O tempo não é relativo… Nós somos relativos

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Fonte:http://thiagocorreia.web1003.kinghost.net/wp-content/uploads/2012/01/tempo-25281-2529.jpg

Em qual momento do tempo podemos nos situar? O presente é fugidio. Quando pensamos que o capturamos, ele nos escapa como a água que escorre por entre os dedos quando tentamos segurá-la. O futuro é incerto, imponderável. O futuro é uma promessa. O passado passou, e dele podemos ter não mais que uma pálida lembrança.

As frustradas tentativas de impedir as revoluções dos ponteiros do relógio nos lembram de que a marcha autoritária do tempo não cessa. Não poderia aceitar que só o presente existe, pois toda vez que tentamos captura-lo nós o perdemos. Quando penso no presente ele já ficou no passado. Quando eu soletro uma palavra, as letras já se foram. Quando escrevo numa folha de papel, esta ficou na história.

Do futuro nunca teremos certeza. Com base em nossas experiências, podemos fazer projeções sobre os acontecimentos vindouros com algum nível de acerto. Mas as expectativas criadas no presente são facilmente ignoradas pelo curso do tempo. Sempre que planejamos algo e somos totalmente desarmados, entendemos que nós mesmos não somos completamente donos e senhores de nossos destinos.

O passado está talhado em nossa memória. Ele vive em nossas tradições. Nosso corpo e as coisas que nos rodeiam estão impregnadas de história. Não há como nos livrar do que já aconteceu. Somos descendentes e herdeiros diretos do que foi feito no tempo pretérito.

O tempo não é relativo. Nós somos relativos. De uma forma ou de outra, sabemos que somos seres espaço-temporais. Sentimos a ação do tempo em nossa pele, a pressão da gravidade em nossas costas. Estar contido no tempo é estar à disposição do perecimento. Não vale sacrificar o presente em virtude de uma prometida utopia terrestre.

Talvez, uma resposta mais razoável sobre “quando” nós nos encontramos, é que estejamos em um istmo do tempo espremidos entre o passado e o futuro. O que está ao nosso alcance é cogitar, no presente, um esboço do futuro de acordo com as vivências do passado. Mais preciso sobre a temporalidade foi Santo Agostinho, quando disse: “O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas, se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.

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Rogério Koff: o jornalismo, a ética na corda bamba e o abismo da relatividade

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O portal (En)Cena aproveitou a passagem do professor e conferencista Rogério Koff por Palmas, em sua palestra sobre “Como agir moralmente em um mundo desencantado? – Do mito do ‘bom selvagem’ ao colapso das utopias”, realizada na última sexta, 18, para conversar sobre a polêmica questão do impeachment presidencial e do comportamento dos veículos de comunicação.

Antes de abordar diretamente no assunto, é importante uma breve revisão sobre a discussão em pauta na palestra. Koff, que é filósofo, jornalista e doutor em Comunicação e Cultura, tratou essencialmente da construção do sujeito na história, a ética e o relativismo tão presente na sociedade atual, especialmente a partir de Nietzsche. Ele fez um passeio que começou no risco do autoritarismo quando há uma moral absoluta passando para o outro extremo, onde há risco de relativizar tudo. Mas, o que tudo isso tem a ver com a psicologia?

De acordo com o professor Dr. Adriano Oliveira, que organizou a conferência, “a construção do sujeito no século XIX e no século XX, interessa diretamente ao psicólogo, porque o psicólogo lida com o sujeito no tempo histórico, lida com o sujeito que tem uma determinada construção e a psicologia não consegue dar conta sozinha da construção desse sujeito na elaboração que ele mesmo faz de si, na reflexividade. Então é importante ter o aporte teórico da filosofia, das ciências sociais, da história, da comunicação, para compreender esse sujeito que vai se apresentar ali como representante da cultura dentro do setting terapêutico, como representante do seu tempo”.

Para o professor Adriano, “existem questões que aparecem na clínica que extrapolam questões terapêuticas, são simplesmente verdades daquela pessoa, e o terapeuta se movimentando corretamente dentro de um arcabouço teórico, tem que decidir, o que não vai ser igual para todo terapeuta, como ele vai lidar com aquelas verdades. E ele também vai ser um equilibrista, como falou o Rogério Koff”. Ainda de acordo com Adriano, a maneira como o psicólogo vai lidar com determinadas verdades, até mesmo silenciando, ou simplesmente dizendo algo sem querer determinar como o paciente pensa, “acaba se apresentando como o psicólogo pensa, que o psicólogo tem uma maneira de pensar, que ele tem valores, que ele tem uma ideologia, e ele acaba, segundo Zimmerman, até mesmo servindo como modelo identificatório para esse paciente”.

Partindo destas premissas, o professor Adriano enfatiza o caráter de modelo identificatório do profissional de psicologia, “então é importante o psicólogo refletir sobre esse sujeito do nosso tempo e que subjetividade é essa que vem se construindo ao longo de séculos e chegou até esse momento dessa forma. E nós lidamos com a subjetividade das pessoas para além do nosso tempo”, enfatiza o Dr. Adriano Oliveira.

Pode-se pegar emprestada a fala de Oliveira sobre o modelo identificatório que se torna o psicólogo, mesmo sem querer, e transpor para a realidade do jornalista, que lida com a exposição de recortes de fatos (ou verdades) e que ao expô-las acaba colocando em sua estrutura narrativa sua ideologia, seus valores, seus interesses ou o interesse das empresas de comunicação para as quais trabalha. Por sua exposição como “porta voz de verdades”, o jornalista acaba se tornando um modelo identificatório para um grande público. Quais os limites éticos desta atuação? É uma reflexão tanto para o profissional como para o público.

Em sua palestra, Koff concluiu com a metáfora da corda bamba. Ele destacou que a sociedade atual está buscando um equilíbrio entre verdades que se apresentam. Não há fundamentos sólidos que justifiquem os valores pelos quais caminha a humanidade, por outro lado, relativizar a ética de acordo com a cultura, o tempo, o lugar ou a sociedade, é correr o risco de cair em um abismo. Se por um lado o fundamentalismo enrijece o caminho, também oferece o risco do autoritarismo. Por outro lado o relativismo permite compreender o sujeito de acordo com sua realidade, mas também apresenta o risco de que qualquer ação seja justificável. “Somos equilibristas da contemporaneidade, andando na corda bamba e não caindo no abismo do relativismo”, conclui Koff.

 Abaixo, segue uma leitura do professor Koff sobre o atual momento político, a ética e o comportamento do jornalista:

 koff

(En)Cena – O Senhor poderia fazer um paralelo entre o impeachment de Collor e o possível impeachment de Dilma? É possível encontrar algo em comum?

Rogério Koff – O Collor… hoje você tem uma divisão muito maior. O Collor foi eleito praticamente sozinho, ele foi eleito em um partido minúsculo, se sustentou um pouco mas, ele sofreu o mesmo tipo de investida, de investigação por parte da mídia, que está acontecendo agora, o irmão dele foi à revista “Veja” e fez uma denúncia. O fato é que o Collor era um presidente sem partido, um presidente isolado. Hoje a correlação de forças, não tomando o partido de X ou Y, mas a correlação de forças é muito diferente, porque, hoje, você tem manifestações de forças de um lado e de outro. Quanto ao Collor, ninguém defendeu Collor, ninguém foi às ruas defender Collor. Ninguém.

(En)Cena – E quanto à mídia nesse processo?

Rogério Koff – Eu não demonizo a mídia, eu acho que em alguns casos há exageros. E a mídia… É que não há mídia, há mídias, a “Isto É” não é igual à “Veja”, que não é igual à “Folha de S. Paulo”, que não é igual ao “Estadão”, que não é igual à “Globo”, que não é igual ao “SBT”, nem ao jornal da “Band”. Há perspectivas diferentes, de abordagens diferentes, mas o que eu vejo é que a mídia está fazendo as coisas que ela deve fazer, que é investigar e divulgar, o compromisso da mídia não é com o poder.

Não existe imparcialidade jornalística, eu sou ético se eu levar em conta uma questão intersubjetiva, eu sou ético se eu exerço a minha liberdade de expressão respeitando a minha fonte é tendo compromisso com meu público, eu vejo esse triângulo: o meio de comunicação (o jornalista), a sua fonte, que é aquela pessoa que diz para o jornalista “olha esta acontecendo isso”, se ela diz está acontecendo isso e o jornalista escreve que está acontecendo aquilo, ele traiu a fonte, e o outro vértice do triângulo, e que é importantíssimo, é o público. Quer dizer, um jornalista que se comporta deste modo intersubjetivo, respeitando a sua fonte e respeitando o seu público, ele poderá estar inclusive emitindo uma opinião, ele poderá estar fazendo uma investigação, ele não está sendo imparcial, ele está emitindo uma opinião fazendo uma investigação e não estará extrapolando nenhum limite ético, no meu modo de ver.

As pessoas acham que a ética jornalística é imparcialidade, e não é, é respeito à fonte, é respeito ao público e respeito às pessoas que são retratadas também. Se alguém é flagrado numa conversa telefônica falando sobre com burlar determinada coisa, eu publico porque meu público tem direito a saber isso. Se eu flagro alguém numa conversa e o cara está dizendo “ah, eu tenho uma amante”, e eu publico isso, eu não estou atendendo a interesse público, eu estou sacaneando o cara, estou  fazendo sensacionalismo. Então existe essa correlação. É muito difícil, isso tem haver com o que eu estou dizendo, é muito difícil dizer o que é certo e o que é errado.

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