Aprovados: um besteirol americano que revela a pressão dos adolescentes para o ensino superior

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“Aprovados” é uma comédia americana de 2006 que gira em torno de um grupo de estudantes do ensino médio que, após serem rejeitados por diversas universidades, decidem criar uma instituição de ensino fictícia para enganar os pais e se livrarem de possíveis castigos e humilhações entre seus pares. Apesar do filme ser de comédia e trazer diversas temáticas diferentes, ela também me levou a refletir sobre os papéis que nos são dados desde a infância: o que devemos ser, quando ser, de que forma, para quem, e por aí vai. 

Em 2023, foi realizada uma pesquisa no Brasil que apontou um nível preocupante de ansiedade entre os jovens de 18 à 24 anos, faixa etária que geralmente está em busca de aprovação em uma instituição de ensino superior (o que não é mera coincidência). Os dados dizem que 31,6 % dessa população é ansiosa, sendo líder dentre todas as faixas etárias no Brasil, dado que é confirmado por educadores e professores. 

Segundo o Hospital Oswaldo Cruz, o estresse decorrente do processo de aplicação nas universidades pode impactar diversas áreas do corpo, afetando cabelos, unhas, boca, dentes e cérebro. Ele também pode prejudicar a memória e enfraquecer o sistema imunológico. No cérebro, o estresse pode levar a mudanças funcionais e no tamanho do hipocampo, que é a parte responsável pela memória, devido ao aumento dos hormônios do estresse, como o cortisol.

O grupo de amigos que protagonizam o filme “Aprovados” são jovens, todos recém formados do ensino médio (que por si só já é uma conquista muitas vezes não reconhecida), e que, apesar da filósofa Hannah Arendt ter afirmado que o ser humano é de infinitas possibilidades, passíveis de transformações e adaptações, ainda somos encurralados com expectativas limitantes sobre quem devemos ser. Em determinado momento, eles são descobertos e são levados à justiça, mas conseguem comprovar que, apesar de terem iniciado como algo “falso”, estabeleceram um senso de pertencimento e comunidade, além de terem adquirido conhecimentos práticos.

O filme “Aprovados” não se passa no Brasil, nem é habituado no ano de 2025, mas é a realidade de muitos jovens que se veem pressionados a entrarem na faculdade assim que finalizam o ensino médio, uma realidade onde o valor e esforço do jovem em processo de aprendizado é medido por quantas e quais aprovações ele recebe por instituições de ensino superior. A pressão é tão nauseante que muitos acreditam de fato que sair do ensino médio sem aprovações significa um fracasso descomunal que determina que tipo de adulto ele será. Não ser aprovado de imediato virou sinônimo de fim do caminho, não há futuro, não há plano B, não há alternativas de carreira ou percurso.

APROVADOS

Diretor: Steve Pink

Elenco: Justin Long, Adam Herschman, Jonah Hill, Blake Lively

Gênero: Comédia

Ano: 2006

MAIS INFORMAÇÕES 

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/mais-de-26-dos-brasileiros-tem-diagnostico-de-ansiedade-diz-estudo/#:~:text=Um%20terço%20(31%2C6%25),mulheres%20(34%2C2%25).

https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/imprensa/releases/pressao-pre-vestibular-pode-afetar-saude-e-bem-estar-dos-estudantes/

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O curso superior e seus desafios

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Ingressar numa instituição de ensino superior é algo que gera muita expectativa para as pessoas que sonham em construir uma vida profissional ou obter uma melhor qualidade de vida. Porém o “êxtase” que as instituições de ensino superior demonstram ao iniciar um curso acaba por gerar uma “falsa expectativa”, que posteriormente se torna na realidade um processo de amadurecimento acompanhado de frustrações diante a real realidade (PEREZ; BRUN; RODRIGUES, 2019, p. 363).

A alegria de completar o curso em 4 ou 5 anos se torna a realidade dos 6, 7 ou mais anos que perduram cada vez mais a depender do estado físico, emocional, pessoal, financeiro e mental de cada um. Com a vivência acadêmicas passa a ser percebido pelos estudantes que não apenas a estabilidade financeira é necessária para conclusão do curso, mas também o desenvolvimento de um bom relacionamento interpessoal, habilidade sociais para trabalhos em grupo e adaptação a diversas situações e dificuldades, o que torna essa jornada um momento potencializador de desenvolvimento humano (CRISTO et al, 2019, p.487 e 488).

Embora potencializadora de amadurecimento, a jornada acadêmica traz consigo também dificuldades a serem enfrentadas, que podem decorrer em vivências negativas que ocasionam vários fatores, dentre estes, baixo desempenho, desistência, troca de curso etc., mas, o oposto também pode ocorrer também em demais casos, podendo ser alçado daí por diante um crescimento pessoal e profissional significativo durante o percurso. Nos dias atuais, as dificuldades de conciliar trabalho, os papéis sociais, a vida pessoal, as dificuldades financeiras e tantas outras variáveis dificultam e vão de encontro aos motivos que prejudicam a saúde mental de estudantes universitários.

Fonte: encurtador.com.br/joLS6

Não podemos deixar de mencionar no que tange a esse mundo acadêmico que muitos estudantes moram sozinhos e, devido à carga pesada da diminuição do contato familiar, autocobrança, a relação de hierarquia que há entre professores e alunos, os pesados fardos de aprendizagem, bem como o excesso de trabalho, os leva a um processo de adoecimento psicológico como ansiedade, depressão, uso ou abuso de álcool e outras drogas, ou mesmo, a ideação suicida.  Tudo isso está relacionado às pressões do mercado de trabalho sob o contexto histórico, político, social e cultural que vivemos (PEREZ; BRUN; RODRIGUES, 2019, p. 361).

Atrelados a esses fatores, o cotidiano dos alunos do ensino superior é caracterizado por uma variedade de exigências de uma típica vida acadêmica que acarretam estresse, cansaço físico e danos à saúde mental, prejudicando imensuravelmente o rendimento acadêmico, e ocasionando o esgotamento decorrente de toda uma pressão recebida, seja dos pais, do trabalho e da faculdade acumulados (PEREZ; BRUN; RODRIGUES, 2019, p. 363).

Apesar dos cenários e contextos do ensino superior com variáveis e situações estressoras que dificultam o processo de aprendizado e de vida dessa classe estudantil, algumas instituições de ensino já  adotam um sistema que  acolhe os acadêmicos, oferecendo espaços de escuta psicológica que contribuem com o início de um processo terapêutico para acadêmicos tanto em fase de adoecimento ou adoecidos, ou com um espaço para orientação profissional (PEREZ; BRUN; RODRIGUES, 2019, p. 364). Essa prática visa respaldar os discentes dentro e fora desse ambiente, contribuindo de forma bastante significativa na sua formação.

REFERÊNCIAS

PEREZ, K.V., BRUN, L.G., RODRIGUES, C.M.L. Saúde mental no contexto universitário: Desafios e práticas, 2019. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/8093/16182>. Acesso em 08/11/2010.

CRISTO, F. et al. O ensino superior e suas exigências: Consequências na saúde mental dos graduandos, 2019. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/7447/16189>. Acesso em 08/11/2010.

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