O amor é uma decisão: relato de experiência de quem vive um amor real em tempos de amores líquidos

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Conforme Zygmunt Bauman as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna.

Escrevo este relato de experiência faltando apenas 1 dia para o dia 12 de junho, dia em que nós brasileiros comemoramos o Dia dos Namorados. Recordei-me que dias atrás, li uma reportagem da revista exame que relatava um aumento no número de divórcios em nosso país. A matéria da revista dizia que o número total de separações é o maior da série histórica iniciada em 2007 pelo IBGE. Segundo os dados, metade dos casamentos que terminaram duraram menos de 10 anos e o tempo médio entre o casamento e divórcio diminuiu para cerca de 13 anos e boa parte dos casais divorciados tinham filhos menores de idade. 

Confesso que estes dados me chamam a atenção e como estudante de psicologia sei bem como a família trata-se de um núcleo de grande influência e importância para o desenvolvimento e formação da personalidade das crianças. Sabemos bem que o ambiente familiar é crucial para o desenvolvimento saudável delas, bem como para a saúde emocional. Sei também que em muitos casos a continuidade do casamento é impossível ou inviável por diversos fatores como por exemplo: a violência doméstica e abusos sejam eles quais forem e outras questões.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, abordou o tema dos casamentos em sua obra “Amor Líquido”. Ele discute como as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna. Entre algumas de suas ideias estão:  

As Relações Frágeis: Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e se tornaram descartáveis. Ele compara as relações modernas com a água, que é líquida e pode mudar de forma rapidamente. E diz que as pessoas estão cada vez menos dispostas a se comprometer com relacionamentos.

A Falta de Compromisso: o autor diz que o amor líquido é caracterizado pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Ele sugere que, assim como as pessoas trocam de produtos quando ficam insatisfeitas com eles, elas também trocam de parceiros quando não estão satisfeitas com seus relacionamentos.

O Amor Descartável: Bauman descreve o amor líquido como um amor descartável, que pode ser trocado a qualquer momento. Ele argumenta que os parceiros são trocados a todo momento, visando sempre “algo melhor”.

A Sociedade Sólida x Sociedade Líquida: o autor contrasta a sociedade moderna líquida com a sociedade sólida do passado. Na sociedade sólida, o casamento era visto como um contrato firme e duradouro. No entanto, na sociedade líquida, as relações sociais são vistas como contratos superficiais e temporários.

As ideias de Bauman sobre o amor líquido refletem uma tendência cada vez mais forte e comum de relacionamentos na sociedade moderna e podemos confirmar isso através dos dados citado no início deste relato.

Diante destes fatos, lembrei de como percorri minha jornada de adolescente e jovem e de como tinha em mente o que significava o casamento. Eu sabia que o casamento estava para além de ser feliz. Sabia que significava ser dois, pensar em dois, fazer coisas como dois, embora pudesse haver momentos para ser um e desfrutar como um. Sabia também que o amor não se tratava de mero sentimento ou de desejo sexual a ser atendido em um dado momento, ou de outro alguém me fazer feliz. Afinal a completude está em mim e eu a desfruto com alguém. Sabia até pelo que eu creio, que o casamento se tratava de uma decisão para a vida toda e não de um arroubo, um sentimento incontrolável, insensato e imprudente que num ato de idealização e fantasia opta por se juntar com alguém “enquanto o amor durar”.

Bom, você deve estar pensando no que deu esse amor (risos). Ele é real e ocorre há exatos 22 anos na sua forma mais pura e real. Dele veio nossa maior alegria e desafio diário que é a nossa filha, hoje com 13 anos de idade. Ela é alegre, ativa, amorosa e nos esforçamos para que como casal ela tenha um bom exemplo e referência de amor saudável, maduro e tranquilo. 

Meu casamento tem dias bons e dias difíceis. Tem choro e riso. Tem incertezas da vida, tem ou teve dificuldades (financeiras, emocionais, de saúde, gestacionais, profissionais etc.), tem conversas difíceis e necessárias. Tem respeito, tem parceria, tem beijo e abraço de bom dia, tem almoço na mesa e faxina compartilhada, tem ajuste de agendas, tem ceder aqui e receber ali, tem vida compartilhada, tem esforço e sacrifício um pelo outro de tempos em tempos, tem riso e brincadeira, tem a alegria do compartilhar das vitórias e o consolo de ter com quem lutar as batalhas e dividir as dores. Não renuncio a nenhum desses 7.920 dias que vivi ao lado do meu marido, pois neles eu aprendi e continuo aprendendo o que é o amor de verdade. E amar de verdade é decidir estar com alguém e viver dias bons e ruins, é conhecer as fraquezas e mesmo assim permanecer, é exaltar os pontos fortes, é desfrutar da vida por completo aceitando o outro e a mim mesma como somos, buscando melhorar aquilo que pode e precisa ser melhorado para que o amor seja vivido em toda a sua potencialidade e plenitude. 

Bauman descreve o amor na sociedade moderna como um produto de um individualismo exacerbado. Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e descartáveis, caracterizadas pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Desta forma, o “amor maduro” poderia ser entendido como um contraponto ao “amor líquido”. Seria um compromisso mais profundo, a aceitação do outro como ele é, e uma disposição para trabalhar através de dificuldades e desafios juntos. Isso contrasta com a visão de Bauman de um amor que é facilmente descartável e está constantemente em busca de algo melhor.

Eu posso dizer a você meu caro leitor, que vivo um amor maduro e tranquilo numa sociedade que pensa que amar é sentimento e que acredita que é possível ser individualista no amor. O amor exige tudo. Como está escrito na escritura sagrada (Bíblia) no livro de I Coríntios 13:4-7 “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Eu tomei uma decisão. Fiz uma aliança e um compromisso com alguém para dividir as alegrias e tristezas da vida em toda e qualquer situação. Eu desejo a você meu caro leitor, a beleza de viver um amor tranquilo. Ele existe. O amor é vida real. Decida compartilhar as alegrias e dores da vida com alguém também real.

Feliz Dia dos Namorados! Ah e me permitam ser brega ou parecer frágil e vulnerável nessa sociedade moderna: Eu te amo e admiro cada dia mais Thomás Dias. Obrigada por compartilhar a vida comigo, por me apoiar e amar todos os dias, incondicionalmente. 

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004

BÍBLIA SAGRADA. Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2019. 2080 páginas.

MARTINS, André. Número de divórcios no Brasil bate record e chega a 420 mil, mostra IBGE. Revista Exame. Publicado em 27 de março de 2024. Disponível em: https://exame.com/brasil/numero-de-divorcios-no-brasil-bate-recorde-e-chega-a-420-mil/. Acesso em 08 de junho de 2024.

SILVA, Nancy Capretz Batista da et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 16, n. 2, p. 215-229, 2008. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200006&lng=pt&nrm=iso . Acesso em 08 de junho de 2024.

 

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a dama e o vagabundo

Valentine’s Day: Amor no atacado e varejo

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Quando penso em dia dos namorados, a primeira coisa que me vem à cabeça é a cena do desenho de animação da Disney, onde A Dama e o Vagabundo dividem uma travessa de espaguete. E quem não se lembra do fio de macarrão que termina em um singelo beijo canino? Eu e meus irmãos vibrávamos nessa cena, ainda sem maliciar o beijo, o romantismo era o que imperava.

Os anos se passaram, mas a cena sempre se repetia todo 12 de junho. A Dama e o Vagabundo foram eleitos, por vários blogs e revistas, como protagonistas de um dos beijos mais famosos da história do cinema.

Hoje, os tempos são outros…

As redes sociais eletrônicas ganharam o mundo pós-moderno e não é raro ver postagens onde pessoas se ‘alugam’ para o dia dos namorados, em contrapartida, há também quem diga não se importar com a data.

Mas qual a verdade intrínseca nesta comemoração?

Na Idade Média, os feitos do nobre Padre Valentino, que se arriscava a unir casais escondidos de seus familiares, além de contestar leis do estado que proibiam casamento em períodos de guerra, resultou no Valentine’s Day, comemorado 14 de fevereiro nos Estados Unidos. O dia de São Valentin foi provavelmente importado para nossa cultura pelo comércio paulista, que viu na data uma oportunidade lucrativa para os negócios. No Brasil, a data é comemorada em 12 de junho, antecedendo o dia de Santo Antônio.

Mas a verdade é que a data não passa de uma estratégia de marketing e as empresas faturam muito com isso. Nessa época, as lojas “barateiam” o preço das roupas, bolsas, sapatos. A indústria de cosméticos cria perfumes. As empresas de telefonia, promoções para atender casais. Restaurantes, motéis, floriculturas, estúdios de fotografias, gráficas, papelarias, sexy shop’s, perfumarias, canais de TV, bandas de música, também entram na dança. Chegam ao mercado novos chocolates, ursinhos, cartões. É um corre-corre.

Em nenhum outro momento do ano o amor romântico está tão em alta. Companhias aéreas e agências de turismo lançam ofertas especiais de viagens para casais. Novelas, jornais e outdoor’s, pais, irmãos, amigos, e avós tratam do tema. A caixa de e-mail é bombardeada com ofertas e promoções imperdíveis.

E se você não estiver namorando, meu caro, comece a se entristecer por não estar.

A inveja e a infelicidade corroem o ego de quem não tem alguém para trocar presentes. Espere, acalme-se. Nem tudo está perdido! Algumas boates fazem festas open bar para solteiros, a fim de unir casais. E se antes não tinha ninguém, agora você têm um leque de opções. Tudo ao alcance de um cartão de crédito. Afinal, nada melhor que conseguir um(a) namorado(a) no DIA DOS NAMORADOS!

E o circo está armado, sob uma lona cheia de palhaços. É o mesmo, bom e velho capitalismo, meus caros. Sob uma roupa nova, com perfume diferente, mas com o mesmo sorriso engenhoso das engrenagens que movimentam e superfaturam nossa produção.

Depois de despejar tanto fel, me pergunto: será que viveríamos bem sem o dia dos namorados?

Possivelmente sim, mas como não é nada fácil desmistificar o rito, celebrar é o melhor. Desçamos ao paraíso, juntemo-nos com os fanfarrões, bebamos, comamos e vivamos esse delírio visceral que é o amor, afinal, é um dia para se amar.

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