Papa Francisco e as redes sociais

Compartilhe este conteúdo:

De portas abertas a todos: O legado do Papa Francisco no lema da rede social twitter?

Com o intuito de comparar mensagens de textos com o canto dos pássaros, foi criado o twitter, uma rede social que inicialmente foi utilizada pela empresa Odeo para compartilhar mensagens de textos com um grupo de pessoas específicas. Atualmente, o canto do pássaro foi levado pelo vento e alcança diariamente milhões de pessoas, aberta a todos aqueles que desejam dizer o que estão pensando.

Em todos os lugares do mundo, o twitter alcança diferentes públicos e culturas,  levando  informações, fofocas dos famosos e notícias em tempo real. Observa-se que o twitter tornou-se uma das principais ferramentas utilizadas pelas pessoas para se informarem a respeito do que está acontecendo no mundo. É possível, ainda, saber quais são os assuntos mais comentados no mundo, além de conectar pessoas e ideias desconhecidas no mundo físico. 

As redes sociais, em especial o twitter, neste século cresceram significativamente, aumentando a cada dia a sua importância vez que alcançam pessoas de todas as idades e classes sociais, localizadas em qualquer parte do mundo. Deixando de ser uma ferramenta de intuito apenas comunicativo e distrativo, passou a possuir influência político-ideológica, conforme se observa: 

Ainda sobre a importância do Twitter como ferramenta social, cita-se a enquete feita pelo site Mobilização Digital, em 2013, que constatou que a maioria das pessoas que acompanham as Manifestações Sociais informam-se via mídias sociais, tais como o Facebook e Twitter. Pode-se inferir, portanto, que o ciberespaço tornou-se fundamental nas “Novas revoluções” políticas contemporâneas, tornando-se uma nova ferramenta em um contexto hodierno para os câmbios sociais em um contexto global, oportunizando um livre acesso a informação de forma simples, o que justifica a preferência popular pela utilização da internet e suas mídias para a  tomada de ciência das notícias atuais.(EMPÓRIO DO DIREITO, 2019)

A sociedade mundial não imagina mais uma vida desconectada, onde é necessário esperar para obter informações, ou ainda utilizar de ferramentas já ultrapassadas como o fax e o jornal impresso. Uma grande parte dessa população já nasceu inserida na tecnologia, não possuindo paciência para aguardar informações ou até mesmo para se comunicar, a cada dia  a necessidade de fazer parte do ambiente virtual aumenta. Vejamos: 

As tecnologias da informação tornaram-se parte da vida diária de grande parte das pessoas. Aos principais MCM – imprensa, rádio e televisão – vieram se agregar as máquinas que agilizaram a comunicação (fax, multimídia, celulares e outras “geringonças” mais). “Neste mundo de mudanças”, novas interfaces fazem parte da dinâmica da sociedade de informação. A inclusão digital, cada vez mais se dissemina e “a troca de informações é um componente cada vez mais importante na maioria das atividades de trabalho” (STRAUBHAAR & LA ROSE, 2004. p. 1). 

Devido ao novo contexto digital, os líderes mundiais passaram a observar o comportamento social, identificar os assuntos mais relevantes e estudar as relações internacionais, através do Twitter. Nesse contexto, trazemos: 

Hodiernamente, o Twitter é uma rede social de extrema importância no mundo virtual. Em 2018, o site Itmídia divulgou que o número de usuários ativos era de 336 milhões, demonstrando a relevância dessa ferramenta. Dentre esses usuários ativos, encontram-se alguns representantes de Estados, tais como: Emmanuel Macron; Donald Trump e Nicolás Maduro.(EMPÓRIO DO DIREITO, 2019)

Os 3 líderes mundiais mais seguidos na rede social são Donald Trump, Papa Francisco e Narendra Modri, contabilizando milhões de seguidores em todo o mundo. Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, superou a marca de 52 milhões de seguidores, o Papa Francisco, o líder e chefe de Estado da Igreja Católica Apostólica Romana, com 47 milhões e Narendra primeiro-ministro indiano na marca de 42 milhões.

Mas quem é Francisco? O primeiro Papa Sul Americano é o argentino Jorge Mario Bergoglio. O Papa Francisco foi arcebispo em Buenos Aires e vivia de forma muito simples, sendo conhecido e reconhecido em sua diocese, pelo amor e cuidado aos outros, em especial aos mais necessitados. Este sempre recomendou aos sacerdotes que fossem misericordiosos, possuíssem coragem apostólica e estivessem sempre de portas abertas a todos.

Sendo um dos cinco filhos de uma dona de casa e um contabilista no caminho de ferro, neto de italianos, Bergoglio nasceu em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936. Após tornar-se técnico químico escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. Após a finalização deste ciclo, foi ordenado sacerdote em 1969 e em 1992 recebeu a ordenação episcopal.

Com o passar dos anos, vivendo a missão confiada pela Igreja a ele, sua popularidade foi crescendo, devido a sua coerência de vida e radicalidade. Em 2013 com a renúncia do Papa Bento XVI, a Igreja se reuniu e Bergoglio foi eleito novo papa.

Fonte: Imagem de Günther Simmermacher por Pixabay

 

Papa Francisco em meio a multidão na Praça de São Pedro.

Escolheu, para seu pontificado, o nome Francisco, em referência a São Francisco de Assis. A Igreja católica possui como tradição a escolha de um novo nome para o Sumo Pontífice embasamento na passagem Bíblica onde Jesus Cristo fala a Simão “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.

Com o desejo de se aproximar ainda mais dos homens, Francisco “instituiu a Secretaria para a Comunicação (ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO, 2015) estabelecendo novos organismos, incluindo o serviço de administração digital. Atento à importância da Igreja se aproximar das pessoas a partir das mídias sociais, o papa assinalou:

 “A revolução da mídia digital das últimas décadas mostrou ser um potente meio para promover a comunhão e o diálogo dentro de nossa família humana. De fato, durante os meses de confinamento devido à pandemia, vimos claramente como as mídias digitais podem nos unir, não apenas divulgando informações essenciais, mas também preenchendo a solidão do isolamento e, em muitos casos, unindo famílias inteiras e comunidades eclesiais na oração e no culto. (VATICAN NEWS, 2022)

O Twitter do Papa representa de forma clara a difusão que as comunicações possuem, uma vez que sua conta é traduzida em 9 idiomas, sendo: inglês (conta oficial), latim, espanhol, italiano, alemão, polonês, árabe francês e português, comprovando a integração entre mídia e religião. O Papa Francisco se manifesta nas redes de forma relevante, utilizando desses recursos para difundir suas mensagens, informações e relacionar-se com o povo, abordando assuntos importantes e até polêmicos

Fonte: https://twitter.com/Pontifex

Imagem das contas oficiais do Papa Francisco no Twitter nas 9 línguas.

Observa-se ainda que as mídias de Francisco possuem como finalidade gerar a cultura do encontro, utilizando uma linguagem simples e de fácil entendimento, sendo acessível e próximo ao homem de hoje. Como um homem dos tempos modernos e conectado. O Papa faz uso da linguagem digital vez que usa hashtag como “rezemos juntos” e “evangelho de hoje”, para facilitar que as pessoas acompanhem os tópicos pelos quais mais se interessam e alcançar ainda mais.

Fonte: https://twitter.com/Pontifex

Postagem do Papa Francisco na conta de língua portuguesa usando hashtag.

Refletindo mais do que a si mesmo, o twitter do Papa Francisco representa o Estado do Vaticano, a Igreja Católica e todos aqueles que vivenciam a fé católica, indo um pouco além nota-se que apresenta o Evangelho e o pensamento do próprio Deus para aqueles que acreditam. Observa-se ainda que é visto por representantes das maiores mídias mundiais, diversas religiões e governos, possuindo grande influência social, partidária e ideológica.

Mas qual a mensagem que o Papa deseja passar nas suas redes sociais? Seu maior objetivo é anunciar o evangelho, pelo qual este deu a vida, e apresentar ao mundo a Igreja Católica Apostólica Romana. Ademais, utiliza-as ainda com intuito de comunicar esperança, conforto e positividade, além de motivar orações, se unir aos que sofrem e refletir sobre a doutrina cristã.

Fonte: https://twitter.com/Pontifex_pt

Postagem do Papa Francisco no dia 19 de fevereiro de 2023.

É possível perceber o amor empregado pelo Papa em suas mensagens, o desejo de se aproximar do povo, abertura e empenho. A postura deste em meio ao mundo digital inaugura um tempo novo na Igreja, quebrando a imagem de um evangelho desatualizado, antigo e inacessível, uma vez que “o que acontece no mundo, acontece primeiro no twitter.”

Dessa forma, ao observar que para o twitter “cada voz tem seu impacto” o Papa Francisco busca dar voz a Igreja e gritar ao mundo:

A [Igreja] Não pretende disputar poderes terrenos, mas oferecer-se como «uma família entre as famílias – a Igreja é isto –, disponível (…) para testemunhar ao mundo de hoje a fé, a esperança e o amor ao Senhor mas também àqueles que Ele ama com predileção. Uma casa com as portas abertas… A Igreja é uma casa com as portas abertas, porque é mãe». E como Maria, a Mãe de Jesus, «queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade (…) para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação. (VATICAN NEWS, 2021)

Referências

A INFLUÊNCIA DO TWITTER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS Disponível em: “https://emporiododireito.com.br/leitura/a-influencia-do-twitter-nas-relacoes-internacionais-contemporaneas” Acesso em: 01, de março de 2023.

LEMOS, Lúcia. O poder do discurso na cultura digital: o caso Twitter. Jornada internacional de estudos do discurso, v. 1, 2008.

Disponível em: “https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-07/papa-francisco-mensagem-signis-midia-digital-meio-potente-paz.html” Acesso em: 27, de fevereiro de 2023.

Disponível em “https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-12/igreja-como-uma-casa-de-portas-abertas-padre-gerson-schmidt.html” Acesso em: 01, de março de 2023.

 

 

 

Compartilhe este conteúdo:

Maria Madalena: a controversa história da “Apóstola dos Apóstolos”

Compartilhe este conteúdo:

“Como irá ser? O Reino? E Ele disse: é como uma semente, um único grão de mostarda que uma mulher pegou e semeou em seu jardim. E ele cresceu, e cresceu.
E as aves do céu fizeram ninhos em seus galhos.”

Quem foi Maria Madalena? Pecadora, santa, apóstola, testemunha, esposa? Há mais de 2000 anos muitas teorias são criadas em torno dessa mulher, uma das mais simbólicas personagens do Novo Testamento. Sua importância é inegável na história de Jesus e para o cristianismo. Ela esteve presente em alguns dos momentos mais especiais descritos nos Evangelhos [1], na morte, sepultamento e, especialmente, foi a primeira testemunha da ressurreição de Cristo.

No início, a Igreja reconhecia sua santidade. Maria Madalena era chamada de “Apóstola dos Apóstolos”, em virtude, principalmente, de ter sido a primeira a atestar a ressurreição de Cristo – o primeiro registro desta definição é atribuído ao teólogo Hipólito de Roma (170-236) [2]. Mas quando a Igreja Católica se tornou a igreja oficial do Império Romano (por volta do ano 380), Madalena foi relegada a uma personagem bíblica secundária (pouco comentada) [3]. Seu nome só voltou à tona de forma mais preeminente no século VI e associada ao rótulo de “prostituta”, uma interpretação que perdurou por séculos (e ainda é a única versão conhecida por muitos). Isso aconteceu porque o Papa Gregório Magno oficializou essa suposição em um de seus sermões ao afirmar que Maria, a pecadora que lavou os pés de Jesus, presente no Evangelho de Lucas 7: 36-50 e Maria Madalena apresentada em Lucas 8 eram a mesma pessoa [4].  

Enquanto isso romances populares (e questionáveis) como “O Código Da Vinci” trazem à tona novamente a teoria antiga presente nos evangelhos apócrifos, mais especificamente no Evangelho de Filipe, de que Maria poderia ser a esposa de Jesus, já que é descrita em alguns textos antigos como sua “companheira”.

Desde 2016, Maria Madalena é santa no calendário romano e o Papa Francisco transformou o dia 22 de julho, a data de Maria Madalena, em festa litúrgica e voltou a celebrar seu nome como “Apóstola dos Apóstolos”. Segundo artigo de Arthur Roche[5]:

O Padre Francisco tomou esta decisão exatamente no contexto do Jubileu da Misericórdia para significar a importância desta mulher, que mostrou um grande amor a Cristo e Cristo por ela, como afirmou Rabano Mauro e Santo Anselmo de Canterbury em seus escritos.

Se por um lado a ausência de fatos sobre a história de Maria Madalena trazem mais confusão do que clareza aos caminhos trilhados por quem a pesquisa, por outro a igreja lança mão das mais diversas interpretações. Ora ela é a pecadora que ao encontrar-se com Jesus foi acolhida e perdoada por Ele (dando esperança a todo pecador), ora ela é a mulher amada por Cristo, cujo reconhecimento eleva também a importância do papel feminino na história da propagação do cristianismo.

Fonte: encurtador.com.br/cPQU4

Mas quem é a Maria Madalena retratada no recente filme dirigido por Garth Davis? Segundo a jornalista Flora Carr, e de acordo com a professora Joan Taylor, do King’s College, em Londres, que trabalhou como conselheira histórica para a equipe [3]:

O filme se baseia parcialmente no Evangelho de Maria, um “documento muito misterioso” descoberto no século 19. Não tem autor conhecido, e embora seja popularmente divulgado como “evangelho”, não é tecnicamente classificado como um, já que os evangelhos geralmente relatam os eventos durante a vida de Jesus, em vez de começar depois de sua morte. Acredita-se que o texto tenha sido escrito em algum momento no século II, mas alguns estudiosos afirmam que ele se sobrepõe à vida de Jesus. [3]

Maria Madalena, vivida com extrema sensibilidade por Rooney Mara, é uma jovem de um lugar chamado Magdala, a 120 milhas ao norte de Jerusalém, às margens do Mar da Galileia, logo tem pais e irmãos pescadores. Desde o início do filme, já é possível entender o quanto a jovem está deslocada naquele universo em que o único destino de uma mulher era ser esposa e mãe. A passagem bíblica apresentada no Evangelho de Lucas 8:2, em que Jesus encontra Maria Madalena e expulsa dela sete demônios é retratado no filme a partir de um ponto de vista diferente.

Fonte: encurtador.com.br/biHU8

J: Sua família diz que você luta com o demônio.
MM: Se há um demônio em mim, sempre esteve aqui. Queria que houvesse um demônio.
J: Por quê? O que você teme em você mesma?
MM: Os meus pensamentos. Meus desejos, minha infelicidade… Não sou como deveria ser.
J: O que você deseja?
MM: Não tenho certeza…Conhecer Deus.

Os demônios, nesse contexto, são a representação daquilo que é fora do padrão da época. Maria sente que há algo no mundo além do pedaço de chão onde mora em Magdala e do destino que uma sociedade patriarcal impõe para a mulher. Vê em Jesus uma esperança de conhecer mais o Deus que ela sente, mas pouco compreende. As palavras dEle iluminam sua fé e indicam um novo caminho, diferente daquele já determinado pela sua família, que provocava-lhe angústias e desesperança.

Fonte: encurtador.com.br/biHU8

“No silêncio existe alguma coisa chamando? Vocês têm coragem de seguir o que ouvem? Vão se alinhar com a vontade de Deus até cada gesto de amor, cada vontade de ajudar e cada respiração estarem unidas? Isso é fé.  E essa fé os fará alimentar os que sofrem para aliviar a dor deles. E é essa fé a sua fé, que os conduzirá ao Reino de Deus.”

A ligação entre Maria Madalena e Jesus no filme é representada de forma espiritual, ainda que, como descreveram tantos historiadores, parecia existir um amor maior. Esse amor é refletido na capacidade de compreensão mútua que os tirava da solidão profunda ao entender o papel de cada um na concretização do Reino de Deus. O Jesus do filme tinha fraquezas humanas, pois ficava angustiado ao sentir a dor que estava por vir, mesmo sem entender claramente o final da sua jornada. Uma de suas perguntas a Maria mostra o quanto o sentido das coisas e da vida podem ser fugazes e intangíveis às vezes, mesmo para Ele.

Fonte: encurtador.com.br/hJLT5

J: Eu via com tanta clareza. E agora está desaparecendo.
MM: O quê?
J: Esta vida.

Em sua caminhada rumo a Jerusalém, Jesus e seus apóstolos foram seguidos por outras pessoas, inclusive por mulheres [1]. O que é apresentado no filme é que Maria Madalena não era apenas mais uma mulher na comitiva de Jesus, era também um dos seus apóstolos e, especialmente, era a que tinha mais sensibilidade para entender as suas palavras. Em um dos momentos mais significativos do filme, em uma conversa entre Judas, Madalena e Jesus é apresentado o quão os pescadores, que amavam Jesus, não tinham clareza de como era o Reino de que Ele falava.

Fonte: encurtador.com.br/zCGNS

Judas: Eu O vi curar os doentes, ressuscitar os mortos. Sei que basta uma palavra Sua e Deus viraria o mundo de cabeça para baixo. Como os profetas disseram que Ele faria. Os pobres, os sofredores, os mortos, os mortos que amamos irão se levantar e Você será coroado Rei. Diga a palavra. Nós lhe demos tudo. Nossas vidas. Nossa esperança.
MM: Talvez tenhamos entendido errado. Talvez o Reino não seja…
Judas: Não! […] (Olhando para Jesus) Diga-lhe. Diga-lhe que ela está errada.

Mas Ele não diz. E Judas, retratado como uma espécie de “fã número 1” de Jesus, fica desolado. Na sua imaginação, os céus se abririam e os mortos voltariam no momento em que o Messias estalasse o dedo, com isso o mal seria vencido e os justos reinariam a terra. Ainda hoje muitos vendem a esperança de que esse Reino será erguido com doações materiais e/ou com sacrifícios extremos. A interpretação da traição de Judas, nesse filme, finalmente ganhou uma roupagem diferente, porque dessa vez, o Judas retratado era aquele que tinha a percepção mais ingênua do Reino de Deus. Os céus não se abriram como ele imaginou, nem Deus-Pai tirou seu filho do sofrimento da cruz e puniu os seus algozes.

Na versão do filme da última ceia, Jesus sentou-se ao lado de Maria Madalena, recriando uma cena semelhante ao mural de Leonardo Da Vinci. Segundo Flora Carr [3], enquanto na versão de 2006 do filme “O Código Da Vinci”, os personagens examinam o mural e debatem se a figura afeminada à direita de Jesus era de fato a Maria Madalena, como uma forma de provar que ela era a sua esposa, a importância, nesse filme, dela ocupar tal posição era pela ligação espiritual profunda que ela tinha com Jesus, e da sua capacidade em interpretar sua palavra e seus sentimentos. Isso a coloca em uma posição privilegiada, ou seja, uma mulher era apresentada como a figura mais proeminente entre os apóstolos, o que seria um absurdo para época (e, para muitos, ainda hoje).

Fonte: Mural da Última Ceia – Leonardo Da Vinci, Milão, 1495 – Arquivo da História Universal/ Getty Images

Nenhum apóstolo ficou ao lado de Jesus nos momentos finais de sua vida, pois estes estavam sendo perseguidos. Mas Maria Madalena, com o melhor disfarce de todos (era mulher), esteve na sua morte e no seu enterro, já que era costume na época as mulheres prepararem o corpo dos mortos para ser levado ao sepulcro. Li uma vez uma reflexão de um historiador cujo nome não consigo lembrar (logo, não há credibilidade nessa informação), que possivelmente os eventos mais prováveis descritos na bíblia, mesmo para os céticos, eram aqueles mais improváveis para a época, por exemplo, uma mulher sendo testemunha da ressurreição (ou da ideia da ressurreição).

Fonte: encurtador.com.br/iJKU1

MM: Ele não se foi. Nem a morte pode detê-lo. Ficamos buscando uma mudança no mundo, mas não é o que       pensávamos. O Reino é aqui e agora.
Um dos apóstolos: Nós falhamos. Não há nenhum Reino.
MM: O povo se levantaria, ele seria coroado rei? Ele disse isso a vocês? Porque o Reino não é algo que possamos ver com nossos olhos. Está dentro de nós.

Segundo o escritor e historiador Michael Haag, autor do livro “The Quest for Mary Magdalene” em entrevista para Time [3],

a Igreja historicamente tem marginalizado Maria não apenas por causa de seu gênero, mas também por causa de sua mensagem. Ele argumenta que a Igreja especificamente promulgou a ideia de que ela era uma prostituta a fim de “desvalorizar” sua mensagem. Haag acredita que as ideias alternativas de Maria Madalena se mostraram muito perigosas para a Igreja permitir que elas se espalhassem. O Evangelho de Maria Madalena, em sua opinião, mina a “burocracia da Igreja e favorece a compreensão pessoal” [3].

Diferente de filmes como “Os Dez Mandamentos” (1956), o épico dirigido por Cecil B. DeMille, “A Paixão de Cristo” (2004), a odisseia de crueldade e sofrimento de Mel Gibson, ou o ousado “A última tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese, Maria Madalena (2018) de Garth Davis tem um ritmo mais lento, não tem a intenção (ao menos não deliberada) de provocar rompantes de aceitação ou repulsa. É a construção, passo a passo, da metáfora que iniciou o filme, sobre o Reino de Deus ser uma semente, um grão de mostarda, que foi semeado por uma mulher (Maria Madalena em sua Testemunha da Ressurreição) e espalhado por muitos em uma saga que perdura por mais de dois mil anos.

REFERÊNCIAS:

[1] https://www.bibliaonline.com.br/

[2] https://www.bbc.com/portuguese/geral-43381775

[3] http://time.com/5210705/mary-magdalene-controversial/

[4] http://www.bbc.co.uk/religion/religions/christianity/history/marymagdalene.shtml

[5] http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/documents/articolo-roche-maddalena_po.pdf

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=L8u8QkIy7es

FICHA TÉCNICA DO FILME

Fonte: encurtador.com.br/bgDN4

MARIA MADALENA
Diretor: Garth Davis
Elenco: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor, Tahar Rahim
Ano: 2018

 

Compartilhe este conteúdo: