Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Luís de Camões

Até o século XVIII, e não apenas na cultura ocidental, existia uma diferença entre o amor no casamento e o amor fora do casamento. Vários textos da cultura judaica e grega mostram que o amor não era necessário pra se casar, cuja função principal era a procriação. A fidelidade e a fertilidade da mulher eram importantíssimas na aliança entre as duas famílias envolvidas (ÁRIES, 2006).
Já na Europa pré- moderna a maioria dos casamentos eram feitos não sobre a atração sexual mútua, mas também visando a situação econômica. Todavia para os pobres, o casamento proporcionava o meio de organizar o trabalho agrário (GIDDENS, 1993).
Era consenso no século XII que no casamento poderia haver estima, mas nunca amor, porque o amor sensual, o desejo, o impulso do corpo é a perturbação, a desordem. Deve ser rejeitado no matrimônio que exige austeridade; a paixão não deve se misturar aos assuntos conjugais (LINS, 1997, p.63).
Segundo Ariés (1987), casamento sobe da escala social até a era moderna, estabelecido como regra básica é de proporção gradativa. A partir do século XVIII, o ideal de casamento passa a ser o amor romântico, a reserva tradicional é expulsa pelo erotismo. Conforme o sociólogo Anthony Giddens (1993), ao longo da modernidade as mudanças que vêm acontecendo no amor, no casamento e na sexualidade resultaram em transformações radicais na vida pessoal e na intimidade dos indivíduos. Não pautado pelas identificações projetivas e fantasias de completude o amor confluente é mais real que o amor romântico. O relacionamento centrado no compromisso, na confiança e na intimidade é um relacionamento puro. Implicando no dever de cada um proporcionar ao outro uma história compartilhada, por palavras e atos, garantindo que o relacionamento deve ser mantido por um indefinido período.

Diferentemente da ideia de casamento como uma condição natural, podendo a durabilidade ser assumida como certa, salvo em algumas extremas circunstâncias. Uma característica do relacionamento puro é que o mesmo pode ser rompido, mais ou menos à vontade, em qualquer época e por qualquer um dos envolvidos. O compromisso é necessário para que tenha A probabilidade de um relacionamento durar se dá pelo compromisso firmado entre os parceiros, mas não evita que qualquer um que se comprometa sem restrições corra o risco de no futuro muito sofrer, no caso de o relacionamento vir a desfazer-se. Nesse tipo de relacionamento, a própria relação é o que conta, dependendo do nível de satisfação de cada uma sua continuidade extraída da mesma. Atualmente podemos usufruir das possibilidades de escolha de como queremos levar um relacionamento a frente, bem como, outras formas de relacionamento sejam no contexto heterossexual ou fora dele.
A entrada do amor romântico fez do casamento o meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas. Idealiza-se o par amoroso e, para manter essa idealização, não se medem esforços, o que acaba sobrecarregando a relação entre os cônjuges. Imagina-se que no casamento se alcançará uma complementação total, que as duas pessoas se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro (LINS, 1997, p.148).
Nas gerações mais atuais, fomos crescendo ouvindo contos infantis onde existia um príncipe encantado e quem disse que ele existe? Temos que separar o que é real do imaginário. Porque eles não existem, não podemos esperar perfeição, pois não somos perfeitos, somos seres da falta (FORBES, 1999). Temos que aproveitar o que há de bom no outro, exatamente como ele é cheio de falhas e virtudes abstraindo o seu melhor. “O amor não suporta a dúvida a crença lhe é fundamental” (MILAN, 1983, p.20). Não podemos depositar nossas carências no outro, agora quando escolhemos a pessoa e ela não condiz com nosso modelo imaginário, então, nesse momento não a mais interesse. Temos que aceitar experiências reais, porém, fica mais fácil encontrar uma pessoa especial quando nos abrimos a aceitar as possibilidades que nos surgem nas relações afetivas.

A psicanálise estendeu-se para além do campo de estudo da histeria (FREUD, 1911), entretanto foram com pesquisas referentes à histérica que se deram início as teorias de Freud.
A importância da mulher no modo de compreender e viver o amor se deu pelo posicionamento que a mesma teve com o movimento feminista, no século XIX, de modo que, o desenvolvimento de vários contextos de conhecimento e poder se deram através de discursos sobre o sexo. E a respeito disso, a sexualidade feminina foi imediatamente reprimida após seu reconhecimento (GIDDENS, 1993).
Referindo-se a alguns casamentos infelizes, Freud dizia que eles eram resultantes de uma união amorosa construída inicialmente a partir de uma escolha de objeto baseada no modelo do pai. Nestes casos, após um tempo de convívio, fazia-se presente no relacionamento uma repetição compulsiva e inconsciente da relação hostil pré-edipiana com a mãe (ALONSO, 2004, p. 132).
A perda do gozo é o preço que o sujeito barrado pela lei tem a pagar, para formular suas necessidades se passa pela via da fala, sendo nos dias atuais, a lei, apenas um constrangimento imposto ao sujeito pela linguagem. Estando os significantes alienados a linguagem tendo perdido o objeto de satisfação do corpo (PINHEIRO, 2003). “Mas o caminho que vai dos sintomas da histeria até sua etiologia é mais trabalhoso, e passa por conexões bem diferentes do que se poderia imaginar” (FREUD, 1896, p. 191).

Segundo Zimerman (1999), Freud muito valorizou a sexualidade reprimida em torno do conflito edípico, concebendo a feminilidade como sendo governada por narcisismo acentuado. Decorrendo assim, algumas conseqüências: A preferência em ser amada e valorizar o culto ao corpo; o ideal de homem que escolhe pertinente ao que gostaria de ser; a existência constante da inveja do pênis¹ ; a satisfação da mulher estaria ancorada em gerar um filho. Freud (1933) menciona que a satisfação da mulher é adquirida quando ela substitui o desejo de ter um pênis por um filho, alcançando assim, a feminilidade.
A menina desliza – ao longo de uma equivalência simbólica poderíamos dizer – do pênis para o filho, e o seu complexo de Édipo culmina no desejo, mantido durante muito tempo, de obter como presente uma criança do pai, de dar à luz um filho seu. Resulta daí a maior dificuldade para podermos assinalar com clareza, neste caso, o momento do declínio do complexo (LAPLANCHE, 2001, p. 80).
O que nos liberta para amar os outros é nosso amor por nós mesmos, derivando assim, a importância de uma dose de narcisismo (como fora descrito por Freud), se dessa maneira não procede, o sujeito fica preso ao narcisismo arcaico e infantil. Não podendo prosseguir. Num relacionamento afetivo outros podem nos servir não como parceiros humanos, mas como peças que faltam ao nosso ser. Assim, o narcisista busca transferir a admiração que tem por pessoas admiradas a si próprio (VIORST, 2005). A compreensão do narcisismo é de suma importância quando nos referimos ao amor, pois o modo que os sujeitos o vivenciam será influenciado por conteúdos narcísicos.
O fato de você desejar o seu companheiro ou a sua companheira, de deleitar-se com ele, de não ver a hora de se atirar em seus braços, de ter prazer com sua presença, com seu sorriso ou com sua mais terna bobagem, não significa que você sofra de dependência afetiva. O prazer (ou melhor, a sorte) de amar e ser amado é para ser desfrutado, sentido e saboreado. Se a sua companheira ou o seu companheiro está disponível, aproveite ao máximo; isso não é apego, mas uma troca. Mas se o bem-estar se torna indisponível, a urgência em encontrar o outro não o deixa em paz, e a mente se desgasta pensando nele, bem-vindo ao mundo dos viciados afetivos (RISO, 2001, p.31-32).

As relações amorosas jamais poderão ser vividas padronizadas, pois cada experiência é única, pode haver comparações em termos proporcionais, contudo, a balança jamais marcará a mesma medida. “Assim, o conteúdo imaginário da representação se integra em uma fantasia já construída por nossos desejos inconscientes” (NASIO,1997, p. 92). Discorreremos no próximo subtítulo a respeito do amor no contexto social. Sabendo-se que a definição de amor foge ao controle de padrões sociais, pois falar de amor é falar de singularidade.
O modo de vivenciar o amor tem sido modificado no decorrer dos anos, crianças, adultos e idosos, cada grupo etário o vivencia de maneira peculiar, onde dentro de cada grupo as distinções também são visualizadas. A literatura, a arte, a música são meios aos quais o indivíduo tem acesso a vias amorosas, podendo ficar na esfera imaginária ou até mesmo atingir ao campo do real. E as fontes de prazer e sofrimento serão vividas e articuladas distintamente.
De fato, a ruptura de um laço amoroso provoca um estado de choque semelhante àquele que é induzido por uma violenta agressão física: a homeostase do sistema psíquico é rompida, e o princípio de prazer abolido. Sofrendo a comoção, o eu consegue, apesar de tudo – como na dor corporal – autoperceber o seu transtorno, isto é consegue detectar no seu seio o enlouquecimento das suas tensões pulsionais desencadeadas pela ruptura. A percepção desse caos logo se traduz na consciência pela viva sensação de uma atroz dor interior (NASIO, 1997. p.25-26).
Conforme Kehl (2002), Freud concebe as evidências do falta-a-ser na origem do enigma do desejo do Outro, tomados pelo modelo do aparelho psíquico. Cabendo ao último móvel do aparelho psíquico ser o prazer, desembocando no pensamento, mesmo assim, não cabe ao sujeito pensante estar fora da condição da falta. Para Viorst (2005), é doce ter uma ligação consigo mesmo, mas com uma pessoa fora de nós é melhor ainda, apesar de ser bom é incompleto amar a si mesmo. A mãe é o primeiro amor do qual temos, nos dá referência e nos dá as primeiras lições de amor.
O amor é um conceito fundamental para psicanálise, por ser um pilar da existência. A relação primária de amor que ocorre entre mães e filhos na infância, dá suporte e constitutiva potencia tanto psíquica quanto biológica na existência da criança, ocorrendo que essa relação primária serve de base para as relações posteriores. No complexo processo psíquico de constituição do sujeito, no qual se instala a conjuntura narcísica do indivíduo, tornar-se objeto de amor do outro, relação na qual a figura materna é o protótipo, ou de si próprio. Contudo, Freud destaca que ao evitarmos o sofrimento, ou, ao buscarmos a felicidade o amor é uma das mais importantes “artes da vida”. No amor a ambivalência é constante ao aproximar o individuo da almejada ventura e das dores que a dependência provoca (GOMES, 2003).
Kehl (2002) sintetiza, que a condição do desejo e do prazer é uma das mais importantes contribuições oferecidas pela psicanálise ao constituir um novo saber erótico e insistir na castração como eixo de subjetivação.
Foucault tinha razão: o sexo não consiste somente nas práticas dos corpos; estas são necessariamente acrescidas de, ou formatadas por, toda uma produção de saberes e mitos a respeito do enigma do desejo e da diferença sexual. Essa falação a respeito do sexo foi intensificada, na história do Ocidente, pela repressão, imposta, sobretudo, pelo cristianismo. Algumas sociedades repressivas foram mais capazes de produzir saber erótico do que nossa época superpermissiva, que intensifica o apelo ao gozo sexual na mesma medida em que produz incontáveis modos de recusa da castração e da diferença (KEHL, 2002, p. 188).
Se não reconhecemos a polaridade entre narcisismo e amor de objeto pouco será entendido das complexas relações amorosas (GOMES, 2003). “Freud concebe então um modelo de aparelho psíquico marcado desde a origem pelo enigma do desejo do Outro, evidência de sua falta-a-ser” (KEHL, 2002, p.93).
Os modos pelos quais se constituem certas relações amorosas são reveladores desses impasses subjetivos. Há dificuldades cruciais na assunção dos papéis sexuais – novamente, isso não é uma crítica. Muitas vezes as relações se estruturam pela via da competitividade, outras pela especularidade ou pela lógica econômica, de perdas e de ganhos, exacerbada nas separações judiciais. Essa lógica, a do leilão, surge também como critério para a escolha do parceiro: “Quem dá mais?” (PINHEIRO, 2003, p. 120).

Segundo Navarro (2011), a reprodução do passado não mais é suficiente, um encontro sem idealizações é preciso para o outro se conhecer. Inventar uma nova arte de amar é que muitos gostariam de chegar a invenção e ao longo das histórias é possível identificar, se os precedentes existem corroboram para saber-se que é possível o fazer, para isso, novas estratégias e táticas precisam serem tentadas. O amor baseado na amizade é um desejo de tendências atuais. Antigamente a paixão significava escravidão (principalmente para a mulher), mesmo sabendo-se que existem pessoas que ainda vivem nessa dimensão do amor, a nova dimensão que surge do amor é a da busca pelo equilíbrio, onde há troca e os sacrifícios perdem espaço, pois os parceiros se relacionam de modo mais independente e autêntico.
Somos seres de limite, assim, as barreiras impostas pelo impossível e proibido, das quais não nos livraremos nos convencem que nem tudo é possível referindo-se as realidades do amor (VIORST, 2005). Conforme Laplanche (2001), a operação psicológica é uma linguagem que evoca paralelamente o investimento psíquico definido como representação. Assim assinala-se:
Quando se fala de investimento de uma representação, define-se uma operação psicológica numa linguagem que se limita a evocar, de forma analógica, um mecanismo fisiológico que poderia ser paralelo ao investimento psíquico (investimento de um neurônio ou de um engrama, por exemplo). Em contrapartida, quando se fala de investimento de um objeto, opondo-o ao investimento de uma representação, perde-se o suporte da noção de um aparelho psíquico como sistema fechado análogo ao sistema nervoso. Pode-se dizer que uma representação está carregada e que o seu destino depende das variações dessa carga, ao passo que o investimento de um objeto real, independente, não pode ter o mesmo sentido “realista”. Uma noção como a de introversão(passagem do investimento de um objeto real a investimento de um objeto imaginário intrapsíquico) põe bem em evidência esta ambiguidade: a ideia de uma conservação da energia na ocasião dessa retirada é muito difícil de conceber ( p. 256).
A passagem da subjetividade passa pela transmissão escrita e oral, na qual o sustento é dado pela autoridade. (KEHL, 2002). “A presença do ódio no amor é comum, mas só reconhecida com relutância. Chega, porém, o momento em que o enfrentamos em nós mesmos” (VIORST, 2005, p.71).
[…] só o amor de transferência, que é uma criação prática do dispositivo freudiano, pode ser uma proteção contra os efeitos da pulsão de morte, ou seja, contra o que pode haver de destrutivo nno sujeito: se podemos esperar algo do futuro da psicanálise, é sob a condição de dar-nos como objetivo abalar o sujeito na sua relação com a pulsão de morte, e o único meio de conseguir é de levar em conta do que há de amor de transferência na análise (SYLVESTRE, 1987, p. 303, apud, LETRA CLÍNICA).

A repetição é um modo de o amor transferencial se apresentar na vida do sujeito mesmo que inconscientemente, seu valor não pode ser negado e muito menos sua importância diminuída ou subestimada. Aparentemente, esta desesperada demanda de amor estaria em contradição com o que próprio Freud define como a típica posição feminina diante do amor: o narcisismo [Freud, 1914 (1995) p.85]. Lacan elucida esta aparente contradição ao nos falar da duplicidade do gozo feminino, que permite com que uma mulher, para além do gozo fálico que obtém do parceiro, goze de um gozo fora da linguagem, fora da referência edípica. Freud (op.cit.1933, p.111) chamou de ligação-mãe pré-edípica a este gozo devastador, feito de angústia e pulsão de morte. Diz-nos Lacan:
De fato, por que não admitir que, se não há virilidade que a castração não consagre, é um amante castrado ou um homem morto (ou os dois em um) que, para a mulher, oculta-se por trás do véu para ali invocar sua adoração – ou seja, no mesmo lugar, para-além do semelhante materno, de onde lhe veio ameaça de uma castração que realmente não lhe diz respeito? [Lacan, 1960 (1998) p.742].
De fato, no texto freudiano sobre a psicologia do amor, já havia sido enfatizado que, do lado das mulheres, a tão típica forma de amor masculino na qual não se encontra a super-valorização do objeto de amor. Pelo contrário, diz ele, “na mulher se nota apenas uma necessidade de degradar o objeto sexual” [Freud, 1912 (1994) p.180]. É a própria castração do homem, seu furo, sua falta que a mulher busca invocar sua adoração. É o que vemos na clínica dia após dia quando encontramos mulheres apaixonadas por bandidos, marginais, homens desqualificados. O amor feminino, ao contrário do masculino, não visa salvar da degradação o objeto amado, mas sim, na própria falta adorá-lo, a marca da castração. É assim que a mulher se prende ao narcisismo, mesmo estando dividida em sua própria posição de gozo.
Mulheres e homens estão hoje mais próximos um do outro do que jamais estiveram. Se essa proximidade, por um lado, é condição do “amor sublime” elogiado pelo poeta Benjamin Peret, por outro, ameaça transformar mulheres e homens antes em colegas de trabalho e parceiros de conversa do que em amantes (KEHL, 2002:190)
A família nas últimas décadas foi se transformando. Na década de 1970, após a revolução sexual, começou a surgir um tipo novo de família. Onde pais separados formam uma nova união e juntam os filhos de casamentos anteriores com os filhos do atual casamento. Em pleno século XXI, vamos assistir a uma inédita sociedade de solteiros, onde cada vez mais homens e mulheres estão demorando a casar e não querem ter filhos (LINS, 2011, p.434).
Não só podemos alcançar a realização afetiva, junto com outro alguém. As mentalidades estão mudando, cada vez mais as pessoas decidem ficar sozinhas, ter filhos, etc… Segundo Roberto Freire (p.412), Navarro lhe custou muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor era uma potencialidade vital sua, produção criativa própria, e que para amar dependia apenas dele mesmo.
“Em minha inocência e ignorância, eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e se comunicar o amor em mim e de mim. Esse amor pertencia, pois, exclusivamente a essas pessoas, ficando eu delas dependente para sempre. Se, por alguma razão, me deixassem ou não quisessem produzi-lo em mim, eu secava de amor e – o que é pior- ficava em seu lugar, na pessoa e no corpo, uma sangrenta ferida, como a de uma amputação, que não cicatrizaria jamais.”

Segundo Jablonski (2009), nos grandes centros urbanos ocidentais encontra-se em maior ou menor número famílias: a) nas quais ainda o pai trabalha fora e a mãe, não; b) nas quais pai e mãe trabalham fora; c) compostas por pais ou mães em seus segundos casamentos; d) de mães solteiras que assumiram – por opção ou não – a maternidade e passaram à condição de “famílias uni parentais”; e) casais sem filhos – por opção ou não – ; casais que moram juntos sem “oficializar” suas uniões; g) casais homossexuais, com ou sem filhos, e, mais recentemente, f) os que vivem juntos de forma separada, pessoas embora se definam como casais, habitam em residências distintas (CARNEIRO, 2011:28).
Nas ultimas décadas estão ocorrendo várias transformações, jamais vistas que estão decorrendo das mudanças sociais. A partir da segunda metade do século xx, com as relações de gênero, em torno da função maciça da entrada da mulher no mercado de trabalho, essas são suas conseqüências – casamentos mais tardios, o número de filhos diminuiu e a forma como o homem participa dentro de casa, veio com esse conflito gerado, pela igualdade de direitos e a necessidade de participar também. Para Coltrane (2000), apesar do aumento das contribuições masculinas nas tarefas domesticas, a maiorias das mulheres trabalham duas vezes mais e cumprem todas as tarefas rotineiras do lar. Segundo o autor as conseqüências injustas dessa divisão são geralmente insatisfação no casamento, depressão, injustiça e a grande diminuição da satisfação marital.
No texto Sobre o narcisismo; uma introdução (1914), o amor é abordado a partir da escolha de objeto. Em As pulsões e suas vicissitudes (1915), ele é apresentado a partir das diferenças e articulações com as pulsões. E psicologia de grupo e análise do ego (1921), Freud utiliza os conceitos de idealização e identificação para distinguir as formas de amar (Nadiá P. Ferreira. Apud JORGE, Marcos Antonio Coutinho. p. 19). Amor é uma força que tende a unir, numa relação onde duas vidas estão diretamente ligadas por esse sentimento.
“Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve que nos rejeita um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dá todas as provas do mundo que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro quem é que está no controle. A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem duvidas sobre si mesmo” (Medeiros, 2010:16-17).
Nisso passamos a observar a importância do amor para o nosso funcionamento geral, o bem que nos causa e as qualidades boas que agrega em nossas vivências, se nossa vida estiver repleta de amor e sentimentos tão construtivos, estaremos no caminho certo para sermos felizes ou fazer alguém feliz. Passando assim por todo o processo construtivo de amar como sentir-se capaz de voar, leve com um floco de neve, capaz de vencer o mundo, saudável ao ponto de viver eternamente amando ao outro e capaz de fazer loucuras sem medidas e desmedidas.
NOTA
¹ – A inveja do pênis é decorrente do conflito edípico vivenciado na infância, para o menino a relação é vivida de um modo, já para a menina deve haver a troca de objeto de amor, sendo pontuado por Freud a complexidade do desenvolvimento sexual da menina rumo a feminilidade (FREUD, 1925).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FREUD, S. Sobre a Psicanálise (1911). Obras completas de Sigmund Freud: Rio de Janeiro: 1996. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor & erotismo nas sociedades modernas. Tradução de Magna Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.
KEHL, Maria Rita. Sobre ética e psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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PINHEIRO, Teresa (org.). Psicanálise e formas de subjetivação contemporâneas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2003.
RISO, Walter. Amar ou depender? Como superar a dependência afetiva a fazer do amor uma experiência plena e saudável. Tradução de Marlova Aseff. Porto Alegre, RS: L&PM, 2001.
VIORST, Judith. Perdas necessárias. Tradução Aulyde Soares Rodrigues. – 4. ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.