Livro retrata histórias divertidas e sensíveis que vão do ódio ao amor na fase da menopausa

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Autora Leila Rodrigues compartilha com o leitor sobre como reagiu aos inúmeros sintomas dessa etapa que é pouco difundida.

A menopausa é a soma de duas palavras gregas que significam mês e fim. Depois de passar por um período de altos e baixos, a autora nascida no interior de Minas Gerais, Leila Rodrigues, decidiu compartilhar sobre este assunto pouco difundido: a menopausa e o climatério. Assim, por meio de crônicas, nasceu o livro Hormônios, me ouçam!, publicado pela Literare Books International.

O caso de amor e ódio que viveu durante oito anos com sintomas de enxaqueca, insônia, ganho de peso, calorão, “chororô”, e mau-humor, entre outros, fez Leila perceber que ninguém nos prepara para essa surpresa da vida, e que teve por si só entrar nesse mundo desconhecido e silencioso.

Na obra, aponta-se que 35% das mulheres têm vergonha de falar que estão na menopausa. Esse foi um dos fatores que fizeram com que a autora não só vivesse essa metamorfose, mas mergulhasse no mundo das palavras. Leila também explica a diferença entre dois termos: o climatério significa período crítico e abrange a partir do começo dos sintomas ao término definitivo. Enquanto a menopausa é classificada 12 meses após o cessar permanente da menstruação.

Fonte: encurtador.com.br/fCV27

Com essa bagagem de experiência de quem viveu na pele, a autora conta de maneira bem-humorada tudo o que sentiu, são crônicas para o leitor rir e se identificar, além de se informar sobre um universo que não deveria ser confidencial.

Em um dos capítulos, ressalta-se a importância de ter uma rede de apoio para esses momentos, que vão desde a família a amigas verdadeiras. Para Leila, “envelhecer não é uma escolha, ser feliz, sim”. Por isso, a autora abraçou a causa e ajuda mulheres a pensarem que a menopausa pode, sim, ser vivida com mais autoestima e qualidade de vida.

Sobre a autora

Leila Rodrigues é palestrante, escritora e desenvolveu sua carreira como empresária no segmento de tecnologia. Partindo da sua experiência pessoal com a menopausa precoce, Leila Rodrigues se tornou uma estudiosa do assunto e fez desse tema a sua causa. Colabora, por meio de palestras e orientações nas redes sociais, para que as mulheres passem pela menopausa com mais dignidade, qualidade de vida e alegria de viver! Atua também como cronista em jornais e revistas na sua região. Nascida no interior de Minas Gerais e criada junto aos três irmãos, Leila Rodrigues carrega nas suas crônicas a simplicidade de suas raízes e a força da sua própria trajetória. É casada, mãe de dois filhos e hoje vive em Divinópolis/MG com a família.

Fonte: Arquivo Pessoal

Mais informações:
Livro: Hormônios, me ouçam!
Autora: Leila Rodrigues
Disponível na versão física e digital pelo link. 

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“Coringa”: cultura cosplay e copycat gerou o Palhaço do Crime

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Concorre com 11 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Ator, Fotografia, Figurino, Direção, Edição, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento autônoma, um arquétipo que paira sobre o tempo. Mas como produto da indústria do entretenimento, ele também reflete o espírito de cada época, do Coringa bufão de Cesar Romero nos anos 1960 psicodélicos à inteligência sinistra do Coringa de Heath Ledger. Em “Coringa” (Joker, 2019) o Príncipe Palhaço do Crime ganha uma atualização, dessa vez um “spin off”: as origens do Coringa numa Gotham City vintage, mas que pode muito bem ser o espelho da nossa época. O Coringa de Joaquim Phoenix (numa interpretação assustadora onde, mais uma vez, um ator pagou o preço psíquico para encarnar o personagem) reflete a atual onda de ódio e ressentimento articulados pela Deep Web, fóruns e chans na Internet e pelo populismo de direita. Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual dominada por um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle.

O Palhaço do Crime; O Príncipe Palhaço do Crime; O Flagelo de Gotham; Arlequim do Ódio; O Bobo do Genocídio; O Ás de Valete. Ou simplesmente “Joker” ou Coringa, supervilão criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane e que apareceu pela primeira vez em Batman #1, de abril de 1940.

De acordo com o plano inicial, o Coringa deveria ter morrido na sua primeira aparição, mas foi providencialmente poupado por uma decisão editorial, permitindo que fosse progredindo até se tornar não apenas um palhaço psicopata. Coringa tornou-se o arquétipo do psicopata: no ranking das mais populares formas-pensamento do século XX, ele é praticamente um deus.

Fonte: página oficial do filme

Numa espécie de “top of mind” das marcas dos personagens das HQs feita durante a produção de Batman do diretor Tim Burton, a pesquisa apontou que a bat insígnia ocupava a segunda colocação, logo após a imagem do sorridente rosto do Coringa – hoje o Coringa ocupa o segundo lugar no Top 100 dos vilões das HQs.

Como poderoso arquétipo ou forma-pensamento com forte energia psíquica capaz de influenciar não só as mentes como as próprias ações, o personagem acumula um histórico de estranhos efeitos nos atores que o encarnam, assim como inúmeros relatos de efeitos copycats – ataques e atiradores figurando como cosplayers assassinos na vida real – veja os links ao final.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Fonte: página oficial do filme

Coringa (Joker, 2019), do diretor Todd Phillips (Se Beber, Não Case e Escola de Idiotas), é uma incursão ao mesmo tempo vintage e realista, bem diferente das versões cinematográficas do Coringa: sem aspirações artísticas vanguardistas de Jack Nicholson, ou a inteligência cínica e sombria de Heath Ledger, ou ainda a comprometedora versão de Jared Leto, na qual o Coringa parecia mais um tipo de MC ostentação.

O logotipo retro da Warner Bros. que abre o filme indica que estamos em algum lugar entre as décadas de 1970 e 80. Os planos de câmera e a direção de arte que reconstroem a Gotham City emulam a estética do novo realismo Hollywood daqueles tempos em filmes como Taxi Driver (1976) e O Rei da Comédia (1982) – filmes protagonizados por anti-heróis perdedores em sociedades duras e violentas.

Coringa é um estudo triste, lento e caótico das origens do icônico vilão das HQs. Alguém que não é visível, anônimo numa cidade em crise econômica e imersa em sacos de lixo causada por uma greve dos serviços públicos.

Enquanto até aqui todas as histórias com o vilão o figuram como um personagem (caricato sempre em tons fortes sem muitas sutilezas), aqui Todd Phillips, ao lado do roteirista Scott Silver, estão mais interessados na composição mental, moral, emocional e física de um homem simples e esquecido e que se tornou o Coringa

Isso exigiu um tour de force do ator Joaquim Phoenix (e, como sempre, o arquétipo do Coringa cobrou-lhe o preço emocional e psíquico para encarná-lo, clique aqui): a atmosfera é sempre acinzentada e os planos de câmera sempre fechados no ator – tanto seu rosto como seu corpo são minuciosamente observados por nós, assim como sua lenta transformação no palhaço do crime.

O filme até aqui provocou críticas divididas em torno do debate de como Coringa representa temas sombrios atuais (principalmente a desigualdade e intolerância ao lado do crescimento do ressentimento e ódio), além de cadeias de cinema nos EUA proibirem a entrada de cosplayers do personagem – clique aqui.

Nesse ponto é que Coringa se torna ainda mais interessante: ficção e realidade se tocam quando o próprio Coringa figurado no filme é um produto da mídia que, afinal, não resiste a um personagem com uma boa storyline e punchline. Tirando do anonimato um perdedor que repentinamente vira um símbolo político de explosão da revolta e ressentimento, criando um gigantesco efeito copycat – aproximando-se da realidade.

Fonte: página oficial do filme

O Filme

Gotham City. Os moradores estão imersos em montes de sacos de lixo na frente de cada porta, sob um céu sempre de cor chumbo. Os tempos são difíceis: há desemprego, pobreza e falta de perspectiva. E um novo candidato a prefeito: o milionário Thomas Wayne (Brett Cullen), que apenas desperta o ressentimento outrora latente.

Alheio a tudo isso, encontramos Arthur Fleck (Joaquim Phoenix), um cara aparentemente gentil que gosta de fazer as pessoas sorrirem. Ele é um palhaço profissional com uma relação problemática com seus colegas da agência de clowns e um aspirante a comediante de stand-up.

Ele é uma das vítimas de “tempos malucos”. Ele próprio é um ex-interno de um hospital psiquiátrico vivendo à margem da sociedade tentando ter um emprego regular – sobe escadarias sem fim, passa por corredores mofados em uma vida de cortiços sombrios, caixas de correios vazias e elevadores quebrados.

Ele é espancado, zombado e abusado. Não se envolve com o mundo. A vida cotidiana para ele é difícil, pois as regras e os códigos que estruturam a sociedade permanecem desconhecidas para Arthur. Sua condição é de alienação, em grande parte devido a uma condição mental que causa risadas incontroláveis (geralmente nas piores situações) enquanto os olhos estão cheios de dor e tristeza.

“Só não quero mais me sentir tão mal”, sussurra Arthur para a assistente social que o acompanha: ele quer mais remédios, além dos sete prescritos. Logo mais não terá nenhum, com a política de austeridade da prefeitura que está cortando todos os serviços sociais.

É um sistema que agora não tem mais tempo ou recursos para gente como ele. Isso será simplesmente o início da descida do caminho para encontrar o Coringa dentro de si mesmo.

Fonte: página oficial do filme

Mas tudo muda quando, com muita relutância, aceita um revólver de um companheiro de trabalho para se proteger dos assédios de um palhaço que trabalha nas ruas. Em um metrô barulhento, sujo e pichado de grafites pela primeira vez Arthur revida e atira em três jovens yuppies grosseiros de Wall Street – depois do assédio malsucedido em uma mulher, resolvem descontar sua raiva no pobre palhaço.

Após essa primeira explosão de violência brutal, Arthur adquire autoconfiança. Seus movimentos se tornam elegantes, seu corpo magro e arqueado agora é ágil, gracioso. As mortes no metrô ganham as manchetes na TV, desencadeando um gigantesco efeito copycat: centenas de pessoas saem às ruas com máscaras de palhaço para se levantar contra os ricos.

Não era o tipo de reação que Arthur queria… mas é uma reação e ele aceita. Afinal, faz ele saber que existe e que suas ações significam algo para alguém. Cria-se então um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle – manifestantes nas ruas usam a máscara do palhaço, incitando Arthur a dar continuidade a sua nova persona. Aos poucos, Arthur descobre que o seu talento não é o humor, mas a expressão da raiva multiplicada.

No final, humor e explosão da raiva e violência são a mesma coisa: é tudo uma questão de timing.

Fonte: página oficial do filme

O Coringa do nosso tempo

Arthur sonha em sair do anonimato de humilhações da vida de um zé-ninguém, até descobrir que o talk show de Murray Flanklin (Robert de Niro, numa perfeita alusão aos filmes Rei da Comédia e Taxi Driver) apenas o convidou para mais uma vez ser humilhado – um vídeo de um show de stand up bizarramente sem graça de Arthur foi o motivo da produção convida-lo.

O Coringa desse filme definitivamente tem algo a dizer sobre o nosso tempo. O Coringa de Christopher Nolan em O Cavaleiro das Trevas era uma agente do caos que queria provar que no final as pessoas são terríveis e cruéis e escondem tudo isso com hipocrisia. Mas Nolan mostrou que Gotham se recusava à explosão de uns contra os outros.

Mas em Coringa temos o contrário: Arthur é perturbado e violento e todo mundo ao redor dele é cínico e paranoico. Os ricos e as estrelas da mídia são terríveis e as pessoas comuns ainda piores – uma multidão de saqueadores, assassinos que está apenas em busca de um pretexto para entrar na selvageria.

Fonte: página oficial do filme

Cada Coringa refletiu o espírito da sua época: o Coringa de Cesar Romero da década de 1960 era um bufão engraçado e sintonizado com a psicodelia da era hippie. O Coringa de Jack Nicholson aspirava ser um vanguardista que transformava o crime em arte – releitura de Tim Burton associada à estética dark de seus filmes. O coringa de Heath Ledger era cerebral e adulto. Ao contrário de Jared Leto, sintonizado com a cultura jovem contemporânea.

E o Coringa de Joaquim Phoenix reflete a atual onda de ódio e ressentimento bem sucedidamente articulados tanto pelo populismo de direita internacional quanto pela Deep Web, fóruns e chans na Internet: “Incels” (Celibatários Involuntários), “Hominis Sanctus”, PUA (Pick-up Artists), formas violentas de socialização masculina (macho alpha etc.) e uma variedade de pseudociências e conspirações LGBTs e feministas contra os homens.

O príncipe do Crime de Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual – uma máscara ou persona (assim como foi o efeito copycat da máscara do Anonymous nas manifestações de rua) que empodera o ressentimento de uma massa de excluídos da globalização. Só que levados a autodestruição e anomia, bem ao gosto da atual extrema-direita, a “alt-right”.

Se Nolan ainda buscava um fio de resistência humanista em Gothan City contra a pegadinha macabra do Coringa, aqui a dupla Todd Phillips e Scott Silver joga literalmente o Coringa nos braços das massas que reconhecem nele sua própria crueldade e selvageria.

O resultado do filme Coringa é a resposta do porquê o sombrio supervilão bufão é tão fascinante e sedutor quanto Batman: ambos são movidos pelo ódio e ressentimento, porém com os sinais trocados.

FICHA TÉCNICA:

CORINGA

Título original: Joker
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquim Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy;
Ano: 2019
País: EUA, Canadá
Gênero: Drama/Suspense

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Relação com o trabalho é tema de discussão

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Nessa sexta-feira (17), ocorreu nas dependências do Ceulp/Ulbra, o evento “Trabalho, uma relação de amor e ódio”. Facilitada pelo Prof. Esp. Sonielson Luciano de Sousa, a discussão buscou elucidar a relação dualista no âmbito do trabalho, que se dá principalmente pelo prisma do ódio, uma vez que o trabalho pode ser considerado uma forma de opressão. A turma de Psicologia do Trabalho, ministrada pela Prof. Me. Thaís Monteiro; e os alunos das disciplinas ministradas por Sonielson, puderam compreender o panorama histórico que influenciou a formação das relações de trabalho atuais.

Para Sonielson é possível ter uma relação de amor com o trabalho: “Nós temos que fazer uma leitura do que nós queremos ser, e construir um propósito. É a única maneira de ter uma relação de amor com o trabalho. Você tem que entender o que você quer […] então a dica que eu dou é basicamente essa, nós temos que entender a nossa natureza, quais as nossas aptidões. […] Tendo essa consciência, você muito provavelmente não vai chegar a uma situação de adoecimento, porque você já vai ganhando estruturas de contraposição, já vai entendendo suas experiências, observando também outras esferas que você tem que nutrir, você não vai entrar completamente cego no processo”, pontua.

Sonielson Luciano de Sousa é filósofo (UCB), mestrando em Comunicação e Sociedade (UFT), pós-graduado em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias; bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra); e sócio-fundador do jornal e site O GIRASSOL (desde 1999). Atualmente é professor universitário no Ceulp/Ulbra nas disciplinas de Filosofia, Antropologia, e Sociedade e Contemporaneidade.

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Produtos da Civilização: Um Neonazista Opressor analisado pelo Judeu Oprimido?

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Fazendo uso dos conhecimentos possibilitados por Freud, em “O Mal-Estar na Civilização”, como a impossibilidade de se amar incondicionalmente o próximo e a produção de sofrimento causada pelo processo civilizatório para que possamos viver em harmonia, realizei um trabalho cuja proposta foi analisar a dinâmica social colocada sob os dois personagens principais do longa-metragem “Um Skinhead no Divã” e possibilitar um olhar mais critico acerca daquilo que chamamos de “civilização”.

“Um Skinhead no Divã” é uma produção Sueca de 1993, quinto filme da Diretora Suzane Osten, que apresenta dois indivíduos, frutos de uma mesma civilização, porém, antagônicos. De um lado encontramos Soren, um jovem Neonazista, um skinhead; e do outro Jacob, um psiquiatra judeu que se dispõe a ajudar o primeiro com as suas questões, rumo ao melhor entendimento de sua vida psíquica.

Tudo se inicia com o encontro desses dois personagens em um trem, local no qual o psiquiatra vem a cuidar de alguns ferimentos do neonazista e a convida-lo para ir a seu consultório. Esse filme diz muito da sociedade nazista e dos indivíduos os quais ela produziu, sejam os agressores ou os agredidos, trazendo um pouco acerca de um processo de (não) civilização que se fez presente e causou atrito entre dois grandes grupos culturais.

Existe ódio na relação que foi estabelecida, como não o poderia? Um se torna igual a um violento grupo que odeia os supostos diferentes e o outro é o “diferente”. Toda essa trama de ódio pode ser problematizada a partir da Obra de Sigmund Freud, “O Mal-Estar na Civilização”, a qual nos fornece ferramentas para compreender melhor de onde surge tanto ódio e por que ele é descarregado de forma tão hostil e até mesmo elucidar por que o outro, diferente de mim, merece meu ódio e não o meu amor.

Pode-se inferir, segundo Freud, que a civilização tenta frear a grande descarga de ódio direcionada no outro, isso para que seja possível estabelecer alguma ordem entre os humanos, para que seja possível as pessoas se unirem e viverem juntas, dentro de uma organização social estável. Mas esse ódio não desaparece, ele precisa ser direcionado para algo/alguém, a solução é desferir o ódio contra si mesmo, assim nasce a grande instância do Super-eu que vem a lhe vigiar e a lhe causar sensações de culpa, não apenas por infligir regras sociais, mas por meramente pensar em infringi-las.

Soren aparenta se sentir culpado por descarregar tanto ódio no meio externo, no outro, mas acaba por sofrer ao realizar o caminho inverso. O terapeuta vem para ajuda-lo a compreender a organização social a qual ele se insere e a mostrar que ele, e o seu grupo, não são tão diferentes quanto parece.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

UM SKINHEAD NO DIVÃ

Diretor: Suzanne Osten
Elenco: Etienne Glaser; Simon Norrthon; Anna-Yrsa Falenius e outros.
País: Suécia
Ano: 1993
Classificação: 16

 

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Brasil à flor da pele: A cordialidade do brasileiro e o paradoxo entre amor e ódio

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Foto: Reprodução

O povo brasileiro é cordial, sempre escutei isso desde que me conheço por gente. Haja vista que as características que descrevem os brasileiros são: simpáticos, acolhedores, alegres, festeiros. A copa do mundo do Brasil foi um exemplo disso e é o que a maioria dos estrangeiros fala a respeito dos brasileiros quando visitam o país.

Mas esta cordialidade não revela, de fato, a verdade, a intenção e o pensamento por de trás da imagem transmitida. Cordialidade que serve, muitas vezes, de fachada, assim como afirma o sociólogo Antônio Cândido, “O homem cordial não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva”.

Sergio Buarque de Holanda, um dos grandes historiadores deste país, nos revela o mito do homem cordial, descrito em “Raízes do Brasil”, livro de 1936. Cordial vem de coração, referente ou próprio do coração. Implica dizer que o brasileiro é um povo generoso, de coração, a ideia recorrente e desgastada de que possuímos o “coração de mãe”, sempre cabe mais um. Amamos de coração, o que dá intencionalidade e intensidade, mas igualmente, odiamos de coração. Somos cordiais também quando odiamos.

Mas reconhecer que odiamos é difícil porque não aceitamos este sentimento, ou melhor, reconhecemos o ódio, mas não reconhecemos em nós. Falar de ódio é mais cômodo quando atribuído ao outro. O professor e historiador Leandro Karnal define bem este pensamento quando diz que algumas pessoas parecem “ilhas de pureza e inocência” cercadas de ódio por todos os lados. Karnal fala do pacifismo do brasileiro, o que seria constituinte da nossa civilidade, ou a ideia que fazemos dela.

Este conceito de civilidade é efêmero, pois, cria um cenário fantasioso de que nossas famílias, nossa cidade é onde reside a civilidade e que a barbárie está fora dela. Uma falácia. Vivemos este mito do homem cordial e não nos damos conta que originamos, cultivamos e perpetuamos este ódio.

O Brasil, país que se revela cada vez mais reacionário através de seu povo e dá inúmeros exemplos para sustentar esta triste realidade. As eleições de 2014 é o exemplo mais recente. As pessoas discutem e manifestam suas opiniões partidárias, se esforçando com inúmeros argumentos, formulam teorias, desde as mais simplórias, denunciando falta de conhecimento sobre aquilo que defendem até mesmo teorias conspiratórias, embasadas no medo e possivelmente, na mesma falta de conhecimento.

Muitos são ponderados, demonstrando preocupação com o rumo do país e fomentando boas e saudáveis discussões. Infelizmente o que tem acontecido nas redes sociais são uma verdadeira segregação e a manifestação explícita do ódio. Um binarismo entre bem e mal, pobres e ricos, Norte e Nordeste contra Sudeste e Sul.

Visões deturpadas e violentas do outro que não deve ser entendido como rival ou inimigo, mas que deve ter sua opinião preservada e respeitada. Ter uma opinião diferente da sua não deveria ser ameaçador. Se for, talvez o problema esteja em você, afinal a diferença é agregadora e não segregadora e é você que não sustenta esta diferença por limitações suas.

Somos uma sociedade de pessoas que se esforçam para ser simpáticos, mas não empáticos. Retórica enfatizada por Karnal. O amor e ódio, que andam lado a lado, é a representação clara da dualidade emocional e que sustenta nossa contradição. Escutamos a opinião do outro, mas às costas dele, criticamos e detestamos o que acabamos de escutar. Uma raiva que surge por não concordar comigo e cresce até virar ódio, mas que está sempre nele e não em mim. Freud explica. É a morte na própria vaidade e no narcisismo descontrolado.

Este outro deveria ser diferente e como tal, ser respeitado por isso. O que acontece é que a intolerância à diferença é traduzida na necessidade doentia de tornar o outro igual, desqualificando suas opiniões e diminuindo-o como ser humano. Expressar a própria opinião e ter um posicionamento diferente do outro é recriminada como algo errado. Eu não posso ser eu, tenho que ser o outro senão sou retalhado, ao passo que é a diferença do outro que cria reflexo em nós e favorece o autoconhecimento.

Depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff, as redes sociais foram bombardeadas com insultos, comentários racistas e xenófobos contra os nordestinos. Uma confusão entre preconceito e ressentimento social com liberdade de expressão. Mas o ódio é tão contundente que leva as pessoas, facilmente, a mostrar o que elas possuem de pior.

A necessidade de se encontrar os “bodes expiatórios”, termo da bíblia judaica, explica que no dia da expiação, dia do perdão, o bode era um animal levado aos templos para que a ele todas as mazelas e pecados da sociedade fossem atribuídas e depois sacrificado, abandonado ao deserto para ser morto. Reproduzimos, inconsciente e conscientemente, este movimento de encontrar “bodes expiatórios” para depositar nossas angústias.

O ódio cria unidade e agrupa as pessoas, pois é difícil amar, embora nos esforcemos, mas odiar é prazeroso, mesmo que sádico. Somos diferentes, mas se temos a quem odiar, nos tornamos irmãos, como bem evidencia o historiador Leandro Karnal.

A derrota do outro é mais saborosa do que a minha vitória, dialética reproduzida com maestria nas relações interpessoais. Fazer o bem e amar é me enfraquecer diante do outro. Requer sacrifício, gratidão e retribuição, logo, me sentir humilhado por isso. É insuportável a sensação de sentir-se diminuído diante do outro. Já o ódio não, ele dá motivos para me vingar, me torna poderoso e mais forte do que o outro, talvez por isso, aconselhado a comer cru, para melhor degustação.

François de La Rochefoucauld, aristocrata e moralista francês nos brinda com uma frase: “Nada é tão contagioso como o exemplo”. De fato, muitos que expressam seu ódio nas redes sociais se fortalecem à medida que ganham seguidores. Querem ser exemplos e enaltecidos como tal, na eloquência de pensamentos enfadonhos e na efervescência de seu desequilíbrio emocional, contagiando seus cúmplices com o pior que eles tem a oferecer. Talvez, de fato, não exista amor no Brasil.

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