Norte” e “Centro Oeste” a possibilidade de se sentirem representadas pela arte indígena?
Deixo com vocês as dúvidas que trouxe comigo na mala de volta!
Agora, vamos à Bienal! Preparem as pernas, pois são três andares muito grandes. Com amplas rampas de acesso. Daquelas que provocam nas crianças um desejo quase incontrolável de sair correndo. Motivo pelo qual, eu e outros pais, passamos pela experiência do “puxão de orelha” dos cuidadores do museu.
Fonte: http://34.bienal.org.br/sobrea34
Logo na entrada, uma instalação propunha que usássemos fones de ouvido e seguíssemos as orientações propostas pelo artista Roger Bernad. O áudio convidava os participantes a interagir com os desconhecidos, “andar em bando”, “virar passarinho” e entendo da necessidade de agir juntos, repensar o mundo e realizar mudanças.
Fonte: http://34.bienal.org.br/artistas/8721
As crianças curtiram muito a experiência e “bateram suas asas” por todo o espaço delimitado para a ação. Contudo foi inegável o desconforto quando o áudio convidava estranhos a se agruparem, se entreolharem e interagirem e elas percebiam que isso não acontecia. Pelo contrário, só havia interação restrita aos núcleos familiares ou grupos que já chegavam juntos ao museu. “O outro”, representado pelas crianças como corpos estranhos que podem trazer a doença e o mal em tempos de coronavírus, na prática da nossa experiência foi rejeitado pelos pequenos coletivos que se protegiam e se fechavam.
Neste momento, também fiquei pensando sobre o impacto do medo do outro causado pela pandemia da COVID 19. O quanto esse real gera efeitos na experiencias das crianças. E no como isso pode repercutir efeitos para a vida adulta, para suas relações interpessoais e para sua atuação coletiva como grupo e como cidadãos.
Falando em cidadãos, a 34ª Bienal é um verdadeiro convite a pensar a cidadania e os direitos humanos. Pois apresenta na forma de imagem e som, beleza e arte temas relevantes em direitos humanos, tais como a defesa da vida e da liberdade em todas as múltiplas possibilidades que prevê o artigo 5º da Constituição Federal do Brasil.
Sobre esse assunto, é preciso dizer que o título da 34ª Bienal, “Faz escuro mas eu canto”, foi retirado do poema do amazonense Thiago de Mello, publicado em 1965, funcionando como um enunciado da mostra:
“Por meio desse verso, reconhecemos a urgência dos problemas que desafiam a vida no mundo atual, enquanto reivindicamos a necessidade da arte como um campo de resistência, ruptura e transformação. Desde que encontramos esse verso, o breu que nos cerca foi se adensando: dos incêndios na Amazônia que escureceram o dia aos lutos e reclusões gerados pela pandemia, além das crises políticas, sociais, ambientais e econômicas que estavam em curso e ora se aprofundam”.
Ainda nessa experiencia rica sobre cidadania, as crianças viram pela primeira vez os rostos e as histórias de Nelson Mandela e Frederick Douglas e, com isso, puderam entender, a seu modo, um pouco do que eles fizeram por nós todos, enquanto humanidade.
Obra que homenageia Nelson Mandela que dedicou a vida à luta pelo fim do regime racista e segregacionista do Apartheid na África do Sul.
Homenagem a Frederick Douglas, relevante autor Norte Americano que lutou pelos direitos das pessoas negras serem tratadas pela lei e pelo Estado como cidadãos antes da implementação da 14ª Emenda nos Estados Unidos. Fonte: encurtador.com.br/orCKZ
E no mesmo passeio, contudo, a arte apresentou a elas em forma de gritos, imagens e músicas as dores que sofrem os presos políticos no mundo. Iniciando por Guantánamo, a terrível prisão estadunidense que, ironicamente está situada em solo cubano, e que ainda mantém dezenas de detidos sem a devida proteção do devido processo legal, sendo sabidamente torturados, sob pretexto da guerra contra o terrorismo. Por exemplo, a obra Evil 16 (Torture.Musik) de Tony Cokes, na 34ª Bienal de São Paulo, em 3 de setembro de 2021. Traz trechos de falas de ex-prisioneiros de Guantánamo nas quais são relatados o uso de música Norte Americana e som como armas de tortura dos Estados Unidos contra os árabes.
Fonte: encurtador.com.br/xzBOZ / Tradução do texto acima: “Ele também falou sobre música se tornando uma arma”.
Até a prisão chamada Saydnaya, a 25 quilômetros ao norte de Damasco, considerada a mais cruel da Síria em guerra, na qual, segundo relatório da Anistia Internacional, os prisioneiros viviam na escuridão e no silêncio absoluto, sendo submetidos a uma rotina de torturas e maus tratos.
“Eles eram transferidos para lá vendados, onde eram recebidos com uma “festa”, sendo brutalmente espancados. Eles passavam a maior parte do tempo dentro de uma pequena cela e eram obrigados a cobrir os olhos sempre que algum guarda entrava, ou eram levados para outro lugar. Uma testemunha declarou que um dos piores crimes que você poderia cometer em Saydnaya era tirar as mãos dos olhos”. (…) O canto era proibido; os guardas aplicam uma regra de silêncio absoluto, em que qualquer sussurro – ou grito durante um espancamento – era punido com tortura. Eles contam que quando escutam um grito, sabem que é um prisioneiro novo, que ainda não havia aprendido, da pior forma, as regras de lá.
Para ilustrar os horrores da tortura, tem-se a obra FRYDM!, de Luisa Cunha, na 34ª Bienal de São Paulo, em 3 de setembro de 2021 [Lina Bakr/Monitor do Oriente Médio. Na instalação, da caixa sai uma voz feminina que chorosa pede liberdade num tom alto e constante que ocupa todos os espaços da imensa sala e se faz onipresente.
Fonte: encurtador.com.br/koFI6
Saímos da Bienal com um incômodo inevitável! Não nos era possível desviar o olhar e os ouvidos dos gritos e do sofrimento traduzidos pela arte. O mundo atual descrito nos noticiários dos jornais e evitado pelos “assistidores de Netflix” se fazia presente em toda sua crueza e, definitivamente, não foi possível poupar as crianças disso.
E eu pensei, o que fazer agora? Viemos de uma pequena cidade, Palmas-TO com menos de 300 mil habitantes e desenhada de modo planejado para que suas misérias não sejam tão notórias aos moradores do centro. E minhas crianças só conhecem tais conteúdos dos livros e da televisão. Como agir quando dão de cara com os horrores do mundo real?
Não tenho respostas certas, claro! Todo sujeito lida com os fatos a partir de sua subjetividade. Então, resolvi ouvi-los e ajudá-los a dar nomes à angústia, ao medo e à decepção que sentiam. E cada um, na sua singularidade, compreendeu e processou os conteúdos indigestos a seu modo. Um demonstrou um desejo incontrolável de agir (socar, bater e xingar com todos os golpes aprendidos nas aulinhas de Karatê) para evitar que pessoas sejam machucadas por “malvadões” do mundo a fora. A outra fechou-se em copas e quis sair do ambiente que lhe impedia de fingir que o sofrimento não existia para além das obras de ficção e passou dias remoendo o mal-estar inominado. Mas ambos, pela experiencia intensa que a arte de muita qualidade provoca, foram tocados e afetados pelos conteúdos propostos.
Fonte: encurtador.com.br/enGY0
Por fim, termino esse relato, com um sentimento pessoal de ordem contra transferencial que tive ao aplicar em uma criança de 10 anos uma bateria de teses na disciplina Estágio em avaliação psicológica. Enquanto realizávamos os testes, por um segundo, minha atenção tornou-se flutuante e eu pensei no quanto aquele menino era curioso, inteligente à sua maneira e capaz. E no quanto ele apreciaria verdadeiramente a oportunidade de ter contato com arte e ciência de qualidade.
Refleti, também, sobre o esforço pessoal de superação de limitações que ele vinha fazendo ao longo dos anos em nome do desejo inequívoco de saber. Ele tem sede de saber! Mas devido às dificuldades financeiras enfrentadas pela imensa maioria dos brasileiros, ele também não teve tantas chances de aprender formalmente conteúdos relevantes de cultura, ciência e arte.
Não consigo nem imaginar do que seria capaz, aquele menino corajoso e incrivelmente ativo, se tivesse a sua disposição, desde a primeira infância, a orientação técnica capacitada e recursos pedagógicos que superassem o acesso livre e desassistido ao youtube. Acredito que ele “voaria”.
E falando em “voar”, penso que para terminar este relato dedicado ao Dia das Crianças, é necessário retornar ao primeiro andar da 34ª Bienal e aceitar verdadeiramente o convite dos artistas para “virar passarinho”, “andar em bando” e juntos lutarmos para oportunizar direitos humanos e saúde mental a todos. Afinal é disso que falam a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Ética do profissional de psicologia.