Diferencie fome emocional da fome física

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Durante a pandemia do novo coronavírus, muitos de nós ficamos mais ansiosos com medo do futuro e com a sensação de que todos os dias parecem iguais. Além disso, tem-se notado outra consequência dessa ansiedade: as pessoas têm falado que estão sentindo mais fome. Mas será que se trata realmente de fome? Você sabe qual a diferença entre a fome física e a emocional?

Na fome física é algo biológico. Acontece de forma gradativa e normalmente aparece a cada três horas após a última refeição. Além disso, sentimos o estômago vazio e alguns têm a sensação de fraqueza e tonturas. Já na fome emocional, a vontade de se alimentar aparece de forma impulsiva, alguns minutos após cada refeição e a procura normalmente é por alimentos doces e com gordura. As escolhas costumam não ser saudáveis, como, por exemplo, a busca por chocolates, biscoitos e salgados.

Fonte: encurtador.com.br/awNW9

É importante reforçar que a fome emocional não é uma necessidade real. As pessoas muitas vezes têm dificuldades de interpretar corretamente as emoções que sentem e acabam descontando na comida. Estamos vivendo em tempos de fortes emoções devido à pandemia. Em nossa atual situação, é normal ficarmos ansiosos, com medo do presente e futuro, rodeados de incertezas, entre outras emoções.

Por esse motivo, é essencial identificar o que causa a fome emocional. Pode estar relacionada ao excesso de tarefas, pressões do dia a dia e falta de dinheiro. É importante observar também se ela antecede algum evento ou situação que cause medo, ansiedade ou estresse. Quando é identificada a verdadeira causa e a emoção disso, é possível conseguir controlar esse comportamento.

Fonte: encurtador.com.br/iwxNY

Algumas consequências podem ser dificuldade de emagrecimento, aumento de peso repentino, estados depressivos pela frustração por não conseguir cumprir metas e dietas.

O tratamento com o psicólogo é baseado em entender as emoções, o momento de vida do indivíduo, ajudando-o a organizar seus pensamentos para ter habilidade emocional para lidar com a demanda do dia a dia. Portanto, busca ajuda profissional. Hoje, a tecnologia tem sido uma grande aliada. Não tenha preconceito com os atendimentos online. Eles podem ter a mesma eficácia do presencial. O importante é você conseguir se cuidar sem demora.

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CFP atualiza normas para atendimento às pessoas transexuais e travestis

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A Resolução foi publicada em 29 de janeiro de 2018

Com uma ampla fundamentação jurídico/legal e em referência a uma série de acordos nacionais e internacionais e à própria Constituição Federal, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou as novas normas referentes ao atendimento psicológico de pessoas transexuais e travestis. Na Resolução no. 1, de 29 de janeiro de 2018, o Conselho determina que as psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, atuarão segundo os princípios éticos da profissão, contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis. A ação reforça o caráter humanista, político e social do profissional de Psicologia.

O CFP ainda destaca, na mesma resolutiva, que as psicólogas e os psicólogos não podem exercer qualquer ação que favoreça a discriminação ou preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis bem como, no exercício profissional, ser coniventes ou omissos perante a discriminação de pessoas transexuais e travestis. Com esta ação o Conselho dá uma resposta direta a um grupo de psicólogos que, em 2017, entrou na justiça para ter o direito de trabalhar com reversão sexual, o que popularmente ficou conhecido como cura gay. Neste sentido, fica vedado aos psicólogos exercerem qualquer ação que favoreça a discriminação ou preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis. O CFP vai mais adiante e, no artigo 4º. determina que “as psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, não se utilizarão de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminações em relação às pessoas transexuais e travestis”.

A partir da resolução os profissionais de Psicologia estão impedidos de colaborar ou participar de eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias em relação às transexualidades e travestilidades, bem como não poderão participar de pronunciamentos, inclusive nos meios de comunicação e internet, que legitimem ou reforcem o preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis.

Para a coordenadora do curso de Psicologia, profa. Dra. Irenides Teixeira, a Resolução 01/18 é um avanço para a profissão. “Com esta ação, o CFP protege a prática profissional de distorções e assegura que a liberdade e a dignidade da pessoa humana sejam invioláveis, o que contribui para a diversidade identitária, algo que as psicólogas e psicólogos devem não apenas respeitar, mas lutar pela manutenção”, destaca Irenides.

Por fim, no artigo 8º. da Resolução, o CFP determina que fica vedado às psicólogas e aos psicólogos, na sua prática profissional, propor, realizar ou colaborar, sob uma perspectiva patologizante, com eventos ou serviços privados, públicos, institucionais, comunitários ou promocionais que visem a terapias de conversão, reversão, readequação ou reorientação de identidade de gênero das pessoas transexuais e travestis. (Com informações do CFP)

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O Aconselhamento Psicológico segundo Yolanda Forghieri e a Abordagem Centrada na Pessoa

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Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-tr3CKiymaow/T3TUkkvLdWI/AAAAAAAAK54/DUT_fM4AV1M/s1600/quebra%2Bcabeca.jpg

Para se entender o atual panorama do Aconselhamento Psicológico, é necessário buscar informações acerca dessa prática terapêutica a épocas primitivas e a forma de terapia que se utilizava, haja vista que o aconselhamento remete a tempos remotos, quando ainda nem se sabia o que seria o termo “aconselhar”. Além disso, é sempre interessante buscar a compreensão de um processo vigente e em constante desenvolvimento.

Levando ao plano da questão de saúde-doença, podemos observar, as “terapias” vigentes a épocas primitivas. Na pré-história, as doenças se remetiam a espíritos do mal e eram tratadas com trepanação ou rituais de feitiçaria. No Antigo Egito, a crença era de que as doenças eram causadas por demônios e punições de deuses, tendo como tratamento, a magia e algumas formas primitivas de cirurgia e higiene. Na China Antiga, acreditava-se que as doenças eram causadas em detrimento do desequilíbrio de forças da natureza e o tratamento consistia em ervas medicinais e acupuntura. Hoje, conhecemos esse tratamento como medicina chinesa tradicional (STRAUB, 2014).

Já na civilização grega, doença e terapia passam para o plano natural e científico. Vale ressaltar, nesse período, as significativas contribuições de alguns filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Hipócrates foi responsável por iniciar esse enfoque do ponto de vista racional, porém, há um retrocesso nessa visão, “assim, o tratamento das doenças mentais passou a ser sinônimo de exorcismo, representando uma união da demonologia primitiva e da mitologia cristã” (FORGHIERI, 2007, p.12).

 O ar contaminado e os humores do corpo eram as causas das doenças, na Roma Antiga. O tratamento utilizado era a flebotomia, banhos e enemas. Na Idade Média, a doença era vista como punição divina, devido aos pecados do indivíduo, e curada através de milagres, santos e também, a partir flebotomia. Já na Renascença, surge com Descartes a divisão entre mente e corpo (dualismo cartesiano ou dualismo mente-corpo), onde a causa da doença devia-se a uma condição física do corpo, sendo este último, separado da mente. Ou seja, mente e corpo funcionam separadamente, sem interação. Nesse período, utilizaram-se as primeiras técnicas cirúrgicas como tratamento das doenças. Na década de 1920, as causas das doenças tinham influência da mente e suas emoções (medicina psicossomática), sendo tratadas através da psicanálise (STRAUB, 2014).

Fonte:http://www.hs-menezes.com.br/images/PREV01.jpg?19

São diversas as terapias praticadas antigamente que podem ser consideradas como matrizes do Aconselhamento Psicológico, que surgiu como “uma ajuda terapêutica destinada a aliviar os sofrimentos existenciais dos seres humanos, com procedimentos variados, sem o estabelecimento de teorias ou regras rígidas” (FORGHIERI, 2007, p. 38). Sendo assim, mesmo que de forma indireta ou não, podemos perceber as contribuições de períodos primitivos da história para a origem do Aconselhamento Terapêutico.

Além disso, a partir do século XX, pode-se constatar que a origem do Aconselhamento Psicológico também está relacionada à orientação profissional e vocacional, haja vista o estabelecimento de uma relação terapêutica entre o profissional que auxilia na tomada de decisão e o indivíduo.

Forghieri (2007) diz que, devido às Grandes Guerras e as consequências trágicas de tais acontecimentos, um elevado número de pessoas necessitou de atendimentos psicológicos. Logo, apesar de apenas psiquiatras e médicos terem a autorização da prática psicoterápica, outros profissionais, tais como da área da enfermagem, assistência social e orientação educacional, também puderam exercer um papel de aconselhadores terapêuticos, a fim de dirimir a demanda. Foi com a publicação da obra de Carl Rogers, em 1942 nos Estados Unidos sobre Aconselhamento Psicológico (Cousenling Psychology) que foi reconhecida essa prática na comunidade científica da Psicologia. Porém, somente a partir da década de 1950, a APA (American Psychology Association) oficializa o Aconselhamento Psicológico como uma prática terapêutica.

O novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da psicoterapia, inclui orientação profissional e ocupa-se sobretudo do indivíduo como indivíduo, procurando ajudá-lo a adaptar-se com sucesso aos vários aspectos da vida. Os aconselhadores ou orientadores, nesse ponto de vista, ocupam-se de pessoas normais podendo, ainda, cuidar daquelas que apresentam deficiências e são mal ajustadas, porém, de maneira diferente daquela que caracteriza a Psicologia Clínica (SUPER, 1955 apud FORHIERI, 2007, p.43-44).

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 O Aconselhamento Psicológico hoje

A atual conjuntura apresenta-se como um entrave nas escolhas acerca da vida. Os acontecimentos que antes eram isolados pelas distâncias que separavam as pessoas umas das outras, hoje, acontecem quase que em tempo real, pela rapidez dos meios de comunicação, redes sociais, entre outros. É nesse movimento frenético do ser humano, em busca de trabalho, da realização pessoal, de sua emancipação como pessoa na sociedade, que o aconselhamento psicológico acontece (FORGHIERI, 2007).

O aconselhamento psicológico visa prestar ajuda de uma forma mais rápida ao indivíduo, no que tange às suas decisões relacionadas a escolha profissional, relacionamentos, família, entre outros. Preocupa-se, sobretudo, em auxiliar a pessoa a encontrar um norte para o seu existir, quanto esta se vê emaranhada pela tristeza, angústia e sem uma perspectiva de vida. Além disso, não consegue perceber em meio as dificuldades de seu cotidiano, uma solução que possa dirimir tais angústias.

Diante disso, Forghieri cita dois extremos envolvidos no processo de aconselhamento terapêutico

A saúde existencial consiste no bem-estar geral que cada um de nós experiencia no decorrer da própria existência, caracterizado por uma vivência global de liberdade, acolhimento e sintonia em relação a si, aos seus semelhantes e ao mundo em geral (…). Inversamente, o adoecimento existencial consiste em mal-estar, contrariedade e angústia, caracterizando-se por uma vivência global de impotência, insatisfação em relação a si mesmo, à proposta vida e aos seus semelhantes, e por uma revolta, ou uma apatia, um conformismo pessimista de que nada adianta fazer para melhorar ou mudar essa situação (…). Saúde e adoecimento existenciais fazem parte da vida de todos nós. São como dois polos constituintes da totalidade da existência. São maneiras de existir de certo modo opostas, paradoxais, que se alternam constantemente no decorrer de nossa vida, às vezes tão próximas que chegam a se entrelaçar (FORGHIERI, 2007, p.103).

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-QB3JB9gthGc/ULblIW4lniI/AAAAAAAABy8/zm5NjezHydQ/s1600/empatia3.jpg

Sendo assim, o terapeuta do aconselhamento psicológico deve estar à escuta do cliente, compreendendo os fatores contextuais, o tipo de problema situacional ou a um desconforto emocional. Caso seja identificado algo patológico, o cliente deve ser encaminhado para a psicoterapia (atendimento em longo prazo), pois tal sentimento refere-se a um estado de passividade diante de uma situação que o indivíduo não consegue resolver sozinho.

O aconselhamento psicológico tem seu foco no acompanhamento breve onde o psicoterapeuta e o cliente desenvolvem um diálogo. A duração do aconselhamento psicológico/terapêutico é fixado entre o aconselhador e cliente. Logo, pode ser realizado em uma ou mais sessões. Vale ressaltar a importância de haver uma reciprocidade na relação entre terapeuta-cliente, sendo que o terapeuta deve-se mostrar disposto a ajudar o cliente e este, disposto a discorrer sobre suas dificuldades. (FORGHIERI, p. 127).

Ou seja, o cliente fala e o aconselhador vai dando devolutivas, no sentido de estar mobilizando o cliente a fazer o que só ele pode fazer por si mesmo, diante de algo que sua existência lhe apresenta. Essa escuta proporciona um clima para que o cliente comece a ressignificar sua vida, constituindo um comportamento de aceitação diante de suas necessidades. O cliente deve sentir-se acolhido pelo aconselhador, e este oferecer-lhe uma compreensão daquilo que se trata, deixando claro o quanto é importante e benéfico o aconselhamento psicológico, pois rememorar certas situações difíceis de sua vida o ajudará a transcender e tornar sua caminhada existencial mais prazerosa.

  Sobre Carl Rogers e sua teoria

Diante do exposto, o Aconselhamento Psicológico contempla os aspectos da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers (1902-1987). Tal abordagem possui suas bases na Psicologia Fenomenológica, oriunda da Fenomenologia de Husserl (1859-1938). A partir de protestos no século XX, este filósofo “colocou em questão a diversidade dos sistemas filosóficos da época, assim como o emprego exclusivo do método experimental pelas ciências na aquisição de conhecimento, que predominava nessa ocasião” (FORGHIERI, 2007, p.91).

A ACP não se constitui apenas como sendo de domínio psicológico, mas também é uma filosofia de vida, pautando seus princípios na “honestidade, a dedicação, o respeito e a consideração para com o outro como se o outro fosse você mesmo (…), promovendo cura, desenvolvimento, crescimento e aprendizagem (SANTOS; ROGERS; BOWEN; 2004, p.43).

Os principais fundamentos da ACP dividem-se em três etapas. A primeira delas é a congruência que consiste na ideia do terapeuta ser ele mesmo na relação com o cliente, de modo a dirimir as fronteiras profissionais e/ou pessoais com o outro, além de qualquer resistência por parte desse profissional. A segunda etapa consiste na aceitação positiva incondicional que o terapeuta deve ter para com o cliente, aceitando-o em sua integralidade sem julgamentos previamente estabelecidos. A terceira etapa refere-se a empatia, onde o terapeuta deve permitir-se entrar no mundo interno de seu cliente, ao compreender os sentimentos deste último e o significado dado a eles (ROGERS, 1987). Vale ressaltar que estas três etapas não seguem uma ordem cronológica dos fatos.

Essas etapas são apenas atitudes que Rogers se baseia para o bom desenvolvimento dos relacionamentos interpessoais que devem ser levadas em consideração. Enfim, congruência, aceitação positiva incondicional e empatia, contribuem para abertura do cliente em seu processo e avanço no atendimento psicológico, seja ele Aconselhamento Psicológico ou a Psicoterapia.

Justo (2002) diz que Rogers fez a escolha pela abordagem fenomenológica, haja vista que a mesma é menos suscetível a erros e eficaz na prática, sendo assim, mais concernente aos seus objetivos enquanto terapeuta. Assim sendo, a ACP leva o indivíduo, ao longo de sua existência, a uma tomada de consciência, ensinando-o a trabalhar sua própria dimensão psicológica, bem como seu lado emocional.

Fonte: http://files.prisciladidone.webnode.com.br/system_preview_detail_200000016-4ffb550f5c/escolhas.jpg

Diante do exposto, podemos observar que as várias fases da saúde-doença, desde a pré-história até os tempos de hoje, contribuíram para a história e evolução do aconselhamento psicológico. Yolanda Forghieri utiliza-se do termo “Aconselhamento Terapêutico”, porém, nos utilizamos tanto desta denominação quanto “Aconselhamento Psicológico”. Além disso, essa autora teve influência de diversos filósofos, psicólogos e psiquiatras, sendo uma das precursoras dessa especialidade da Psicologia no Brasil.

O campo de aconselhamento ampliou-se focando na relação cliente- terapeuta, onde através da escuta e devolutivas, o terapeuta tem como objetivo ajudar o cliente a tomar decisões e não adoecer existencialmente. Yolanda (2007) diz que a relação entre terapeuta e cliente requer humanidade de ambos, mas também profissionalismo do terapeuta, a fim de auxiliar o indivíduo para que este se conheça melhor e exista no mundo de maneira satisfatória.

Tendo em vista que o indivíduo vive em busca de sua realização pessoal, o Aconselhamento Psicológico é um meio para auxiliá-lo nesse intento. Para tal, Rogers asseverou sua abordagem na “terapia centrada na pessoa”, com o intuito de auxiliar o indivíduo a encontrar respostas para suas indagações no seu próprio interior, pois é ele mesmo que possui condições de fazer suas próprias mudanças no que tange às suas necessidades; o terapeuta apenas o auxilia.

Nessa perspectiva, consideramos o Aconselhamento Psicológico, um campo de extrema importância para a Psicologia, conforme as considerações realizadas por Forghieri acerca dessa prática. Além disso, demonstramos aqui sua execução a partir da Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers, a qual possibilita um clima facilitador de crescimento na relação entre terapeuta e cliente.

REFERÊNCIAS:

ROGERS, C. Os fundamentos de uma abordagem centrada na pessoa. In: Um jeito de Ser. São Paulo: EPU, 1987.

 FORGHIERI, Y. C. Aconselhamento terapêutico: origens, fundamentos e práticas. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

_____________. O aconselhamento terapêutico na atualidade. Rev. Abordagem Gestalt, Goiânia, v.13, n.1, p. 125-133, jun. 2007. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672007000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em  21  de abril de  2016.

JUSTO, H. Abordagem centrada na pessoa: consensos e dissensos. São Paulo: Vetor, 2002.

SANTOS, A.M; ROGERS, C; BOWEN, M.C.V. Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa. São Paulo: Vetor, 2004.

STRAUB, R.O. Psicologia da saúde: uma abordagem biopsicossocial. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Menina Má.com: quem tem medo do lobo mau?

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“Chapeuzinho Vermelho voltou alegremente para casa e ninguém nunca mais fez nada para machucá-la novamente.”
(Os Irmãos Grimm)

Hard Candy, que no Brasil teve o infeliz título de “Menina Má.com”, é um suspense psicológico que trata de vários temas complexos e controversos. Assim, dizer que este é um filme sobre pedofilia reduz muito as várias camadas que compõe a personalidade dos dois personagens principais e o embate que eles vivem na tela.

O filme é iniciado com uma típica conversa virtual entre um homem e uma mulher. Até que as frases trazem à tona o fato de que as duas pessoas que estão conduzindo esse chat picante é um homem de mais de 30 anos e uma menina de 14. Num ímpeto, eles resolvem se encontrar pessoalmente, e quando Hayley (numa interpretação impressionante de Ellen Page) aparece pela primeira vez na tela, a imagem da menina frágil e ingênua é extremamente contrastante com o homem que foi encontrá-la. E esse primeiro encontro já causa um certo incômodo, especialmente pela forma que o diretor explora os ângulos das cenas. São feitos grandes closes das expressões de Hayley e Jeff (Patrick Wilson, também excelente), mostrando situações aparentemente coloquiais, mas que carregam em si um forte teor de sedução e malícia.

Geralmente, a imagem estereotipada de um pedófilo que busca suas presas na internet é de uma pessoa fracassada profissionalmente, que tem pouca habilidade social e possui aparência obscura. Jeff não se encaixa nesse padrão. É carismático, educado, capaz de ser notado em qualquer lugar, não apenas pela sua aparência física, mas pelas suas boas maneiras.

É interessante quando a imagem que construímos sobre algo cai por terra. Aquilo que definimos como mau ou perturbador é mais aceitável quando os sentidos que edificamos sobre isso no decorrer da nossa vida contribuem para interpretarmos os fatos com certa coerência. Agora, quando os padrões que erigimos são sumariamente destruídos, perdemos a segurança, é como se deslizássemos sobre uma fina camada de gelo, pois já não é possível ficar agarrado àquela ilusão de que o outro pode ser colocado em uma categoria, nem ao menos temos a certeza de que os atributos que compõem uma dada classe sejam, de fato, preponderantes para nos fazer entender o outro (ou a nós mesmos).

Hayley se convida para ir à casa de Jeff, pois ele é divertido, fala de assuntos que ela deseja ouvir (mesmo que esses assuntos sejam bem específicos, como uma desconhecida banda de rock) e parece gostar da sua companhia, já que aprecia sua conversa. Na casa dele, serve-se de bebida alcoólica e começa a dançar de forma insinuante, tirando algumas peças de sua roupa.

Ele não faz nada para impedi-la, apenas observa sorridente. Mas, sua ação não é passiva, vem de todo um contexto bem elaborado que mais parece um cenário de “caçador e presa”. Ele buscou meninas com o seu perfil na internet, com a sua idade, tentou parecer divertido, fingiu gostar de uma banda que nem conhece, tudo para fazê-la se aproximar, sentir-se à vontade. Mas, mesmo sem o cenário da caçada virtual, sua passividade e consentimento não é uma atitude coerente, pois há um adulto na casa e esse deveria proteger a menina, não se aproveitar de sua pretensa rebeldia.

É nesse ponto que o roteiro de Brian Nelson tira a segurança de qualquer interpretação que até então tínhamos construído sobre o filme e, com isso, as certezas que pensávamos ter sobre qual é o lado bom (se é que ele existe) da história. De um lado, tem-se Jeff, um fotógrafo cuja casa é repleta de imagens de jovens mulheres, que teve uma relação frustrada na adolescência, que foi acusado ainda criança de agir de forma errada com uma prima. Do outro, a menina que atribuiu para si a responsabilidade (e o direito) de fazer justiça com as próprias mãos, que age, na maior parte do tempo, com a frieza de um psicopata. Desta forma, não enxergamos mais a adolescente ingênua de antes e aquele que até então era o predador torna-se a caça. Jeff é drogado e amarrado e fica a mercê de sua “presa”.

Sem certezas, sem entender bem que pessoas são essas que se olham com um misto de ódio, desprezo e medo, inicia-se a principal premissa do filme, que tem relação com a metáfora do cartaz de divulgação, em que a menina está numa espécie de armadilha, mas é – ao mesmo tempo – a armadilha.

O horror é amplificado justamente por causa das incertezas. O diretor David Slade, na forma que conduz as cenas, coloca quem assiste dentro do filme, é como se a pessoa trouxesse para si a responsabilidade de julgar aqueles dois indivíduos, mas não há informação suficiente para saber que decisão é mais justa ou mais humana.

Jeff, humilhado e rendido, tenta atingir a menina com histórias tristes do seu passado ou nas potenciais consequências de seu ato para sua vida adulta, acreditando nas inseguranças que são comuns na adolescência. Mas não tem sucesso. Assim como ele a estudou pela internet, ela também fez o mesmo. Entendeu que ele procurava um tipo de mulher específica, ou seja, procurava propositadamente adolescentes. Uma menina havia desaparecido na cidade, ele, agindo como um pedófilo, segundo ela, era culpado também, logo devia ser punido.

Quem tem o direito de fazer justiça? A vítima pode trazer para si o direito de punir seu algoz? O desejo de vingança de Hayley, justamente por parecer ser uma característica tão humana, torna-se cada vez mais assustador.

Jeff: Quem é você?
Hayley: Eu sou cada menininha que você observou, tocou, machucou, matou.

 Nada é dito no filme sobre o passado de Hayley. Assim, não é possível entender como sua raiva foi se transformando em algo totalmente fora de controle. Ela não se satisfaz em apenas chamar a polícia e mostrar as fotos das adolescentes que Jeff esconde embaixo do tapete, pois acredita que a punição pelos meios normais não será suficiente. Ela até traz à tona um caso real, do diretor Roman Polanski e sua relação com uma adolescente de 13 anos, para mostrar que a justiça é relativa demais, já que a carreira desse diretor sobreviveu ao escândalo. Sua ideia de justiça é mais radical, assim, numa ode ao “olho por olho, dente por dente”, ela traz à tona a punição que acredita ser adequada, resolve cortar, literalmente, o mal pela raiz, aterrorizando Jeff com uma cirurgia (feita por ela mesma) de castração.

Mas, nem isso parece ser suficiente…

Assim, como é tênue a linha que separa a procura incessante de uma obsessão, também parece ser confusa as verdades sobre o outro que são construídas quando não há qualquer traço de empatia.

A característica mais perturbadora de “Hard Candy” parece ser essa incapacidade do público de se colocar no lugar dessas duas pessoas. É como se ambos fossem terríveis demais para que alguém pudesse aceitar ter qualquer identificação com eles. E como o filme é todo embasado no encontro desses dois sujeitos, sobra para quem assiste aquela sensação estranha e complexa de ser um juiz ou um observador imparcial, o que, em ambos os casos, é algo um tanto doentio.

E entre a menina inteligente e o homem bem sucedido há uma semelhança perturbadora. Parece que ambos estão doentes demais para conseguir enxergar o mundo e as pessoas sem tantos artifícios cruéis e obscuros. Diante disso, uma frase do Monge Zózima, dos Irmãos Karamázov de Dostoiévski, parece-me adequada para finalizar essa análise: “se eu mesmo fosse um justo, talvez não houvesse diante de mim um criminoso”.

FICHA TÉCNICA:

MENINA MÁ.COM

Título Original: Hard Candy
Direção: David Slade
Roteiro: Brian Nelson
Elenco: Ellen Page, Patrick Wilson
Ano: 2005
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