O isolamento social foi considerado uma medida universal de prevenção desde o início do atual surto de coronavírus (SARS-CoV-2), causador do Covid-19, em decorrência da transmissão rápida e com diferentes impactos. Tal iniciativa pode auxiliar na redução da contaminação, sendo necessário para que a normalidade se restabeleça o quanto antes.
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A Gestalt Terapia considera que o indivíduo é um ser relacional, em um processo de devir, em constante troca com o meio, e que o processo de mudança está diretamente ligado a criatividade. Segundo Zinker (2007, p. 21) “o ato criativo é uma necessidade tão básica quanto respirar e fazer amor. Somos impelidos a criar”.
O isolamento é observado como tendo vantagens e desvantagens. O menor entendimento sobre sua condição ou sua necessidade interfere na compreensão sobre os procedimentos e adesão às medidas cautelosas (Duarte et al., 2015 apud Newton et al., 2001). Nesse período, com o aumento da espetacularização da vida nas mídias sociais, está sendo possível verificar o ajustamento criativo (Perls, 1951), processo pelo qual o contato com o meio ambiente se dá através de uma fronteira, de forma saudável, e favorece o despertar da individualidade e o florescer dos relacionamentos.
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Este é um dos conceitos chaves da abordagem em questão, pois, não implica em “ajustamento” mas em “ajustamento criativo”. Referindo que existe nesse processo a participação ativa do indivíduo, não se tratando de uma adaptação a algo já existente e sim de transformar o ambiente e enquanto este se transforma, o indivíduo também se transforma e é transformado. As práticas ligadas à pinturas, desenhos, modelagens, composições, danças, ligações por vídeos em formações grupais, dentre outras vistas nesse período se caracterizam como parte desse processo de ajustes criativos.
O COVID-19 está nos deixando uma mensagem dura, mas clara, relativa às relações sociais, pois o ato de estarmos em isolamento, ocasiona um benefício coletivo, portanto, ou construímos alternativas melhores em conjunto, ou pereceremos coletivamente. Bastos (2010) descreve em seus estudos a aprendizagem quando centrada nos processos grupais coloca em evidência a possibilidade de novas elaborações, de integrações e de questionamentos acerca de si e dos outros, portanto, é um processo contínuo em que comunicação e interação são inseparáveis, tendo em vista que aprendemos a partir do contato com os outros.
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Por fim, a importância do isolamento durante essa fase pode se legitimar, por estar sucedendo em ajustamentos criativos, propiciando processos de constantes transformações, ressignificações, possibilitando aos indivíduos que repensem uma vida possível de ser vivida mesmo em contextos permeados por distanciamentos físicos.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Alice Beatriz B. Izique. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri Wallon. Psicol inf., São Paulo, v. 14, n. 14, p. 160-169, out. 2010.
CIORNAI, Selma. Relação entre criatividade e saúde na Gestalt Terapia. Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt Terapia de Goiânia, Goiânia, v. 1, n. 1, p.1-7, jan. 1995.
DUARTE, Tássia de Lima et al. Repercussões psicológicas do isolamento de contato: uma revisão. Periódicos Eletrônicos em Psicologia, São Paulo, v. 13, n. 2, p.1-5, 2015.
Perls, F.; Hefferline, H.; Goodman, P .Gestalt therapy: Excitement and growth in human personality. New York : Dell Pub. Co, 1951.
ZINKER, J. O Processo Criativo em Gestalt–terapia. São Paulo: Summus Editorial, 2007.
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Psicologia da Saúde: Contextos e Áreas de Intervenção
No primeiro capítulo do livro “Psicologia da Saúde” de José A. Carvalho Teixeira, de início é abordado o conceito de saúde de acordo com a Organização Mundial de Saúde- OMS. De forma objetiva, é apresentado como sendo “um estado positivo de bem-estar físico, social, psicológico, econômico e espiritual, e não apenas uma ausência de doenças”. Destacando que há fatores de interferências como: contexto social, econômico, sexo, hereditariedade e condições de trabalho. O texto relata a importância das experiências individuais do sujeito no processo saúde-doença.
O autor traz uma definição para Psicologia da Saúde, como sendo: “A aplicação de técnicas e conhecimentos psicológicos à saúde, doenças e aos cuidados de saúde”. Um dos seus objetos de estudo é o sujeito psicológico e suas relações com a saúde e doença, ou seja, essa ciência visa compreender os impactos dessa interação do indivíduo psicológico com esse processo saúde-doença, como se dá essa relação, e a compreensão do indivíduo dentro desse processo, buscando compreender a maneira como isso pode afetar sua vida e seu bem-estar. Levando em consideração que à Psicologia da Saúde procura compreender como as intervenções psicológicas podem proporcionar melhorias e qualidade de vida desse sujeito e da comunidade como um todo.
Desse modo, o autor destaca que à Psicologia da Saúde não é uma mera aplicação de técnicas da psicologia clínica, mas uma união de saberes da Psicologia, com intuito de melhorar a relação do ser humano com o processo de adoecimento, na sua busca por saúde, bem-estar e a manutenção dessa condição.
Diante disso, o autor traz uma abordagem de duas perspectivas da Psicologia da Saúde: perspectiva tradicional e a perspectiva crítica. Dentro da perspectiva tradicional, o nível dessa análise é intrapessoal e interpessoal, ou seja, o foco da intervenção é individual. Enquanto que à crítica vem trazer uma proposta qualitativa, o indivíduo como ser social, afetado por ele, o foco da intervenção está nas competências pessoais e sociais dos utentes.
A perspectiva crítica defende alguns valores, assunções e práticas. Assim, entende-se que deve haver uma preocupação com a autonomia do sujeito, com sua participação e envolvimento social. Como assunções, é possível compreender que o sujeito é interpretado como um ser participativo na constituição do processo de saúde, levando em consideração à subjetividade desse indivíduo, não retendo e limitando as determinações e conhecimentos dos profissionais de saúde. Quanto às práticas dessa perspectiva, o autor destaca a importância de serem voltadas para intervenções proativas, considerando os contextos nos quais os usuários estão inseridos.
Fonte: goo.gl/MdqTg5
O envolvimento da comunidade reforça a cidadania valorizando o indivíduo, tornando-o protagonista do processo “fazer saúde”. Teixeira (2007) ressalta muito bem isso ao decorrer do capítulo, valorizando o Homem como ser participativo de todo o processo saúde-doença, abordando de forma qualitativa essa relação, transportando-nos do patamar reducionista para um “fazer psicologia” humanizado e participativo.
Em paralelo a isso, Teixeira (2007) aborda algumas possibilidades de atuação do psicólogo da saúde. O texto fala das possibilidades de atuação no âmbito privado e público, sendo equiparado com outras atuações como: médicos, enfermeiros, técnicos sociais e demais profissionais do campo. Universidades, formação, setores do Ministério da Saúde ligados ao planejamento e gestão, são algumas das possibilidades de atuação que o autor salienta. Porém, ressalta que a consulta psicológica ainda é o pilar fundamental da intervenção com usuários.
Em continuação, o autor relata sobre avaliação psicológica em saúde, destacando que o papel fundamental dessa metodologia é: promover saúde e orientar as pessoas e identificar futuros passos para continuação do atendimento ao usuário. Desse modo, deve se ater durante a avaliação à fatores como, por exemplo, o modo como o indivíduo lida com a situação, os fatores de risco que permeiam o processo de adoecimento. Essas atitudes profissionais são de muita relevância no atendimento, pois, possibilita ao profissional visualizar amplamente as possibilidades de inter-relações múltiplas.
Fonte: goo.gl/zsijyd
O texto demonstra que entre as múltiplas tarefas do psicólogo em saúde, a intervenção psicológica de gestão em stress, treino emautocontrole, eficácia no coping e técnicas de relaxamento são primordiais para o processo de enfrentamento ao tratamento por parte dos usuários. As intervenções psicológicas clínicas devem ter por base as três áreas significativas, sendo elas: promoção e prevenção à saúde, na qual se destaca a prevenção ao tabagismo, álcool e outras drogas, comportamento sexuais de riscos, hábitos alimentares saudáveis. Outro ponto importante é: os efeitos do stress sobre a saúde, sendo o profissional responsável por promover estratégias melhorias e/ou condições com procedimentos médicos, gestão do stress, adaptação do processo de adoecimento, atenção, cuidados e aceitação do tratamento.
Por último, Teixeira (2007) propõe a prestação de cuidados psicológicos a indivíduos com perturbações mentais, orientando o acesso em programas de reabilitação, estilo de vida saudáveis, aconselhamento psicológico, entre outros meios que possibilite este indivíduo a obter melhores condições de vida.
Outras formas de intervir são relatadas no texto. Para ele, o profissional pode trabalhar de forma individual, familiar e social, com objetivo sempre de prestar a atenção ao indivíduo e ajudá-lo no enfrentamento do processo saúde/doença. O psicólogo em saúde deve ser um facilitador de desenvolvimento de estilos de vida saudáveis, a ele deve-se o papel de levar informações que dê suporte às pessoas a compreender o processo de adoecimento, e a desenvolverem ferramentas para combater às adversidades do momento.
Fonte: goo.gl/GRsqCQ
A esse profissional espera-se uma compreensão da gênese e manutenção dos comportamentos da saúde, estudos de relações entre comportamentos e doenças, além de promoção da saúde e prevenção de doenças.
Esses métodos de investigação podem ser qualitativos ou quantitativos. No entanto, essas investigações devem colaborar com os demais profissionais de saúde e centrar nas necessidades dos serviços, priorizando a análise do discurso e das narrativas. Em continuidade o autor faz uma correlação com outras atividades já existentes, como: prevenção de doenças isquêmicas do coração, hipertensão arterial, diabetes e demais doenças crônicas, destacando que tais projetos de prevenções dessas doenças são importantes, mas os profissionais ainda devem se atentar para aspectos psicológicos existentes ligados a prevenção de tais doenças.
Em um dos seus últimos tópicos Teixeira (2007) vem abordar as questões de organização e qualidade de vida em psicologia da saúde, a existência de diferentes contextos de intervenções, e a necessidade de estabelecer prioridades na organização. Desse modo, é importante que o psicólogo de saúde estabeleça meios de contribuição para os profissionais da área descobrir suas próprias motivações para o trabalho, e entre outros, meios de compreender as frustrações, flexibilidades e capacidade de trabalhar com situações mais complexas.
Fonte: goo.gl/yr4Eff
Ainda é de responsabilidade do psicólogo promover meios que facilitem a comunicação entre profissionais e usuários do sistema. Sendo assim, é preciso garantir o cuidado dos aspectos psicológicos dos utentes, prestados nos serviços de saúde. É necessário que esses cuidados se prendam com base nos princípios de melhorias contínuas que é composto por quatros aspectos importantes: papel profissional, plano de atividades, formação contínua e melhoria contínua da qualidade.
Logo em seguida, Teixeira apresenta o papel do profissional, como sendo importante para um bom funcionamento das organizações, contribuindo significativamente aos objetivos dos serviços de saúde. É imprescindível que o plano de atividades de intervenções psicológicas atenda aos recursos dos profissionais do serviço
Por fim, o autor conclui dizendo o quanto é importante o exercício da psicologia em unidades de saúde. Ressaltando que serviços em comunidades, escolas, locais de trabalho, e unidades de saúde são grandes mecanismos e oportunidades de promover saúde, comunicação em saúde, cuidado e atenção aos grupos mais vulneráveis. Por tanto, torna-se importante que o psicólogo em saúde estabeleça meios que proporcionem humanização e qualidade nos serviços de saúde.
FICHA TÉCNICA DO LIVRO
Fonte: goo.gl/KxxNrJ
Título: Psicologia da Saúde Contextos e Àreas de Intervenção Autor: José A. Carvalho Teixeira Editora: Climepsi Editores Ano: 2007 Páginas: 269
REFERÊNCIA: TEIXEIRA, José A. Carvalho. Psicologia da Saúde: Contextos e Áreas de Intervenção. Lisboa, Portugal: Climepsi Editores, 2007. 269 p.