Ariano Suassuna: o belo como determinação histórica

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O presente ensaio tem o objetivo de elaborar um diálogo entre os textos, “As categorias da beleza”, descrito por Ariano Suassuna e as concepções de Platão e Immanuel Kant acerca do sentido atribuído à beleza, descritos no texto “A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”. Dessa forma, pretende-se abordar a respeito das visões objetivas e psicológicas das categorias da beleza, explanando sobre a beleza como forma de representação estética e de controle do pensamento humano. Segundo o pensamento Aristotélico sobre as categorias da beleza, quatro são de harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico; as outras são ligadas à desarmonia, que são belezas criadas da natureza pertencentes ao campo de desordem, são elas: o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico.

Na visão objetiva das categorias da Beleza, Ariano Suassuna (2008) define: o Gracioso como uma forma de beleza onde se concretiza através de pequenas proporções. Os vários tipos de beleza podem destacar tanto na Natureza quanto na Arte; o Belo como algo que só desperta sentimentos agradáveis e serenos na sua fruição; o Sublime é uma forma de beleza ligada à harmonia, uma beleza mais característica das artes, como a poesia lírica e filosófica; o Trágico é ligado à desordem, mais adequado ao teatro, despertados por uma ação; o Risível é uma beleza criada a partir daquilo que, no mundo e no homem existe de desarmonioso.

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Fonte: http://mosqueteirasliterarias.comunidades.net/estudos-sobre-a-poesia-lirica

A Beleza do feio e a Beleza do Horrível são as formas ásperas e especiais da Beleza, criadas a partir do que é feio e horrível na realidade. A Beleza do feio refere-se ao que é feio na natureza, e do Horrível ao que é repugnante em grandes proporções; o Cômico é a junção do Belo e o Sublime numa ação humana, resultando no trágico que desperta sensações de prazer misturado ao terror e piedade, resultando no cômico, que imita pessoas piores do que o comum.

Na visão psicológica, Charles Lalo relaciona a harmonia com as três principais faculdades que atribui ao espírito humano, são elas a inteligência, a atividade e a sensibilidade, isto é, a inteligência, a vontade e o sentimento. A harmonia pode ser entendida de três maneiras, como possuída, procurada ou perdida. “Pode-se aplicar esta lei em três graus diferentes, nas nossas três principais faculdades, na inteligência, na atividade e na sensibilidade, o que determina nove categorias estéticas, ou nove modalidades principais da grande lei de organização das forças mentais.” (LALO, 1952, p.59. apud SUASSUNA, 2008, p. 116) Na Harmonia Possuída encontram-se três das principais harmonias da Beleza – o Belo, o Grandioso e o Gracioso.

Segundo Lalo, Belo é a forma especial de beleza entendida como uma harmonia sensível a inteligência, julga pelo gosto e na qual se obtém, sem esforço, o máximo de rendimento estético com um mínimo de meios. Exemplo típico de belo é um templo grego, harmonioso, sereno, equilibrado. Já o grandioso segundo Lalo é uma harmonia resultante da vitória fácil obtida sobre um material duro e resistente, caracteriza-se pela harmonia obtida através da luta contra um material duro e resistente, colocado quase que acima das forças humanas comuns. Finalmente o Gracioso é um tipo de beleza ligado a sensibilidade e ao afeto, harmonia que nos inspira sentimentos de proteção e afeto, diante de seres ou objetos pequenos ou frágeis.

No Campo da Harmonia Procurada encontra-se três categorias principais, o Sublime, o Trágico e o Dramático, sendo a sublime a mais puramente intelectual das três, sublime é aquele tipo de beleza cujo núcleo é uma meditação que nos desperta um sentimento estético de solene terror pela fatalidade e solenidade das ideias em conflito. Para Lalo o Trágico é a harmonia procurada através de uma ação, pertence ao grupo das categorias mais ligadas a atividade. Já o Dramático é definido de maneira mais vaga por Lalo que afirma somente, ser ele o tipo de beleza que, através de uma ação, procura mais comover nossa sensibilidade. Lalo diz que um exemplo característico de dramático é ” a morte acidental, mas tocante, de Julia de Rousseau”.

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http://utpictura18.univ-montp3.fr/listeNotices.php?quoi=texteSource&q=Rousseau,%20Julie%20ou%20La%20Nouvelle

No Campo da Harmonia Perdida as três principais categorias são o Espirituoso, o Cômico, e o Humorístico. O Espirituoso é o domínio das obras de arte nas quais predomina o riso despertado por uma sugestão de ideias. E então o risível mais puramente intelectual. Agora o Cômico é um risível mais de ação: o caráter e as ações cômicas se caracterizam por uma desarmonia presente numa vontade, enquanto considerada livre de não possuir essa desarmonia. Já o Humorístico segundo Lalo (1952)  é ” realista e fantástico, feroz e terno, moral, amoral e por vezes imoral, metafísico e brincalhão, anárquico e social, apóstolo do bom-senso e demônio da extravagancia”.

Para Suassuna (2008, p. 70) “A satisfação determinada pelo juízo estético apoia-se no livre jogo da imaginação, é uma espécie de harmonização das faculdades causada pela sensação de prazer.” Correlacionando o texto As categorias da beleza ao texto A arte e a beleza, podemos observar palavras chaves destacadas nos dois tipos de texto, como: beleza, cultura, literatura, pintura, natureza, imaginação. Textos riquíssimos com visões de filósofos notáveis como Platão, Aristóteles e Kant, que em momentos onde se diferem as opiniões, vislumbramos até mesmo uma reciprocidade quanto aos textos e seus conceitos de beleza.

Aristóteles estabelece elementos como harmonia e desarmonia definindo beleza através de artes tal como literatura e teatro, determinando oito categorias de beleza. Para Platão a arte ou áreas da arte, são praticadas na escultura, pintura e em tempo planejado a literatura. Vemos um paralelismo quando Aristóteles estabelece as categorias da beleza, explicando que há beleza no feio, horrível e cômico. No texto “A arte e a beleza” retrata a subjetividade da beleza, pois a beleza se transforma conforme os tempos e os costumes, ou seja, a beleza pode ser absolutamente uma questão de ótica ou ângulo.

Para Aristóteles a beleza do feio e a do horrível eram peculiaridades da arte alegando que somos capazes de sentirmos prazer em olhar imagens horrorosas e desagradáveis. Analisando as visões do “Belo” nos respectivos textos, compreendemos que há divergências na interpretação do belo. Charles Lalo diz que belo é a forma especial de beleza relacionada à inteligência, harmonia e equilíbrio. Ponto de vista diferente do artigo que diz, havendo preocupação voltada ao belo do que com a verdade, fazendo o artista se utilizar da imaginação e não apenas do real. Dando conotação à beleza física e estética.

Nas duas leituras, o artista está relacionado à idealização e imaginação. É possível que a arte se converta em linguagem formada por imagens e símbolos, podendo o homem comunicar-se por formulação ou entendimento do que teórico. Para o autor, a escultura se apropria da manipulação da matéria-prima, pois está presente na definição do material a ser utilizado. A pintura representa o real transpassando para a tela. Mas, a literatura provoca outro significado diferente da escultura e da pintura; ela retrata mais a produção da imaginação que a representação propriamente dita. A literatura sobrevive de forma autônoma e penetrante aos limites da arte. A Arte é um campo bem vasto para ser compreendido na sua totalidade. O autor entende que o ser humano se comunica através da arte de forma perceptiva em uma linguagem de imagens e símbolos.

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Fonte: http://www.publistorm.com/imagens-grafiteiros-pintam-paredoes-em-sp/

Os ramos que ajudam a explorar essa comunicação são descritos como: Escultura, pintura e a literatura. A escultura pode ser entendida como a intenção de criação representativa do artista, este contato com a obra dá-se de forma intima onde há apropriação da manipulação da matéria prima (barro, madeira, entre outros). A pintura é mais significativa, pois enfatiza os potenciais do artista (alcançar a representação do real traçando para a tela o alvo pretendido). Por fim a literatura, esta tem um significado diferente das anteriores, é voltado para a produção da imaginação, está ligado a solidificação da narrativa. A literatura tem sua parte na arte quando se diz respeito a beleza, como a poesia e o romance.

A precisão da arte para o entendimento do belo é primordial, pois, é através da arte que a beleza se relaciona com a estética. O aparecimento da arte seria um dos pontos mais importantes para a abordagem em torno do belo, a estética então serviria de combustível validando essa relação, e a filosofia seria o fundamento dessa grande associação e seria auxílio para tal entendimento.

O belo seria uma categoria da beleza mais comum na escultura, na pintura e na arquitetura, por exemplo, enquanto que o trágico é mais característico na Epopeia, do romance ou do teatro; em qualquer caso, porém, todos eles são maneiras diferentes, peculiares, singulares de realizar a beleza, são categorias da beleza (SUASSUNA, 2008,  p. 107-108).

No entanto fazendo uma relação entre os assuntos, com exceção da beleza criada a partir do feio e do horrível percebe se que todos os tipos ou categorias de beleza contidos no texto “iniciação à estética” se encontram tanto na arte quanto na natureza. Sendo que existem tipos de belezas mais comuns nas artes chamadas plásticas e literárias.

Segundo Laborde (2006) fundamentalmente o signo da beleza e a representação da arte são o objeto de reflexão estética, dessa maneira a beleza e a arte estão completamente interligadas e são de suma importância para a compreensão da estética. Para alguns filósofos como Platão e Kant, o Belo tem se entendido com Estética moderna, sendo um dos tipos mais amplos chamado de Beleza. Neste ponto busca-se alcançar a beleza absoluta, na qual essa beleza não está relacionada exclusivamente a arte. Não se pode confundir que o Belo só desperta sentimentos agradáveis e serenos, de gozo, usufruto. Aristóteles afirmava que existem outros tipos de Beleza como o Trágico que é a mistura de sensações, sendo terror e piedade.

Segundo Aristóteles parte da Beleza combina primeiro com elementos de harmonia e desarmonia, com grandeza e proporção, a ponto de adentrar elementos de ação para chegar as categorias da Beleza mais realizadas por meio das artes literárias e teatrais, que é o Trágico e o Cômico. Para o filosofo a Beleza era definida por oito características, sendo quatro ligadas à harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico. As outras quatros ligadas a desarmonia, tipos de beleza criada no campo que a Natureza pertence a desordem, o feio, o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico. Só assim podemos encontrar tipos de beleza nas artes plásticas e artes literárias. Comumente o Belo é encontrado na escultura, na pintura, na arquitetura. O Trágico é atributo do romance, teatro, epopeia.

Platão acreditava que o belo é uma manifestação visível das ideias, a arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, onde era uma reprodução. A beleza torna-se algo divino, primeiro é o caminho físico e depois espiritual. O diálogo entre Platão e Kant foi por significar um problema do belo e da arte que geram ligação ao sagrado para se alcançar a beleza absoluta. A beleza está ligada ao sensível, na qual o belo não está relacionado exclusivamente a arte, e sim está em busca da perfeição.

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Fonte: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2014/02/17/1082544/pos-impressionismo-autorretrato-vincent-van-gogh.html

Seja qual for o problema, de categorias de beleza, objetivas e subjetivas, Aristóteles sugeriu soluções. Conforme Edgard De Bruyne: “A primeira, parte do Belo (ou da Beleza), e é objetivista. A segunda, subjetivista, reduz tudo ao Estético. ” Assim, ele não escreveu um tratado dedicado à beleza, mas tinha em sim um conceito fundamentado de harmonia e de ordem, como o de desordem e desarmonia. Para Suassuna (2008), o homem pode se elevar da beleza sensível, até a contemplação estática da beleza Absoluta, na qual todas as outras belezas menores participam, assim unificando os pensamentos dos filósofos.

No texto “A Arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”, o autor realiza comparações acerca da estética e seu sentido, que mais soa como uma padronização de uma beleza inatingível. O valor da beleza está no mundo das ideias, voltado mais para a estética que está em busca da perfeição: o belo. Para Platão, o belo é uma manifestação real (visível) das idéias e arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, é um re-produzir (SILVA e LORETO, 1995). Em ambos os textos é possível notar a imposição de um padrão inatingível, que é resultante de um processo histórico-filosófico. A concepção platônica associa a Beleza à verdade e principalmente ao ideal absoluto, assemelhando-se a algo “divino”.

Enquanto Platão dedica-se a buscar a perfeição, Kant se restringe á sensação. Para Platão, a beleza é associada ao objeto, á sua estética (modelos estabelecidos por Suassuna). Já Kant, considera a beleza como produto do sujeito mais próximo ao ideal de satisfação, regida pela sensação, através do senso da interpretação de quem o avalia. Dessa maneira, conclui-se que o belo seria determinado historicamente, através das categorias da beleza citadas por Suassuna, pelo juízo subjetivo de gosto, este que, para Platão, faz parte do mundo das ideias, é algo ideal e inalcançável, uma vez que busca contemplar os anseios da arte, da filosofia e da estética.

Nessa medida, pode-se afirmar que o belo revela faces que caracterizam e reajustam todo um modo de pensar, o qual está pré-determinado por processos históricos, mas, a arte e a sua eterna “manutenção da imagem” ressaltam a verdadeira beleza, esta que pode estar presente no conhecimento filosófico, no encantamento que pode estar detrás de todo conhecimento científico como espelho da arte, que reflete em sua verdade a disseminação da estética.

REFERÊNCIAS:

LABORDE, André Luiz Portanova; SILVA, Cassiano Paes da; LOBO, Alessandra Rodrigues. A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza. 2006.

 

SUASSUNA, Ariano. As categorias da beleza: Visão objetiva. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação a estética. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. Cap. 10-11. p. 105-133.

 

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Precisamos falar sobre beleza: categorias e padrões midiáticos

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No texto “As categorias da beleza” do livro “Iniciação à Estética” de Ariano Suassuna (2009), são abordadas as concepções de Beleza, suas classificações e implicações ao longo da história, bem como a influencia de Aristóteles na construção dessas novas configurações. Nesse ensaio, procuramos fazer uma comparação entre algumas dessas características com as concepções atuais de beleza, especialmente a beleza estética corporal, que tem sido fonte dos mais diversos tipos de infortúnios.

Assim, Suassuna (2009, p. 105) aponta que “a estética moderna procura fazer do Belo apenas um dos tipos possíveis de algo mais amplo, que os Pós-Kantianos chamaram de Estético e que, aqui, chamamos de beleza”. Dessa forma, torna-se possível dizer que o Belo está entre os vários tipos de Beleza existentes. O autor acrescenta ainda, que a Beleza não deve ser compreendida apenas pela ótica do Belo que desperta sentimentos agradáveis e serenos, mas que outras sensações podem ser despertadas por meio dos diversos tipos de Beleza. Dessa maneira, fez-se necessário uma fragmentação do campo estético, possibilitando uma visão mais ampla da Beleza.

O autor traz como problema o impasse de analisar as categorias da Beleza por uma ótica objetiva, ou em termos subjetivos. Ou seja, a interpretação dos diversos tipos de beleza pode ser compreendida a partir da ótica de cada sujeito, de modo que cada indivíduo perceberá estes aspectos de acordo com suas próprias noções e singularidades. No entanto, independente da forma escolhida, as linhas gerais da solução desse dilema foram sugeridas por Aristóteles. Conforme Suassuna (2009) Aristóteles em sua definição de Beleza, associa inicialmente, elementos de harmonia e desarmonia, com a grandeza e a proporção, no intuito de alcançar as categorias de Beleza expressas através das artes literárias e teatrais.

Aristóteles (s/d, apud Suassuna, 2009) define oito categorias da Beleza, sendo que, destas oito, quatro estão ligadas à harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico. As demais estão associadas à desarmonia, originados a partir do que na natureza é feio: o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico.  A mídia atual dá maior ênfase a beleza exterior que é essencialmente “harmônica”. Entretanto, do outro lado da televisão, existe mais desarmonia do que harmonia. E é necessário reconhecer o belo na desarmonia. Em revistas, jornais, propagandas só existe o corpo “perfeito”, que é frequentemente e (não tão) ironicamente, magro, branco, europeu. Em casa, nas ruas, o que existe são corpos singulares, que sofrem por não serem “perfeitos”.

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Fonte: http://ohanamakeup.tumblr.com/post/109516269334/rosto-perfeito-m%C3%A1scara-de-marquardt

Com relação ao Gracioso, este refere-se a forma na qual a Beleza se realiza por meio de pequenos detalhes. Embora, apresentem aspectos de beleza, estes não podem pertencer ao Belo, uma vez que este exige majestade e imponência (ARISTÓTELES, s/d, apud SUASSUNA, 2009). Em contrapartida, no campo da desarmonia encontra-se o Risível, Beleza criada a partir do que existe de desarmonioso no mundo e no homem, no entanto, essa feiura, torpeza e o grotesco são em proporções ainda suaves, ou seja, são apenas alguns defeitos (SUASSUNA, 2009).

Em seguida, têm-se elementos nos quais a grandeza é fundamental, o Belo e a Beleza criada a partir do feio. Nessas categorias, é notório que há um aumento da proporção de suas características: a grandeza, a imponência e a majestade fazem parte dessas esferas, ainda que não de formas demasiadas, para não adentrar ao terceiro campo (SUASSUNA, 2009). Este terceiro campo, faz menção à Beleza do Horrível e ao Sublime, que de acordo com Suassuna (2009, p.112) Aristóteles atribuía a eles o “domínio do grandioso, das proporções desmesuradas”, diferenciando-se apenas pelo fato do Sublime estar associado à harmonia, enquanto a Beleza do Horrível à desordem, remetendo ao feio e repugnante em proporções demasiadas.

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Fonte: http://www.lendo.org/a-tragedia-grega/

Em último campo encontram-se o Trágico e o Cômico, nessas classificações os sentimentos são originados por ações, seja no teatro ou na dança, e não por pensamentos, como nos demais campos da beleza citados anteriormente. Então, a partir de uma ação em desarmonia com o que é socialmente esperado, surge o cômico, com terror, piedade e grandiosidade. Em contrapartida, quando esses aspectos estão em harmonia temos o trágico (SUASSUNA, 2009).

 “A tragédia é, pois, imitação de ações de caráter elevado, completa em si mesma, de certa extensão, linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídos pelas diversas partes do drama(espetáculo), imitação que se efetua, não por narrativa mas mediante atores (personagens), e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação desses sentimentos” (Aristóteles apud Suassuna, 2009 p.124-125)

Segundo Aristóteles (s/d apud Suassuna, 2009 p.128), o personagem é um misto de boas e más qualidades. Seu caráter trágico é enunciado mais pelas suas decisões do que pelas suas palavras. Essas decisões são comumente influenciadas pela grandeza de suas paixões. Assim, o trágico decorre de uma ação humana elevada, narrada em linguagem poética, com predominância da imagem e da metáfora, na qual um personagem excepcional toma uma decisão, fazendo uma escolha entre dois fins, preferindo um e evitando outro.

No capítulo 11 do livro Iniciação à Estética de Ariano Suassuna o autor fala sobre a Visão Psicológica das Categorias da Beleza, nome do capitulo, citando primeiramente Charles Lalo sobre As Três Faculdades e a Harmonia, seu ponto de vista psicológico, onde ele nos fornece indicações sobre a definição objetiva de cada uma dessas categorias partindo do princípio Aristotélico: harmonia, ou ordem. Em combinações, o autor fala sobre 9 categorias no total, sendo subdivididas em 3 campos de harmonia de três faculdades atribuídas ao espirito humano, a inteligência, a atividade e a sensibilidade.

Para o autor, o primeiro campo, o da Harmonia Possuída, é dividido em Belo, Grandioso e Gracioso. Sendo, para ele, Belo a forma especial de beleza sensível à inteligência, uma beleza serena e clássica, onde não há muito esforço, mas sim o gosto ao clássico, por exemplo os templos gregos que são equilibrados, harmoniosos e serenos. O Grandioso, segundo o Lalo, é uma forma de harmonia obtida através de uma luta contra um material duro e resistente que está acima das forças humanas, como um templo egípcio que para ele tem uma impressão de que aquelas obras são algo maior que as medidas humanas atingidas pelos humanos. Já o Gracioso seria a forma sentimental e afetiva da harmonia, que transparece também proteção e sensibilidade diante de seres ou objetos frágeis, como por exemplo, uma casa simples no campo.

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Fonte: http://pwalwer.blogspot.com.br/2012/05/templo-de-poseidon-imperador-dos-mares.html

Quando o autor passa para o Campo da Harmonia Procurada, ele fala sobre as três categorias principais, que são o Sublime, o Trágico e o Dramático. O Sublime, para Lalo, sendo a categoria mais puramente intelectual consiste no conflito de ideias que também possuem um caráter religioso, já que esses conflitos também se dão a partir de ideias superiores e que não estão ao alcance humano. Sublime então seria o tipo de Beleza de meditação onde ocorre um sentimento de solene terror por causa desses conflitos.

Quando o autor fala sobre o Trágico, diz ser a harmonia procurada através de uma ação, ou seja, estando mais ligadas à atividade o Trágico seria uma luta contra a fatalidade, o combate de um ser humano contra necessidades irresistíveis de fora, como o Édipo que é um dos melhores exemplos para isso. Lalo já define o Dramático de maneira mais vaga, dizendo ele que é o tipo de Beleza que procura comover sensibilidade onde não é apresentada o “trágico, fatalidade”, sendo assim uma “morte acidental, mas tocante” para o autor.

Por último, temos o campo da Harmonia Perdida, onde os três campos principais são o Espirituoso, o Cômico e o Humorístico. Lalo diz que o Espirituoso é o domínio das obras de arte nas quais predomina o riso despertado por uma sugestão de ideias, espirito é sinônimo de inteligência e de capacidade de despertar riso. Já o Cômico seria mais voltado para o lado da ação, onde, para o autor, o caráter e o tais ações cômicas se mostram através de uma desarmonia enquanto não se sabem que exista essa desarmonia, por exemplo, se um personagem é cômico por ser avarento é engraçado, mas se suspeitamos que ele é avarento porque quer, sua avareza cômica se torna uma fatalidade, que dá lugar ao Trágico.

Por fim, o Humorístico de acordo com Lalo é “uma falsa unidade aparente, na qual nós descobrimos uma incoerência escondida”, para ele o Humorístico é “realista e fantástico, feroz e terno, moral, amoral e, por vezes, imoral, metafísico e brincalhão, anárquico e social, apóstolo do bom-senso e demônio da extravagância”, isso seria conseguir ver o lado bom tanto de coisas boas quanto de coisas ruins, de acordo com Cassio Nunes, em seu livro Breves Estudos de Literatura Brasileira de 1969.

Tanto o Trágico quanto o Dramático se caracterizam pelo infortúnio, pelo esmagamento, pelo aniquilamento do personagem. Como Henriette (2014) fala em seu artigo “O padrão de beleza imposto pela mídia”, as pessoas não enxergam mais sua beleza interior, mas sentem um vazio enorme, tentando ser o que não são, tentando atingir um padrão inalcançável. Essa beleza trágica, imposta pela sociedade, acaba esmagando nossas singularidades, aniquilando nosso protagonismo e nos colocando em uma posição de infortúnio, em uma constante luta entre sermos aceitos sendo “belos”, e corremos o risco de termos parte de nossa subjetividade perdida, ou preservarmos a nossa individualidade e sermos marginalizados como “feios”.

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Fonte: http://www.almanaqueliterario.com/o-desenvolvimento-intelectual

A exemplo do que acontece com o trágico, o Dramático se fundamenta em ações. Aliás, a ação é elemento fundamental de qualquer das categorias da Beleza ligadas ao comportamento humano. Por exemplo, para alcançar o status de belo em nossa sociedade, é preciso agir em função disso, mesmo que essa ação tenha um desenrolar trágico e um final catastrófico. O conflito dramático e também o trágico, se encontram na vida cotidiana. São situações que todos vivemos e testemunhamos. Situações que nos causam certo medo e até repulsa, mas que ao mesmo tempo nos fascinam e por vezes nos impelem a agir da mesma forma. Como exemplo, todos objetivamente sabemos que é irreal o patamar de beleza que nos é imposto, mas em maior ou menor grau, acabamos submetidos por, e trabalhando em prol dele.

Para Suassuna (2009), em matéria de estética, é sempre conveniente refletir sobre o concreto. Se houvesse uma maior observação dos limites da concretude em termos de beleza, possivelmente a nossa vivência de estética seria menos dramática. Na sociedade moderna o que se observa são os padrões de beleza impostos pela mídia, que trazem um discurso que para ser bem “sucedido” e até mesmo aceito dentro de uma esfera social é preciso seguir o padrão de estética que a sociedade impõe.

Relativamente existem serias consequências dentro desse parâmetro social, quando no sujeito surge o sentimento de inferioridade perante o modelo visto na mídia como perfeito, levando o mesmo a não aceitação do seu corpo e “contribuindo” para uma series de “malefícios” como no caso da anorexia nervosa e bulimia. A mídia a todo tempo tem pregado poder, honra, beleza, sucesso e vários outros. Sempre com intuito de promover uma cultura de que aquilo que é externo e mais importante do que a parte interna, psíquica e emocional.

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Fonte: http://nikelenwitter.sul21.com.br/2014/08/sobre-a-imposicao-de-padroes-de-beleza/

A maiores vítimas são as mulheres que buscam pela perfeição do corpo, influenciadas especificamente pelas top moldels, que passam uma alta imagem de que tudo se encontra aprimorado, com alto esmero, que não contém nenhuma imperfeição. Uns dos maiores incentivadores a propagar o padrão de beleza aceitável pela mídia são os meio comunicativos que passa a visão de que tudo pode ser alcançado e com isso a busca pelo “corpo sarado” é bastante almejada para satisfazer a necessidade que a mídia tem colocado na sociedade.

A reflexão aqui é, portanto, a respeito das diversas formas da beleza e de como elas influenciam a forma como vemos determinadas coisas, pessoas, lugares, e o mundo. A um nível que beira a ignorância (e por vezes, esse limite é atravessado) nós rotulamos e tratamos as pessoas com base na nossa concepção sobre a beleza. É necessário mais do que isso. É necessário aprender sobre as diversas formas de beleza, e mais, aprender que a beleza vai além de formas físicas, transcende. É complexa e vulnerável. Precisamos falar sobre o que chamamos de beleza.

REFERÊNCIAS:

SUASSUNA, Ariano. As categorias da beleza. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. Cap. 10, 11, 12 e 13. p. 103-141.

 

SILVA, Henriette Valéria. O padrão de beleza imposto pela mídia. ed.794. 2014. Disponível em: <observatoriodaimprensa.com.br/…/_ed794_o_padrao_de_beleza_imposto_pela_midia>

 

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