Jurassic World – acampamento jurássico e o Transtorno do Estresse Pós Traumático

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Jurassic World é um seriado de animação que remonta à era jurássica onde são trazidos à vida os dinossauros já extintos a milhares de anos, no enredo do seriado um grupo de crianças é selecionado para participar de um acampamento jurássico, conhecendo todas as instalações do parque jurássico, onde ficam confinados todos os dinossauros que foram trazidos à vida, porém um incidente nos primeiros momentos de abertura do Jurassic World faz com que os dinossauros escapem e comecem a atacar os turistas, e ordenaram a evacuação de toda a ilha, no entrando o grupo de crianças foi deixado para trás e precisaram lutar e se organizar para sobreviver rodeados das mais variadas espécies de dinossauros.

À medida que o tempo foi passando a pequena equipe enfrenta inúmeros desafios para se manter vivos diante da ameaça de grandes predadores como o tiranossauro rex, carnotauro, e até mesmo espécies híbridas criadas pelos cientistas. Ter a vida em risco a cada instante e presenciar tantas mortes, torna a mente dessas crianças muito suscetível a desenvolver transtornos psicológicos, como o Transtorno do Estresse Pós Traumático. O TEPT se desenvolve em duas partes, que são: o evento traumático, a reação da pessoa ter sido de grande medo, terror ou horror. Sendo o ponto principal do desenvolvimento do transtorno a forma como a pessoa reage a situação, as impressões causadas na mente no do indivíduo, pois nem todos os indivíduos que passam por eventos traumáticos desenvolvem o transtorno de estresse pós-traumático, mostrando que a resistência emocional do indivíduo conta muito mais que o evento traumático em si. (FIGUEIRA, 2003)

Imagem de Jurassic World Acampamento Jurássico. Fonte: divulgação Netflix

Percebesse logo que a Yasmina se vê em uma situação em que precisará entrar em contato com dinossauros carnívoros começa a reviver os flashbacks da situação traumática, isto se dá por causa dos estímulos que foram emparelhados com o evento traumático, e na vida real podemos trazer como coisas do ambiente do momento traumático, como a soldados que voltavam das guerras e não suportam ouvir o barulho de aviões passando, por este estímulo ter sido emparelhado com o seu evento traumático (a guerra no exemplo em questão).

Ao assistir podemos nos perguntar por que a Yasmina que era uma atleta e melhor corredora de todas as crianças que ali se encontravam, ao se encontrar em uma situação de perigo real e iminente a sua vida ao invés de correr fica paralisada diante do predador? Isto se dá porque o indivíduo não consegue mais naquele momento lidar com aquele estímulo aversivo e começa a apresentar sintomas do transtorno ansioso em questão, que são taquicardia, pensamento acelerado, flashbacks do evento traumático, etc. Por vezes, transtornos ansiosos geram sintomas de paralisia, enrijecimento da musculatura.

 Algo que ainda podemos ressaltar acerca da  Yasmina em relação ao desenvolvimento do transtorno, que aparece como marca da sociedade, a falta de inteligência emocional, o fechamento em si mesmo para não expor suas fraquezas, assim como Yasmina no primeiro momento não tem coragem de contar para seus amigos que estava passando por problemas e que estava conseguindo lidar com tudo que estava acontecendo dentro e fora de si. Assim como a personagem reage instintivamente não contando aos seus amigos, pessoas mais próximas que ela tinha naquele momento, da mesma forma inúmeros homens e mulheres na nossa sociedade se percebem precisando de ajuda para lidar com os próprios sentimentos e tem como primeiro movimento não assumir, e ir se escondendo da rede de apoio com a qual poderiam contar.

Imagem por storyset no Freepik

Na maioria das vezes dificuldades que enfrentamos não são como as de acampamento jurássico, que nos colocam sempre em situações de vida ou morte, no entanto ainda que não representem um perigo real e iminente, à saúde mental tem papel essencial para a qualidade de vida, para manter boas relações, para a vida profissional. É preciso questionar qual a função deste esconder as nossas fraquezas diante do outro, as consequências disso na vida de cada um e nas relações sociais como um todo. Nos falta empatia para com os nossos próprios problemas e assim como ter um olhar ao outro que também passa por dificuldades.

No acampamento jurássico os amigos percebem que Yasmina não está bem e passam a colocá-la em situações com menos risco de exposição aos predadores, nós enquanto sociedade temos tido esta mesma atenção com aqueles que estão ao nosso redor? Faz-se necessário sairmos do lugar de preconceito e dos lugares de julgamento dos indivíduos que vivenciam transtornos psicológicos, e tomarmos uma postura de acolhimento do sofrimento de cada indivíduo e mudarmos as estruturas existentes para que a  saúde mental possa ser favorecida.

Referência:

FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 25, p. 12-16, 2003.

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Gênio indomável – a genialidade sufocada pelos traumas

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Gênio Indomável (Good Will Hunting) é uma obra de arte sem precedentes. Lançado em 1997, o filme tem como personagem principal o hoje renomado ator Matt Damon no papel de Will Hunting. Além de Damon, outros nomes de pesos são Ben Affleck (Chuckie Sullivan) e Robin Williams (Sean Maguire).

O filme aborda a vida do humilde Will, um rapaz que leva uma vida simples, fazendo coisas simples, sendo mais um na multidão de todos que vivem na grande Boston.

Will é apresentado quase como um “faz-tudo”, possui empregos distintos e nunca busca chamar a atenção, inclusive como um mecanismo de defesa, dada sua história. Acontece que Will é, por eufemismo da palavra um gênio da matemática. Tudo isso fica nítido quando este estava realizando a limpeza do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e resolveu uma questão matemática deixado pelo professor de Pós-graduação, Professor Gerald Lambeau (Stellan Skarsgárd), para que seus alunos resolvessem, mas quem acaba desvendando é o próprio Hunting.

Intrigado, o Professor Gerald começa a observar o jovem rapaz e percebe um comportamento nada adequado a sua genialidade. Will, apesar de brilhante, vivia se metendo em encrencas, brigas e problemas além da conta, por último entrou em uma briga e acabou agredindo um policial e foi determinada sua prisão com fiança estipulada em US$ 50,000.00 (cinquenta mil dólares).

Fonte: encurtador.com.br/kuCP5

Gerald então resolve intervir, buscando reingressar o jovem rapaz em uma nova vida, porém o jovem apresenta diversos gatilhos defensivos resultantes de traumas da sua infância e com isso busca diversas ajudas com terapeutas, mas todos desistem do caso, até que reencontra seu velho amigo Sean, que decide ajudar com o tratamento de Will.

Sean tem diversos embates confrontando Will, que demonstra uma extrema dificuldade em se abrir, de aceitar que as pessoas entrem na sua vida.

Tudo é demonstrado no final do filme quando Will conta que sofria agressões do seu padrasto na infância, dizendo para escolher entre os objetos que seriam utilizados para apanhar. Sean tem um diálogo muito duro com Will, onde é dito repetida vezes que não era culpa do Will tudo que aconteceu com ele na infância, o momento é de grande impacto para Will, sendo o momento de quebrantamento das barreiras do jovem e seu ponto de ignição para uma vida melhor.

O filme reflete a realidade vivenciada por diversas pessoas, especialmente no Brasil, que sofreram com o estresse pós-traumático e situações críticas na infância o que impede assim destas pessoas de alcançarem seu potencial máximo.

Gênio Indomável, como dito é uma obra prima cinematográfica que demonstra uma superação de uma pessoa traumatizada que, mesmo sendo um gênio, tinha um extremo medo de se abrir.

Ficha Técnica

Título: Good Will Hunting

Ano produção: 1997

Dirigido por: Gus Van Sant

Duração: 126 minutos

Classificação: 16 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

BATISTA, Alícia; FAVORETTO, Bruna; TIEPPO, Lucas. Resenha crítica do filme “gênio indomável”. Disponível em <https://februtieppo.blogspot.com/#:~:text=Como%20visto%2C%20%E2%80%9CG%C3%AAnio%20Indom%C3%A1vel%E2%80%9D%20trabalha%20em%20torno%20do,vazio%2C%20n%C3%A3o%20sabe%20como%20lidar%20com%20seus%20sentimentos.> acesso em 26 mar 2022.

HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Avaliação psicológica em casos de abuso sexual na infância e adolescência. Psicologia: Reflexão e Crítica [online]. 2008, v. 21, n. 2 [Acessado 31 Março 2022] , pp. 338-344. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021>. Epub 01 Out 2008. ISSN 1678-7153. https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021.

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O luto mal-resolvido em ‘O Justiceiro’

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‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.  

O Justiceiro, série originada da história em quadrinho da gigante Marvel, retrata a história de um ex-fuzileiro do exército, que busca implacavelmente fazer justiça com as próprias mãos com aqueles que aos seus olhos merecem ser punidos. Este texto contem spoiler, já que é necessário se debruçar sobre as narrativas centrais para associá-las aos processos psicológicos.

Frank Castle não é um homem que se derruba com um simples tiro, já que as duas temporadas da série servem de amostra à força e resistência física que ele possui. Contando eventos nos quais ele enfrentou vários homens de uma só vez e saiu vivo. Frank Castle é imbatível.

A primeira temporada conta o acontecimento mais importante da vida de Castle, evento este que seria responsável por traçar o seu destino para sempre. Frank teve sua família assassinada (Esposa e filhos) sob os comandos de seu melhor amigo e companheiro de guerra Billy Russo.

Fonte: encurtador.com.br/bfmJT

Billy era considerado parte da família e tinha a total confiança dos mesmos, o que colaborou ainda mais para o sofrimento de Castle, que se sentiu profundamente traído pelo seu melhor amigo. Em resposta a essa traição, ele perseguiu Russo e no desfecho da primeira temporada, provocou grandes ferimentos no rosto dele, deixando-o em estado de trauma e com muitas cicatrizes.

O destino da vida de Frank não seria mais o mesmo depois da morte de sua família. Ele não conseguiu mais investir afeto em nenhuma área de sua existência e se manteve num processo constante de não aceitação desse acontecimento traumático. Conforme PARKES (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág. 189) “o luto pode ser definido como um conjunto de reações diante de uma perda. É um processo e não um estado, sendo uma vivência que deve ser devidamente valorizada e acompanhada, fazendo parte da saúde emocional, caso contrário, se não for vivenciada retornará para ser trabalhado”.

O retorno desse luto que não foi vivenciado adequadamente é o que mantém a fúria e o desejo de Castle de sempre envolver-se com situações de violência e justiça. O que se percebe nas decisões de Frank, é que ele busca nesse estilo de viver uma forma de conseguir suportar a dor da perda de seus entes queridos.

Fonte: encurtador.com.br/fgC24

A segunda temporada inicia-se com ele em um bar conhecendo uma mulher, com a qual pela primeira vez depois de muito tempo, ele se relaciona. Tudo poderia mudar a partir daquele momento, no entanto, ele avista uma jovem em apuros, e escolhe aquela oportunidade para voltar ao personagem do Justiceiro.

O intrigante é que ele poderia optar por não se envolver, visto que a garota não tinha nenhuma ligação com ele. Porém, ele mata todos os que a perseguiam naquela ocasião, e ainda não a deixa ir embora, alegando que mais pessoas viriam. Ela tenta fugir dele diversas vezes, mas não consegue. Frank vê na moça o seu “amuleto de fazer justiça”, e ele não deixaria esse amuleto ir embora.

O possível envolvimento amoroso que poderia ter acontecido seria uma das formas de começar o processo de elaboração do luto, no entanto, Castle o negou, numa tentativa de não entrar em contato com esse sofrimento. Para Santos (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág.190) “é a negação, que aparece na forma de evitação do fato que provoca sofrimento mental, ou seja, o sujeito se defende, adiando o processo de elaboração e reestruturação de vida.”

A frequência e a intensidade com que Castle se lembra de sua família, diz muito a respeito do tipo de apego estabelecido entre eles. Para Bowlby (1985) quanto maior a intensidade do apego maior a influência direta no processo de elaboração do luto, fazendo com que o sujeito enlutado tenha muito mais dificuldade em aceitar/ressignificar a perda.

Fonte: encurtador.com.br/suwN7

A jornada que se traça durante a segunda temporada traz Frank tentando livrar Amy de um influente casal de religiosos, que estão atrás de um conjunto de fotos de seu filho beijando outro rapaz. Esse casal contrata um de seus fiéis, chamado John Pilgrim, para encontrar Frank e a garota, e recuperar as fotos.

A dupla formada pelos dois traz benefícios para ambos, que encontram um no outro figuras expressivas que faziam falta em suas vidas. Frank enxerga Amy como sua filha e assim sendo estabelece um instinto de cuidado e proteção para com ela. Já Amy encontrou a representação de uma figura paterna para si, recebendo apoio em meio ao caos de ter perdido todos os seus amigos assassinados pelo grupo de religiosos. Caso o telespectador olhe atentamente perceberá a importância do vínculo desenvolvido para o processo de cura de Castle.

Billy Russo e o peso do Transtorno de Estresse Pós-Traumático

A segunda temporada traz o personagem de Billy Russo como uma vítima do trauma, ocasionado pela agressão que ele sofreu nas mãos de Frank Castle. No entanto, ele não se recorda do que aconteceu, e revive esse trauma todos os dias através de sonhos, nos quais ele consegue ver apenas imagens de uma caveira que sempre o persegue.

Russo está passando por um processo denominado Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O DSM-IV define duas características para a ocorrência do TEPT, que são “1- A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram ameaça de morte ou de grave ferimento físico, ou ameaça a sua integridade física ou à de outros;” e “2- A pessoa reagiu com intenso medo, impotência ou horror;”. Além disso, Billy passa por um processo de intensa confusão por não entender a reação de ódio de Frank para com ele, uma vez que ele não se lembra da traição realizada.

Fonte: encurtador.com.br/iuxI9

Ao contrário da primeira temporada que retrata Castle a procura de Billy, a segunda retrata Billy a procura de Castle, porém não no campo físico mas no campo psicológico. Para isso ele conta com a ajuda de Krista Dumont, a Psicóloga que lhe acompanha desde o seu retorno do coma. Krista é no momento a única pessoa em que ele confia, sendo ela seu continente terapêutico. Para Zimmerman (2007, pág. 74) “a função de continente é um processo ativo, no qual o analista participa intensamente, acolhendo, contendo, decodificando, transformando, significando, nomeando e devolvendo de forma desintoxicada tudo aquilo que nele foi projetado dentro dele.”

Apesar desse vínculo saudável estabelecido no início, Krista acaba se apaixonando por Russo, e abandonando o papel único de psicoterapeuta para assumir o papel de companheira.

 O desfecho

O cenário de sangue e violência toma a maior parte dos episódios da série que traz por final, a vitória de Frank e Amy, esta que por sua vez recebe a oportunidade de um recomeço, longe do mundo do crime e mais perto da vida de uma jovem comum.

Fonte: encurtador.com.br/sFTU8

Já Frank acaba optando por continuar seu caminho de Justiceiro, acabando com gangues responsáveis por grandes crimes. Billy acaba por descobrir que Castle era o seu agressor e tenta matá-lo, numa investida frustrada, que acaba resultando na sua própria morte.

Contudo, ‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, visto que não se trata somente de poder, lutas e ferocidade, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.

REFERÊNCIAS:

JORNADA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA, 4., 2011, Santa Cruz do Sul. O luto inesperado. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011. 15 p. Disponível em: <http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/jornada_psicologia/article/view/10197/18>. Acesso em: 26 jan. 2019.

FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p.12-16, dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v25s1/a04v25s1.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2019.

Zimerman, D. (2007). Uma Ampliação da Aplicação, na Prática Psicanalítica, da Noção de Continente em Bion. Interações: Sociedade E As Novas Modernidades, 7(13). Acesso em: 26 jan. 2019.

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