Laranja Mecânica: com quantos condicionamentos se faz um homem?

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O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro

Laranja Mecânica, filme baseado na obra homônima de Antony Burguess, é estrelado por Malcolm MacDowell que interpreta o personagem Alex, um jovem inclinado à violência que acompanhado de seu grupo de amigos Pete, Georgie e Dim, usa de agressões físicas, sexuais e psicológicas para satisfazer seus impulsos mais intensos.

Se você se deparasse com Alex e seus companheiros de grupo no meio da rua, já notaria uma caracterização de figurinos bastante peculiar. Trajados com macacões brancos, portando porretes nas mãos e manchas de sangue espalhadas por toda vestimenta, compõem um grupo que trabalha objetivando praticar a violência com qualquer pessoa que apareça em sua frente.

O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro. Um desses artifícios é um clube chamado Leiteria Korova, que tem por cenário vários manequins de mulheres em posições de sexo, que ora são usadas como mesa ora são usadas como garçonetes, uma vez que ao pressionar uma alavanca abaixo delas, as mesmas expelem leite pelos seios.

Fonte: encurtador.com.br/gtFPZ

A apelação sexual é intensa através desses cenários, que a todo instante fazem alusão aos sucessivos estupros que Alex e seu bando cometem às mulheres da sua cidade. Tal ato de violência é denominado por eles como “o velho entra e sai”, o que traz uma concepção de simplicidade a uma prática tão horrível, intensificando assim um sentimento de horror experimentado nas cenas de estupro.

Além dos comportamentos de estupros, o grupo de freekshow agride pessoas de forma brutal e irônica. Uma cena do filme que retrata bem isso se dá quando eles encontram um senhor de idade bêbado no meio da rua que lhes pede dinheiro. O pobre idoso se vê caçoado pelo grupo e principalmente pelo próprio Alex que diz “não suporto bêbados jogados a rua. Mas principalmente velhos bêbados”, sendo então agredido a socos, pontapés e cassetetes, salvo apenas devido ao surgimento da polícia.

O arsenal de violências corria muito bem, até que um dia Alex trata seus companheiros de forma opressora jogando-os dentro de um lago e cortando a mão de um deles. Esse fato se deu pelo desejo de um dos seus amigos de propor as atividades do grupo, o que para o nosso personagem principal era inaceitável, já que existia apenas um líder, e esse líder era ele.

Fonte: encurtador.com.br/lpsvI

Essa falta de compreensão e companheirismo renderia a Alex a traição de seu bando, que consequentemente acarretaria na sua prisão pelo assassinato de uma senhora dona do SPA que eles haviam invadido.

A análise do comportamento aplicada à vida de Alex

Ao ser pego, Alex foi enviado para uma prisão e lá ficou sabendo de um projeto piloto de procedimento experimental, que prometia “curar” os detentos de seus impulsos violentos. Animado com a ideia pediu ajuda ao reverendo da instituição para que ele fosse indicado ao tratamento. E assim foi feito, sendo o protagonista enviado como cobaia ao projeto piloto.

O procedimento consistia em dar a Alex um remédio no início do dia e em seguida expô-lo a situações de violência em um grande telão. Nesse momento, seu corpo estava imobilizado por uma camisa de força e seus olhos presos com certo tipo de arame, para que em hipótese alguma ele conseguisse se livrar de ver as cenas.

Após algumas sessões do experimento, o resultado apareceu. Todas as vezes que Alex experienciava situações de violência ou sentia desejo de praticar comportamentos violentos, ele sentia um enorme enjoo e desconforto, que lhe provocavam ânsia de vômito e muita tontura. Mas o que aconteceu com Alex? Ele teve seu comportamento condicionado!

Fonte: encurtador.com.br/GOWZ4

A Análise do Comportamento, ciência que estuda o comportamento humano, acredita que o homem é fruto do meio em que está inserido. E que comportamentos podem ser ensinados e aprendidos através da união dos estímulos e consequências corretos.

Quando dizemos que Alex teve seu comportamento condicionado, queremos dizer que a consequência do experimento foi a responsável por manter essa sua nova reação às situações de violência. Explicando melhor temos que um comportamento opera na lógica da contingência tríplice de acordo com a Análise do Comportamento (MOREIRA e MEDEIROS, 2019).

A contingência tríplice pode ser representada pela fórmula S – R –> S, que traduzida traz S (estímulo antecedente) – R (comportamento) à S (consequência) (TODOROV, 2012).

No caso de Alex a situação se configura da seguinte forma: S (remédio que provoca enjoo) – R (assistir cenas de violência) –> S (vômitos e tontura). Mas por que toda vez que Alex presencia cenas de violência ele se sente mal? Por que para ele as consequências de ver cenas de violência são aversivas ou punitivas.

Fonte: encurtador.com.br/ajxEV

A Análise do Comportamento traz que existem consequências de comportamentos consideradas aversivas ou positivas, e que estas são responsáveis pelo aumento ou diminuição de determinado comportamento. Quando uma consequência aumenta uma determinada prática chamamos de reforço, e quando ela diminui chamamos de punição (MOREIRA E MEDEIROS, 2019).

Para Alex experienciar situações de violência se tornou uma punição, já que todas as vezes que ele passava por essas situações, as sensações de enjoo e tontura vinham juntas. Sendo assim, a frequência do comportamento de violência diminuiu devido à consequência aversiva (TODOROV, 2012).

O “sucesso” do experimento é posto à prova, já que a trama do filme vem trazer também uma pegada de sarcasmo e vingança, fazendo com que o personagem sofra nas mãos de todas as pessoas que ele já havia feito algo de ruim. Portanto, uma sucessão de eventos ruins, desde o abandono dos seus pais à surra de seus ex- amigos colaboram para que Alex entre em um colapso e tente se suicidar.

 

Ao final cabe uma reflexão sobre as práticas de experimentos com seres humanos e como essas práticas devem ser aplicadas. Levando em consideração não só os desejos do cientista, mas, sobretudo, o desejo do indivíduo que se sujeita a essas situações. É sempre válido lembrar que a ética em experimentos com seres vivos sempre deve estar presente!

FICHA TÉCNICA

LARANJA MECÂNICA

Título original: A Clockwork Orange
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: 
Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates
Ano: 1972
País: EUA

Gênero: 
Ficção científica,Drama

 

REFERÊNCIAS:

MOREIRA, Márcio Borges; MEDEIROS, Carlos Augusto de. Princípios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2019. 320 p. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=0LdwDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT261&dq=principiso+basicos+da+analise+do+comportamento&ots=WAZQkCc6wF&sig=R0df4BxtqPx5MJS1aCCQiak9bl0#v=onepage&q=principiso%20basicos%20da%20analise%20do%20comportamento&f=false>. Acesso em: 27 fev. 2019.

TODOROV, João Claudio. O conceito de contingência tríplice na análise do comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 4, n. 18, p.123-130, 05 nov. 2012. Disponível em: <https://www.revistaptp.unb.br/index.php/ptp/article/view/1116>. Acesso em: 27 fev. 2019.

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É possível aprender observando?

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Também conhecida como aprendizagem social, a aprendizagem por observação se dá por imitação, moldagem, ao se observar o comportamento de terceiros, como maior exemplo disso temos os pais. Podemos não reproduzir necessariamente suas expressões, porém certamente adquirimos alguns dos seus padrões sociais (DAVIDOFF, 2001, pág. 131).

Esta aprendizagem acontece em 4 etapas, aquisição, retenção, desemprenho e consequências. No primeiro momento ele irá observar seu modelo e reconhecer sua conduta, no segundo momento vai armazenar as respostas deste modelo, no terceiro momento vai reproduzir o comportamento do modelo em que o aprendiz julgar apropriado e, por último, as consequências de sua conduta vão enfraquecer ou fortalecer esse aprendizado para que seja efetivado ou não.

É mais comum que se aprenda o comportamento de pessoas com estilos de vida compatíveis com os nossos, quanto a faixa etária, classe social, temperamento, níveis de instrução. NO caso das crianças, elas podem ter até mais de um modelo para suas atitudes. Os adultos tendem a se inspirar em pessoas famosas, glamorosas, poderosas e que tenham altos status.

É muito comum meninos de inspirarem em seus heróis de quadrinhos e de desenhos, eles copiam seus jargões, suas atitudes, seus “poderes” dentro de casa, na sua escola, nos seus ambientes de convívio social. Isso pode ter consequências boas e ruins, pode ocorrer, na pior das hipóteses, de um indivíduo bater no outro, arremessar coisas, porque viu o seu modelo apresentar esse tipo de atitude na televisão ou no gibi.

Esse é um dos maiores motivos de preocupação dos pais e educadores quanto aos jogos violentos, as crianças ficam habituadas a situações de violência e já não se afligem com situações de perigo. Isso pode tanto despertar interesse e apetite por violência quanto tirar o senso de sensibilidade da criança em situações de risco para os outros e para si mesmas (DAVIDOFF, 2001, pág. 132).

Condicionamento operante

 Operante é tudo aquilo que se faz foi intenção e vontade própria, “Embora os operantes pareçam espontâneos e sob pleno controle animal, são altamente influenciados por seus efeitos. ” (DAVIDOFF, 2001, pag. 109). Já o condicionamento operante acontece a cada momento, praticamente em todas as nossas ações e interações. Por exemplo, você vai conhecer a sogra e faz um macarrão, porém ela não gosta, isso já te condiciona a não fazer mais aquele tipo de macarrão para ela. As situações são moldadas pelos seus efeitos.

Este condicionamento pode se dar por reforçamento e punição. O reforçamento pode ser positivo e negativo. No reforço positivo você adiciona algo para aumentar um comportamento, por exemplo ao passear com o seu cachorro você dá um biscoito a ele por andar com a coleira mais perto de você. No caso você adicionou o biscoito para aumentar a caminhada lado a lado.  Já o reforço negativo você retira algo para aumentar um comportamento, por exemplo na mesma situação do cachorro, para que ele ande lado a lado com o dono o dono retira o ato de andar na frente do cachorro fazendo com que o cão aumente o ato de andar ao seu lado.

Fonte: https://bit.ly/2JIyrLx

 A punição pode ser positiva e negativa. Na punição positiva você adiciona algo para diminuir um comportamento, por exemplo ao passear com o seu cachorro e ele começa a puxar a coleira para ir para fora da pista, você a puxa de volta, ou seja, está adicionando o ato de estrangular para que ele diminua o ato de sair da pista. Já na punição negativa você diminui algo para diminuir um comportamento, na mesma situação do cachorro saindo da pista, você para o passeio para ele parar de puxar a coleira indo para fora da pista. Então você diminuiu o ato de passear/ andar para que o cão diminua o ato de sair da pista.

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner

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O livro O Comportamento Verbal (Editora Cultrix com a colaboração da Editora da Universidade de São Paulo, 1978, 557 p.) de B. F. Skinner é um dos livros mais complexos e valiosos do autor, sendo considerado pelo próprio o mais importante de sua carreira; nesta obra, é apresentada uma análise funcional de um dos comportamentos mais fascinantes do homem: o comportamento verbal.

A obra descreve pormenorizadamente o que é comportamento verbal, quais são os tipos de comportamento verbal, como esse comportamento se forma e se mantém no repertório comportamental de um homem, bem como suas formas de controle e como ele opera no meio, em diversas áreas, como no modo do homem se portar diante de outros homens como também na literatura etc.; a obra é dividida em cinco partes, distribuídas em 19 capítulos, dois epílogos pessoais do autor e um apêndice.

Skinner começa O Comportamento Verbal falando que é possível ser feita uma análise funcional do comportamento verbal, pois este é considerado um comportamento operante como qualquer outro, com a única diferença de ter a necessidade de ter uma mediação social, ou seja, é necessária a presença de um ouvinte para que o comportamento verbal seja produzido pelo falante. Todavia, este ouvinte é tanto um ouvinte literalmente como um leitor ou espectador e por falante também há referência àquele que fala e àquele que escreve. Deste modo, o autor ainda questiona certas concepções feitas pelos linguistas ou teóricos da linguagem que são tradicionalistas e ainda define alguns tipos de operantes verbais que servem como um modo de classificação e como unidades de análise do comportamento verbal. São eles: o mando, o comportamento ecoico, o comportamento textual, o comportamento intraverbal e o tato, sendo eles explanados pormenorizadamente pelo autor, cada um com sua definição, características e tipos.

É óbvio que o ouvinte tem um papel muito importante no comportamento verbal, sendo ele uma das variáveis ambientais que causam, mantém e controlam esse tipo de comportamento. Partindo disso, Skinner define vários papéis do ouvinte enquanto ouvinte, enquanto leitor, enquanto espectador e também define os conceitos de auditório, que também serve como uma unidade de análise do comportamento verbal como os outros operantes verbais citados posteriormente.

Skinner dá uma importância muito grande no que ele chama de causação múltipla do comportamento verbal, enfatizando ainda mais que o comportamento verbal, assim como qualquer outro comportamento operante, possui causações ambientais e não internas, isto é, causações que partam de alguma possível entidade mental do homem. Portanto, o autor também fala de estimulações suplementares para o comportamento verbal, sempre dando a atenção devida à mediação social feita pelo ouvinte para o falante.

Outros pontos que devem ser destacados é a definição que o autor faz do comportamento autoclítico, que é um comportamento verbal que depende de ou se fundamenta em outro comportamento verbal e que prepara o ouvinte para o que o falante vai dizer após a emissão de um autoclítico. Assim como os outros operantes verbais, Skinner trata de sua definição, características e tipos, servindo também como uma unidade de análise do comportamento verbal do homem. Além disso, há também as alusões que o autor faz referindo-se à punição e à extinção do comportamento verbal, à correção e autocorreção do comportamento verbal etc.

Por fim, é interessante salientar que Skinner não se preocupa somente em explicar o comportamento verbal enquanto um falante interagindo “diretamente” com um ouvinte, mas também faz alusões do comportamento verbal na literatura e do comportamento verbal lógico e científico; nos últimos momentos do livro, sendo os dois epílogos pessoais e o apêndice, o autor faz alusões do seu próprio comportamento verbal no livro, apresenta motivos pelos quais dá a devida importância a esse conspícuo comportamento e fala um pouco mais sobre a comunidade verbal que cerca o falante que emite o comportamento verbal.

Como foi dito anteriormente, o próprio Skinner considera essa obra a mais importante de sua carreira. E isso não é de se espantar. Ele foi um dos poucos autores que promoveu uma análise tão bem feita do comportamento verbal do homem, um dos comportamentos mais importantes de serem compreendidos, por razões óbvias. O livro possui uma linguagem técnica, o que requer uma atenção especial por parte do leitor, por ser uma linguagem um tanto quanto densa. Todavia, este livro em particular, não deve ser lido às pressas ou de forma “crua”, diga-se de passagem. Como o próprio Skinner recomenda, deve ser feita a leitura prévia do livro Ciência e Comportamento Humano (do mesmo autor) para melhor compreensão do O Comportamento Verbal.

Esta obra é recomendada para estudantes de Psicologia a partir do 3º ano de graduação ou que, pelo menos, já possuam um bom conhecimento da teoria behaviorista de Skinner e para psicólogos behavioristas/ analistas do comportamento. Também é interessante para estudantes de letras e para linguistas que porventura se interessem por uma análise do comportamento verbal de um ponto de vista diferente do tradicional, sendo não mentalista, com ênfase no ambiente em que o sujeito está inserido.

B. F. Skinner foi um psicólogo americano, nascido em 1904, que, influenciado por outros autores como Ivan P. Pavlov, Edward L. Thorndike e John B. Watson, deu início a uma nova visão de homem para a Psicologia: a visão do Behaviorismo Radical. Entre suas principais obras, além desta resenhada, encontram-se Ciência e Comportamento Humano (Ed. Martins Fontes), Sobre o Behaviorismo (Ed. Cultrix) e O Mito da Liberdade (Summus Editorial). Além de obras técnicas, o autor também escreveu uma novela baseada nos princípios da ciência comportamental, o Walden II: uma sociedade do futuro (Editora Pedagógica e Universitária). Skinner manteve-se academicamente ativo até a sua morte, ocorrida em 18 de agosto de 1990, decorrente de leucemia.

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