A Sociedade Individualizada: a dinâmica pós-moderna no trabalho

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O livro “A Sociedade Individualizada: Vidas contadas e histórias vividas” de Zygmunt Bauman começa abordando o significado da palavra “trabalho” em seu primeiro uso e primeiros significados. Assim, de acordo com Oxford English Dictionary, a palavra trabalho se referia a um tipo de trabalho físico para suprir as necessidades de uma comunidade. Porém, séculos depois, já adquire um significado mais complexo de plural de trabalhadores que participam da produção.

Com isso, formaram-se sindicatos e associações que vincularam os dois significados e tornaram isso, uma questão política. O texto traz a ideia do economista Daniel Cohen que fala sobre a desigualdade entre as nações, que é de origem recente e que é um produto dos dois últimos séculos, época em que surgiu a concepção de que o trabalho era a fonte de riqueza e assim, surgiram também as políticas guiadas por essa suposição.

Fonte: http://zip.net/bqtJmr

A nova desigualdade global adquiriu novas noções fornecidas pela nova ciência da economia, a qual substituíra as ideias fisiocráticas e mercantilistas que estava acompanhando a Europa no caminho de sua fase moderna até o limiar da Revolução Industrial. Tais noções foram cunhadas na Escócia, país no qual estava totalmente preparado para ser o epicentro da ordem industrial emergente, mas que estava afastado do impacto cultural e econômico do vizinho. Assim, a Escócia afirma que, o trabalho é talvez, a única fonte de riqueza porque, concordando com o autor, a predisposição de formas de ação no “centro”, são sempre percebidas mais rapidamente e trabalhadas, articuladas, objetivadas e moldadas pelas “periferias” (subúrbio dos centros civilizacionais).

A criação da nova ordem industrial foi a “grande transformação” que se deu a partir da separação dos trabalhadores de seus meios de sustento, como sugeriu Karl Polanyi muitos anos mais tarde ao atualizar a visão de Marx. A partir desse ponto, o trabalho pode ser considerado uma simples mercadoria, pois a produção e a troca passaram a ser deixados do modo de vida mais amplo. Além de que o trabalho passou a ser tratado como tal mercadoria, como a terra e o dinheiro. Essa desconexão deixou a capacidade de trabalhar livre, por conseguinte, ela pode ser colocada, recombinada, de diferentes formas, bem melhores, sendo assim, o exercício mental e físico se tornou um fenômeno de direito próprio.

“Sem que essa desconexão acontecesse, haveria pouca chance de que o trabalho pudesse ser mentalmente separado da totalidade a que ele por natureza pertencia e se condensasse em um objeto autocontido.” (BAUMAN, 2008, p.29). Onde, na visão pré-industrial da riqueza, a terra era a “totalidade”. Porém, já na nova era industrial, que foi proclamado o advento de uma sociedade distinta (Inglaterra), o que dentre fatores, destruiu o campesinato e o vínculo natural entre terra e trabalhador. Como consequência, parecia aos contemporâneos da Revolução Industrial, a emancipação do trabalho.

Fonte: http://zip.net/bbtHg8

Essa emancipação do trabalho, não se estendeu livremente por muito tempo para estabelecer seus próprios caminhos. A forma de vida não tradicional, que já não era mais viável, a qual tinha o trabalho antes de sua emancipação, seria substituído por outra ordem, desta vez, já projetada e construída, produto de uma racionalização e pensamento, já que tinham descoberto que o trabalho levava a riqueza, agora explorara essa fonte de forma eficiente e planejada.

Para um novo começo era necessárias mudanças, de forma com que os antigos hábitos de convívio fossem exorbitados e deixados de lado, dando lugar a um sensacional e visível início de uma mudança que levara a diversas indagações. O real valor para o que havia acontecido estava sendo encarado de forma séria e com entusiasmo sabendo que a mudança só ocorreu mediante a auto avaliação de como seria o futuro em questão a partir da li, naquele momento a capacidade de pensar, sonhar, projetar estava sendo encarado com seriedade, pois a liberdade descoberta era motivo de grande especulação, levando assim a busca daquilo que era novo e por mais que fosse desconhecida teria que ser passada adiante para que fosse introduzida a rotina diária.

Henry Ford faz uma indagação para que possamos refletir a respeito da real forma no qual queremos viver se e com a famosa tradição imposta por muitos que outrora passada de geração a geração leva especulação, mas que de outra forma percebe que o ser humano vive bastante o hoje, porém alguns atos feitos por Ford para ganhar dinheiro fazem com que refletimos sobre a real forma de ser e estar imposta a seus funcionários, porém teve iniciativa e disse o que os outros queriam dizer a tempos.

Linha de montagem de Henry Ford. Fonte: http://zip.net/bntHn2

O tempo da modernidade pesada fez com que houvesse uma necessidade que o trabalho e o capital teriam que andar juntos um dando segmento ao outro claro que isso não viria se não fosse o fato de que os trabalhadores necessitavam sustentar suas famílias e seguir suas vidas e o capital necessitavam deles para crescerem e expandirem-se, ou seja, um depende do outro. “Para que ambos – capital e trabalho – pudessem se manter vivos, cada um precisava ser mantido como mercadoria: os donos do capital tinham de ser capazes de continuar comprando trabalho, e os donos deste precisavam estar alertas, saudáveis, fortes e de certo modo atraentes para não afastar os possíveis compradores” (BAUMAN, 2008, p.33).

Os desempregados começaram a ser vistos como substitutos ou sucessores daqueles que já trabalhavam, ou seja, o trabalho não poderia parar o capital que estava em jogo. Pensar no bem-estar social nessa situação se tornava meio ambíguo, mesmo nessas circunstâncias o bem-estar era de certa forma visto como algo que iria passar. Na Ford, mesmo com a carga horária um pouco exorbitante, ainda havia um pouco de cuidado com os jovens aprendizes que conseguiam emprego fixo na mesma, visando e uma em um pensamento duradouro sobre o futuro não só do jovem empregado como também da empresa.

A medida que se assumia que ficar na companhia do outro iria durar, as regras desse estar juntos eram de foco de intensas negociações. Os sindicatos refundaram a importância dos trabalhadores e resultou em restrições à liberdade de manobra dos empregadores. Essa situação mudou-se e o motivo é a nova mentalidade de curto prazo que substitui a de longo prazo.  Flexibilidade quando aplicado ao mercado de trabalho significa fim de emprego, trabalha com contratos de curto prazo. É também preciso acrescentar, porque o modo como o trabalho é conduzido do pouco, cada vez menos espaço para as suas habilidades. De maneira distinta dos tempos de dependência mútua de longo prazo, dificilmente existe qualquer estímulo para se ter um interesse sério.

Robert Reich sugere que as pessoas hoje empenhadas em atividades econômicas podem ser grosseiramente divididas em quatro grandes categorias.  “Manipuladores de símbolos”, pessoas que inventam ideias e formas de fazê-las desejáveis e vendáveis, formam a primeira categoria. Aqueles empenhados na reprodução do trabalho, educadores ou vários funcionários do Estado de bem-estar social, pertencem à segunda categoria. A terceira cobre pessoas empregadas em “serviços pessoais”. E por fim a quarta, à qual pertencem as pessoas que durante os últimos 150 anos formaram o “substrato social” do movimento trabalhista.

Fonte: http://zip.net/bmtHf2

Peyrefitte distingue a empresa que oferece empregos como o lugar mais importante para semear e cultivar a confiança. Se os empregados lutaram por seus direitos, foi porque eles estavam confiantes no “poder de controle” da estrutura na qual, como eles esperavam e desejavam, seus direitos seriam inscritos; confiavam na empresa. A procrastinação é o ato de adiar uma ação, neste sentido ela tem uma tendência a romper qualquer limite de tempo e a estender-se indefinidamente. A satisfação por sua vez fica relegada ao adiamento como uma provação simples e pura, uma problemática que sinaliza certo desarranjo social e ou inadequação pessoal.

No fundo o trabalho na modernidade leve, condensa as incertezas quanto ao futuro e ao planejamento em longo prazo, a insegurança estabelecida nas relações e a falta de garantias entre as partes. No mundo do desemprego estrutural ninguém se sente suficientemente seguro ou amparado, ou seja, a flexibilidade é o termo que rege os novos tempos. Assim a satisfação instantânea é perseguida, ao contrário do adiamento da mesma, uma oportunidade não aproveitada é uma oportunidade perdida. Não obstante, a satisfação instantânea é a única maneira de sufocar o sentimento de insegurança, recolocada aqui, não a única, mas sim uma das formas para dominar o sentimento de insegurança, haja vista, que existem outros subterfúgios a serem aplicados no campo da psicologia com esse intuito.

FICHA TÉCNICA:

A SOCIEDADE INDIVIDUALIZADA: VIDAS CONTADAS E HISTÓRIAS VIVIDAS

Autor: Zigmunt Bauman
Tradução: José Mauricio Gradel
Editora: Zahar
Páginas: 324
Ano: 2008

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Zigmunt. A sociedade individualizada: Vidas contadas e histórias vividas. 1. ed. Editora Zahar. Rio de Janeiro, 2008.

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Adam Smith: o homem é um animal que faz barganhas

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Twenty Pounds adam smith

Fonte: http://migre.me/voshf

Este ensaio apresentará os conceitos principais criados por Adam Smith e sua relação com a filosofia. Inerente às definições criadas por ele está o campo social, que é um dos principais focos efetivos de seus estudos. Vários textos foram usados como referencial para auxiliar na pesquisa do grupo, e também para fomentar as informações obtidas através do texto base. Adam Smith é escocês e é contemporâneo às revoluções sócias mais marcantes da humanidade, como o Iluminismo e a Revolução Francesa. Foi neste contexto histórico que as obras dele valeram de grande importância para a economia global, já que o mundo estava experimentando a conversão de valores. É neste período em que ocorre a transformação do teocentrismo para o antropocentrismo, um campo fértil para lançar suas ideias.

No texto base apresenta primeiramente a biografia de Smith, que estava inserido em elevado grau social, mas não considerado nobre. Isto já contribui para receber influências importantes para suas obras, como David Hume. Depois é introduzido o conceito central de sua obra mais importante, A Riqueza das Nações, que é o trabalho excedente como lucro produzido por trabalhadores úteis por meio dos recursos naturais de uma nação. A partir disso ele afirma que a riqueza de uma pátria está na produção da população e na divisão do trabalho e não no acúmulo de metais ou de capitais, conceito que ainda vigorava na época.

De acordo com Myrdal, o crescimento de estoque de capital se dá a partir do aumento de excedente dos salários com a divisão e em seguida a especialização do trabalho que tem como principal consequência o elevado crescimento da produtividade. As melhoras na condição de vida dos trabalhadores e da população são causadas pelo acúmulo de capital, que impõe maior demanda na mão de obra e por fim o aumento de seus salários. A espiral de crescimento se dá quando ocorre o crescimento de empregos, salários e população ao mesmo tempo, que exige a ampliação do mercado e da divisão do trabalho (CANNAN, 1996).

A moralidade, segundo Smith, nada mais é que convenções sociais usadas para coibir o desejo do homem e é através da simpatia que os seres humanos criam a moralidade. Porém, a partir da busca de interesses de cada homem, a evolução tecnológica e o crescimento econômico são seus resultados finais dessa busca. O liberalismo econômico nasce daí, do conjunto de interesses entre os trabalhadores por meio da livre iniciativa e com a mínima ou nenhuma interferência de instituições governamentais. A procura dos desejos pessoais aperfeiçoa o trabalho produzido assim como as condições da vida em comunidades.

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Fonte: http://migre.me/vorJY

Adam Smith cria um conceito inovador, que é a mão invisível. Com a busca de seus anseios, cada indivíduo acaba ajudando a todos como uma cooperação mesmo com a ausência de órgãos que orientam a solidariedade e o cooperativismo. Com esta definição se expandindo, há a queda de preços em determinados produtos e fica mais acessível à sociedade.  Também causou a busca por produtos inovadores e meios de produção mais acelerados, o que significa o incentivo a tecnologia e à criatividade.

Este conceito hoje em dia é conhecido como a lei da oferta e da procura, que consiste na seguinte ideia: quanto mais há um produto em grande escala e pouca procura, mais baixo será seu preço; quanto mais um produto é procurado e estiver em escassez no mercado, mais elevado será seu preço. Inicialmente suas ideias foram consideradas como heresia por pregar a busca do interesse próprio e a valorização do egoísmo, entretanto, atualmente tais definições são usadas em todo o globo, por ser de extrema eficácia. Desse modo o trabalho seguinte irá expor a relação entre o trabalho, trabalhador e suas consequências sociais de acordo com Adam Smith.

Riqueza                                                                                                 

Adam Smith dedicou-se, dentre outras temáticas, à defesa do que é riqueza na sociedade de seu tempo e o princípio geral que define esta riqueza e as causas fundamentais para a expansão dela. Conceitua a riqueza na sociedade capitalista quanto os limites ao progresso que podem emergir do modo como se compreende esta riqueza. A principal tese criada por Adam Smith foi o liberalismo econômico, o que implicava a pouca intervenção estatal, para que as instituições privadas pudessem se desenvolver sem restrições.

Tais condições no mercado provocariam as quedas dos preços e maior concorrência entre os empresários, assim como a inovação da tecnologia. As ideias dele atacavam diretamente o sistema feudal do período, além do mercantilismo, comum nessa época pelo absolutismo. Assim suas teorias foram muito valorizadas pela burguesia, que estava em ascensão e teve grande circulação no continente europeu.Sua obra prima, A Riqueza das Nações, tema cerne deste trabalho, foi fundamental para a evolução do capitalismo nos dois últimos séculos, que como principais processos históricos foram a Revolução Industrial e a Guerra Fria. Nesta obra ele também tenta legitimar a economia como ciência independente e insubordinada das ciências políticas, além de diferenciá-la da ética e da jurisprudência.

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Fonte: http://migre.me/vorQS

A prosperidade de uma sociedade e o progresso econômico está na divisão do trabalho, este é o ensinamento central do seu livro. A divisão do trabalho é crucial para que haja o abaixamento dos preços de produtos e dos meios de produção. Com isso, ele defende a livre concorrência entre o mercado e o acúmulo de capital para culminar na evolução econômica. Na altura em que editou a obra de que nos ocupamos, já a primeira fase da revolução industrial estava em curso, o ferro, o tecido, o vapor, estavam já em franco desenvolvimento, no que se refere à sua utilização. Os movimentos protestantes de Calvino, e em menor escala Lutero introduziram com o renascimento a especulação com os juros bancários, outra significação foi atribuída ao trabalho, a vocação e a devoção eram a forma de realizar os desígnios de Deus em terra (WEBER, 1996 [1905]: 57).

No início da obra, em seu primeiro capítulo, Smith explica detalhadamente seu procedimento usado para sustentar suas ideias. Além disso, a sua obra revela forte influências de filósofos contemporâneos a sua época. Sua obra é dividida em cinco livros, sendo o segundo o que explica a separação de setores para maior aproveitamento e rapidez da produção. Isto é, ele apresenta as características do capital e os efeitos de sua acumulação de capital.

Em A Riqueza das Nações, introduzido por Edward Cannan, apresenta o contexto histórico desta obra de Adam Smith e a relação com o homem. O ano da divulgação desse livro coincide com o iluminismo e a independência dos Estados Unidos da América. Segundo Edward, surgem por meio das influências filosóficas duas concepções revolucionárias a partir de tal obra. A primeira afirma que as ciências econômicas estão subordinadas a leis naturais objetivas e diretas. A segunda apresenta-se como uma doutrina. É fundamental que haja liberdade individual nessa área da ciência por proporcionar a base da teoria de Smith. A partir da liberdade de cada um, ocorre a seleção do trabalho na sociedade e por fim o desenvolvimento coletivo (CONNAN, 1996).

No texto usado como referência, Fernando Nogueira relaciona o sentimento de egoísmo como predominante nas relações sociais depois da liberdade adquirida pelo Iluminismo. Este sentimento é crucial para o progresso da sociedade. O autor também apresenta a psicologia da barganha, que nada mais é do que uma relação de interesses mútuos. Isto é, oferece o que se precisa a alguém e este alguém lhe retribui a partir de sua necessidade. Com isso, todo o conjunto social leva vantagens desse esquema que vigora na economia. Este processo ocorre somente nos seres humanos, já que os animais irracionais usam a força para coibir ou encurralar sua presa.

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De acordo com Adam Smith, o homem realiza barganhas devido à necessidade dele de depender dos serviços e produções do outro. Desse modo, é preciso ter divisão do trabalho a fim de adquirir mais lucros e eficiência na linha de produção. Com a criação da moeda, o escambo foi extinto e trouxe novas funções, como a substituição de produtos por dinheiro. Com isso, o liberalismo econômico exige a separação do trabalho, que resulta em uma elevada produção, que por fim corrobora para uma sociedade saudável e bem-sucedida, com todos à procura de seus próprios interesses.

Além disso, o liberalismo econômico de Smith pregava a mínima intervenção estatal. A única função do estado na economia é garantir a propriedade privada e sua segurança. Em outro estudo feito sobre o surgimento do discurso econômico sobre o criador da economia, diz-se que o trabalho é o único meio de riqueza de uma nação. O trabalho e a troca são termos inerentes entre si e que são os basilares na economia. O célebre economista defende que as maiores necessidades humanas são supridas pelo trabalho do homem e não da natureza.

De modo sintetizado, Smith anuncia que a divisão do trabalho causa muitos efeitos em diferentes graus, que atingem desde as camadas mais baixas até a elite. Entretanto, a produção de cada um dos trabalhadores está interligada como uma rede de comunicação. Portanto, o interesse individual e a liberdade natural causam o egoísmo que é benéfico para a sociedade devido à produção desse indivíduo, que necessariamente estará executando a demanda de alguém, e assim sucessivamente. Logo, a cooperação coletiva é causada a partir da individualidade pela divisão social e técnica do trabalho executado por todos em uma sociedade, cuja riqueza está somente no trabalho. Além disso, o produtor simultaneamente persegue seus anseios individuais.

Diante do crescimento do mercado e, com a capacidade do homem de fazer barganhas, Smith colocou fim à ideia de que toda família fosse autossuficiente em termos econômicos e com isso, passou a defender a ideia da subdivisão do trabalho, pois assim, aumentaria produtividade, consequentemente todos poderiam se candidatar a alguma tarefa, assim sendo, essa proposta poderia levar a uma riqueza universal em uma sociedade bem ordenada, num estado de perfeita igualdade.

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Fonte: http://migre.me/vorNb

A subdivisão do trabalho é o que move o capitalismo, sendo que, o consumo seria a única finalidade da produção e isso fez surgir uma série de novas características e pessoas com habilidades particulares. Smith chega ainda a citar em seu livro o quanto fica deslumbrado com a produção subdividida, e o quanto que acha que isso fazia a produção aumentar. Porém, trabalhadores que não tinham alguma especialização, ficavam diretamente prejudicados nesse processo, talvez até mesmo, não conseguiriam sobreviver com isso. O objetivo era uma sociedade unida pela barganha baseada em um mútuo interesse próprio. Essa barganha tornou possível que, as pessoas focassem em produzir cada vez menos bens, até produzir um único bem.

Afirmava que, se todos os cidadãos tivessem sua liberdade, a sociedade em si, se beneficiaria. As pessoas agiriam até mesmo de modo involuntário pelo o interesse maior da sociedade, mesmo que buscassem maximizar seus ganhos. Afirmava também, que o mercado era essencial para uma sociedade justa. Apesar de buscarem um interesse maior, os homens eram movidos por interesse próprios e com a troca de bens, o homem poderia ser beneficiado. Isso é o que poderia ser chamado de “liberdade natural”. Assim sendo, o trabalho não seria diretamente responsável à existência do homem. O conceito de barganha levava a diferentes tipos de acordo para um bem ou interesse comum.

Sendo assim, com a eliminação da necessidade de permuta e criação do dinheiro, Smith afirmava que só aquele que não tinha condições de trabalhar, oferecer seus serviços ou produtos, que necessitaria de algum tipo de ajuda da caridade. Para isso, mais uma vez o mercado seria crucial. No mercado seria possível a negociação. Porém, hoje em dia, o mercado se tornou um conceito abstrato trabalhado pela filosofia e administração e não apenas um lugar físico. Os princípios de economia de Adam Smith fazem influência até hoje, sendo que sua ideia naquela época casava com as necessidades burguesas. Sua ideologia, que com certeza foi uma das mais lógicas e melhores que o campo da administração, economia já tiverem, não proporciona um mundo de oportunidades, mas sim de condições semelhantes, ou até mesmo iguais.

Em suma, o valor de um bem é sempre igual à quantidade de trabalho, que ele pode comprar, ou ser trocado, segundo Smith. Contudo essa afirmação é inconsistente com a realidade de uma economia caracterizada pela apropriação privada dos meios de produção e trabalho assalariado, onde a produção não vise somente a troca, mas o lucro. A divisão do trabalho, na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. Ele defendia que a simpatia e a moralidade são imposições sociais, isto é, a simpatia é a relação do indivíduo com os demais e isso gera a cooperação e troca de interesses, e a moralidade são valores estabelecidos socialmente que perduram pela tradição.

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Fonte: http://migre.me/vorb0

O mundo pós-invenção do dinheiro aliado a uma mão de obra fabril especializada e em constante atualização permitiram níveis de produção nunca imaginados; além de maior oportunidade a todos, exceto os incapazes que necessitariam de caridade e deveriam ser atendidos pelo Estado. O economista lançou a hipótese de um Estado voltado apenas à resolução de problemas como defesa, justiça e educação deixando o mercado livre para se autorregular através da lei da oferta e da demanda; restando ao Estado à criação de leis para igualdade universal nas condições de busca do trabalho.

Foi deste economista a primeira reestruturação sistemática de um estado para atender negócios internacionais além de propor a tese de que a riqueza de uma nação deve ser medida por sua capacidade produtiva e não pela riqueza de seus príncipes e sua reserva em ouro. O mundo resultado de Adam Smith é com certeza melhor do que o anteriormente existente, contudo seu modelo favoreceu apenas uma classe social que ascendeu ao trono há 200 anos e ainda desfruta de imensurável poder devido ao apoio ou esperança do povo. A concepção de Adam Smith gerou um mundo de iguais condições, porém não de oportunidades.

REFERÊNCIAS:

file:///C:/Users/DAYSE/Downloads/Adam_Smith_-_A_Riqueza_das_Nacoes_Vol_1.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3o_invis%C3%ADvel

https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ideia-de-ordem-espontanea/

http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2012/01/filosofo-iluminista-adam-smith-criou-teorias-sobre-economia-do-mundo.html

https://www.trabalhosgratuitos.com/Sociais-Aplicadas/Filosofia/Liberalismo-222203.html

http://www.suapesquisa.com/biografias/adam_smith.htm

http://adamsmithj2m.blogspot.com.br/

https://www.trabalhosgratuitos.com/Outras/Diversos/Resumo-Riqueza-Das-Nações-52836.html

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“Le Voyage Dans la Lune” e os devaneios selênicos da pulsão industrial

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“[…] os companheiros olharam, mudos e pensativos,
aquele mundo que apenas tinham visto de longe,
como Moisés a terra de Canaã”

(Jules Verne, De la Terre à la Lune)

Marie-Georges-Jean Méliès (1861-1938) é um daqueles casos sintéticos do verdadeiro visionário, dotado de um vislumbre e imaginação que ultrapassaram seu tempo, e cujo trabalho ecoa quase um século após seu falecimento. Originalmente vindo do ofício de ilusionista, é considerado também um dos maiores precursores do cinema, com o incremento de revolucionários efeitos especiais para a época, em seus mais de 500 filmes, na maior parte com narrativas de tom fantástico e de aventuras.

 

Dentre tantas produções, algumas se destacam por se orientarem ao sonho de Ícaro, em direção ao imaginário da conquista dos planetas e sóis que nos encantam desde eras primordiais, como os casos de Le voyage dans la Lune (1902) e Le voyage à travers l’impossible(1904). E a maior inspiração e referência para estas incursões narrativas de Méliès vem do escritor francês Jules Verne (1828-1905), o pai da ficção científica, que escreveu um dos maiores clássicos do gênero De la Terre à la Lune (1865), com aspectos técnicos que foram atestados muito tempo depois na corrida espacial, como a divisão das naves em módulos e a composição de sua aerodinâmica, elementos estes utilizados, com um teor mais cômico, pelo cineasta ilusionista quase cinquenta anos depois do lançamento da aventura lunar de Verne.

 

 

O maior feito de Méliès em seu vídeo foi conseguir dar concreticidade a um imaginário coletivo que acompanhava toda uma fase de nossa história, em plena expansão do fordismo industrial. E a efusão das novas tecnologias na passagem do século XIX para o XX, principalmente com o advento do petróleo e da energia elétrica, fez com que fossem projetadas as mais inventivas e mirabolantes ideias sobre as possiblidades de criação e aplicabilidade destas tecnologias. Observa-se também que neste período já se assistia as primeiras tentativas de desenvolvimento da indústria aeronáutica, primeiro com balões e dirigíveis, e posteriormente com os aeroplanos, como o 14-Bis de Santos Dumont em 1906.

Vejamos de forma mais detalhada algumas características de destaque nesta fábula verniana, como figurino, cenários, efeitos especiais e alguns sinais do seu tempo, inevitáveis em sua constatação, na intrínseca relação texto artístico com contexto social.

 

Le voyage dans la Lune apesar de não conter falas, tem a seu favor uma trilha sonora clássica, desde o seu início no momento da reunião para se discutir o roteiro da ida à Lua até a viagem em si para o satélite terrestre. As inflexões sonoras, que vão de picos estridentes de tambores a calmarias das cordas e sopros, aos ouvidos de hoje nos fazem lembrar ora as composições atemporais das animações de Walt Disney ora o tom heroico e epopeico de compositores como John Willians. A extravagância das roupas, maquiagem e interpretações contribuem no aumento da tonalidade humorística da obra, dando-lhe um aspecto teatral em muitos momentos da projeção.

Como mencionado sobre o período do filme, no decurso da segunda Revolução Industrial, na altura dos seus três minutos uma cena se torna chave para a localização temporal do curta-metragem. Há um plano aberto em que são mostradas diversas indústrias, de forma a contextualizar este cenário ao programa de construção da nave espacial em uma destas localidades. A propaganda tecnológica do início do século XX versou-se com inúmeras representações artísticas em relação a seu tempo, principalmente no cinema, que se utilizava da linguagem cômica para enaltecê-la, como é o caso da obra de Mélièsou criticá-la, feito exercido por Charles Chaplin em seu Tempos Modernos (Modern Times, de 1936), quando as promessas progressistas da febre industrial já caíam por terra pela sociedade, na esteira dos eventos que sucederam a crise econômica de 1929.

 

Sobre a estadia na Lua de que trata a obra, este é o ponto em que mais se elevam os seus aspectos oníricos. A paisagem, as estrelas, a passagem de cometas, a presença de fenômenos climáticos terrestres e, logicamente, a ausência de um aparato de vestimentas adequado evidenciam este tom mais leve adotado pelo diretor. Em seu segundo ato, antes do retorno a Terra, a influência mais clara observável vem de Alice in Wonderland (1865) de Lewis Carrol, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson: o ambiente selvagem e enigmático no subterrâneo inexplorado, o rei e seus súditos no império lunar e a corrida para a fuga dos perigos deste mundo desconhecido. A chegada da nave em formato de bala de canhão a Terra se configura em outra clara inspiração não só na obra de Verne, mas no texto Fist Men in the Moon (1901) de H. G Wells, quando esta aterrissa em alto-mar, recurso utilizado até hoje pela indústria de exploração aeroespacial.

Outros dois aspectos chamam a atenção na obra, há a menção a um mago (talvez um dos anciães do início do filme) com seu pé sobre a Lua com rosto humanoide, numa clara significação do domínio desta última, o que viria a ocorrer, num tom geopoliticamente muito mais avassalador anos mais tarde e, não por acaso, a forma de projétil do módulo lunar acerta em cheio o “olho” da Lua, talvez numa breve crítica ao poder reflexivo de criação e destruição da tecnologia, mas logo suplantado pelos elementos satíricos. E a presença do elenco feminino, funcionando apenas como pano de fundo para o fortalecimento do alívio cômico, ou representando madonas celestiais nos eventos de exploração lunar nos idos da metade da película, traz os estigmas de gênero já presentes desde então em uma incipiente indústria cinematográfica.

Não raro observamos pontos de inspiração da obra de Georges Méliès em trabalhos mais contemporâneos de suma importância à indústria audiovisual, como é o caso dos filmes 2001: uma odisseia no espaço (1968) do diretor Stanley Kubrick e Solyaris (1972) de Andrei Tarkovski. Há o existencialista e esfíngico disco The Dark Side of the Moon (1973) da banda inglesa Pink Floyd, ao qual se juntam os trabalhos do duo Air, que homenageou a obra de Méliès em dois inspirados e retrofuturistas trabalhos: Moon Safari (1998) e Le Voyage Dans La Lune (2012). O album The Moon 1111 (2012) de Otto faz menções ao título francês original, assim como os videoclipes Segredos de Roberto Frejat e Tonight, Tonight dos Smashing Pumpkins. E esta lista de referências e homenagens poderia ser facilmente prolongada, devido à centenária influência do curta-metragem francês.

 

O mesmo imaginário coletivo das explorações aéreas e espaciais do início do século XX pode ser visto atualmente, na aurora do século XXI, principalmente com o renascimento da corrida espacial, mas agora com um teor mais realista do alcance da tecnologia humana perante o universo, sendo alvos como Marte, Europa e Ceres os maiores receptores desta nova fase dos devaneios tecnológicos, habitando filmes, livros, contos e referências em diferentes mídias, numa retroalimentação contínua dos contos utópicos, ideologias edênicas e sonhos de conquista dos elísios cósmicos, mas com muito mais chances de sucessos que seus predecessores de décadas atrás. A técnica, ciência e imaginação caminham juntas, racional e irracionalmente, em direção ao passado ou futuro, definindo nosso propósito ou anulando-o, com reais possibilidades de abertura de nossa destinação ao impossível ou autodestruição.

Referências:

MÉLIÈS, Marie-Georges-Jean. Le voyage dans la Lune. (Direção, Produção e Roteiro). Star Film, França. 1902. 12:51 min.

VERNE, Jules. De la Terre à la Lune. (Gutenberg Project). Disponível em: <http://www.gutenberg.org/ebooks/799 > Acesso: 05.01.2015.

 

Trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=-P9XE5dtwzs

 


FICHA TÉCNICA DO FILME

LE VOYAGE DANS LA LUNE

DireçãoGeorges Méliès
Roteiro: Georges Méliès, Gaston Méliès
Música composta por: Nicolas Godin, Octavio Vázquez, Jean-Benoît Dunckel
Elenco: Jules-Eugène Legris
País de Origem: França
Duração: 16 minutos
Ano: 1902

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