Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) desempenham um papel crucial no fortalecimento do tecido social no Brasil, participando como unidades públicas que oferecem serviços de proteção social básica (Eugênio & Gonzaga, 2019). Apesar disso, ainda são alvos de muitas percepções distorcidas. Para muitas pessoas, o CRAS é visto como um espaço assistencialista, onde busca-se resolver emergências materiais, como a distribuição de cestas básicas. No entanto, essa visão simplificada não reflete a profundidade do trabalho realizado, o verdadeiro propósito do CRAS vai além de simplesmente fornecer ajuda material. O CRAS funciona como uma porta de entrada para o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), uma política pública que visa garantir direitos e promover a inclusão social.
O objetivo principal do CRAS é oferecer apoio técnico e emocional para que indivíduos e famílias possam enfrentar suas vulnerabilidades e superar as barreiras que causam sofrimentos em suas vidas. A equipe do CRAS, formada por psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, trabalha para criar uma rede de apoio e confiança com os usuários, buscando construir soluções conjuntas para os desafios cotidianos que enfrentam. O trabalho do CRAS visa promover mudanças sociais e políticas, tanto na vida dos usuários quanto na prática da psicologia no contexto do SUAS, através de uma abordagem relacional entre profissionais e usuários (Pereira & Guareschi, 2016).
Apesar desse enfoque transformador, muitas pessoas ainda estão presas a uma visão assistencialista, fruto de um legado histórico de dependência de programas de caridade e ações pontuais. Esse cenário leva a uma ideia de que o CRAS existe para “dar coisas”, sem considerar que a intenção real é criar condições para que as pessoas possam caminhar com mais autonomia. O desafio que se coloca para os profissionais do CRAS é justamente romper com esse ciclo de dependência, oferecendo alternativas de desenvolvimento pessoal e comunitário que vão além da mera assistência emergencial.Esse efeito manada conceitual de
assistencialista afeta as práticas psicológicas no CRAS, com os usuários muitas vezes desconhecendo seus direitos como cidadãos (Silva et al., 2011).
É nesse contexto que os vínculos criados entre os profissionais e os usuários do CRAS ganham destaque. Esses relacionamentos são cruciais para a prestação eficaz de serviços e podem levar a mudanças sociais e políticas na vida dos usuários (Pereira & Guareschi, 2016; Silva et al., 2019), pois permite que usuários sintam-se à vontade para compartilhar suas dificuldades e sonhos, construindo, ao lado dos profissionais, novas possibilidades de vida. O atendimento vai muito além da resposta imediata às necessidades materiais; ele envolve o acolhimento, o respeito e o entendimento das complexidades sociais e emocionais que cada indivíduo carrega.
Com o tempo, muitas famílias que antes viam o CRAS como um simples ponto de ajuda material começam a perceber o verdadeiro impacto desse espaço em suas vidas. Ao entender que o CRAS é, na verdade, um lugar de construção de cidadania e inclusão, elas passam a valorizar as oficinas, os grupos de convivência e os atendimentos psicossociais, compreendendo que o fortalecimento da sua autonomia é a chave para um futuro mais digno. A transformação é lenta, mas acontece de forma gradativa e consistente. Pesquisas sobre os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do Brasil destacam seu impacto positivo em famílias vulneráveis.
Estudos mostram que os usuários dos CRAS reconhecem a importância dos centros em suas vidas e comunidades, valorizando aspectos como inclusão social, garantia de direitos e desenvolvimento de autonomia (Andrade & Morais, 2017 ). Desmistificar o papel do CRAS é um passo importante para que ele seja compreendido em sua totalidade. É necessário expandir o entendimento de que o CRAS é um espaço de acolhimento, transformação e fortalecimento social. Ao mudar essa percepção, abre-se caminho para uma sociedade onde as pessoas se vejam como protagonistas de suas histórias, capazes de construir suas próprias soluções e acessar seus direitos de maneira plena e consciente.
Pesquisas indicam que o CRAS contribui para a construção de capital social por meio da disseminação de informações e fortalecimento de laços sociais entre famílias vulneráveis (Ribeiro & Miranda, 2019).O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) desempenha um papel crucial no enfrentamento das vulnerabilidades sociais e na promoção da inclusão social.
REFERÊNCIAS
Eugenio, A. V. S., & Gonzaga, M. L. D. S. (2019). A atuação do Assistente Social no Centro de Referência da Assistencial Social-CRAS / The role of the Social Assistant Worker in the Reference Center for Social Assistance – CRAS. ID on line REVISTA DE PSICOLOGIA, 13(44), 962–977.
https://doi.org/10.14295/idonline.v13i44.1669
Andrade, A. G. de S., & Morais, N. A. de. (2017). Avaliação do Atendimento Recebido no CRAS por Famílias Usuárias. Psicologia Ciência e Profissão, 37(2), 378–392. https://doi.org/10.1590/1982-3703001412016
Pereira, V. T., & Guareschi, P. A. (2016). O CRAS em relação: profissionais e usuários(as) em movimento.
Fractal: revista de psicologia, 28(1), 102–110. https://doi.org/10.1590/1984-0292/1153
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OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção – OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-aten cao>. Constituição Federal reconhece a saúde como direito fundamental. Disponível em: <https://www.gov.br/pt-br/constituicao-30-anos/textos/constituicao-federal-reconhece-saude-como-direito-funda mental>.
CABRAL, B.; DAROSCI, M. A TRAJETÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL: Uma análise a partir do ângulo normativo (1903-2019). [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://atencaopsicossocial.paginas.ufsc.br/files/2020/07/A-trajet%C3%B3ria-das-pol%C3%ADticas-de-sa%C3 %BAde-mental-no-Brasil-1.pdf>. Saúde mental. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-mental>.
AUTORES:
Felipe Cavalcante Carvalho
Rafaela Nunes Natal
Luiz Gustavo Santana