SUS um sistema de princípios e compromisso

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Como usuária do SUS já vivenciei várias situações que marcaram a minha vida, e a mais recente delas ocorreu quando precisei ficar de acompanhante de um primo após um coma alcoólico no mês de agosto deste ano.

Cheguei ao Hospital Regional de Miracema- TO por volta das nove horas da noite de um sábado, com um misto de agonia e tensão, pois ainda não sabia o que tinha acontecido com meu primo Sérgio, apenas tinha recebido um telefonema para que pudesse encontrar a equipe do SAMU no hospital e ficasse como acompanhante. Não sabia como proceder diante daquela situação, a minha ansiedade era tanta, que não sabia quais informações perguntar ou onde esperar.

Sem saber se o pessoal do SAMU já havia chegado, resolvi ficar um pouco lá fora pegando um ar para então entrar na recepção, quando me sentir menos agoniante fui até a moça e perguntei se o paciente por nome de Sergio havia chegado naquela unidade, ela super prestativa e muito educada me respondeu que não, e pediu para aguardar na sala de espera que assim que o SAMU chegasse ela me avisaria, assim fiz, fiquei aguardando do lado de fora do hospital onde me dava uma visibilidade de entrada e saída de todos os veículos.

Por volta de 23 horas da noite avistei o carro do SAMU tão apressado quanto os meus batimentos cardíacos ao avistá-lo. Nesse momento comecei a ter todos os sintomas de ansiedade, pois era uma experiência nunca vivenciada antes, mas agora já era tarde para pensar em desistir. O SAMU adentrou as portas do fundo do hospital, e logo a moça da recepção me chamou, entramos e Sergio já estava sendo colocado em cima da maca do hospital pelo motorista é enfermeira do SAMU. Em seguida foi encaminhado para sala de urgência e emergência onde o médico iniciou os primeiros procedimentos como aferir sua pressão arterial, o nível de glicose e seus batimentos cardíacos, logo depois, foi recomendado um soro na veia para hidratar e acelerar a eliminação do álcool do organismo. Após esses procedimentos Sergio foi encaminhado para a sala de observação onde permaneceu durante dois dias.

Fonte: encurtador.com.br/qrtzP

Já estando na sala de observação, sendo mais ou menos uma da manhã, Sergio acordou muito agitado e gritando muito, rolava de um lado para o outro e eu já não sabia o que fazer, fui até a sala da enfermagem e pedi ajuda, elas de imediato foram lá no leito, conferiram a medicação, ajudaram quando precisei levar ele ao banheiro e me deu algumas dicas do que fazer caso algumas situações hipotéticas ocorressem. Na manhã do dia seguinte, Sergio já estava bem melhor, porém com fortes dores de cabeça, com isso o médico voltou a medicá-lo e o deixou em observação por algumas horas antes de dar alta definitiva.

Sergio já esteve internado no Hospital Geral de Palmas por tentativa de violência autoprovocada, mesmo a família tentando ajudá-lo sempre voltava para a situação precária na qual vivia, e por vezes demonstrava comportamento muito agressivo. A enfermeira ao ter acesso a essas informações chamou Sergio para uma conversa e entendeu que o abuso de substâncias químicas era proveniente de uma atenção e cuidado que ele recebia quando se encontrava em dada situação. A enfermeira apresentou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para que ele pudesse receber um atendimento integralizado e especializado, onde passaria por assistente social, psicólogo, psiquiatra e outros atendimentos caso necessário, depois dessas informações os papeis de alta foram assinados e Sergio foi levado para casa de parentes.

As oito horas da manhã do diante seguinte, uma segunda-feira, estávamos nós no CAPS para tentar conseguir um atendimento, fiquei impressionada com o quanto foi rápido para ele ser atendido, visto que anos atrás tive algumas experiências que demonstraram uma falta de efetividade e tato na prestação dos serviços básicos de saúde.

No primeiro atendimento, Sergio passou pela assistente social e a psicóloga, no entanto existia uma resistência muito grande em conversar com essas profissionais. Ele ainda não estava se sentindo seguro para iniciar um diálogo, então foi marcado para o dia seguinte que ele retornasse no mesmo horário para uma nova tentativa. Chegando em casa fui conversar com Sergio e explicar a importância de ele responder as perguntas feitas pela assistente social e psicóloga, e no dia seguinte teve um resultado muito maior a volta ao CAPS, e logo foi encaminhado para uma consulta com o psiquiatra. Após a referida consulta com ele já estava com seus medicamentos em mãos e com um encaminhamento para um neurologista. Ficou marcado um retorno com o psiquiatra com a data de 90 dias após o início dos medicamentos, e sua consulta com o neurologista está marcada para o mês de dezembro de 2019.

Foi uma experiência agregadora, visto que pude constatar na prática como o SUS tem evoluído em todos os aspectos ao longo dos anos e de fato tem cumprido o que propôs a fazer que é oferecer desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Não é à toa que é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo.

Fonte: encurtador.com.br/koUV1
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A Saúde Mental pela perspectiva da questão de Gênero

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Mulheres chegam ao mais diversos serviços de saúde em busca de atendimento, e em todos os serviços encontram algumas problemáticas que dificultam o serviço, e até mesmo no que tange os serviços de saúde mental

O gênero é visto como subproduto da opressão gerada pelo patriarcado, onde o homem é tido como superior a mulher, ocasionando assim diversas formas de violência e a justificativa para tais (LAURETIS, 1994). Diante desse pressuposto, nos deparamos com os casos alarmantes de violência doméstica, onde mulheres são agredidas e violentadas por homens que usam da força física para silenciar essas mulheres.

As mulheres vítimas de violências têm direito a receber atendimento nas unidades de saúde de forma integral, porém é perceptível que o serviço não funciona do modo como deveria, pois além da má articulação da rede, há também o problema de profissionais não preparados para lidar e atender esse tipo de demanda (SOARES e LOPES, 2018).

Mulheres chegam ao mais diversos serviços de saúde em busca de atendimento, e em todos os serviços encontram algumas problemáticas que dificultam o serviço, e até mesmo no que tange os serviços de saúde mental, onde mulheres são responsáveis pelo maior número de procura do que homens (ZANELLO e BUKOWITZ, 2011). Mulheres em situação de violência precisam de suporte para enfrentar as dificuldades de cunho social, cultural, econômico e também político quem impossibilitam que elas busquem ajuda (SOARES e LOPES, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/elnI1

O gênero é produto das tecnologias sociais de acordo com Lauretis (1994), pois o mesmo se sobrepõe em todas as plataformas digitais e também no dia-a-dia, onde o homem é visto como superior a mulher e passível de maior credibilidade. Diante desse exposto, é possível que tenhamos uma visão mais ampla do que mulheres em situação de violência enfrentam quando decidem expor e denunciar o seu sofrimento e o causador do mesmo que em suma são homens (SOARES e LOPES, 2018).

Quando de forma naturalizada a mulher é tida como descreditada e desacreditada diante de um homem, é comum que elas apresentem maior resistência para denunciar violências e procurarem ajuda nos serviços de saúde, que irão investigar as causas do quadro da mesma e acionarão os órgãos responsáveis quando for o caso. Porém buscar ajuda nos serviços de saúde não é tão simples ou fácil, visto que em muitos casos essas mulheres encontram-se presas de forma emocional, física ou financeira a esses homens e muitas vezes elas podem ser punidas ou penalizadas por eles, ou até mesmo seus filhos ou familiares podem ser punidos (SOARES e LOPES, 2018).

A violência gera sofrimento psíquico que se fortalece e aumenta diante do silenciamento, e essas mulheres começam a adoecer psiquicamente (ZANELLO & BUKOWITZ, 2011). Desse modo, temos que perceber a violência contra a mulher de uma forma ampla e complexa, que possui diversas causas e que as consequências perpassam a esfera física, dessa forma, é necessário que haja um atendimento intersetorial (SOARES & LOPES, 2018).

O despreparo dos profissionais para lidar com situações de violência e a invisibilidade social que essas mulheres sofrem podem dificultar e causar ainda mais danos nesses quadros, pois muitas mulheres sequer recorrem ao atendimento de saúde para enfrentar a situação de violência (SOARES & LOPES, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/fhlw3

REFERÊNCIAS

SOARES, Joannie dos Santos Fachinelli; LOPES, Marta Julia Marques. Experiências de mulheres em situação de violência em busca de atenção no setor saúde e na rede intersetorial. Interface (Botucatu),  Botucatu ,  v. 22, n. 66, p. 789-800,  Sept.  2018 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832018000300789&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 01 de Dezembro de  2019.  Epub May 21, 2018.  http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622016.0835.

DE LAURETIS, Teresa; “A tecnologia de gênero”. In: HOLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica cultural. Rio de Janeiro, Rocco, 1994. p. 206-242.

ZANELLO, Valeska; FIUZA, Gabriela; COSTA, Humberto Soares. Saúde mental e gênero: facetas gendradas do sofrimento psíquico. Fractal, Rev. Psicol.,  Rio de Janeiro ,  v. 27, n. 3, p. 238-246,  Dec.  2015 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-02922015000300238&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 01 de Dezembro  de 2019.  http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1483.

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