Comunicação Falha

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Fonte: Google Imagens

 

Em uma noite qualquer, um casal se dirige para um restaurante requintado de uma capital brasileira. A cidade estava em seu humor noturno resplandecendo várias luzes e vultos de carros, com seus faróis chamativos. O casal já se encontrava trajados apropriadamente para o evento superestimado, que era o jantar para comemorar os cinco anos de relacionamento.

Já estando no local, uma das parceiras estava ansiosa para escolher o prato. Olhavam atentamente a composição de cada opção do menu e se perguntavam já havia experimentado um mix de sabores semelhantes. Atentou-se também para as opções de sobremesa, e tentou combinar os sabores do prato principal à sobremesa, na qual buscava certo equilíbrio de sabores.  Perguntou à sua companheira se já havia feito a sua opção – ela negou.

Esta, por sua vez, estava concentrada e pensando sobre o assunto que iria abordar com a sua amada. 

Reparava em seus cabelos, em seu cheiro, em suas vestes, em sua pele, no detalhe das suas unhas e de como ela manuseava o menu, como fazia as expressões faciais ao se interrogar sobre as opções. E em seguida voltava a pensar como iria abordar o assunto que queria revelar, e mordia o lábio inferior com rigidez, além de apertar os dedos de forma inflexível, o que demonstrava seu nervosismo. 

 

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Quando enfim a parceira que segurava o menu escolheu o prato, esticou-o para a outra, que não passou cinco minutos escolhendo, e pediu ao garçom anotar. Ele anotou e em seguida, a outra indagou:

-Ah meu bem! Estamos esquecendo-se de um detalhe importante, o vinho! Por favor, pode me trazer a Carta de Vinhos de vocês por gentileza? Direcionou-se ao garçom. Este confirmou e foi buscar. 

A que estava preocupada sobre o assunto que iriam conversar, demonstrou novamente aflição ao morder os lábios com mais força. A outra, que finalmente percebeu, perguntou:

– Amor, o que foi? Parece tão nervosa! Vai me pedir em casamento é? Riu disfarçadamente. 

A sua ouvinte esboçou uma cara de tremendo espanto, arregalando os olhos. E exclamou gaguejando nas palavras:

-Nossa! Bom.É…Então…Queria falar algo, mas vamos esperar o prato chegar, né? Riu nervosamente. 

Inesperadamente, o garçom chega servindo os pratos na mesa do casal. Em seguida, a moça que demorou escolher os pratos, complementa:

  • Enfim, você pode falar!

O que a parceira nervosa iria falar era que queria terminar a relação. Que queria um tempo para pensar no que ela realmente pretendia no relacionamento. Mas com o apontamento inesperado da sua companheira, ficou apreensiva a ponto de aceitar a proposta hipotética dela e disse:

  • Sim amor, é isso mesmo! Você aceita se casar comigo? Riu tão forçadamente e nervoso que começou a transpirar pela sua testa. 

A sua companheira esboçou um comprido sorriso, e deu várias tapinhas no ar de alegria, assim como baixos grunhidos. E em seguida exclamou

  • Já era hora! Claro que aceito! ENFIM NOIVAS!

Sua parceira retirou um lenço que estava na mesa e começou a enxugar as gotículas de suor em sua testa e rosto. A sua companheira disparou em falar sobre detalhes do evento do noivado, de como seria a vida delas morando juntas e de como iria anunciar a notícia aos familiares.  

A outra ficou extremamente pensativa e em uma postura introspectiva, apenas de corpo presente e em um profundo silêncio, e passando longos segundos sem até mesmo piscar seus olhos. Perguntou repetidamente em seus pensamentos o que estava fazendo, o que que ela acabou de fazer, o que que faria agora.

 Sem entender ou compreender, apenas absteve-se de falar ou de expressar qualquer expressão ou emoções. Ficou apenas imersa em seus pensamentos e com corpo de forma de estátua. A companheira, depois de passar algum tempo falando como forma de monólogo, percebeu a paralisação da sua companheira, e a perguntou:

  • O que foi? Nem para você a ficha caiu ainda? Aconteceu alguma coisa?

Rapidamente a companheira voltou em si e respondeu:

  • Ah, não, não. Só estou pensando como a comunicação falha.
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As novas formas de amor segundo Carl Rogers

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 As formas de amar contemporâneas vão contra ao que Rogers usa como base para uma boa relação, ou melhor, uma relação na qual as pessoas possam fluir suas potencialidades. Hoje podemos atribuir as formas de amar ao que o Zygmunt Bauman denomina de amor líquido, em modelos em que as pessoas se desfazem de maneira fácil, sem que haja um sentimento de partida, as pessoas e os sentimentos escorrem pelas mãos, não há mais tempo nem disposição de construírem relações duradoras.

O porquê disso tudo podemos atribuir a vários fatores, dentre eles as pessoas se desfazem de vínculos, sentimentos, apreços, e a consequência disso é uma sociedade adoecida, órfãos de um encontro existencial no qual se agregue ao invés de desagregar.

Fonte: http://zip.net/bvtLN5

No livro Novas formas de amor, Rogers relata sobre as novas configurações de casais. Dentre estes casais, existem relacionamentos a três, relacionamentos abertos, poliamor, troca de casais, e outras configurações.

Segundo Fahel (2013) a atração sexual por outras pessoas acontece durante qualquer relacionamento sólido e reprimi-la pode ocasionar estresse na relação. Os casais que estão em um relacionamento aberto vivem uma monogamia afetiva em parceria com a liberdade sexual. No entanto, relações com outros parceiros não são tidas como infidelidade, porém a mesma não deve haver envolvimento afetivo/amoroso, o envolvimento afetivo deve pertencer somente ao casal.

Fonte: http://zip.net/bqtMkQ

Segundo a autora pessoas que aderem ao relacionamento aberto, liberam o desejo, mas não o sentimento. “É importante ressaltar que o relacionamento aberto costuma funcionar melhor quando há regras bem definidas e consentidas por ambos para evitar desentendimentos.” Em seu livro Rogers realiza escuta com os casais que discorrem sobre o funcionamento de seus relacionamentos. Através destas entrevistas, foi possível observar a delicadeza de Rogers em executar a escuta, uma vez que o autor se isenta de valores morais e opiniões, demonstrando a necessidade de ouvir sem julgar.

De acordo com Prado (2014) na contemporaneidade grande parte dos indivíduos tende a não permanecer em uma relação amorosa insatisfatória, deste modo, para muitos o relacionamento aberto pode gerar maior durabilidade da relação, já que para os adeptos dessa forma de amor, um relacionamento aberto funcionaria como quebra de rotina, podendo “apimentar” a relação, se o casal conseguir lidar e conviver bem com esse formato de relação podendo até mesmo melhorar a vida a dois. Por outro lado as questões que envolvem filhos, futuro e sacramentos religiosos são uma forma de tentar evitar “cair” numa possível promiscuidade, tudo depende dos valores de cada um.

A empatia tão falada por Rogers, a congruência, as aceitações positivas estão escassas na sociedade contemporânea, nas relações contemporâneas, nas pessoas contemporâneas, por isso vemos em um contexto clinico pessoas que necessitam apenas de outro alguém que lhe entenda, ou que pelo menos se importe de maneira congruente.

Fonte: http://zip.net/bvtLN6

Nota-se nos casos descritos que os casais enfrentam desafios quanto à flexibilidade e à criatividade da dinâmica no relacionamento. Ao mesmo tempo em que a liberdade predomina, essa configuração gera dúvidas e angústias. Alguns demonstram a dificuldade em enfrentar os novos desafios que se estabelecem durante essa liberdade. Rogers coloca o casamento numa perspectiva histórica, a fim de mostrar que a mudança não ocorre só hoje, mas faz parte da história, três aspectos influenciam esta mudança: o primeiro a política racial, o segundo as leis que regem o casamento e o terceiro a história da família.

O que é possível perceber no livro “novas formas de amor” é que quando Rogers atendia casais com diversas formas de se relacionar, ele procurava compreender as pessoas através de uma escuta apurada, gostava de estar em contato com a história dos casais, dos indivíduos. Simplesmente ele encontrava um significado para isso, só dos relatos tirava ensinamentos sobre o desenvolvimento infantil, sobre as relações pai e filhos, sobre o conceito que as pessoas fazem de si mesmas, os elementos dos bons e maus relacionamentos, os fatores que explicam as mudanças pessoais, o ajustamento sexual e assim por diante.

De acordo com Vigonc (2010, s/p) “toda escuta pode ser entendida como decorrente do sistema de significados do qual faz parte a formação teórica e prática do terapeuta, assim como sua bagagem transportada de suas histórias”. A participação ativa do terapeuta pode contribuir para esclarecer os relatos, construir um sentido, compreender os significados do que foi vivido, dar coerência e sentido para as histórias vivenciadas.

Fonte: http://zip.net/bhtLwS

A escuta é realizada a fim de identificar e compreender o modo como essas relações se estabelecem, feito isso, o autor descreve a dinâmica do casal. Em uma pesquisa sobre a sexualidade dos brasileiros realizada pelo DataFolha em 2009, com uma amostra de 1888 pessoas entre 19 e 60 anos em várias regiões do Brasil, descobriu-se que 40% dos entrevistados acham que relacionamentos abertos podem dar certo. Atualmente, estas configurações são mais recorrentes, à medida que se tornaram mais conhecidas e divulgadas. Existem relatos no Youtube sobre experiências com relacionamentos abertos, poliamor, troca de casais, que comprovam a proporção dessas novas configurações na atualidade.

(…) a internet representa também uma extensão da vida cotidiana, os indivíduos estabelecem neste meio novos tipos de relação, e dão significados para esta relação por meio das características deste próprio meio de comunicação. E, além disso, ela dá as pessoas uma sedução de liberdade, por ser um espaço ilimitado de comunicação e de expressão do indivíduo. O autor afirma, ainda, que o valor supremo da pós-modernidade é o desejo por liberdade (BAUMAN, 2004 cit in FERREIRA; FIORONI, 2009).

Estas configurações contemporâneas refletem o que diz Ferreira e Fioroni (2009), que as relações atuais estabelecidas são frouxas e leves, pois, os indivíduos ao mesmo tempo em que dizem querer um relacionamento duradouro, querem acima de tudo preservar sua liberdade.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

FAHEL, Fernanda. Poliamor x Relacionamento Aberto x Amor Livre x poligamia. Disponível em:<https://mundopoliamoroso.wordpress.com/2013/09/30/poliamor-x-relacionamento-aberto-x-amor-livre-x-swing-x-poligamia-x-ficar/>. Acesso em: 04 jun. 2017.

FERREIRA, Luis Henrique Moura; FIORONI, Luciana Nogueira; DA UFSCAR, Graduando. Concepções sobre relacionamentos amorosos na contemporaneidade: um estudo com universitários. Anais do XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009.

Pesquisa DataFolha: http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2010/02/1223647-sexualidade-dos-brasileiros.shtml

PRADO, Vanessa. Relacionamento Aberto Vale a Pena?. 2014. Disponível em: <https://atosfatoseartefatos.wordpress.com/reportagens-2/relacionamento-aberto-vale-a-pena/>. Acesso em: 04 jun. 2017.

ROGERS, Carl R.. Novas Formas do Amor. Rio de Janeiro: Livraria Jose Olympio, 1976.

VIGONCI. 2010. O casal e a comunicação em crise. Disponível em: https://terapiadefamilia.wordpress.com/2010/12/01/o-casal-e-a-comunicacao-em-crise/

 

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