Referências Nietzscheanas em “Onde está segunda?”

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O filme “Onde está segunda?” é original da Netflix e a história se passa no ano de 2073 onde a população mundial cresceu mais do que o planeta terra pode suportar, então para controlar o crescimento populacional e para que todos tenham qualidade de vida, o governo estabelece um limite para os casais onde cada casal só por ter um filho, entretanto uma mulher chamada Karen Settman teve sete filhas e faleceu no parto, e seu esposo Dr. Settman, começa a trabalhar em mecanismos para burlar a lei e esconder suas sete filhas.

A vida desmedida e fora da lei está completamente fora dos planos de toda a população, e quem burla o sistema de filhos tem os filhos congelados numa máquina para que sejam descongelados no futuro quando houver estabilidade. Essa briga de forças nos remete ao dionisíaco e apolíneo trazidos por Nietzsche.

Fonte: encurtador.com.br/frNO4

A obra a origem da tragédia ou nascimento da tragédia, helenismo e pessimismo, foi a primeira obra de Nietzsche, (CASTRO, 2008). De acordo com Vieira (2012), esta obra de Nietzsche foi publicada em 1872 quando ele ainda era professor universitário no curso de filologia, e é considerada por algum autores uma das principais obras da filosofia moderna. Neste livro, Nietzsche aborda sobre a tragédia que era segundo Vasconsellos (2001) um coro composto por doze homens e era cantada por um ator denominado Hipocritas que representava deuses ou seres legendários vivos ou mortos, sobretudo a tragédia era aberta ao público e o público participava livremente e se comovia com os coros e entravam em uma catarse.

A tragédia de Nietzsche aborda a dialética entre o deus Apolo e o deus Dionísio, onde Apolo representava as artes plásticas, o sonho, perfeição, luz, beleza, razão, sonho e Dionísio representava o vinho, a embriaguez, os prazeres carnais, a falta de limites e regras, pois para Nietzsche (2006) a vida se dava entre essa dialética apolínea e dionisíaca, entre o equilíbrio das duas forças, contrariando as ideias socráticas e discorrendo sobre o helenismo que foi o período onde o apolíneo e o dionisíaco viviam em perfeita harmonia, e o autor também traz a tragédia ática que resgata o dionisíaco e é a manifestação artística, é o equilíbrio do espírito dionisíaco e por meio desse processo o grego consegue manter-se diante da vida rodeado por essas duas forças, na tragédia ática o espirito dionisíaco prevalece. A tragédia nasceria na Grécia a partir do espírito da música e renasceria na modernidade a partir do espírito wagneriano. O nascimento da tragédia proveniente do espírito da música (NIETSZCHE, 2008).

Fonte: encurtador.com.br/egTV7

As sete filhas recebem o nome de dias da semana, sendo Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado e Domingo, e ridiculamente todas as filhas possuem personalidades que remetem a esses dias da semana. Elas são treinadas desde criança a terem uma personalidade igual, e a cada dia da semana que corresponde ao seu nome, uma delas pode sair e viver a identidade de Karen Settman. Tudo o que acontece naquele dia é registrado visto que possuem grande tecnologia de registro de dados e imagens, porém mesmo assim é necessário que ela se reúna com todas as irmãs e conte detalhadamente tudo o que houve durante o seu dia.

Karen Settman trabalha num banco e em uma segunda-feira quando Segunda foi trabalhar no seu lugar, misteriosamente Kate some e as irmãs tentam localiza-la por seu sistema moderno, porém não conseguem, então na terça-feira, a Terça sai para tentar desvendar o que houve e reencontrar a irmã, entretanto ela também é pega e descobre que o governo já está sabendo sobre a falta identidade delas. Homens que trabalham para o governo invadem a casa e há confronto e luta. Toda a tecnologia do filme e todos os apetrechos mostrados, são extremamente belos e bem feitos, tudo muito perfeito e bem estruturado.

Fonte: encurtador.com.br/INP58

O espírito apolíneo criava ao redor da forma uma cortina estética perfeita e bela, criando também uma ilusão utilizando da arte para os gregos mostrando apenas o lado belo da existência, e o espirito apolíneo foi reforçado pelo cristianismo, pois mantem a ideia de submissão do homem. O espírito apolíneo representa as artes plásticas e o espírito dionisíaco representa a música e Nietzsche (2008), em sua obra busca o equilíbrio das duas forças, visto que os gregos moldavam o mundo com formas e arte: apolínea e dionisíaca, duplo caráter, teatro e música. E Nietzsche (2008) também retrata sua enorme influência proveniente de Schopenhauer, onde aborda a vida como sendo essencialmente sofrimento e acontecimentos negativos de forma nua e crua, de maneira transparente e fiel a estes relatos de sofrimento e desprazer, rasgando o véu ilusório criado por Sócrates e por Apolo. E Nietzsche (2008) retrata Hegel como o processo de conhecimento do mundo é dialético, tese e antítese, na obra Nietzsche traz uma tese apolínea e uma antítese dionisíaca, resultado disso é a tragédia ática.

De acordo com o que é trazido e apresentado na obra de Nietzsche, o principium individuationis é o processo onde o indivíduo se constrói quanto individuo, uma armadilha da natureza para nos fazer acreditar que somos únicos e podemos vencer a morte e escapar do destino trágico.

FICHA TÉCNICA

Fonte: encurtador.com.br/fozY2

Título: Onde está segunda?

Título original: Seven Sisters

Diretor: Tommy Wirkola
Elenco: Noomi Rapace, Glenn Close, Willem Dafoe, Marwan Kenzari
Pais: EUA  
Ano: 2017
Classificação: 16

REFERÊNCIAS

CASTRO, M.C. , A inversão da verdade. Notas sobre o nascimento da tragédia 2008: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732005000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de novembro de 2020.

NIETZSCHE, Friedrich. A ORIGEM DA TRAGÉDIA. Rio de Janeiro: Cupolo Ed, 2008.

SILVA, L. A. Tragédia 2012. Disponível em: < http://www.infoescola.com/artes/tragedia/>  Acesso em: 11 de novembro de 2020.

VIEIRA, M.V. Para ler O nascimento da tragédia de Nietzsche. São Paulo: Loyola, 2012..

TRINDADE, Rafael. Nietzsche e o Dionisio. Disponivel em: https://razaoinadequada.com/2017/08/23/nietzsche-e-dionisio/ Acesso em: 12 novembro de 2020.

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In(Visibilidade) dos Povos Ciganos

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“Enquanto a humanidade não resgatar sua enorme dívida para com nossos irmãos ciganos, nenhum de nós poderá falar em direitos humanos e cidadania”

Pretende-se com essa explanação abarcar as questões étnicos-culturais, especificamente, referentes à cultura cigana e sua significância para o mundo atual, propiciando e auxiliando para uma ampliação da percepção acerca da população cigana, bem como a representação social desta, haja vista a contribuição dessas representações para a segregação desses povos. Utilizando-se, portanto, da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, na qual carece de ser analisado a partir de duas dimensões: processo e produto, ou seja, as pessoas acabam reconstruindo a realidade a partir de um conhecimento particular, em que influencia em determinados comportamentos e comunicações entre indivíduos (BERTONI, 2017).

Assim, pode-se compreender que a população cigana tem uma história ocultada durante milênios. Sendo uma grande problemática e um instrumento para o aumento da discriminação e preconceitos frente a estes povos. Aliás, ainda hoje há poucos registros sobre esta em meios científicos e, consequentemente, acadêmicos, haja vista a dificuldade para se encontrar dados de sua originalidade. Contudo, há evidências de que os povos ciganos vieram da Índia para o Oriente Médio há cerca de 100 mil anos atrás (MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS, 2007).

Eles se denominam de “roma” ou “rom” que traduzido para a Língua Portuguesa significa “homem”. Os povos ciganos vivem no nomadismo, tem uma dimensão cultural intensa e perpassa o misticismo, a sabedoria e a alegria. Muitos historiadores supõem que estes povos saíram da índia para se esquivarem dos povos muçulmanos. Havia muitos ciganos vivendo em Portugal e foram levados ao Brasil e a África. No cenário nacional, estes se dividem em alguns clãs: Moldowaia, Kalderash, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê, além de haver divisão de falas (MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS, 2007).

Em dois estudos realizados entre os anos de 2012 e 2017 no estado de Sergipe e em Vitória no Espírito Santos propuseram-se a mostrar como as pessoas não ciganas veem os povos desta cultura. Além das questões afetivo-emocionais que perpassam esta dinâmica relacional entre povos de culturas distintas. Em ambas as pesquisas houve um contraponto entre o nível de contato das pessoas não ciganas com o grupo cigano, além de analisar as questões afetivas com relação a eles. Segundo Bonomo, Cardoso, Faria, Brasil e Souza (p. 6, 2017) as representações sociais, como crenças compartilhadas acerca de um grupo, influem nos comportamentos e atitudes. […] imagem negativa difundida acerca dos ciganos, como se vê no primeiro quadrante, não favorece à integração entre eles.

Fonte: encurtador.com.br/swxA4

No estudo realizado por Carvalho, Lima, Faro e Silva (2012) a entrevista de 300 pessoas foram analisadas 147 delas moravam distantes dos ciganos e cerca de 157 moram nas proximidades. Diante do exposto, foi solicitado que dissessem acerca dos pensamentos, imagens desencadeadas ao ouvirem sobre os “povos ciganos”  observou-se que tanto no grupo controle como no grupo de experimento houve a presença de fatores relacionados com os estereótipos e preconceitos, ou seja, nos dois casos não há presença de representações positivas frente a esses povos. Apesar das representações sociais terem sido diferentes no que se refere aos dois grupos, as questões pejorativas se mantiveram presentes. Assim, fica explícito que embora possuidores de uma proximidade, eles tinham a necessidade de se mostrarem pessoas “diferentes” dos povos ciganos, com fortes questões emocionais frente ao grupo, por isso insistem em afirmar que são perigosos, sujos, com crenças imorais, ladrões.

Já no estudo realizado por Bonomo et al (2017) com 57 pessoas que diferiram quanto às representações sociais, mas as questões pejorativas ainda se mostram demasiadamente presentes similarmente ao estudo realizado em 2012 no estado de sergipe. Há uma constante presença de sentimentos ambivalentes frente a esses povos, ou seja, sentimentos positivos de admiração e afeição e, ao mesmo tempo, repulsa, aversão, antipatia, medo, mal-estar, bastante desconfiança frente a eles, indiferença. Além das questões relacionadas com as vestes e com a própria aparência deles, na qual causa estranhamento aos outros indivíduos. Contudo, o povo cigano passou por uma evolução à medida que eles começaram a se urbanizar, relacionando-se com outras pessoas.

O povo cigano procurou ao longo de décadas e caminhos que seguiu procurar adaptação aos ambientais as quais se inseriu, mas diversos traços culturais permaneceram iguais, a saber, suas tradições. É marcante a presença de um discurso pejorativo nos inúmeros meios de comunicação que os ciganos aparecem. É muito presente a exclusão, a discriminação, preconceito contra estes povos e seus modos de estar no mundo devido ao não padrão destes povos. A história vaga e disseminada socialmente exerce uma função que aumenta a exclusão, sem contar na onda de estupros frente contra estes povos, principalmente, crianças. (JÚNIOR, 2013)

Diante das questões trazidas, é notório que o processo de exclusão dos povos ciganos é alarmante e causa sofrimento a eles. Assim, a Psicologia não pode ser afastada deste cenário assustador, pelo contrário, suas intervenções e práticas precisam alcançar estes povos que se encontram ameaçados e em situações de vulnerabilidade. A Psicologia enquanto ciência e profissão tem um grande compromisso social e luta em prol dos Direitos Humanos e dos Direitos Sociais, por isso Desse modo, serve como reflexão para uma sociedade marcada por estereótipos negativos frente a culturas diferentes do padrão dominante, e a necessidade de buscar a ruptura desses paradigmas, mobilizando e visando a conscientização das pessoas para que também não adotem práticas discriminatórias.

Fonte: encurtador.com.br/bszQZ

Referências

ANDRADE JUNIOR, Lourival. Os ciganos e os processos de exclusão. Rev. Bras. Hist.,  São Paulo ,  v. 33, n. 66, p. 95-112,  Dec.  2013 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882013000200006&lng=en&nrm=iso>. access on  18  May  2020

BONOMO, Mariana; MELOTTI, Giannino  and  PIVETT, Monica. Representações Sociais de Mulher Cigana entre População Não-Cigana Brasileira e Italiana: Ancoragem Psicológica e Social. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. 2017, vol.33, e3354.

BERTONI, L. M., and GALINKIN, A. L. Teoria e métodos em representações sociais. In: MORORÓ, L. P., COUTO, M. E. S., and ASSIS, R. A. M., orgs. Notas teórico-metodológicas de pesquisas em educação: concepções e trajetórias. Ilhéus, BA: EDITUS, 2017, pp. 101-122.

CARVALHO, Nayara Chagas. LIMA, Marcus Eugênio Oliveira. FARO, André. SILVA, Cíntia Almeida Figueiredo. Representações sociais dos ciganos em Sergipe: contato e estereótipos. Sergipe, 2017.

MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Povo Cigano o direito em suas mãos. Brasília, 2007.

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Saúde da População Travesti e Transexual é pauta de reunião da SEMUS

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Acontece na próxima terça-feira, dia 14 de agosto de 2018, às 14 horas, mais uma  reunião sobre a Saúde da População Travesti e Transexual em Palmas – TO, no Auditório da Secretaria Municipal de Saúde – SEMUS.

Dhieine Caminski, gerente de saúde mental na SEMUS, aponta que o objetivo do evento é levantar as necessidades de saúde da população T de maneira geral, como as principais dificuldades de acesso às unidades de saúde, principais situações que não conseguem atendimento, situações de falta de informação dos profissionais, uso do nome social, entre outras.

O evento é aberto ao público e é de suma importância a participação de todos.

Endereço da SEMUS:

Local: Auditório da Secretaria Municipal de Saúde – SEMUS
Av. Teotônio Segurado Ed. Ivanildes Magalhães, Quadra 1302 Sul Conj.01 Lt. 06 – CEP 77.024-650 – Palmas – TO.

Foto: arquivo pessoal.

Quem é Dhieine Caminski?

Psicóloga Especialista em Saúde da Família pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), possui experiência na área Clínica, Psicologia Pediátrica, Estudos de Gênero, Violência e Saúde, Psicanálise, Saúde Coletiva, Educação Permanente em Saúde e Gestão no SUS. Atualmente trabalha como Gerente de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO na gestão dos processos de trabalho de assistência em saúde mental dos serviços da atenção especializada (ambulatório de psiquiatria, ambulatório de saúde mental infanto-juvenil, CAPS II, CAPS AD III); articulação de todos os pontos da Rede de Atenção Psicossocial. Atua na formação da Rede de Atenção em Vigilância em Saúde (RAVS) nas políticas públicas inerentes aos eixos – Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde; Urgência e Emergência Psiquiátrica, Redução de Danos, Políticas de Equidade, Infância e Adolescência, Medicalização em Saúde e Controle Social em Saúde através do Núcleo de Educação Permanente em Saúde Mental do Plano Municipal de Educação Permanente em Saúde (PMEPS).

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