Diferenciação entre pessoas de “mente aberta” e as de “mente fechadas”

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Vivemos em um mundo em constante evolução, com a pandemia o uso e crescimento das tecnologias da informação ganharam força. Com isso, é nítido a necessidade de evoluirmos em relação a esse progresso ao qual o mundo passa. É normal sentirmos estranheza e desconforto em algumas circunstâncias que envolvem mudanças, fazendo-se necessário o ajustamento da forma em que pensamos a respeito das situações que estamos vivenciando, no caso de já termos uma opinião formada previamente onde possivelmente existe influências externas, poderá ser uma causa para que o processo de mudança ou flexibilidade de pensamento seja mais difícil de ocorrer.

De acordo com Marques (2021), para fazermos parte desse processo de evolução ao qual o mundo passa é necessário termos a mente aberta, pois isso poderá nos levar a níveis cada vez mais elevados, em todos os aspectos de nossas vidas. Mesmo sabendo disso, existe pessoas que possuem dificuldades em aceitar mudanças “São indivíduos considerados inflexíveis de mente fechada, que se sentem bem mal só de ver algo se transformando em sua rotina” (MARQUES, 2021).

Fonte: encurtador.com.br/qCK47

Com isso convido você a conhecer algumas entre as tantas características desses dois perfis de pessoas, as de mente aberta e as de mente fechada. Entre as peculiaridades existentes podemos encontrar:

  • Autoestima; as pessoas de mente fechada tendem a ser inseguras, demonstrando comportamentos próximos aos de autoritarismo, em busca de aceitação, sendo o oposto das pessoas que possuem mente aberta, tendo uma autoestima elevada, disposta à evolução e a um continuo aprendizado.
  • Falar e Ouvir; as de mente aberta dão preferencia para ouvir, são atenciosas e possuem uma observação aguçada, conseguido gerar uma maior conexão com as pessoas que estão ao seu redor; as pessoas de mente fechada, forçam as relações a ponto de serem importunas em um dialogo, querem a qualquer custo ser o centro das atenções e interrompem os demais que também estão conversando.
  • Humildade; é uma característica de fácil identificação, comumente as pessoas de mente fechada costumam procurar ter uma falsa fachada de que possui humildade. “Geralmente, quando vão emitir uma opinião, elas costumam começar a frase da seguinte maneira: “Posso estar errado, mas…” e logo dizem o que pensam.” (MARQUES, 2021). Sendo uma opinião considerada desnecessária por ser contraditória. Em contrapartida, as pessoas de mente aberta preferem se colocar no lugar de aprendizes, preferindo calar-se possibilitando uma oportunidade para quem realmente poderá favorecer.
  • Compreensão e entendimento, quem possui mente aberta não vive em busca de obrigar as pessoas a aprovarem sua forma de pensar, são compreensíveis, abertas ao diálogo, promovem respeito e discussão saudável. Referindo-se a pessoas de mente fechada, trata-se de alguém que se esforça para que todos que estão em torno de si o entenda, chegando a ser insistente e repetitivo a fim de convencer a outra pessoa para que concorde com o que está sendo dito.
  • Afirmar e Perguntar, são características que indicam que quem tem a mente fechada vivem fazendo fortes declarações sobre qualquer que seja o assunto, mesmo que não tenha propriedade no que está comunicando. “Trata-se de indivíduos que adoram opinar, porém não têm a menor paciência para ouvir a opinião dos outros.” (MARQUES, 2021). Já quem possui mente aberta, só opinam sobre algo quando verdadeiramente conhecem, pois primam pelo aprendizado com o outro.
  • Ideias desafiadas, as pessoas de mentes abertas, aceitam sem nenhum problema as ideias que as diferem de sua forma de pensar, diferente das de mente fechada que não concordam em ter suas ideias afrontadas. Pelo contrário, o que elas querem, na verdade, é que todos concordem com o que elas sugerem, sem questioná-las.

Dessa forma, “A mente é, hoje, até fácil de descrever em seus aspectos mais gerais, mas a função mental em cada circunstância específica de nossas vidas continua sendo um mistério” (IZQUIERDO, 2004, p. 07). Faz-se necessário que estejamos sempre atentos a que tipo de mentalidade que desenvolvemos: mentes limitadas ou mentes dispostas a expandir.

É necessários nos desafiarmos, a fim de que tenhamos mais proatividade e consciência de si mesmo, obtendo crescimento pessoal e profissional; para nos adaptarmos melhor com quem estar a nossa volta, tornando importante reconhecer se o outro possui uma mentalidade aberta ou fechada para um melhor relacionamento.

Referências

IZQUIERDO, Iván. A mente humana. Centro de Memória do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUC-RS, 3 de Out. de 2004. Porto Alegre (RS), Brasil. Disponível em: <https://www.ufmg.br/online/arquivos/IZQUIERDO.pdf >Acesso em: 17, Jul. de 2021.

MARQUES, José Roberto. Quais as principais diferenças entre pessoas de mente aberta e mente fechada?. Instituto brasileiro de coaching. 17 de Fev. de 2021. Disponível em: <https://www.ibccoaching.com.br/portal/mudanca-de-vida/quais-as-principais-diferencas-entre-pessoas-de-mente-aberta-e-mente-fechada/>. Acesso em: 17, Jul. de 2021.

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David Hume: o hábito como máxima

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Iremos abordar as principais ideias e estudos do importante filósofo escocês, historiador e empirista David Hume, que nasceu em Edimburgo, no ano de 1711. Hume foi conhecido por aplicar o padrão de que não há ideias inatas e que todo o conhecimento vem da experiência que nos permite saber sobre causa e efeito. Um dos principais objetivos do filósofo é o de encontrar limites do conhecimento humano, que para ele irão se revelar através das experiências, logo, passando a ter lugar central na filosofia do século XVIII.

Hume aponta para um novo cenário de pensamento ao introduzir os métodos experimentais aos fenômenos mentais. Para ele, todo o nosso conhecimento de mundo e o nosso processo de conhecimento se dão pelas percepções ou pelas ideias formadas por elas, baseando parte dos nossos raciocínios em acontecimentos que nossa experiência define como “prováveis”. Assim, ele diz que determinadas conclusões que chegamos sobre o mundo e as coisas não são fundamentadas na razão, mas, fundamentadas numa crença que obtemos pela regularidade com que as nossas experiências se repetem se tornando um hábito, um costume. As percepções são definidas como fenômenos que se dão pela mente através das sensações internas ou externas, garantindo assim a existência do objeto, logo que, ele só é percebido quando existe. Ele as subdivide em duas classes: impressões e ideias.

Fonte: http://zip.net

Segundo Hume (1992) as impressões caracterizam as percepções atuais que temos das coisas, as sensações vividas e fortes advindas de tal experiência. Segundo Hume, as impressões são “nossas percepções mais vividas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos, ou exercemos nossa vontade”. As ideias são caracterizadas como mais fracas e menos vivas, pois são consideradas cópias das impressões, tendo elas como base e origem. Para o filósofo, essa diferenciação entre impressões e ideias está relacionada entre o sentir e o pensar.

Hume, assim, foi um filósofo que soube explicar os problemas que se referem à natureza e limites do entendimento humano. Suas opiniões exercem influência na atualidade; problemas filosóficos difíceis e de profundidade foram expostos por ele de maneira clara e objetiva, exercendo fascínio, contagiando outros filósofos importantes. O empirismo pregado por Hume (1992) termina por alcançar sua obra, tornando assim uma Filosofia proclamada ceticista; a ciência fundamente-se caprichosamente de certas teorias tais como: o costume, o hábito, a associação de ideias, partindo do pressuposto de que qualquer coisa ou algo seja do jeito que é, por que acreditamos que é assim mesmo; exatamente partindo da ideia do costume e do hábito, das associações das ideias.

Contudo a dimensão ontológica de conceitos como substância e existência, na teoria proposta pela filosofia ceticista de Hume, em análise, ousamos pensar que perderam o sentido evaporando em simples, puras, e meras sensações. Apontando sempre para a razão, como fonte inquietante e agitada, mesmo diante de absurdos e proposições formuladas em qualquer época ou por qualquer Nação.

Fonte: http://zip.net

Para Matos (2007, vol.5, p.5), Hume define uma parte crucial dos processos cognitivos do ser humano em termos da relação deste com o ambiente, no qual, para ele, as crenças causais produzidas pelo hábito possuem um papel na sobrevivência e bem estar de seu portador. Marcondes (1997) sustenta a tese de que por força do hábito, acabamos com regularidade e mesmo por repetição projetando em nossa realidade, algo como se de fato existisse. Portanto, a causalidade seria tão somente uma maneira própria de percebermos o que é real, negando causalidade como parte do que seja naturalmente do mundo.

Era considerado por muitos como cético, porém seu pensamento indica nesse sentido ser descrito como naturalismo, por assim deixar claro que os impulsos humanos naturais, seria apenas uma maneira de descrever o conhecimento e não fundamentá-los; ressaltando ainda que sob essa ótica de Hume, tanto o ceticismo quanto o naturalismo andam de certa forma em compatibilidade, em consonância.

Hume reconheceu que a ciência está repleta de informações sobre o mundo, minunciosamente e detalhadas; para ele, essa mesma ciência está carregada com teorias, contudo nunca produzirá uma “lei da natureza” (HUME, 2011, p. 153). Com isso, o autor apresenta fortes convicções contra o racionalismo, afirmando que é a crença que está no centro de nosso desejo de ter o conhecimento, negando assim a supremacia da razão, e o hábito sim, seria o nosso guia para tais pretensões.

Fonte: http://zip.net

Assim o hábito funciona como um guia, se não existe uma justificativa digamos racional para uma posição indutiva, no caso o hábito poderia ser uma excelente guia, um direcionamento. Nesse ponto, o autor demonstra a sua preocupação ao adquirirmos tal “hábito mental”, sendo que a precaução se torna importante em sua aplicação; considerando-se que ao medirmos a causa e o efeito ocorridos nesses dois eventos, obviamente que a comprovação de sucessivos acontecimentos acorridos outrora, a julgar que são imutáveis e regularmente em sintonia entre os mesmos. Portanto, o hábito como um guia, nada mais é que a previsibilidade de que todo e qualquer acontecimento ocorrido no passado, invariavelmente acontecerá novamente, por outro lado, a causa de um não será necessariamente do outro, ainda que ambos devam estar em contato entre si.

 Vejo o sol nascer toda manhã. Adquiro o hábito de esperar o sol nascer toda manhã. Aprimoro isso no julgamento “o sol nasce toda manhã”. O julgamento não pode ser empírico porque não posso observar o nascer futuro do sol. Esse julgamento não pode ser uma verdade de lógica, pois é concebível que o sol não nasça (ainda que altamente improvável). Não tenho fundamento racional para minha crença, mas o hábito me diz que ela é provável. O hábito é o grande guia da vida. (HUME, 2011, p. 151). A filosofia defendida por David Hume assume inquietantes conclusões, posicionando nossas crenças de certa forma niveladas ao pensamento lógico, científico e conseguinte pela própria natureza das coisas do mundo. 

Fonte: http://zip.net/bgtHLz

Segundo Matos (2007) o pensamento de Hume se constitui a partir de como a natureza humana se relaciona com outras formas existentes da natureza, com outros humanos em particular, mas no geral com todo o ambiente, não incluindo apenas os seres vivos, mas bem como o próprio meio e suas condições. Essa relação, intermediada pela ultimação que o hábito leva o ser humano a compreender, aparece na forma de uma correspondência, ou harmonia, entre o ambiente e o comportamento do indivíduo que o conhece.

De acordo com Hume, tudo o que conhecemos tem por base as nossas experiências. Por isso, ele afirma que algumas conclusões que chegamos sobre o mundo e as coisas não tem por base a razão, mas o hábito. O hábito no empirismo humano é um princípio que opera sobre a imaginação, que contribui para entender os objetos conforme eles surgem na mente humana para formar ideias vivas e intensas. Portanto, o hábito auxiliará a mente com relação às concepções ao que se pode esperar do futuro. O hábito é uma disposição inata, uma espécie de instinto natural que nenhum raciocínio pode produzir ou evitar. Como é possível observar neste parágrafo:

Este outro princípio que leva a mente a fazer estas inferências causais sem estarem embasadas na observação e na experiência, é o costume (hábito). O hábito é tudo o que vem de uma repetição passada, sem acrescentar novo raciocínio ou conclusão, e nele toda crença humana se origina. Ele é um princípio de associação que não depende do raciocínio, tendo origem em experiências passadas de associação de impressões que tendem a se repetir, é um instinto que a natureza colocou no homem. É devido a este princípio que “a partir da simples sucessão conjugada, nós inferimos o nexo necessário” (COMTE, 2010, p. 220).

O fato de vermos regularmente uma relação entre A e B, por exemplo, faz com que sempre que vemos A, lembremo-nos de B. Além disso, o que é possível conhecer é fundamentado em relações de causa, ou seja, na causalidade; que é a ideia segundo a qual todo efeito deve ter uma causa. Sendo assim, este conhecimento é baseado na crença que adquirimos pela regularidade com que as nossas experiências se repetem, produzindo o hábito. Assim, é possível dizer que para Hume a mente humana mente é um grande acervo de percepções, pois todas as nossas ideias têm origem na impressão sensível; e que não estamos diante de uma conexão necessária na relação entre causa e efeito, mas diante de uma associação baseada na regularidade de eventos que ocorrem na experiência.

Fonte: http://zip.net/bptJrc

O hábito é também visto como um instrumento de sobrevivência, algo que está de acordo com sabedora da natureza e dele derivam os efeitos de causa. Estes efeitos ou inferências causais têm como estrutura instintos advindos da sabedoria da natureza. É necessário agir para sobreviver e ter instintivos para poder agir é fundamental. Sendo assim, evidencia-se que por através do hábito, a natureza impele o homem à ação.

Em sua teoria, Hume ao tratar a indução de maneira filosófica termina por abalar de certa forma, as estruturas do racionalismo, exatamente por ampliar a importância do papel do hábito sobre a crença e sobre a vida de todos nós.  Explanando sobre tema controverso, da indução, Hume acaba por influenciar outros pensadores que assim darão continuidade e sustentação da sua teoria: Kant que anunciou um despertar de dogmas, ao ler tais conclusões; e Karl Popper que assume a indução de Hume como uma certeza. Por conseguinte, a crença não poderá ser racionalizada, não será fundamentada, contudo sendo o hábito um bom e grande guia, tornarão prováveis e possíveis às evidências. Para Hume, o homem sábio regula o que acredita com o fundamento, ainda quando improvável.

REFERÊNCIAS:

ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando – Introdução à Filosofia. São Paulo, Ed. Moderna, 1993.

BERKELEY. G. e HUME, D. Os Pensadores – Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano: Tradução:  Antônio Sergio…[et al]. São Paulo, Nova Cultural, 1992.

CABRAL, C. A. Filosofia. São Paulo, Editora Pillares, 2006

MAGEE, B. História da Filosofia. São Paulo, Edições Loyola, 1999.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1997.

MATOS, J. C. M. Instinto e razão na natureza humana, segundo Hume e Darwin. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662007000300002. Acesso em: 2007. Vol. 05.

O Livro da Filosofia. Tradução: Douglas Kim. São Paulo, Globo, 2011.

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Leitura – um vício edificante

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Para muitos ler não é uma atividade muito atraente, para Lara Franco, ler é bem mais que um hobby, chega a ser quase um vicio. A estudante de 19 anos que cursa Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT) como a paixão pela leitura influenciou na criação de um blog e na escolha de sua profissão.

Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena – O que de você gosta fazer em seu tempo vago?

Lara Franco – Meus hobbies favoritos são basicamente ler, escrever e assistir a filmes e seriados.

(En)Cena – Ler é um de seus passatempos preferidos, desde quando você começou a se interessar pela leitura?

Lara Franco – Eu acho que me interessei pela leitura desde que comecei a ler, literalmente. Ainda quando eu estava na pré-escola fiz aulas particulares, ministradas por uma vizinha, e em razão disso aprendi a ler muito cedo. Quando aprendi peguei gosto pelos livros muito rápido, eu lembro nitidamente dessa época da minha vida, na minha cidade natal, em que eu lia tudo o que via pela frente. Além disso, havia muitos livros na minha casa, especialmente porque minha mãe era professora, então isso ajudou muito a fazer da leitura um hábito.

(En)Cena – De que forma esse interesse influenciou suas escolhas durante sua infância e adolescência?

Lara Franco – À medida que eu fui crescendo esse hábito já havia se tornado parte de mim e da minha personalidade. Uma vez eu cheguei a escrever uma redação de quatro páginas que li para toda a turma, os colegas reclamavam a cada página virada, mas eu lembro de ter sido um dos momentos que mais me orgulho até hoje. Por gostar de ler e escrever, português, redação e literatura acabaram sendo minhas matérias favoritas e as que eu mais me esforçava para garantir boas notas. Ao fim do ensino médio, apesar das dúvidas e de certa pressão dos professores e da família, acabei vendo que o que sempre me deu prazer desde a infância havia sido a leitura, e que trabalhar com isso seria extremamente satisfatório, apesar do reconhecimento e da remuneração da área serem poucos. Decidi, então que era com as palavras que eu gostaria de fazer carreira. Minha primeira opção foi o curso de Letras, mas por não ter curso aqui ou ter apenas pago, acabei optando pelo Jornalismo, que também me colocaria para ler e escrever e me satisfaria como profissional de forma semelhante.

(En)Cena – Você está sempre rodeada de pessoas que gostam de ler? Qual é sua reação quando alguém diz que não gosta de ler?

Lara Franco – Sim, não tem como negar que meus amigos mais próximos são todos leitores, acho que isso acaba sendo o item que nos aproximou no primeiro momento, sejam eles amigos virtuais ou não. Como leitora “compulsiva”, eu consigo ver muita coisa através da leitura, desde as nuances da história até mesmo traços do autor, e para mim isso é fantástico. Poder vivenciar tantas coisas através de um pequeno objeto de papel é gratificante e ao mesmo tempo intrigante. Quando alguém me diz que não gosta de ler, fico sem entender, acho até que nunca vou conseguir. No fundo mesmo, acho que as pessoas que dizem isso apenas não acharam o livro certo ainda.

(En)Cena – Tem idéia de quantos livros já leu?      

Lara Franco – Não faço a menor idéia.  Já tentei contar através do site do Skoob, mas a memória sempre me falha. Realmente não dá para dizer um número, especialmente que porque leio desde muito nova, devem ter sido centenas, com certeza.

(En)Cena – Qual é o seu estilo preferido?

Lara Franco – Eu não tenho realmente um estilo favorito, leio de tudo um pouco, desde clássicos de Machado de Assis e Shakespeare até best-sellers recentes. Sempre dou uma procurada por tramas intrigantes e assassinatos, acho que são bons exercícios para a mente tentar desvendar crimes com personagens, mas sou bem diversificada enquanto a temática do que leio.

(En)Cena – Você tem um blog, quando e por que ele surgiu? Sobre o que você escreve nele?

Lara Franco – O Rascunho com Café na verdade começou por que eu escrevia Fanfics (Fanfictions; um gênero de histórias escritas com universos já existentes, como o de Harry Potter, por exemplo, ambientada com os mesmos personagens, mas escritas pelos fãs da série, ou banda, ou filme ou livro) para um site, que depois de um tempo exigiu que a categoria para que eu escrevia fosse excluída.

Sem um espaço interessante para escrever e um pouco cansada do gênero que eu já escrevia, conversei com uma amiga virtual de Manaus e sugeri um blog para que escrevêssemos nossas histórias em nosso próprio ambiente. Com a ideia do blog, juntei um grupo de amigas autoras e em março fizemos nossa estreia. Por falta de tempo, cada uma de nós posta semanalmente, cada uma em um dia da semana, além das nossas histórias originais, também escrevemos crônicas, resenhas de curtas e livros entre outras produções. O Rascunho com Café é como um baú de ideias coletivo, e talvez por isso eu tenha tanto carinho por ele.

Blog Rascunho com Café

(En)Cena – Você cursa Jornalismo, no que pretende trabalhar depois de formada?

Lara Franco – Eu gosto muito da área de assessoria de comunicação, a qual eu já exerço por meio de estágio. Mas, eu ainda quero cursar Letras ou encontrar uma pós graduação que entre um pouco nessa área. Pretendo conciliar os dois cursos futuramente, mas por ora, pretendo atuar em assessoria.

(En)Cena – Tem planos para escrever um livro?

Lara Franco – Siiim! Há anos que estou tentando arduamente ao menos dar o fim em um. Escrever ao menos um livro é um sonho enraizado, acho que eu já nutria desde a minha redação de quatro páginas. Desde que escrevo fanfics que tenho aprimorado minha escrita e buscado novas ideias para escrever, apesar do processo criativo ser árduo, especialmente se combinado com jornadas acadêmicas e de trabalho, este sonho eu carrego comigo para sempre, e tenho me esforçado para escrever algo diferente e bom o suficiente para publicar, mesmo que de forma independente.

(En)Cena – A leitura possibilita viajar sem sair do lugar, algum livro já fez você querer muito conhecer algum local, cidade ou país?

Lara Franco – Sim, o livro “Anjos e Demônios”, de Dan Brown, foi sem dúvidas o livro que mais me deu vontade de conhecer um lugar. Ambientado em Roma e no Vaticano, “Anjos e Demônios” descreve tão gloriosamente cada lugar, que a cada capítulo eu abria o Google só para sonhar com a tal cidade.

(En)Cena – Já ganhou algum prêmio de melhor redação ou destaque de leitura?

Lara Franco – Sim, a escola em que eu estudei o ensino fundamental dava prêmios de Leitores Destaque a cada mês, ganhei várias vezes, acho até que li a pequena biblioteca da escola quase inteira. Até hoje ainda nutro certa nostalgia e carinho por livros da coleção Vagalume, Olho no lance e Para Gostar de Ler que me jogaram de vez nesse universo das palavras.

(En)Cena – Muitas pessoas criticam as obras de sucesso Harry Potter, Jogos Vorazes e Crepúsculo. Como você avalia esse tipo de leitura?

Lara Franco – Não tenho nada contra Best Sellers, o fato de serem uma leitura mais juvenil e terem feito muito sucesso já cria uma porção de “haters” que odeiam apenas pelo simples fato dos livros serem juvenis e famosos, ou por tentarem serem ultra cult. Ainda há muito preconceito literário e as pessoas fazem muito juízo de valor com os Best Sellers. É claro que nem todos são bons, mas muitos têm seus motivos por terem feito tanto sucesso, como é o caso de Harry Potter, que tem uma legião de fãs furiosos mesmo anos após o término da série. Eu acho que qualquer leitura é bem vinda, cada um lê o que gosta, não cabe a ninguém julgar se o que leio é fútil, infantil, velho ou obsoleto. O importante mesmo é ler e aquilo te proporcionar uma boa experiência.

(En)Cena – Em que você acha que esses livros ajudam ou prejudicam na formação do leitor?

Lara Franco – Ajudam em coisas óbvias, como vocabulário e escrita, mas também são grandes remédios para a memória, amenizam o estresse, sem contar são ótimas fontes de conhecimento, e isso nunca é demais. O único problema que vejo na leitura, é que, se excessiva, ela pode atrapalhar em coisas como trabalho, estudo (se o livro não tiver nada a ver com a matéria), pelo fato de tomaram demais a atenção de quem lê. Mas esses são males fáceis de curar.

Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena – Se alguém te pedisse para indicar um livro que a tornasse mais feliz, que livro recomendaria?

Lara Franco – Eu indicaria o livro “Eu sou o Mensageiro”, de Markus Zusak. Creio que esse seja meu livro favorito e que li mais vezes. Além de ser super engraçado, o personagem é tão humano e defeituoso quanto a maioria de nós, isso nos ganha logo no primeiro capítulo. Apesar de soar meio superficial, no decorrer da trama o livro se mostra extremamente consistente, o personagem engraçado mostra suas mágoas, especialmente relacionadas à família, amores e amigos, e a lição que ele traz no final é maravilhosa, perfeita para dar um gás em quem não espera muito de si mesmo.

Veja também: http://www.brasilescola.com/ferias/a-importancia-leitura.htm,http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm

Links: https://www.facebook.com/rascunhocomcafe/photos_stream (rascunho com café)

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Afinal, as ideias são “inatas” ou não passam de frutos da percepção?

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As discussões sobre a existência ou não das “ideias inatas”, ou de um conhecimento a priori que independa da experiência, sempre rendeu acalorados debates filosóficos, debates estes que vêm sendo registrados desde os pré-socráticos e que reassume posição com força total nos chamados “anos selvagens da filosofia” (SAFRANSKI, 2012), quando o racionalismo¹ passa a ser confrontado pelo empirismo², entre os séculos XVII e XIX. Neste processo, de um lado, o real é visto como algo que, no fundo, é racional; aparece então a concepção de ideia “onde a razão em nós é independente da experiência e a torna possível” (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 500).

A ideia torna-se antes de tudo uma representação que “só são visíveis (idein, em grego, significa ver) para o espírito, e tudo o que o espírito representa pode ser chamado ideia” (idem, p. 290). No entanto, vale destacar, na medida que se percebe o aspecto e a forma visível de uma dada coisa (de uma árvore, por exemplo), como ideia “concebida interiormente, como algo mesmo que existe em nosso espírito, como diria Descartes” (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 500), há aí apenas uma faceta da ideia. Desta forma,

a ideia não é apenas o que existe no ‘pensamento’, como também dizia Descartes, mas o que daí resulta, o que o pensamento produz ou elabora, que é menos seu objeto do que seu efeito. Pensar é ter ideias, mas só podemos tê-las se as produzimos ou reproduzimos – se as pensamos –, o que requer esforço ou trabalho (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 500)

 

 

Por outro lado, há a concepção de ideia como algo que só pode existir em co-participação com algo, num movimento que se aproxima do conceito de espírito de que fala Espinosa, por exemplo, o que equivaleria a dizer que só há ideia se houver, também, algo pensante. Por esta ótica, “não há ideia à parte ou em si: só há o trabalho do pensamento” (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 500). Assim, ideia que não é pensada por ninguém não seria ideia, em contraposição às assertivas platônicas. Desta forma, para os empiristas, a “razão não é um dado primeiro e absoluto: ela própria é oriunda da experiência, tanto exterior (sensações) como interior (reflexão)” (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 191).

É importante destacar, no entanto, que o empirismo combate o racionalismo em sua definição gnosiológica³, no entanto o próprio empirismo acaba por ser racionalista “no sentido amplo e normativo, e a maioria dos grandes empiristas (de Epicuro a Hume) combateram para que a razão prevalecesse, não, é claro, contra a experiência, o que ela nem pode nem deve, mas contra o obscurantismo e a barbárie” (COMTE-SPONVILLE, 2011, idem).

 

A PROBLEMATIZAÇÃO DO SENTIDO DE IDEIA

Vale observar que, de acordo com Ferrater Mora, é fácil perceber como os filósofos modernos e até mesmo os contemporâneos foram (e ainda o são) influenciados pelo arcabouço surgido em torno da “problematização do sentido de ideia”, seja para avançar nas assertivas idealistas, seja para refutar tais possibilidades. Platão e Santo Agostinho, então, acabam por ser fonte inesgotável tanto de quem os defende, quanto de quem os ataca. É importante destacar que, em Platão, há uma tentativa de “reduzir as ideias a ideias de objetos matemáticos e de certas qualidades que hoje em dia consideramos valores (bondade, beleza, etc.) […] uma ideia é tanto mais ‘ideia’ quanto mais exprima a unidade de algo que aparece como múltiplo” (MORA, 2001, p. 350). Esta visão ganha contornos ainda mais definidos entre os neoplatônicos, para quem no Uno não podia haver nenhuma pluralidade.

Santo Agostinho adotou em grande medida a doutrina neoplatônica das ideias, mas não pôde aceitar a concepção do Uno como ‘emanente’. Sendo Deus criador ex nihilo, encontra-se acima de todas as coisas, inclusive, é claro, das ideias. Mas, ao mesmo tempo, estas podem conceber-se como estando na inteligência divina. […] Como tais, são eternas. (MORA, 2001, p. 351)

Portanto, o termo “ideia” é usado pelos filósofos e teólogos cristãos num sentido bem mais amplo do que o puramente teológico. “Os escolásticos abriram o caminho para vários usos do termo. Por um lado, o uso teológico anterior. Depois, um uso ontológico […], ademais, um uso gnosiológico, segundo o qual as ideias são princípios de conhecimento” (MORA, 2001, p. 351). No último caso, a questão amplamente debatida recaiu sobre se o homem conhece “pelas ideias”, ou conhece “as próprias ideias”.

“A única coisa que se parece poder assegurar é que, embora nos filósofos modernos encontremos diversos usos de ‘ideia’, predominou aparentemente o sentido de ‘ideia’ como ‘representação (mental)’ de uma coisa”. (MORA, 2001, p. 351)

No modernismo, ainda fortemente influenciado pela filosofia cristã (apesar de, em alguma medida, tentar atacá-la), os racionalistas acabam por considerar as ideias sob duas vertentes, uma como expressão mesma dos “conceitos do espírito”, e outra “as próprias coisas enquanto vistas” (MORA, 2001, p. 352). É justo ressaltar que a partir do momento em que se opta por reconhecer o caráter subjetivo das ideias, “as posições mantidas aproximaram-se das empiristas” (idem).

Como se vê, há um longo percurso (que ainda passa por Kant e Hegel, mas que não serão abordados neste artigo), até que a “problematização do conceito de ideia” – e daí a corroboração ou refutação do sentido de “ideia inata” – se delineie nas assertivas de David Hume (1711-1776) e Edmund Gettier (1927). Afinal, elas existem ou não, para estes dois pensadores?

 

 

HUME: HÁBITO COMO GUIA PARA A VIDA

O filósofo David Hume ganhou notoriedade ao lançar uma visão cética acerca da questão do conhecimento. Diferentemente do racionalismo, que via como indubitável a existência de “ideias inatas”, Hume apresenta uma forma particular de estudar a mente dividindo-a pelos seus conteúdos [mentais]. Assim, foram observados “dois tipos de fenômenos e, depois, perguntado como eles se relacionam um com o outro” (Vários autores, 2011, p. 150). Isso ocorre, notadamente, no “Ensaio sobre o entendimento humano”, na sessão II de que trata a origem das ideias. Este dois fenômenos são as impressões (sensações, percepções diretas, paixões) e as próprias ideias, “cópias pálidas das nossas impressões, tais como pensamentos, reflexões e imaginação” (Vários autores, 2011, p. 150).

A análise resultante desta distinção, em Hume, fez com que se começasse a questionar as crenças mais estimadas, não apenas no campo da lógica e da ciência, mas sobre a natureza mesma do mundo, o que acabou por provocar, à época, uma grande inquietação.

David Hume diz que é frequente ter ideias que não podem ser sustentadas por impressões, e é daí que surge a maior parte da confusão, pois de maneira geral se confunde os dois tipos de proposições indicadas pelo escocês, que são os raciocínios demonstrativos e os prováveis, com os tipos de conhecimento que eles expressam.

O raciocínio demonstrativo é aquele cuja verdade ou falsidade é autoevidente. Tome-se, por exemplo, o enunciado 2 + 2 = 4. Negar esse raciocínio envolve uma contradição lógica. Os raciocínios lógicos demonstrativos na lógica, na matemática e no raciocínio dedutivo são conhecidos por serem verdadeiros ou falsos a priori. Por outro lado, a verdade de um raciocínio provável não é autoevidente, pois diz respeito a questões empíricas de fato (Vários autores, 2011, p. 152 – grifo meu).

Desta forma, qualquer inferência sobre o mundo, como “José Eduardo está em Brasília”, é necessariamente um raciocínio provável (não demonstrativo), já que depende de uma evidência empírica para ser considerado verdadeiro ou falso. Deste pressuposto, pode-se inferir a natureza de todos os raciocínios, se são de ordem “demonstrativa” ou “provável”, e é desta teoria que surge o chamado dilema de Hume.

 

 

INDUÇÃO

Outro aspecto interessante nas “provocações” de David Hume diz respeito à capacidade humana de inferir as coisas a partir das experiências passadas, o chamado raciocínio indutivo. Ou seja, ao “observarmos um padrão constante, inferimos que ele vai continuar no futuro, assumindo tacitamente que a natureza continuará a se comportar de maneira uniforme”. (Vários autores, 2011, p. 152). A questão é saber se existe justificação para a natureza seguir o mesmo padrão. Em Hume, “alegar que o sol nascerá amanhã não é um raciocínio demonstrativo (porque alegar o oposto não envolve contradição lógica) nem um raciocínio provável, porque não podemos experimentar já o futuro nascer do sol” (Vários autores, 2011, p. 152).

Sendo assim, levando-se em conta que não se pode observar todos os eventos de causa e efeito, por não haver base racional para isso, nasce o conceito de “natureza humana”, que nada mais é do que “um hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão causal naquilo que Hume chamou de ‘conjunção constante’ de eventos” (Vários autores, 2011, p. 152). Ou seja, por mais que o raciocínio indutivo instigue o investigador a interpretar as inferências com leis naturais (a base da ciência ou do conceito de “ideias inatas”, por exemplo), essa prática não pode ser considerada racional justamente porque esta crença não passa, no fundo, de

“uma ideia vívida relacionada ou associada com a impressão do presente, guiada pelo hábito, que está no cerne de nossas pretensões ao conhecimento, e não a razão”. (Vários autores, 2011, p. 153)

 

EDMUND GETTIER

Em Edmund Gettier, em seu famoso artigo “É a crença verdadeira justificada conhecimento?”, há alguns contraexemplos que colocam em xeque a definição tripartida de conhecimento, definição esta que influenciou o pensamento Ocidental desde a obra Teeteto, de Platão, para quem “a opinião verdadeira acompanhada de razão é conhecimento, e, desprovida de razão, a opinião está fora do conhecimento”4 . De acordo com as assertivas do americano, uma crença verdadeira justifica pode perfeitamente não ser conhecimento, uma vez que há caráter de insuficiência em sua abordagem. O conceito de “ideia inata” por evidência, nos racionalistas, sofre então outro revés.

 

Há nos contraexemplos de Gettier, no entanto, como pontua Da Costa (2011), não uma negação total do conhecimento, já que o “cético não é simplesmente aquele que duvida de tudo porque não quer crer em nada”, uma vez que “desde suas origens ainda na Grécia, buscaram não se comprometer com a dúvida universal a fim de não sucumbir à contradição intrínseca do dogmatismo negativo” (DA COSTA, 2011, p. 156). Gettier, desta forma, apresenta a “lacuna” que existe entre a definição tripartite e o conhecimento de fato, mas ao mesmo tempo – como parece ser comum no ceticismo – se preocupa para não cair na “contradição implicada na negação absoluta da possibilidade do conhecimento” (idem), sob o risco de, caso não observe tal premissa, acabe por enveredar na mesma seara do pirronismo, que defendia que

através da ideia de que a suspensão do juízo não é universal e que não representa mais do que o estado mental do cético no momento em que chega ao final da consideração das teses opostas sobre uma questão determinada. Ele [o cético] não afirma nada além de seu estado interior ao qual obedece passivamente, dada sua irresistibilidade (DA COSTA, 2011, p. 156).

Especificamente sobre a justificação, acreditava-se ser algo “sempre sólido e suficiente para garantir aquela conexão entre nossa razão e o verdadeiro que se julgava necessário para garantir o título de ‘conhecimento’ a uma opinião verdadeira”5. No entanto, Gettier mostra a falsidade dessa suposição.

Vale ressaltar, contudo, que “o cético não afirma sequer a verdade de suas conclusões, mas somente expressa sua situação suspensiva naquele momento” (DA COSTA, 2011, pág. 156), ou mesmo aponta para uma possibilidade de inconclusão em determinadas premissas, sob o risco de ser acusado, também, de dogmatismo.

O ceticismo não encara a si mesmo como uma escola filosófica. Se o fizesse, entraria no rol das doutrinas dogmáticas, ou seja, aquelas que afirmam como verdadeiras determinadas teses sobre o real e se enredaria nas discussões infindáveis entre escolas de pensamento. A tese da impossibilidade do conhecimento é autocontraditória, então nenhuma tese pode ser defendida pelo cético (DA COSTA, 2011, p. 157).

É interessante observar que não se pode confundir o ceticismo filosófico de que trata Hume e Gettier com o ceticismo científico, para se evitar que se tome “como cético todo o homem que adota para si e sobre as coisas uma postura crítica”. O cientista, ao abraçar uma atitude cética, “faz uso de metodologia específica para criticar conceitos estabelecidos ou fatos tais como se apresentam à investigação científica”.

A separação entre Ciência e Filosofia, no entanto, não é uma questão simples. O método científico, cujo fundamento bebeu de fontes primárias do pensamento universal, consideradas na Filosofia da Ciência, dizem, parece ter perdido muito com esse distanciamento. Questiona-se a divisão entre Ontologia (estudo da natureza do ser) e Epistemologia – afastando questões metafísicas das investigações – e o estabelecimento de certo cientificismo no desenvolvimento da própria Filosofia, influenciado pelo positivismo. Pensadores como Rousseau, Marx e o próprio Gramsci chegaram a mostrar que o avanço científico linear é insuficiente no auxílio à humanidade e seus problemas de toda ordem.6

COERENTISMO

O Coerentismo, cujos traços gerais defendem que “uma crença é justificada na medida em que ela é coerente com o conjunto de crenças anteriores a ela e disponível no momento de sua avaliação” (UCB – Teoria do Conhecimento7), parece apresentar-se como uma alternativa viável frente ao que poderia ser considerado como dois extremos na problemática da justificação do conhecimento, já que muitos teóricos estão divididos por um lado pelo presumido dogmatismo do Fundacionismo e, por outro lado, pelos ferrenhos adeptos do Pirronismo, para quem o ceticismo como postura crítica acaba por configurar-se, também, como dogmático, já que não apresenta uma visão de “suspensão de juízo” mas, antes, acaba por adotar uma postura de “negação” de certas proposituras.

Um aspecto interessante do Coerentismo é sua compatibilidade com o falibilismo, o que de certa forma cria um ponto de contato com o ceticismo de Hume e Gettier. Esta aproximação, no entanto, não pode se configurar em algo que justifica as questões dos dois filósofos, pois parece haver uma incompatibilidade entre o Coerentismo e o Empirismo.

Para o Coerentismo, “na ausência de pontos fixos seguros, e na falta de quaisquer indícios de onde dar início à revisão de nossas crenças, sabemos que o nosso conjunto de crenças é sempre provisório”7. É interessante destacar que, por este ponto de vista, o Coerentismo também se alinha em alguma medida – mas não completamente – com o ceticismo científico, já que “as revisões se tornarão necessárias, e a necessidade de revisão pode ocorrer em qualquer parte” (idem).

No entanto, vale destacar que ainda que caso se aceite que

A experiência é uma forma de crença, podemos continuar a insistir numa distinção entre crenças sensoriais e outras, e, assim, re-introduzir a questão da incompatibilidade entre empirismo e coerentismo, uma vez que as relações de apoio resultante dessa distinção seriam assimétricas. (UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 6, página 2)

Desta forma, há um desafio no Coerentismo, que se vê “na posição de manter que os conjuntos de crenças que não têm relação com a experiência de ninguém podem ter todas as características definidoras da coerência”7.

Mas ele só aceitaria isso se aceitasse a distinção entre crença e experiência; e esta distinção não é uma em que todas as partes estejam de acordo. Desde que sustentemos com Kant que toda a experiência é uma forma de cognição ou juízo (i.e., aquisição de crença) em vez de uma forma de sensação, podemos construir uma forma de coerentismo que não tenha complicações com o argumento. Se um coerentista requer para a justificação que todos os elementos cognitivos estejam interligados, há a possibilidade de que as crenças totalmente desligadas da experiência sensorial possam continuar a contar como justificadas, desde que consideremos a experiência como crença cognitiva. (UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 6, página 2)

 

 

Em Hume, apesar de haver a negação das “ideias inatas”, há um esforço para reconhecer que, “embora as inferências indutivas não sejam demonstráveis, isso não significa que sejam inúteis” (Vários autores, 2011, p. 153). Afinal, ainda existem as pretensões razoáveis para supor que as coisas aconteçam (como a alvorada, depois da noite), julgando a partir da experiência e da observação passada. Hume adverte, no entanto, que “antes de inferir causa e efeito entre dois acontecimentos, devemos ter evidências de que essa sucessão de acontecimentos tenha sido invariável no passado e de que há uma conexão necessária entre eles” (Vários autores, 2011, p. 153). Desta forma, o “hábito mental” deve ser aplicado com precaução.

Os contraexemplos de Gettier também contestam a definição tradicional de conhecimento (e, dentre elas, presume-se, a premissa das “ideias inatas” do racionalismo) ao não reforçar a definição tripartida, mostrando a sua insuficiência. No entanto, neste movimento, acaba por gerar uma “onda” investigativa que, ao fim, faz por reforçar o sentido de aperfeiçoamento do conceito de conhecimento (e mesmo o conceito de ideia inata), ao revisar mesmo sua dinâmica argumentativa. “Resolver o problema de Gettier passa a andar de mãos dadas com a reforma da noção de justificação”5.

 

 

Em súmula, em Hume poderia se dizer que há uma negação tácita das “ideias inatas”, enquanto que em Gettier há a suposição de que tal crença carece de sustentação adequada. Nos dois casos, explícita ou implicitamente, não existe justificativa racional para a existência de “ideias inatas”, e o Coerentismo, mesmo não se configurando como uma postura que se opõe frontalmente à visão destes dois pensadores, acaba por não se enquadrar numa forma de justificação de conhecimento, já que “o coerentista pode encontrar um espaço epistemológico promissor de investigação a partir da possibilidade de conjugação com perspectivas empíricas” (UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 6, página 4). Assim,

O falibilismo [coerentista] não é um defeito infeliz, mas uma parte essencial da empresa epistemológica, o impulso de rever continuamente em busca de uma maior coerência. (UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 6, página 1)

 

Notas:

¹ – Racionalismo pode ser abordado em dois sentidos: no sentido lato e corrente, o racionalismo exprime certa confiança na razão; é pensar que ela pode e deve compreender tudo, pelo menos de direito. No segundo sentido, o racionalismo que a doutrina que defende a razão como algo que independe a experiência, porque seria inata ou a priori, logo, é uma concepção totalmente contrária ao empirismo. (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 500)

2– Empirismo é um termo que deriva do grego e que pode ser entendido como “experiência”. Ainda assim, trata-se de uma palavra com muitos significados. Não obstante, se destacam dois (significados): a existência como informação proporcionada pelos órgãos dos sentidos, e a experiência como o que depois viria a ser chamada de “vivência”, isto é, o conjunto de sentimentos, afetos, emoções, etc., que um indivíduo humano experimenta e que se vão acumulando em sua memória, de modo que aquele que dispõe de uma boa dose desses sentimentos, emoções, etc. é considerado “uma pessoa com experiência” (MORA, 2001, p. 205).

³- Teoria geral do conhecimento humano, voltada para uma reflexão em torno da origem, natureza e limites do ato cognitivo, freq. apontando suas distorções e condicionamentos subjetivos, em um ponto de vista tendente ao idealismo, ou sua precisão e veracidade objetivas, em uma perspectiva realista; gnosiologia, teoria do conhecimento cf. epistemologia. Disponível em Dicionário Houaiss <http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=gnosiologia > acessado em 19/04/2014.

4– Parte do diálogo platônico “Teeteto” – tradução de Carlos Alberto Nunes. Disponível emhttp://www.cfh.ufsc.br/~wfil/teeteto.pdf – Acessado em 16/04/2014.

5– UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 3, disponível com senha emhttp://moodle2.catolicavirtual.br/course/view.php?id=21652 – acessado em 19/04/2014.

6 – Trecho da matéria “A evolução do pensamento Cético”, publicada na Revista Filosofia Ciência & Vida – Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/22/imprime87204.asp – Acesso em 21/01/2014.

7– UCB Virtual – Disciplina de Teoria do Conhecimento – aula 6, página 1, disponível com senha em http://moodle2.catolicavirtual.br/course/view.php?id=21652 – acessado em 02/06/2014.

Referências:

COMTE-SPONVILLE, André.Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

O Livro da Filosofia (Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011.

Ensaios Sobre o Ceticismo/ [organizados por SMITH, PLINIO JUNQUEIRA; SILVA FILHO, WALDOMIRO J.]. – São Paulo: Alameda, 2007.

PIVA, Paulo Jonas de Lima. A evolução do pensamento Cético – artigo publicado na Revista Filosofia Ciência & Vida – Disponível emhttp://portalcienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/22/imprime87204.asp – Acessado em 21/01/2014.

SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia; tradução William Lagos. — São Paulo: Geração Editorial, 2012.

HUME, David. Ensaio sobre o entendimento humano. Material disponível com senha emhttp://moodle2.catolicavirtual.br/pluginfile.php/677868/mod_resource/content/1/Ensaio_sobre_o_entendimento_humano_HUME.pdf– Acessado em 18/04/2014.

GETTIER, Edmund. É a Crença Verdadeira Justificada Conhecimento?. Material disponível emhttp://criticanarede.com/epi_gettier.html  – Acessado em 20/03/2014.

DA COSTA, Rogério Soares.  O Problema de Gettier e o Ceticismo (tese como requisito de doutoramente, publicado em 2011, na PUC-RIO). Disponível emhttp://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/17904/17904_1.PDF – Acessado em 15/04/2014.

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