Ivan Pavlov: a descoberta acidental revolucionária

Compartilhe este conteúdo:

Você já sentiu seu coração acelerar ao ver algum animal? Tem algum tipo de fobia? Já ficou enjoad@ ao sentir o cheiro de certas comidas? Teve frio na barriga ao ser avaliad@? Se sim, esses comportamentos foram aprendidos, e a explicação desse fenômeno foi feita por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936).

Pavlov nasceu no vilarejo de Riazam, na Rússia, em 26 de setembro de 1849. Filho de um pastor, sua família decidiu acompanhar os passos de seu pai. Ninguém imaginava que o menino com desempenho escolar abaixo da média um dia ganharia o premio Nobel. Ao concluir o ensino médio, Ivan entrou para o Seminário Eclesiástico de Raizam. Porém ao conhecer as traduções para russo dos artigos científicos ocidentais, o jovem se apaixonou pelas teorias darwinianas e abandonou a educação religiosa. Foi à Universidade de São Petersburgo, se formou em medicina com especialização em fisiologia animal. Depois de formado, Pavlov se mudou para Alemanha, onde estudou as áreas por mais dois anos, antes de decidir voltar a São Petersburgo e ser assistente em um laboratório de fisiologia (LEFRANÇÓIS; LOMONACO, 2008).

Universidade de São Petesburgo. Fonte: https://bit.ly/2Jp8IUt

Mais tarde foi nomeado professor de farmacologia, e aos 41 anos passou a chefiar o departamento de fisiologia. Seus trabalhos se tratavam majoritariamente de fisiologia, especialmente com processos digestivos. Só depois dos seus 50 anos que o fisiologista descobriu acidentalmente o que se nomeia Condicionamento Clássico (ou Condicionamento Pavloviano) fase que durou por mais 30 anos (LEFRANÇÓIS; LOMONACO, 2008).

Em seu laboratório, Ivan estudava os reflexos salivares de cães (salivação como resposta ao alimento). Em um procedimento cirúrgico, fez-se uma fístula próxima às glândulas salivares dos cães participantes do experimento, e inseriu-se uma mangueira por onde a saliva saia e era medida em função da qualidade e quantidade de comida apresentada aos animais. Pavlov descobriu acidentalmente que outros estímulos também estavam causando a salivação, como o som das pegadas ao se aproximar do experimento ou a simples aproximação da hora em que a comida era servida (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

A partir dessas observações, o cientista desenvolveu seu experimento clássico. Usando o cão como sujeito experimental, Pavlov passou a emparelhar o estímulo sonoro se uma sineta, que não causava nenhuma resposta inicialmente, a apresentação de carne, que naturalmente já eliciava a resposta de salivação. Após cerca de 60 emparelhamentos, o cão passou a apresentar a resposta de salivar apenas com o som da sineta. O fisiologista provou então que é possível aprender um novo reflexo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Fonte: https://bit.ly/2GD6e7d

Aprendizagem Emocional

Um tema que desperta curiosidade, é os motivos pelos quais as pessoas sentem emoções. Os reflexos e respostas emocionais inatos são uma forma mínima de preparação para interagirmos com o ambiente que nos cerca, em relação de valor com a sobrevivência. As emoções não surgem “do nada”, precisam de um determinado contexto e interagem com nossa fisiologia, sendo em grande parte relações entre estímulos e respostas, comportamentos respondentes, ou seja, não controláveis (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Com os estudos Ivan Pavlov, descobriu-se que os organismos podem aprender novos reflexos, desse modo, podem também aprender a sentir emoções que não estavam em seu repertório comportamental quando nasceram. Um experimento amplamente conhecido sobre Condicionamento Pavloviano e emoções foi realizado por James B. Watson (1878 – 1958)  com Albert, um bebê de dez meses, para o qual foi apresentado um rato com o qual ele não apresentava medo.  Emparelhou-se então o estímulo do rato com um barulho alto, o que fazia com que Albert se assustasse e chorasse. Após emparelhamentos sucessivos, somente a presença do rato fazia com que Albert tivesse medo. Com isso, Watson atestou que as emoções podem ser aprendidas e modeladas (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Fonte: https://bit.ly/2GBWQ3y

Implicações Educacionais

Embora não seja um tema muito abordado, o Condicionamento Pavloviano é um fenômeno comum nos processos de aprendizagem. Gostar ou não gostar de aprender pode ter a ver com algum processo de condicionamento, principalmente emocional, relativo a professores, matérias e avaliações.

Estímulos que eram neutros podem passar a eliciar respostas condicionadas agradáveis ou desagradáveis aos estudantes. Estímulos Incondicionados (que não causam resposta) como um professor calmo e sorridente, ou outro rígido e áspero, podem fazer as disciplinas que ministram serem Estímulos Condicionados (que eliciam resposta) agradáveis ou incômodos. Da mesma forma que Pavlov emparelhou a sineta à comida, palavras também podem ser emparelhadas a situações, causando grande carga emocional (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Para tanto, a potenciação de possíveis estímulos agradáveis, e minimização de aspectos desagradáveis, juntamente com o conhecimento das associações realizadas por quem aprende, podem ser opções de condicionamento para uma melhor aprendizagem (LEFRANÇÓIS; LOMONACO, 2008).

Fonte: https://bit.ly/2JqEvo0

Um ícone para a Psicologia

Assim como Fechner, Weber, Titchener e Wundt, Ivan Pavlov era fisiologista e psicólogo. Apesar de afirmar que não era psicólogo e chamar a atenção de seus aprendizes quando usavam terminologia psicológica em vez de fisiológica, escreveu artigos e teorias sobre temas psicológicos, como hipnose e paranóia, contribuindo também de maneira inestimável para as primeiras teorias da aprendizagem (LEFRANÇÓIS; LOMONACO, 2008).

O garoto com baixo desempenho escolar se tornou um ícone para a psicologia, com sua teoria sendo estudada até hoje em academias de todo o mundo. O Ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904, que fez sua grande descoberta por acaso, é atualmente o principal teórico na explicação dos reflexos aprendidos, e também referência em estudos da Análise do Comportamento por seus experimentos revolucionários.

Fonte: https://bit.ly/2IzrTd9

REFERÊNCIAS:

LEFRANÇOIS, Guy R.; MAGYAR, Vera; LOMONACO, Jose Fernando Bitencourt. Teorias da aprendizagem: o que a velha senhora disse. Cengage Learning, p. 30-44, 2008.

MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed Editora, p. 29-43, 2007.

Compartilhe este conteúdo:

A arte revolucionária em Glauber Rocha

Compartilhe este conteúdo:

Eu não faço um cinema convencional, o meu tipo de filme é uma coisa que sai de outro espaço, e não obedece muito às leis da dramaturgia convencional, de forma que as pessoas ficam chocadas.
Glauber Rocha

Fonte: http://zip.net/bjtHSW

Glauber de Andrade Rocha nasceu em 14 de março de 1939, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia. De início, não foi o mundo cinematográfico o berço de onde surgiu esse grande ícone brasileiro, mas sim a “literatura”. Desde sua infância, esteve inserido no meio das artes, iniciando sua carreira com 10 anos, ao escrever a peça El hilito de oro.  A partir disso, trabalhou também como crítico de cinema para um programa de rádio, além de fazer publicações constantes para jornais e revistas, para mais tarde tornar-se diretor do suplemento literário do Jornal da Bahia. Era notório também o grande engajamento de Glauber nas ações culturais do lugar onde morava, no qual ele fundou grupos de teatro e ainda a Cooperativa Cinematográfica de Iemanjá. Vale lembrar que todos esses feitos de Rocha, aconteceram antes mesmo de ele completar 20 anos de idade.

As primeiras filmagens realizadas por Glauber Rocha foram dos documentários “O pátio” e “Cruz na praça”, nessa mesma época ele cursava Direito na Faculdade da Bahia. No entanto, abandonou o curso um ano depois, para se dedicar a profissão de cineasta. Este momento de inserção de Rocha no cenário cinematográfico, situado entre a década de 50 e 60, era protagonizado pelos ideários do Cinema Novo.

O movimento do Cinema Novo surgiu devido ao declínio da indústria cultural brasileira, que acarretou na falta de recursos econômicos e técnicos, implicando na falta de suporte à geração de cineastas da época. Entretanto, tais dificuldades não impossibilitaram o baiano de Vitória da Conquista a se tornar um dos maiores representantes do cinema cultural brasileiro. O slogan do movimento “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” condizia perfeitamente com as concepções de cinema defendidas por Glauber.

Fonte: http://zip.net/bdtJrV

Caracterizado por ser um brasileiro provido de um espírito revolucionário, interessado pelas causas sociais do seu povo, e indignado pelas situações de opressão e miséria presentes no Brasil e nos países latino-americanos, Glauber via em suas produções cinematográficas a oportunidade magnífica de retratar o “Brasil do Povo Brasileiro”. Desprendendo-se do modelo de fazer cinema norte-americano, os filmes de Rocha caracterizam-se pela utilização de uma linguagem inspirada na cultura e nas crenças brasileiras, contando com encenações em cenários naturais e modestos, imagens mais lentas, dando ênfase também aos diálogos prolongados dos personagens.

Além de almejar a construção de uma identidade cinematográfica intrinsecamente brasileira, o cineasta baiano desejava promover uma tomada de consciência por parte do povo brasileiro, na tentativa de impulsionar uma transformação política oriunda das classes sociais menos privilegiadas. A Psicologia Social, tomando como referência Vygotski, Paulo Freire e Silvia Lane, traz o conceito de “Empoderamento” para descrever a responsabilidade do indivíduo pela sua própria história. Enxergando-os como protagonistas e agentes, capazes de provocarem a mudança social necessária às adversidades do meio em que vivem.

Em entrevista concedida ao Fantástico, ao ser questionado uma vez sobre os motivos de sua arte cinematográfica ser causadora de tanta polêmica e ter recebido tantas críticas dos cineastas estrangeiros, Rocha confiantemente responde que esses indivíduos “(…) eram irresponsáveis, eram ignorantes (…) e meu filme coloca a perspectiva além da política para a filosofia, foi aí que eu disse, olha é um filme filosófico, e eles acham que o cineasta não pode ser filósofo”.

Fonte: http://zip.net/bbtHQf

Glauber de Andrade Rocha ficou conhecido internacionalmente com o filme “Deus e o diabo na terra do sol” (1964). Entre os seus demais trabalhos, os de mais destaques são: “Terra em transe” (1967), “A idade da Terra” (1980), “Barravento” (1962), “Câncer” (1972) e “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1969).

Premiações concedidas a Glauber Rocha:

  • Filme “Barravento” – Premiação na Europa e exibição no Festival de Cinema de Nova York.
  • Filme “Terra em Transe” – Prêmio Luis Buñuel e Prêmio da Federação Internacional Cinematográfica.
  • Prêmio de melhor diretor pelo filme “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”.
  • Curta-metragem “Di Cavalcanti” – Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes.

REFERÊNCIAS:

SILVA, Humberto. Glauber Rocha: Arte, Política e Cultura/, Salvador, 2006. Disponível em: < http://www.cult.ufba.br/enecul2006/humberto_junior.pdf>. Acesso em: 23 abril, 2017.

Glauber Rocha, Uol Educação, Rio de Janeiro. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/glauber-rocha.htm>. Acesso: 23 abril, 2017.

Entrevista com Glauber Rocha, 1980. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EV04KyhMhj0&t=298s>. Acesso em: 23 abril, 2017.

Compartilhe este conteúdo: