Você sabe como sua filha se enxerga?

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Entrevista para a revista Ana Maria com a psicóloga Fabíola Luciano

Transcrição de Fabíola Bocchi

Transtornos alimentares são mais comuns em meninas adolescentes. E a maneira como os pais se comportam faz toda a diferença no tratamento.

Comer exageradamente ou deixar o estômago vazio por tempo demais: se para uma mulher madura pode ser complicado estabelecer uma relação saudável com a comida, imagina então para uma adolescente.

Nessa fase de mudanças, por um lado existe a preocupação em ser aceita pelos colegas. E por outro, um bombardeio das redes sociais com fotos de atrizes, modelos e “musas” fitness da internet… Todas elas esbanjando um corpo magro e bem definido. Não à toa que estudiosos consideram que, nesta fase, o risco de desenvolver um transtorno alimentar aumenta muito. Leia mais sobre o assunto e saiba como proteger sua filha dessa cilada!

PARA COMEÇO DE CONVERSA:

“Transtornos alimentares são problemas de ordem psicológica”, esclarece Fabíola Luciano, psicóloga colaboradora do ambulatório de bulimia e transtornos alimentares da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Quem sofre com esses problemas tem uma alimentação “disfuncional”, e por isso pode acabar perdendo muito peso, engordando, ou prejudicando a saúde em função disso.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS?

ANOREXIA:

Tem como característica a recusa alimentar (e, portanto, a perda de peso). Geralmente, a motivação é uma preocupação extrema com o corpo, um perfeccionismo com relação ao próprio peso. Muitas das pessoas que desenvolvem o distúrbio acabam sofrendo também uma distorção da própria imagem, enxergando seus corpos maiores do que eles realmente são.

BULIMIA:

Quem sofre com o problema come muito compulsivamente. Daí começa a se sentir mal, assume comportamentos compensatórios para eliminar as calorias. Isso pode se dar provocando o vômito ou usando laxantes e diuréticos.

COMPULSÃO ALIMENTAR:

Neste caso a pessoa também se alimenta de maneira exagerada durante alguns episódios. A sensação é de que se está perdendo o controle, pois o comer já não está vinculado à fome: ou seja, a ingestão de comida é muito maior do que a sua real necessidade. Em seguida, vem o sentimento de culpa e de frustração.

Para cada dez mulheres que desenvolvem um transtorno alimentar, apena um rapaz é afetado. “existem questões sociais envolvidas. Em geral são elas que sofrem mais pressão com relação ao corpo e à estética”, ressalta a psicóloga.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

SINAIS DE ALERTA:

Se sua filha (ou seu filho) estiver apresentando comportamentos como estes, puxe uma conversa franca e procure ajuda psicológica:

  • Evita ir a restaurantes e se recusa a comer perto dos familiares;
  • Faz uso de inibidores de apetite, diuréticos ou laxantes;
  • Vai sempre ao banheiro depois de comer;
  • Toma banhos muito longos (e às vezes com música alta tocando);
  • Demonstra preocupação excessiva com o peso;
  • Come descontroladamente ou escondido dos demais.

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS:

Quantas vezes, sem perceber, não reforçamos dentro de casa a ideia de que as mulheres devem estar sempre magras? “Fulana era tão bonita, agora está gordinha”, “Essa blusa marca demais a minha barriga…” e até com os próprios filhos dizendo: “Você precisa parar de comer besteiras se não quiser engordar”. Tudo isso impacta na relação que eles constroem com a comida, uma vez que “as crianças e jovens podem internalizar esses discursos, alerta Fabiola. Em compensação, se os responsáveis prestam atenção em como anda a autoestima dos filhos e conversam sobre esse assunto em casa, a tendência é que os adolescentes se sintam acolhidos, entendam que o seu valor não está relacionado ao peso e não apelem para as radicalidades.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

REFERÊNCIAS:

PSICÓLOGA FABIOLA LUCIANO. Você sabe como sua filha se enxerga? Disponível em: https://psicologafabiola.com.br/participacao-da-psicologa-fabiola-na-revista-ana-maria-sobre-transtornos-alimentares/. Acesso em: 6 jun. 2022.

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Anorexia: Corpos a venda, e o preço a ser pago

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A ideia de perfeição é geradora de comércio, lucro, cujos corpos no mundo capitalista também “estão à venda”, e os modelos inadequados estão sujeitos a “rejeição e descarte”

Anorexia Nervosa é um transtorno psicológico pelo qual o indivíduo passa a ter uma obsessão por emagrecer, mesmo que esse já tenha o corpo magro, estando por vezes abaixo do parâmetro recomendado pelo IMC (Índice de Massa Corporal). Identifica-se a pessoa com Anorexia, quando esta apresenta o índice igual ou inferior a 17,5 kg/m 2

O termo Anorexia deriva do grego orexis = apetite, acrescido do prefixo an = privação, ausência. Nessa patologia há perda do apetite em decorrência de aspectos psicológicos. A negação do apetite e o controle obsessivo para com o corpo, fazem parte de suas características (CORDÁS, 2004).

Em 1970, o psiquiatra inglês Gerald Russell sugeriu três critérios para o diagnóstico da anorexia nervosa. Eles são válidos até hoje. Trata-se do comportamento dirigido a produzir perda de peso; medo mórbido de engordar e distúrbio endócrino (RUSSELL, 1970). Os critérios atualmente vigentes nos principais sistemas classificatórios estão fortemente embasados por Russell. 

Fonte: encurtador.com.br/ahjq5

Hodiernamente, pode-se compreender como comportamento que se enquadra no distúrbio a recusa de se manter no peso adequado a idade e altura, mantido geralmente 15% abaixo do esperado. No caso de pacientes pré-púberes, têm-se dificuldade de alcançar o peso esperado, existência de medo intenso em ganhar peso, perda de peso induzida pela evitação de “alimentos gordurosos”, as vezes seguidas da utilização de anorexígenos e diuréticos conjunto a exercícios físicos em excesso, indução de vômito, negação do baixo peso atual, discurso auto avaliativo fora da realidade e distorção da imagem corporal (CRISTINA, 2012). Nessa situação, qualquer ganho de peso gera grande angústia, e a cada “meta” do corpo almejado e mais magro, é motivo de comemoração, assim como motivador para a progressão da obsessão.

O possível gatilho para o início deste transtorno seria a passagem por momentos conturbados, geradores de sentimentos negativos e/ou pensamentos disfuncionais. Um fator importante na discussão é o meio social, que tem grande poder influenciador e que alicia os corpos, a fim de que haja a  padronização, causando angústia as pessoas que não contemplam o dito corpo “perfeito”, ou que desejam se adequar a estéticas inalcançáveis. Colocando-se em situações que põe em risco a saúde e a vida à mercê da idealização do corpo “bonito e ideal”. A ansiedade é presente, levando-se a busca imediata de formas de emagrecimento a qualquer custo.

A ideia de perfeição é geradora de comércio, lucro, cujos corpos no mundo capitalista também “estão à venda”, e os modelos inadequados estão sujeitos a “rejeição e descarte”. Os indivíduos compram este ideal mas, por vezes, o preço a ser pego é o aumento progressivo de transtornos mentais.

Fonte: encurtador.com.br/kERT5

Gordofobia 

A anorexia nervosa faz parte das consequências da gordofobia que permeiam a sociedade, causando medo da inadequação, ou fixação no desejo de ser ‘magra o suficiente’. No contexto anoréxico, há sempre uma busca de um padrão que foge da condição natural do corpo biológico, gerando uma negação psicológica de si, e de qualquer fator que leva a resultante do corpo gordo, ou simplesmente não magro; sendo a restrição de alimento, a resultante final, esta é a prática de um processo do transtorno psíquico sobre sua própria imagem. A causa exata da anorexia ainda é desconhecida, mas acredita-se que fatores biológicos, psicológicos e ambientais estejam envolvidos nas possíveis variantes de onde emergem a condição do ser.

Na questão biológica, os anoréxicos têm sempre o desejo de ser magros, entretanto essa doença pode atingir públicos de diferentes tipos corpóreos, inclusive os gordos, que sofrem a pressão social de serem o que são. Eles ingerem pouca ou nenhuma comida, tem uma perda de peso muito rápida e acentuada. Geralmente podem ficar sem três ou mais ciclos menstruais por conta da desnutrição, que também pode causar infertilidade. Esse distúrbio acomete em maior parte mulheres entre 12 a 18 anos. E pode matar o indivíduo rapidamente, pois a desnutrição pode levar a falência de órgãos, insuficiência renal, parada cardíaca, dentre outros (HIRATA, 2018).

As questões psicológicas são diversas e variam de acordo com a vida de cada pessoa. Relações sociais, o bullying na infância, eventos traumáticos, problemas que geraram conflitos internos, e a padronização vinculada aos corpos, podem ser o pontapé para o desenvolvimento da anorexia, entretanto, não existe respostas que aponte com exatidão o que causou tal problemática. É importante que haja a procura do acompanhamento psicológico, para que as raízes do problema possam ser encontradas antes de agravar ainda mais a saúde psicológica e biológica do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/diknM

Pessoas com transtornos alimentares tendem a negar a doença, e consequentemente não procuram tratamento (HUDSON et al., 2007). A identificação precoce de sintomas sugestivos de transtornos alimentares, bem como a identificação de fatores de risco não tradicionais, certamente auxiliará na prevenção do aumento da incidência de transtornos alimentares.

Geralmente o início da patologia se dá durante a adolescência ou pré-adolescência, muitos dos sintomas podem não ser levados a sério pelas famílias, sendo subjugados como passageiros e pertencentes a faixa etária. Entretanto, os dados afirmam com exatidão que é um problema de extremo risco, já que 17% das anoréxicas acabam morrendo por conta de questões diretas e indiretas da doença (SOARES, 2013). Muitas famílias não compreendem o perigo e a complexidade para que se encontre uma solução; terapias em famílias se fazem muito necessárias, para deixar o contexto em que essas pessoas vivem menos letais às mentes que já se encontram em sofrimento.

A maior parte das mortes de mulheres anoréxicas se dá por suicídio. Segundo um artigo publicado em 1995 por Sullivan, a anorexia obtinha as maiores taxas de suicídio entre demais causas psiquiátricas. Embora possamos definir que a patologia seja, em síntese, um suicídio lento, pode-se concluir que é importante alertar, e compreender o desenvolvimento dos comportamentos anoréxicos e, principalmente, fazer com que a prevenção se estenda com cuidado e enfrentamento de discursos romantizados, para proteger aqueles que nos rodeiam dessa terrível guerra para o alcance do inalcançável corpo ideal.

Referências

CRISTINA; Mara. Associação entre transtornos alimentares fatores orexígenos, anorexígenos perinatais e neonatais em universitários. Recife, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/12045/4/Tese%20Mara%20Lofrano_final.pdf.txt Acesso em: 4 abril. 2019.

Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Anorexia nervosa: um transtorno psicológico.,2007.

Disponível: https://www.endocrino.org.br/anorexia-nervosa-um-transtorno-psicologico/ Acesso em: 4 abril. 2019.

SOARES, Gláucio. A mais letal das doenças  mentais.; São Paulo, IG, 2013. Disponível: https://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-10-23/a-mais-letal-das-doencas-mentais.html Acesso em: 4 abril. 2019.

IG São Paulo. Anorexia é a doença que mais mata no mundo diz pesquisador., São Paulo, 2013. Disponível: https://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-10-23/anorexia-e-a-doenca-mental-que-mais-mata-no-mundo-diz-pesquisador.html . Acesso em: 4 abril. 2019.

HIRATA, Giselle. Quais as diferenças entre anorexia e bulimia? Super Interessante, 2012. Disponível: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-sao-as-diferencas-entre-anorexia-e-bulimia/ . Acesso em: 4 abril. 2019.

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