‘Buscando…’ e a importância do vínculo paternal

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De agora em diante, apenas me diga o que você precisa. (David Kim)

‘Buscando…’ é um filme dos gêneros suspense e drama, que apesar do nome e do tema não trazerem a conexão necessária para a obra se consagrar, certamente é um dos melhores filmes de 2018. Ele nos surpreende do começo ao fim, pois a sacada do trabalho é como ele foi produzido. A história toda é contada pelo panorama das tecnologias, de modo literal, as cenas não são filmadas de modo convencional. De início isso impacta ou confunde o telespectador, pois não estamos habituados a assistir filmes pelo ângulo de câmeras de celular, web cam’s, imagens de buscas do próprio Google, Facebook, Gmail, Messenger, Skype e Facetime. Vemos vídeos caseiros da família Kim, históricos de busca, Internet Banking, toda a vida dos personagens contadas pela ótica tecnológica. Mesclando elementos da vida real e metafórica de como deixamos toda nossa vida registrada e a mercê dos males da internet. ‘Buscando’… se aproxima de temas tratados em episódios de Black Mirror, série da Netflix que trata sobre as diferentes relações da sociedade com as telas de LED, que representam tecnologia

O enredo do filme começa quando David Kim (John Cho), um homem viúvo e solitário, percebe que sua única filha, Margot Kim (Debra Messing) uma adolescente que estudava longe de casa, não volta para o lar, depois de avisar que estaria estudando na casa de uma colega de escola. Não acreditando que sua filha tenha de fato desaparecido, David embarca em uma jornada cheio de infelicidades e desencontros, consequências da complicada comunicação contemporânea. Precisando lidar com seus sentimentos de impotência por ter deixado sua filha se afastar após a morte de sua esposa, o protagonista encarar os maiores medos de um pai, deixar de acreditar até o fim em sua filha, aceitar que não sabia nada sobre ela e concordar em sua morte.

Fonte: encurtador.com.br/kJX23

Criando um parâmetro entre a narrativa o vínculo paternal de David Kim com sua filha, podemos perceber que os laços parentais não são definidos apenas pela hereditariedade, eles são em sua maioria construídos ao longo dos anos, pelo cotidiano, através dos cuidados, carinho, proteção e afeto. É indispensável que um pai zele pela segurança e afeto de um filho, pois isso é um fator primordial para que a criança seja de alguma forma bem-sucedida na vida. David era um pai presente, amoroso e protetor, porém depois da morte de sua esposa, ele tenta dar mais espaço a menina, permitir mais autonomia na vida dela.

É reconhecido como importante o papel do pai no desenvolvimento da criança e a interação entre pai e filho é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade (BENCZIK,2011). Assim, David esperava que depois de um tempo o luto de Margot ia ser amenizado, ele se sentia culpado por não oferecer mais espaço a sua filha, mas deixava que o tempo resolvesse os problemas.

Por sua vez, Margot se afasta do pai, dos amigos, da música de tudo que dizia respeito a mãe. Até que um dia a garota desaparece e ele tem que correr contra o tempo para se provar mais que um pai e salvar a vida dela.

Esse vínculo de pai e filha é algo importante na vida de todos, embora isso não ocorra constantemente, é significativo na vida de uma pessoa ter alguém que se importe e faça chuva, faça sol, ele estará sempre lá para lhe apoiar. Isso é o acontece em toda trama do começo ao fim. Um pai desesperado pelo sumiço da filha, vasculha toda a vida dela, procura amigos, conhecidos, nas redes sociais. Utiliza-se de forma primordial os recursos tecnológicos, ajuda a polícia e até se arrisca na mídia, sendo considerado um pai negligente, tudo para encontrar sua menina.

Ficha Técnica

BUSCANDO…

Título Original: Searching
Direção: Aneesh Chaganty
Elenco:  ‎John Cho‎, ‎Debra Messing
Ano: 2018
País: Estados Unidos da América
Gênero: Drama Mistério Thriller

 

Referência

BENZICK, E. B. P. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. psicopedag. vol.28 no.85 São Paulo  2011.

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“Marca de nascença”: somos resultado do meio?

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 “Eles dedicaram suas carreiras ao tentar provar o poder da criação sobre a natureza para finalmente esclarecer a eterna dúvida: poderíamos ter sido pessoas diferentes de quem somos?”

-Narrativa do filme

“Marca de nascença”, filme lançado em 2018, dirigido por Emanuel Hoss-Desmarais, aborda de forma cômica e intensa a “disputa” que permeia pesquisadores há anos: nossa personalidade é resultado da herança genética ou contexto sociocultural? John Watson, psicólogo estadunidense conhecido como pai do Behaviorismo metodológico, realizou em 1922 o Experimento do pequeno Albert, que condicionou a criança a ter medo de rato branco ao correlacionar ele com barulho alto. A partir desse princípio, o casal tenta contrariar a genética, mas de forma muito maior e utilizando métodos positivos.

Ben e Catherine são um casal de cientistas, ambos descendentes de uma longa linhagem de estudiosos, interpretados por Matthew Goode e Toni Collette. Afim de contribuir para o progresso da humanidade e se tornarem renomados, eles propõem um experimento que utilizará 3 bebês: Maya (Megan O’Kelly), vinda de uma família considerada intelectualmente inferior, pretendem transformá-la em um gênio. Maurice (Anton Gillis-Adelman) será criado para ser pacifista, já que seus ascendentes são violentos e agressivos. Luke (Jordan Poole), o único filho biológico, diferente dos seus pais cientistas, será moldado para ser um artista.

Fonte: https://bit.ly/2SzW4WV

“Todo mundo tem potencial para ser o que quiser, ninguém é prisioneiro de sua herança genética.”

– Ben Morin (Narrativa do filme)

Estudando as influências dos fatores diversos no nosso modo de ser, eles preparam um ambiente propício para desenvolver as características individuais de cada criança, por exemplo: Dieta rica em ômega 3 para a memória, tardes e noites de estudo, meditação todos os dias, expressar emoções em sua arte e quartos personalizados, nutrindo a mente para se tornar o que eles quiserem.

De acordo com John Locke, todas as pessoas nascem como uma tábula rasa, ou seja, uma “folha em branco” onde a sociedade “inscreve” suas regras e costumes, formando o ser. Então se uma pessoa ao nascer for colocada em um lugar diferente do seu lugar de origem, será outra pessoa devido às diferenças socioculturais, mudando a si próprio e sua visão de mundo.

Fonte: https://bit.ly/2LNkvNO

“Os doutores usaram os filhos como um chefe usa o ovo, um ingrediente para algo maior, os ovos foram batidos durante 12 excruciantes anos, numa tentativa de fazer a omelete definitiva.”

-Narrativa do filme

No filme, o ciclo social das crianças é restrito, contendo apenas os pais e um cuidador, então chega um momento que as crianças querem socializar com outras crianças. Elas também não entendem o porquê de tantas restrições, surgindo assim o primeiro confronto do filme. Ademais, o patrocinador do projeto pressiona o casal de cientistas à obterem respostas já que o que foi registrado em 12 anos não seria considerado nada surpreendente e revolucionário pela ciência, com risco de ainda serem acusados por falta de ética ao usarem os próprios filhos.

Além de tentar sobrepor o contexto sociocultural à herança genética, apresentar questões éticas sobre um experimento científico usando seres humanos e da rotina deles girar em torno desse experimento científico (o que você pode considerar um horror), é um lar repleto de amor e diversão, o que deixa o filme leve e divertido a quem assiste.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BIRTHMARKED

Título original: Marca de nascença
Direção:
 Emanuel Hoss-Desmarais
Elenco: Matthew Goode, Toni Collette, Megan O’Kelly, Anton Gillis-Adelman, Jordan Poole
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Comédia

Referências:

BIRTHMARKED. Direção: Emanuel Hoss-Desmarais, Produção: Pierre Even, 2018.

Comportamento humano – interação entre genes e ambiente. Disponível em <: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100007 >. Acesso em 23/12/2018.

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Afeto: potencial minimizador de suicídio

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Quando se quer entender as causas que levam a pessoa a cometer suicídio, é necessário analisar o estado emocional em que o indivíduo se encontrava antes de praticar tal ato. Ao analisar a pessoa, conseguimos identificar alguns aspectos que podem ter levado ao suicídio como: a solidão, a baixa autoestima e a não aceitação nos padrões da sociedade. A maioria desses aspectos é silencioso – nos quais serão abordados com mais ênfase ao longo do trabalho, juntamente com outros fatores que desencadeiam o suicídio. Quem está em volta só percebe quando tem um contato próximo com a vítima. O silêncio só ocorre no meio externo, internamente a pessoa está com pensamentos constantes e doentios, que muitas vezes levam a fazer o ato.

Segundo Émile Durkheim (1897, p. 360): “A tristeza não é inerente às coisas; ela não nos vem do mundo e pelo simples fato de o pensarmos. Ela é o produto de nosso próprio pensamento. Somos nós que a criamos integralmente, mas para isso é preciso que nosso pensamento seja anormal.” A solidão é um dos males que tem feito muitas pessoas desistirem de viver. A falta do afeto, dos amigos e da própria família leva muitos a tirarem suas vidas, para se livrarem do isolamento de alguma forma. Estas pessoas muitas vezes não estão só, elas podem estar rodeadas de amigos e parentes, entretanto, mesmo assim se sentem só e isoladas interiormente. Esse afastamento, sistematicamente nem notado, causa um estado de profunda tristeza, pois a pessoa só consegue enxergar seu estado de miséria. Durkheim explica esse estado de isolamento no seu livro O Suicídio (1897, p.358):

Quando, portanto, a consciência se individualiza além de um certo ponto, quando se separa muito radicalmente dos outros seres, homens ou coisas, ela já não se comunica com as próprias fontes em que normalmente deveriam se alimentar e não tem nada a mais que possa se aplicar. Produzindo o vazio em torno dela, produziu o vazio em si mesma e nada mais lhe resta sobre o que refletir a não ser sua própria miséria.

A solidão faz com que a pessoa viva um vazio intenso, além disso, ela ainda sofre com os padrões da sociedade, que muitas vezes são inalcançáveis, gerando nela uma baixa autoestima. Os indivíduos vivem fundamentados em diversos padrões, muitas vezes nem percebidos, a maioria da população não consegue seguir essas exigências, mas por causa da grande influência da mídia, a maioria acredita ser essencial buscar viver guiado por esses aspectos, nos quais as guiam de uma forma sutil. Essas exigências, que são muitas vezes não são alcançadas, provocam nas pessoas um sentimento de fracasso, gerando consequentemente uma baixa autoestima.

Fonte: http://zip.net/bntLwL

Como afirma Durkheim (1897, p. 322): “[…] Mas então suas próprias exigências tornam impossível satisfazê-las. As ambições superexcitadas vão sempre além dos resultados obtidos, sejam eles quais forem, pois elas não são advertidas de que não devem avançar mais. Nada as contenta, portanto, e toda essa agitação alimenta a si mesma, perpetuamente, sem conseguir saciar-se […]”.

Em toda e qualquer idade se vê o sofrimento por causa disso, porque para a maioria das pessoas o sentir-se bem significa ser aceito na comunidade, e a não aceitação gera um mal-estar. Qual seria a forma para diminuir a solidão, e estabilizar a autoestima das pessoas, sendo que a maioria sofre de alguma forma com esses aspectos, uns mais e outros menos? A resposta seria: O afeto. Porque através dele o indivíduo consegue se sentir acolhido, mais amparado, amado e aceito, gerando assim laços fortes que ajudam a diminuir esse mal estar que leva ao suicídio.

A importância da Sociedade na Minimização do Suicídio 

É fácil notar que o ser humano não nasceu para viver isolado. Buscamos constantemente, até mesmo inconscientemente, nos sentir pertencentes a algum meio. Segundo o livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, estar integrado a um meio íntimo e amoroso é fundamental para a nossa sobrevivência, pois por um lado pode evitar um ato suicida e por outro pode fortalecer nossa saúde física e psicológica.

Fonte: http://zip.net/bdtLZf

A sociedade em si tem um papel importantíssimo na minimização do suicídio. Por exemplo, umas das pesquisas mais importantes sobre o suicídio foi realizada pelo sociólogo Durkheim, no qual fala que a decisão de tirar a própria vida, sempre teria um fundamento social: “[…] a pesquisa de Durkheim o levou a concluir que o principal fator que afetava o índice de suicídios era o grau de interação social dos grupos. Verificou que o nível de integração de um indivíduo a um grupo determinava a maior ou menor probabilidade de esse indivíduo cometer suicídio”  (ORNISH, 1998, p. 31).

Ou seja, quando as pessoas se sentem amadas e aceitas por um grupo, elas têm menos chances de cometer suicídio, apesar desse não ser o único fator. Logo, pesquisas exibidas no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, M.D, comparam pessoas que têm pouco ou nenhum envolvimento com a família, grupo de amizade sólido, até mesmo envolvimento em comunidades ou seitas religiosas, enfim, a sociedade em si, com pessoas que têm muito envolvimento com o corpo social e perceberam que os indivíduos que continham muita interação eram os mais saudáveis psicologicamente e fisicamente mesmo que estes se preocupassem menos com a saúde do que aqueles que tinham pouco envolvimento, mas praticavam exercícios físicos.

Portanto, podemos perceber que ter uma boa relação com o meio no qual estamos inseridos, implica diretamente na saúde física e psicológica e se o nosso físico e psicológico estão fortalecidos é mais difícil adquirir um quadro depressivo no qual no futuro poderia desencadear no suicídio. Concluindo, uma boa relação afetiva com o âmbito social pode evitar um impulso kamikaze.

Fonte: http://zip.net/bltKZK

Porém, se a anulação à sociedade pode gerar um mal-estar, a socialização demasiada também pode causar o mesmo efeito. Segundo o sociólogo Émile Durkheim no seu livro O Suicídio, quando o indivíduo está totalmente integrado à sociedade ele poderia tirar a própria vida em benefício de alguém ou de alguma crença, como, por exemplo, os mártires da igreja católica. Para esse tipo de suicídio Durkheim deu o nome de altruísta, no qual também definiu suas características: detém o sentimento de dever cumprido, entusiasmo místico e coragem tranquila. Eis os dois lados da sociedade e sua influência sobre o ato do suicídio e como o a importância do afeto como minimizador do atentado à própria vida.

A Importância da Família do Afeto 

Uma base familiar sólida, com vínculo afetivo é de extrema importância para o desenvolvimento saudável do psíquico/emocional. Quando a criança não possui, ou seja, não recebe esta referência, a tendência de se tornar um adulto inseguro, carente e dependente de uma ligação afetiva, faz que com que ela crie vínculos superficiais, a fim de se defender de futuras decepções. Outro ponto relevante é a forma como o adulto trata a criança, os gestos, às expressões sobre como ela é, isso, se concretiza, podendo assim analisar sua personalidade. Esse cuidado é fundamental, pois o comportamento na infância repercutirá na vida adulta desse ser. Assim como diz Dean Ornish: ‘’[…] os pais são geralmente a fonte mais importante de amor, apoio social e intimidade em nossa vida’’ (ORNISH, 1998, p. 45).

Fonte: http://zip.net/bttL9B

Em se tratando da adolescência onde essa fase é cheia de conflitos, transformações biológicas, psicológicas e sociais, a família deve estar totalmente atenta, a fim de lidar com as inseguranças desse adolescente que se vê cheio de cobranças diante as tantas mudanças. De acordo com Dean Ornish: ‘’[…] o apoio emocional pode proporcionar uma sensação de finalidade, significado e de pertencer ao mundo que vive. Onde se encontra o importante papel da família.’’ (ORNISH, 1998, p. 35).

A fase adulta é onde a busca da realização profissional, formação da família, a chegada dos filhos e a independência financeira traz importantes responsabilidades, o que muda completamente a vida do ser humano, onde a maturidade emocional deve estar em perfeita harmonia. Ou seja, ‘’[…] se sua experiência familiar foi repleta de amor e carinho, você tem maior probabilidade de ser aberto em seus relacionamentos atuais’’ (ORNISH, 1998, p. 45).

Enfim, a família pode ajudar o depressivo, buscando ter um relacionamento íntimo e recíproco, ou seja, lhe dando carinho, respeito, proporcionando incentivos, permitir que o deprimido dialogue a respeito da vontade de tirar a própria vida e principalmente ser empático e responder com amor a essa conversa, ao ponto da pessoa se sentir acolhida, segura e amada. Não existem dúvidas de que a família deve buscar conhecimento sobre o assunto, se preparar, para então ajudar e dar o apoio necessário, porém, mais que isso é preciso estar atento ao comportamento do parente, estar disposto a se envolver e incentivar o deprimido para que o mesmo não abandone o tratamento. Outro fator relevante é buscar ajuda em grupos de apoio, onde todos abordarão sobre o mesmo assunto, no qual irá contribuir para o entendimento da depressão.

Fonte: http://zip.net/bbtLlw

Por fim, ‘’ […] depende de vários fatores, principalmente da forma como cada um de nós enfrenta o problema, o nível de informação de que dispomos (nós familiares e amigos) para lidar com ele, e as redes de assistência disponíveis’’ (TRIGUEIRO, 2000, p. 70). O fato é que varias hipóteses podem ser levantadas, porém nenhuma delas se pode generalizar, visto que cada ser humano tem suas particularidades quando o assunto é suicídio, e o mais importante não subestimar e nem menosprezar as atitudes suicida e o comportamento desse familiar.

A Solidão

A vida solitária passa a ser um problema quando causa sofrimento na pessoa, e esta começa a se isolar da sociedade entrando, em um quadro depressivo, pois, ela carrega consigo uma sensação de desesperança e incapacidade de sentir prazer e vontade, ou seja, nada vale a pena, nem mesmo a vida. ‘’Sou eu que preciso de ajuda ou o mundo se tornou mesmo um lugar estranho, sem graça?’’ (TRIGUEIRO, 2000, p.63).

Fonte: http://zip.net/bttL9C

Como visto no tópico sobre a importância da sociedade; estar totalmente ou parcialmente afastado da comunidade pode gerar um mal-estar na saúde e no psicológico das pessoas. Pesquisas expostas no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish mostram claramente este argumento à respeito da saúde: ‘’Por exemplo, há mais de quarenta anos, observou-se que os índices mais altos de tuberculose são registrados em pessoas isoladas, com pouco apoio social, mesmo quando moram em bairros ricos’’(ORNISH, 1998, p. 38). Se o isolamento causa este tipo de doença física na pessoa, pode-se imaginar o que se causa no psicológico também. Por este motivo que é tão fácil uma pessoa apartada da sociedade, por vontade própria, cometer suicídio. O que se sabe é que depressão não tratada leva o indivíduo ao suicídio, pois quem sofre com esta doença acha que se matando irá acabar também como o seu sofrimento.

O apoio familiar é de suma importância, ao ponto de ser um bom ouvinte sem julgar sem querer dar conselhos ou opiniões, buscar conhecer esse sofrimento, levar em consideração tudo que se ouve, estar disponível a ajudar fazendo a ver o quão importante ela e sem fazer comparações, buscar ver a situação do ponto de vista que causa tanto sofrimento. ‘’Também reconhecida como transtorno do humor, a depressão se manifesta de diferentes maneiras ou graus de intensidade. Se imaginarmos uma alma de ferro que se desgasta de dor e enferrujam com a depressão leve, então a depressão severa e o assustador colapso de uma estrutura inteira” (TRIGUEIRO, 2000, p. 71).

Fonte: http://zip.net/bltKZL

O ser humano tem a necessidade de se sentir pertencente a algum grupo e necessita ver na sua vida alguma razão para a sua existência, isso faz com que nós experimentamos o bem estar. A solidão se agrava quando o indivíduo não tem essa perspectiva de que é importante e de que sua vida tem algum valor para a sociedade em geral, como afirma Émile Durkheim:

 […] é necessário que, não apenas de quando em quando, mas a cada instante de sua vida, o indivíduo possa perceber que o que ele faz tem um objetivo. Para que sua existência não lhe pareça vã, é preciso que ele a veja de modo constante, servir a um fim que lhe diga respeito imediatamente. Mas isso só é possível desde que um meio social mais simples e menos extenso o envolva de mais perto e ofereça um fim mais próximo à sua atividade (DURKHEIM, 2000, p. 489).

A solidão pode ser vivida mesmo a pessoa estando no meio da multidão, por isso o afeto desde a infância é algo extremamente necessário, a família precisa dar apoio desde as primeiras horas de vida até a velhice, para assim evitar futuros problemas emocionais que na maioria acarretam suicídio.

O Egoísmo

A primeira vez que um ser humano se juntou ao outro foi a partir da necessidade de procriação, e com isso o número da população foi crescendo aos poucos, tudo era feito em conjunto desde caçar, se alimentar, se proteger, entre outros aspectos que fizeram que a raça humana se perpetuasse. A sociedade aos poucos foi mudando e sempre que havia união entre as pessoas algo mudava no mundo.

Aquele velho ditado que diz que a união faz a força realmente tem muito sentido, desde revoluções a terríveis guerras, mesmo sendo algo tão destrutivo. Mas algo está mudando na vida das pessoas, uma peça chave está mudando todo conceito de unidade: o egoísmo. Na pós-modernidade o tempo acelerado tem feito as pessoas focarem mais em si, formando assim uma sociedade mais egoísta. Como exibido no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, a atenção, o amor, a dedicação muda muita coisa, podendo prevenir doenças e até mesmo o suicídio, que é o principal foco desse trabalho.

Fonte: http://zip.net/bgtLp6

O egoísmo tem mudado muitos aspectos pelo mundo, no qual altera inúmeras realidades, como diminuição do numero de natalidade, maiores casos de depressão, doenças cardíacas, aumentou os casos de suicídio, e a realidade de cada lugar do mundo mesmo que por muitas vezes sendo diferente, tem a mesma consequência. Quando o nós saiu de cena e entrou apenas o eu, é perceptível a mudança em um contexto geral. A individualidade, ou seja, não conseguem interagir mais socialmente, não interagindo com a família, amigos, entre outros grupos sociais existentes, não sentem mais aceitos no mundo, e surgem pensamentos melancólicos, como ninguém me aceita, ninguém gosta de mim, ninguém me entende, entre outros pensamentos negativos que vão deixando a pessoa cada vez mais pra baixo, chegando ao extremo de tirar própria vida.

Considerações Finais

O que fazer para mudar isso, como acabar com egoísmo e o suicídio, como perceber que uma pessoa precisa ser amada e aceita pela sociedade e pela família sem direcionar essa resposta levando a culpa para o governo ou para órgãos responsáveis? Não tirando de lado alguns erros causados pelos mesmos, mas a principal mudança precisa partir do eu para chegar ao nós. Se tirássemos as vendas dos olhos, seria bem possível ver que matamos pessoas, não diretamente, mas moralmente, por conta de agressões verbais, nas quais podem causar inúmeros problemas.

O amor seria uma forma de curar o mundo, pois o amor teria que começar principalmente no indivíduo, que seria o amor próprio, e depois ir para um todo, se assim fosse, os índices de suicídio diminuiriam de uma boa parte, pois nem tudo é causado por um único agente, como foi exposto neste trabalho, tem vários casos e fatores nos quais são muito subjetivas as causalidades que levam uma pessoa a tirar a própria vida. Entretanto, se tivesse união de verdade entre as pessoas, não seria por falta de amor que as pessoas morreriam no mundo.

Fonte: http://zip.net/bptL4K

Vale apena pensar se o que eu faço contribui apenas pra mim, ou pode ajudar uma pessoa, como dizia Newton em uma de suas leis tudo que fazemos tem uma consequência, então vale apena investir em coisas que ajudem a todos, às vezes conseguimos aquilo que queremos ajudando o outro, e muitas vezes mesmo querendo receber um abraço, dando um abraço em quem precisa mais de você é que se recebe a recompensa. “A percepção do amor… pode vir a ser um preventivo central biopsicossocial-espiritual, reduzindo o impacto negativo dos agentes estressantes e patogênicos e reforçando a função imunológica e a cura” (ORNISH, 1998, p. 40).

Nota: Ensaio elaborado como parte das atividades da disciplina de Filosofia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 513 p., il.

MENDES, André Trigueiro. Viver é a melhor opção. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno, 2017. 190 p., il.

ORNISH, Dean. Amor & sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 263 p., il.

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