Os Miseráveis: sofrimento, crime e castigo

Compartilhe este conteúdo:

Com oito indicações ao Oscar:

melhor  filme, ator (Hugh Jackman), atriz coadjuvante (Anne Hathaway), design de produção, figurino, maquiagem, mixagem de som e canção (Suddenly).

Les Misérables, do escritor Victor Hugo, é um clássico da literatura francesa que já foi traduzido em mais de 20 línguas e ganhou diversas adaptações para o teatro e para o cinema. Escrito em 1862 o romance é uma narrativa de caráter social em que a fantasia se mistura com a realidade numa trama onde se descreve a injustiça social da França do século XIX.

Dirigido por Tom Hooper o filme tem no elenco Hugh Jackman, Russel Crowe, Anne Hathaway e Amanda Seyfried. A produção narra a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), ex-prisioneiro que chega á França nos tempos da Revolução Francesa. Valjean foi preso por roubar um pão para matar a fome de sua irmã. Ao sair do cárcere, depois de 19 anos – anos somados à tentativas de fuga -, ele é um homem amargurado, embrutecido e sem perspectiva de emprego. Valjean é reabilitado quando um sacerdote de bom coração resolve dar uma chance a ele. Essa ação o faz mudar de vida e de nome. Mas o policial Javert (Russell Crowe), o persegue onde quer que vá. Javert mantém sua obsessão e se torna um perseguidor implacável, obediente à lei, sem qualquer tipo de consideração humana.

Anos se passam… Valjean, agora rico e com uma nova identidade, conhece Fantine (Anne Hathaway), uma das operárias da fábrica em que ele dirige. O encontro entre os dois muda significamente as suas vidas. Fantine (Anne Hathaway), após ser demitida de sua fábrica por um supervisor, caiu na miséria e na prostituição para sustentar sua filha, Cosette (quando menina, interpretada por Isabelle Allen). A garota acaba tornando-se responsabilidade de Valjean, que continua sua fuga, sempre perseguido por Javert.

Na juventude, Cosette (Amanda Seyfried), que não conhece o passado de seu protetor, apaixona-se por Marius (Eddie Redmayne), um dos estudantes envolvidos numa rebelião antimonarquista que desemboca num confronto trágico com os soldados do rei, em 1832.

As cenas desse épico povoam nosso imaginário e nos incita a refletir sobre a compreensão que temos de pobreza. A percepção desse conceito, historicamente, tem sido modificada. Desde sua aceitação, na Idade Média, e seu incentivo (por parte do Clero) de que tal condição social imutável possibilitaria ao pobre uma entrada no Reino dos Céus, até nas insatisfações e revoluções proclamadas no século XIX.

Somos convidados, a partir desse romance, a perceber o mendigo, a pobreza, a injustiça e a nos tornar sensíveis aos movimentos sociais. Victor Hugo era um poeta, assim, por meio de sua sensibilidade, nos apresenta um universo lírico em que as desigualdades sociais, a pobreza, a esperança e o amor retratam não apenas uma época, mas um conjunto de sentimentos atemporais.

É próprio da linguagem cinematográfica os “extremos” que despertam as nossas emoções. Em Os Miseráveis isso está presente nas imagens, no texto, nas músicas e nas expressões de cada ator. Assim, o crime e o castigo de Valjean, a obsessiva perseguição de Javert, o martírio de Fantine, que logo mergulha na prostituição, o destino incerto de Cosette e o sofrimento apaixonado de Marius mostram, de forma amplificada, os sentimentos e gestos que caracterizam suas personalidades e dão sentido as suas ações.

 

FICHA TÉCNICA DO FILME

OS MISERÁVEIS

Título Original:  Les Miserables
Gênero: Drama, Musical
Direção: Tom Hooper
Elenco: Hugh Jackman (Valjean), Russell Crowe (Javert), Anne Hathaway (Fantine), Aaron Tveit (Enjolras), Amanda Seyfried (Cosette), Eddie Redmayne (Marius)
Países de Origem: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Classificação: 14 anos
Duração: 157 min

Alguns prêmios:

Austin Film Critics Association: Atriz coadjuvante (Anne Hathaway)
BAFTA Awards: Maquiagem, Design de produção, Som e Atriz coadjuvante (Anne Hathaway)
Golden Globes: melhor filme – categoria: musical ou comédia, Ator (Hugh Jackman), Atriz coadjuvante (Anne Hathaway)

Compartilhe este conteúdo:
motivação

Motivação: a droga do século

Compartilhe este conteúdo:

Profissionais especializados em processos motivacionais estão se proliferando por aí. Nas empresas, consultores de RH são peças fundamentais para manter os funcionários motivados. Mas, para que eles precisam de motivação? Para fazer um trabalho que não os realiza e receber um salário que não os compensa por isso. Mesmo os que recebem bem precisam de motivação. O baixo salário nem sempre é o problema. Quando o trabalho não realiza, busca-se a motivação no pagamento. Mas, e quando o pagamento, mesmo generoso, não nos realiza da maneira que o trabalho deveria realizar? Aí é preciso buscar motivação em outros lugares. Onde? Profissionais da motivação são especialistas em inventá-las e em nos convencer de que as metas e os objetivos propostos por eles podem nos dar o sentido que buscamos em vão num trabalho estafante.

Quando o namoro está ruim, buscamos motivação na promessa do casamento. Quando o casamento está ruim, buscamos motivação nos filhos. E para criar os filhos buscamos motivação na ilusão de que com eles estabeleceremos, finalmente, a relação ideal; ilusão essa que acaba quando os filhos crescem e a relação com eles acaba sofrendo dos mesmos problemas básicos de todas as outras. A promessa do casamento nos motiva a continuar ignorando o fato de que o namoro está ruim; os filhos nos motivam a fugir da realidade de um casamento que não está dando certo; a ilusão da relação ideal é a motivação que sempre nos leva a buscar nos outros a intimidade que não temos com nosso próprio eu; e as metas e objetivos do trabalho nos motivam a acreditar que há um sentido em toda a vida que deixamos de viver para trabalhar. A motivação do namoro não está no namoro em si, pois o namoro é ruim. O mesmo vale para o casamento, a criação dos filhos e o trabalho. Consequentemente, temos uma pessoa cujo relacionamento amoroso é insatisfatório, que se entrega a um grande fardo para criar os filhos e que deixa de viver para trabalhar, mas que, no entanto, está extremamente motivada e entusiasmada com tudo isso. E facilmente confundimos a pessoa motivada com a pessoa feliz! Pois, que outra definição temos para ‘felicidade’? Estamos habituados a pensar que as pessoas mais motivadas são as pessoas mais felizes, aquelas cuja vida tem mais sentido! Para o senso-comum, a motivação é o segredo da vida bem vivida! Ela é tão importante que se fosse possível transformá-la em pílulas, todos nossos problemas estariam resolvidos! E não é justamente essa a grande promessa dos antidepressivos vendidos como água atualmente?

Quando as relações familiares, amorosas e de trabalho são insatisfatórias, que motivação pode compensá-las? E quando não se tem uma família, um lar, um trabalho, um futuro? Que motivação pode ajudar a passar por cima de tudo isso? Será possível fugirmos da violência e da destruição? Há alguma motivação que possa compensar uma vida não vivida e nos ajudar a evitar nossa própria destrutividade? Será que a pessoa motivada com a vida consegue isso?

Se a pessoa motivada é tão feliz assim, por que ela é tão ansiosa? Se é tão feliz, por que não consegue encontrar paz? Se seu interior é tão cheio de vida, por que precisa tanto da confusão e da algazarra exterior? Por que ela não consegue ficar um momento a sós consigo, usufruindo da vida abundante que existe nela mesma? Por que ela bebe, fuma e se envolve em relacionamentos sofríveis? O que ela busca senão a destruição da vida que diz amar tanto? Se a pessoa motivada soubesse viver, será que precisaria de tantas motivações? Por que é preciso ter motivações para auxiliar a vida? Por que não vivemos agora, logo de uma vez? Por acaso não temos a vida aqui, agora, em nossas mãos? Por que não conseguimos entrar em contato direto com a vida para vivê-la simplesmente? Muitas perguntas; nenhuma resposta.

Compartilhe este conteúdo: