Última volta, primeiro passo: o último ano de curso

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Formar-se. Esse é um dos assuntos mais comentados na faculdade. Sempre há alguém falando sobre o cansaço, a sobrecarga, o medo e até o desespero. Apesar de sentimentos semelhantes, cada experiência é única. Para alguns, um alívio; para outros, um processo de luto. Há quem queira se livrar logo dessa fase e quem anseie por iniciar a carreira e ser reconhecido. E eu? Onde me encaixo nesse mar de emoções? Bom, sinto que estou me dissolvendo nele, enquanto a ansiedade de pegar o diploma toma conta de cada molécula do meu corpo.

Tudo começa com a inscrição para a prova de ingresso na ênfase. A ficha de que o fim está próximo cai no momento em que você aperta “enviar” no formulário. Embora a prova não seja difícil e eu nunca tenha ouvido falar de alguém que reprovou, o processo é psicologicamente desgastante. A sensação é parecida com a de fazer vestibular, o pensamento de que todo o futuro depende daquela prova, e independente de estar completamente exausta, é necessário que seja feito. Depois que encontra o seu nome na lista de aprovados é como se pudesse respirar pela primeira vez. É real, o capítulo “faculdade” está nas últimas páginas.

O luto, para mim, vem principalmente em relação ao time de vôlei da faculdade. Há quatro anos entrei para o time, e representar meu curso por meio do esporte foi a realização de um sonho. Foi também o que mais me ajudou a manter a sanidade ao longo dos anos. Ali, fiz as melhores amizades e vivi as mais diversas e intensas emoções: raiva, euforia, pertencimento, segurança, insegurança… São pessoas e momentos que têm um grande valor sentimental para mim. Pensar que só tenho mais oito meses para re-viver tudo isso me assusta. Estou na fase da negação, evitando encarar o que significa não fazer mais parte desse time.

O alívio, por outro lado, vem ao pensar na liberdade financeira que a formatura pode proporcionar. Saber que meus pais não precisarão mais pagar mensalidades acima de um salário mínimo já é um grande conforto. O fim da ansiedade com as semanas de prova, as notas e o fechamento de semestre também trazem um respiro. Mesmo que eu faça uma pós-graduação ou um mestrado, a sensação será diferente — afinal, meu diploma já estará na parede. Ou talvez não seja tão diferente assim. Mas, de qualquer forma, ter vencido essa etapa da vida será um grande motivador para enfrentar as próximas.

O maior desafio é ter paciência para deixar que o tempo coloque tudo no lugar. Enquanto isso, o que me dá sentido para continuar batalhando são os pacientes da clínica. A experiência é devastadora, intensa e gratificante. Com eles, percebo as diferentes formas que cada pessoa tem de lidar com as dificuldades e, ao mesmo tempo, me observo lidando com os desafios que surgem em cada atendimento. A cada história compartilhada, um novo aprendizado se revela dentro de mim, enquanto assumo o papel de profissional apta a auxiliar aquele ser humano em suas demandas.

Nesse processo, a insegurança está sempre presente. O sentimento de não estar fazendo o suficiente é, ao mesmo tempo, meu maior aliado e meu pior inimigo. Ele me impulsiona a estudar mais para ajudar mais, mas também me faz sentir inútil e insuficiente diante da complexidade da vida de cada paciente. E assim, eu percebo o quão difícil é ser psicólogo, e o quanto é cada vez mais desafiador lidar com os sentimentos de outra pessoa.

Mas enfim, continuo tentando manter a calma e não pensar no final, até porque sabemos que o mais importante é aproveitar o caminho enquanto tento evitar ao máximo que o medo do incerto tome conta dos meus pensamentos. Sempre perguntam: “O que vai fazer depois que formar?” e eu penso: “Eu deveria saber?”, é por isso que manter a calma é tão difícil, todo o resto conspira a favor de perder o controle e a ansiedade acaba se tornando a protagonista desse espetáculo chamado vida.

E no meio desse turbilhão de sentimentos, percebo que crescer também é aprender a dizer adeus. Adeus às rotinas que um dia pareceram eternas, às pessoas que se tornaram lar, às várias versões de mim mesma que existiram ao longo dessa caminhada. Mas, acima de tudo, é um “olá” ao desconhecido, ao que ainda está por vir, e agora, tudo o que posso fazer é seguir em frente, levando comigo a certeza de que, mesmo com medo, eu cheguei até aqui. E isso, por si só, já é extraordinário.

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Uma breve reflexão sobre a fofoca

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A fofoca normalmente é vista como uma ação negativa e inadequada. Ainda assim, podemos observar esse comportamento presente nas relações sociais, diversas vezes descrito como um ato malicioso, conversas em que o assunto principal é a vida alheia, incluindo assuntos relacionados a novo emprego, um término ou um novo casal, entre outros tópicos. Fofocar não é visto com bons olhos. 

Para várias pessoas, fofocar é o hábito de falar de maneira negativa de alguém. Alguns indivíduos fazem fofoca, e dizem que são somente observações sem nenhuma intenção maldosa, o que pode ser verdade, porém no final do dia isso ainda é fofocar. Olhando por outra perspectiva a fofoca pode ocasionar a criação de vínculos e ainda é um meio de comunicação que provoca a identificação entre pessoas e seu meio social. Constantemente é considerada futilidade, entretanto, esse hábito pode ser benéfico na constituição e manutenção dos laços que unem as pessoas.

Esse meio de comunicação descontraído consegue ser indispensável ao se partilhar informações, sendo proveitoso durante a cooperação social, pois durante esse tipo de conversa elos sociais são consolidados. Sendo dessa forma, a fofoca possui um lado positivo, quando fortalece a ligação entre as pessoas, gerando contato humano. As fofocas, ainda que esse fato não seja notado, estimula os relacionamentos sociais. 

Fofocar parece ser tão próprio do ser humano que existem programas de entretenimento e revistas dedicados a isso, tendo em vista a vida de figuras públicas. A fofoca é parte rotineira da vida humana, unindo as pessoas, fortificando os relacionamentos, possuindo um papel importante na construção de grupos sociais, ao aproximar pessoas diferentes ao redor de um assunto em comum de uma forma espontânea e natural. A fofoca, se bem usada, pode apresentar um caráter mais otimista do que enxergamos a primeira vista. 

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Dia das Crianças: data para refletir sobre o valor e importância da infância

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Comemorado no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças celebra a importância da garotada, na vida dos adultos, além de valorizar a fase da infância, responsável pela construção de sua identidade. Doce, pipoca, diversão e muita risada não podem faltar, nessa data tão especial aos pequenos. No entanto, é preciso relembrar que a criação de uma criança precisa acontecer na saúde, educação e condições sociais favoráveis ao seu desenvolvimento físico e psicológico.

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a criança e o adolescente devem usufruir de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, mas na prática difere-se bastante. Diariamente a mídia notícia os disparates das desigualdades entre as classes sociais, no Brasil. Todas as crianças têm direito a frequentar uma escola, mas nem todas estão matriculadas. Nesse contexto, Ana Maria Frota aponta que nem todas as crianças vivem no país da infância, e destaca que alguma são nascidas em bolsões de misérias.

Fonte: Freepik

Sua análise faz alusão as diferenças sociais nos quatro cantos do país, que não oferecem as mesmas condições de desenvolvimento na infância.  Fator preocupante, porque a construção de um adulto confiante e seguro começa na fase da infância. Mukhina (1996) considera que o desenvolvimento máximo das qualidades das crianças, no que diz ao aprendizado são alçados quando se consideram suas peculiaridades, em diferentes idades. Por isso, a necessidade de a criança crescer em um ambiente familiar seguro e saudável.

De acordo com Cardoso (2012) a promoção do brincar é um grande facilitador para seu aprendizado, em especial, quando a criança toma a iniciativa. Para ele, essa atitude cria um ludicidade inerente ao saber infantil junto com a participação do adulto nessa descoberta, no caso é a brincadeira. Cardoso conceitua esta ideia como um desempenho assistido. Esse apoio ofertado à criança faz com ela sinta-se segura e confiante para novos aprendizados.  Nesse sentido, faz-se ser indispensável a presença do adulto.

Fonte: Freepik

Rossana Coelho e Barbara Tadeu observam que o brincar da criança deve ser levado para sala de aula, no artigo “A importância do Brincar na Educação da Criança”. Segundo a publicação, cabe aos educadores orientar os espaços em que as crianças devem ficar para o desenvolvimento de atividades lúdicas focados no ensino aprendizagem, além de um bom material pedagógico.  A relação positiva entre pais e professores contribuem para o crescimento das crianças no que diz ao aprendizado, enquanto futuros adultos também.

Para proteger as crianças e adolescente vítimas de violência doméstica o Governo Federal, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disponibiliza o disque 100, forma gratuita denunciar. Essa informação é pertinente porque, conforme dados ministério 81% das violências contra esse público acontecem dentro de casa.  Vamos brincar, celebrar e salvar vidas.

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei n. 8069, 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso 07, de out. 2021.

Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/julho/81-dos-casos-de-violencia-contra-criancas-e-adolescentes-ocorrem-dentro-de-casa. Acesso 07 De out 2021.

Cardoso, G. B. (2010). Pedagogias participativas em creche. Cadernos da Educação de Infância.

Cardoso, M. G. (2012). Criando contextos de qualidade em creche: ludicidade e aprendizagem. Minho: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

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Livro de poemas traz reflexão sobre conflitos do ser humano

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Reflexivo, imaginário e libertador. Esses são os sentimentos que a escritora Alexandra Vieira de Almeida deseja instigar nos leitores com o livro de poemas Oferta. Lançado em segunda edição, pela Editora Penalux, a obra reúne temas que podem ser considerados conflitantes, como, por exemplo, o amor, o erotismo, a poesia reflexiva e filosófica e a prosa poética de temática social, beirando o limite entre poesia e prosa.

Para a autora, o livro solta as vozes sábias do fazer poético e cria um espaço em que literatura e leitura se conjugam em toda sua essência. Alexandra classifica sua obra como presente da escrita do poeta para o mundo, como um voo imaginativo, salientando o aspecto libertário neste jogo que leva os leitores a refletirem sobre as questões do mundo.

Fonte: Arquivo Pessoal

– Caso pudesse extrair uma essência do livro, ou do título, e fosse representá-la com formas ou símbolos, pensaria na imagem do livro, onde estão as palavras que saem do seu interior e a figura de um pássaro com suas asas a nos levar aos voos da imaginação – comenta.

O prefácio é assinado pelo poeta, contista e crítico literário Luiz Otávio Oliani. Para ele, Alexandra “percorre três linhas básicas”. A primeira delas é a união entre poesia e prosa. Depois, cita a verve pictórica da poeta, lembrando o cinema. Por fim, o viés filosófico que se encontra no livro de poemas singular.

Fonte: Arquivo Pessoal

A contista Maria Joana Rodrigues Colin, responsável pelas orelhas do livro, diz que a poesia da autora faz com que a pessoa reflita de maneira profunda nos sentimentos. “Quando se vai a um poço não é o entorno, e sim o que existe no seu interior. É desse modo que o leitor vai se sentir ao ler o livro”.

Sobre a autora

Alexandra Vieira de Almeida é professora, poeta, contista, cronista, resenhista e ensaísta, além de ser Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Publicou seis livros de poesia adulta, sendo o primeiro 40 poemas e o mais recente A negra cor das palavras. Também tem um livro ensaístico, Literatura, mito e identidade nacional (2008), e um infantil, para crianças de 6 a 10 anos, Xandrinha em: o jardim aberto (Penalux, 2017).

 

Livro: Oferta 

Autora: Alexandra Vieira de Almeida 

Formato: 14X21  

Páginas: 62 

Ano: 2020 

Preço: R$ R$38,00 

Gênero: Poesia 

Link para comprar

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A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.

“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.

Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.

Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.

Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.

Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.

A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Livro aborda o racismo pelo viés da psicologia

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Abordar e refletir sobre o racismo no Brasil através de uma perspectiva psicológica. Essa é a proposta do livro “A psicologia e a essência da negritude”, de autoria das psicólogas Livia Marques e Ellen Moraes.

A obra trata de temas delicados da população negra, que são pouco discutidos e, infelizmente, normalizados pela sociedade. Com o objetivo de promover um diálogo e instigar o leitor à reflexão. A ideia é também tornar o assunto mais próximo da sociedade, mostrando que há profissionais interessados, engajados e preparados para ouvir, principalmente, aqueles que sofrem com isso. 

Para as autoras, a obra traz para o leitor uma abordagem psicológica de forma “descolonizada” sobre o racismo no país. “Falamos da infância, da adolescência e do ‘tornar-se negro’ sem rodeios e apontamentos. Queremos abrir um canal de comunicação para sociedade antirracista e mais disposta para dialogar”, comenta Livia.

Para as autoras, as produções de conteúdo estão surgindo. Mas ainda são muito pouco divulgadas. Por isso, a obra surge para lidar com essa problemática que é tão pouco discutida e que merece um olhar atento e sensível. “Esperamos poder ajudar e incentivar cada vez mais pessoas a se comunicarem, além de servir de inspiração para as próximas gerações”, diz Ellen. 

Fonte: Divulgação

Informações:

Livro: A psicologia e a essência da negritude

Coautoria: psicólogas Livia Marques e Ellen Moraes.

 

Adquira pelo site 

Ou pelo Instagram das autoras:

Livia Marques

Ellen Moraes

 

Páginas: 110

Preço: R$ 39,90

Editora: Conquista Editora

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Um dia de vivência na Aldeia Salto – Xerente

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No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.  A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.

O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.

Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.

Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.

Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.

No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.

Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.

Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.

A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.

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Contratransferência: uma breve reflexão

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Na década de 80, enquanto Sigmund Freud (1856-1939) cursava a faculdade de medicina e tendo a oportunidade de entrar em contato com Joseph Breuer (1842-1925) à respeito do caso de Anna O., considerado um dos eventos decisivos da história da psicanálise, acreditou ter detectado um apego de Anna em relação ao terapeuta Breuer que anteriormente era relacionada ao seu próprio pai. Mais tarde, Freud usou o termo de transferência para referir-se a esse apego ao terapeuta, o que, no processo analítico, é de fundamental importância.

A contratransferência foi um conceito que surgiu após as observações de transferência com resistência, aquelas em que o indivíduo evitava falar sobre determinados assuntos que evocavam o cerce de seus problemas levados à análise. Freud poucas vezes chegou a falar claramente neste conceito, mas os momentos que abordou deixaram claro a ambiguidade de sua opinião em relação à contratransferência.

Fonte: https://bit.ly/2wgDRDH

A contratransferência é, ao contrário da transferência, os sentimentos do terapeuta em relação ao paciente. Assim, ela pode ser manifestada por resistência inconsciente do analista advinda de seus próprios complexos infantis ou por conta de uma resposta à transferência do paciente. Neste último caso, faz-se necessária o manejo da resistência, que encontra duas dificuldades: o uso da transferência pelo paciente como resistência (que poderia ser solucionada com uma conduta diferente por parte do analista) e o inconsciente do analista provocando reações de transferência no paciente.

Existem as abordagens clássica e contemporânea para avaliar a contratransferência. A abordagem clássica, é compreendida como obstáculo e resistência inconsciente do analista para as associações livres e o andamento da análise. Surgiu com base na primeira publicação do termo em textos científicos, “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica” (ZAMBELLI et al, 2013).  

Essa abordagem compromete o processo de associação livre do paciente e desviar todo investimento do tratamento para uma relação fantasiosa e sintomática com o analista. Pode surgir resistência no paciente ao recordar alguma situação aflitiva e fortemente recalcada, parte incógnita do psiquismo (ZAMBELLI et al, 2013). O contexto analítico pode provocar certos tipos de transferências  de conteúdos transferencial do analista no paciente de modo inconsciente, provocando reações também inconscientes no paciente.

É essencial o analista analisar, primeiro a si próprio, tomar consciência dos próprios movimentos inconscientes e processos transferenciais, pois podem influenciar o psiquismo do paciente. A abordagem contemporânea é observada como aliada ao processo terapêutico, ou seja, a contratransferência é percebida na sua totalidade de emoções e sentimentos que surgem no analista, permitindo assim, uma compreensão maior do paciente.O inconsciente do analista torna-se, então, parte da relação analítica por afetar e ser afetado pela situação transferencial (ZAMBELLI et al, 2013).

Fonte: https://bit.ly/2N7dcAv

Neutralidade do terapeuta

Freud (1915), aponta o fenômeno da transferência como uma advertência contra qualquer inclinação contratransferencial. O analista deve, portanto, perceber que os sentimentos do paciente são produtos da situação analitica e não dos atributos do terapeuta em questão, desse modo, não são motivos de orgulho. Para tanto, a experiência de se deixar levar pelos sentimentos relacionados ao paciente seria perigosa, uma vez que o controle sobre si nem sempre é tão completo. Logo, a neutralidade para com o paciente, adquirida ao manter controlada a contratransferência, não deve ser abandonada.

Assim, Freud (apud ZAMBELLI et al, 2013) aponta a análise pessoal como essencial para o controle da contratransferência, pois é trabalho do analista promover seu autoconhecimento para ter ciência desses sentimentos  contratransferenciais para lidar com eles de maneira adequada, mantendo a neutralidade.

Para Freud, “a técnica analítica exige do médico que ele negue à paciente que anseia por amor a satisfação que ela exige. O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência.” (1915, p. 103). Em vista disso, a postura neutra e a abstinência na relação analítica são indispensáveis para o processo de investigação do inconsciente, favorecendo o processo de atenção (FREUD,1912 apud ZAMBELLI et al, 2013). A neutralidade seria, portanto, uma “máscara” de defesa contra a carga emocional advinda da transferência do paciente, permitindo que o analista utilize seu próprio inconsciente para reconstruir o inconsciente do paciente, com liberdade e atenção na escuta (ZAMBELLI et al, 2013).

Para concluir, cabe pontuar alguns aspectos que envolvem a contratransferência na prática clínica, sendo o primeiro o fato da terapia psicanalítica ter ampliado seu alcance de análise resultou em novas perspectivas quanto à origem, reconhecimento e manejo da contratransferência, podendo está ser manifesta por meio de percepções físicas, somatossensoriais e emocionais (ZIMERMAN, 2008).

Fonte: https://bit.ly/2N7ywpJ

Durante uma análise, nem tudo que o terapeuta venha a sentir é resultado de uma contratransferência do paciente, podendo ser até mesmo um processo de transferência do analista. Existem algumas situações que podem ocasionar a contratransferência, sendo elas: em relação à pessoa do paciente, ao conteúdo verbalizado ou sentido pelo paciente ou mesmo a reação negativa do paciente em relação ao analista. Cabe pontuar que a medida que o analista ganha experiência, esse consegue converter o processo de contratransferência em empatia (ZIMERMAN, 2008)..

A contratransferência pode ser de natureza concordante – que pode ser considerada como sendo benéfica, pois possibilita um contato psicológico com o self do paciente – ou de natureza “complementar” – em cujo caso ela costuma ser prejudicial, pelo fato de que pode acarretar que o analista se contra-identifique com os objetos superegóicos que habitam o psiquismo do paciente e, por conseguinte, reforçar aos mesmos, assim impedindo que ele se liberte de suas identificações patogênicas (ZIMERMAN, 2008 p.152).

Por fim, a contratransferência pode gerar efeitos distintos no analista, podendo ela ser patológica ou mesmo o terapeuta se colocar na posição de culpabilizar o paciente pelos  sentimentos gerados pelo processo de análise ( em um processo de transferência do analista) ocasionando prejuízos ao processo de análise construído até o momento. Ou então, o analista, ao reconhecer o processo de contratransferência, pode adotar uma postura continente e torná-la em um processo empático (ZIMERMAN, 2008).

Novas perspectivas da Contratransferência

Reconsiderando o conceito de contratransferência, podemos citar dois autores, Ferenczi e Heimann. Ferenczi (1992c) pontua que há uma mudança na postura do analista ao considerar a importância dos cuidados com o paciente, pois a benevolência é um dos aspectos da compreensão que o analista oferece ao paciente e, portanto, a forma mais adequada para usar a contratransferência (ZAMBELLI et al, 2013). Ao adotar essa postura, o analista pode compreender de maneira mais ampla os traumas de seu paciente, e isso pode resultar em evitar traumas da infância do mesmo.

Ferenczi ressalta que, a contratransferência não precisa ser enxergada apenas como algo negativo, que precisa-se mascarar ou dominada. Dessa forma, a abertura mental do analista aos seus próprios sentimentos torna-se elemento essencial para a escuta e compreensão empática do paciente (Jacobs, 2002).

Para Heimann (1995), a contratransferência deixa de ser um problema, uma dificuldade técnica do analista. A autora trouxe novos questionamentos e reflexões com o intuito de quebrar determinados tabus de imparcialidade do analista em relação ao paciente durante as sessões. Antes, entendia-se que, o analista não deveria possuir nenhum tipo de sentimentos em relação ao paciente.

Entende-se então a partir dessa autora que, a relação analílica deixa de ser predominantemente unilateral e torna-se bilateral. Portanto, a individualidade do analista, seus sentimentos e sua contratransferência são aspectos participantes dessa relação (ZAMBELLI et al, 2013).

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#CAOS2018: “Quem é você na rede?” é intervenção Cultural no CAOS

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A intervenção é organizada pela equipe do (En)Cena em parceria com a turma de Estágio Básico III

Nos dias 22 (às 17h30m), 23 e 25 (ambos às 17h00m) de maio, acontece no Ceulp/Ulbra (no espaço do (En)Cena), a intervenção cultural“Quem é você na rede?”. A intervenção é parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), edição 2018. A intervenção foi pensada pela equipe do (En)Cena, em conjunto com a turma 0845 de Estágio Básico III, ministrada pela Prof.ª M.aLauriane dos Santos Moreira.

A intervenção é aberta ao público, mas pretende alcançar, principalmente, os acadêmicos do curso de psicologia, visto que a intervenção tem como objetivo provocar reflexão acerca da postura que muitos adotam nas redes sociais e o papel que o psicólogo exerce nesse contexto.

Segundo a acadêmica de psicologia e uma das organizadoras da intervenção, Karlla Garcia Ferreira, “a intervenção tem como base a pesquisa realizada pela turma de estágio básico III: acadêmicos de psicologia e sua relação com o curso, no intuito de colher informações dos estudantes no que diz respeito a temas polêmicos. A partir dos resultados alcançados, foi possível identificar que ainda existe déficits e preconceitos relacionados a atuação do psicólogo quanto a diversidade de gênero, racismo e religião. Assim, nossa intervenção tem como objetivo proporcionar reflexões, quebrar tabus, apresentar resultados da pesquisa e possíveis atuação do profissional de psicologia”.

Mais informações podem ser obtidas no site do evento: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

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