Este relato descreve a experiência de uma intervenção psicossocial na Casa de Apoio Vera Lúcia, com o objetivo de oferecer suporte a usuários que realizam tratamentos de saúde prolongados. Durante as visitas, identificamos demandas psicossociais, como a necessidade de suporte emocional, o manejo de ansiedade e depressão, as dificuldades relacionadas ao isolamento social e o acesso a recursos. A intervenção consistiu em dinâmicas de grupo que promoveram a interação, a expressão de sentimentos e o apoio mútuo. A experiência destacou a importância de ações psicossociais para promover o bem-estar, o apoio emocional e a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos em situação de vulnerabilidade.
A Psicologia Social surgiu, em grande parte, da necessidade de compreender fenômenos sociais e comunitários, especialmente após contextos de crise como a Primeira Guerra Mundial. Esses estudos se aprofundaram em temas como liderança, opinião pública e relações de grupo, que são fundamentais para a atuação da Psicologia.
Uma intervenção psicossocial eficaz exige uma abordagem metodológica rigorosa. Ela deve ser um processo investigativo que colete e organize dados relevantes — incluindo informações geográficas, legislações e recursos disponíveis na área de políticas públicas — para nortear o planejamento.
Dentro desse contexto, a disciplina de Intervenção Psicossocial do curso de graduação em Psicologia da Ulbra Palmas capacita os estudantes a compreenderem e atuarem de forma eficaz em situações que demandam a interseção entre os aspectos psicológicos e sociais. A intervenção relatada neste trabalho serviu como um campo prático para aplicar esses conhecimentos.
A equipe de trabalho — composta pelas estudantes Adriana Estelita Vieira, Francileide S. Silva Coelho, Dileádina Ferreira Cardoso e Giovanna Barbosa dos Santos, sob a supervisão do docente Me. Luiz Gustavo Santana (CRP 23/002740) — planejou e executou este projeto com o objetivo de estudar a realidade local da Casa de Apoio Vera Lúcia. O trabalho seguiu o calendário acadêmico da instituição, com atividades realizadas entre 15/02/2024 e 07/06/2024, abordando os fundamentos teóricos e metodológicos da intervenção psicossocial, a caracterização do campo, as demandas identificadas e o plano de ação.
A Casa de Apoio Vera Lúcia, em Palmas, Tocantins, acolhe pacientes e seus acompanhantes de 139 municípios do estado que necessitam de tratamento médico prolongado. O principal objetivo da instituição é fornecer um ambiente seguro e acolhedor.
As vivências na Casa foram ricas e gratificantes. Desde a primeira visita, em 13 de março de 2024, fui recebida com grande atenção. O ambiente acolhedor, moldado pela equipe técnica e diretiva, é fundamental para o sucesso da instituição. A equipe, que inclui assistentes administrativos e a diretora, trabalha em conjunto para gerenciar operações, resolver conflitos e garantir o bem-estar dos usuários.
As demandas identificadas, tanto pela equipe quanto pelos usuários, foram essenciais para o planejamento da intervenção. A equipe da Casa de Apoio relatou:
- Comunicação Ineficaz entre a equipe operacional.
- Estresse, Burnout e Sobrecarga.
- Necessidade de capacitação e apoio.
- Dificuldade em fazer cumprir as normas da casa.
- Desafios no acolhimento humanizado.
Já os usuários expressaram as seguintes necessidades:
- Sofrimento causado pela solidão e distância da família.
- Sintomas de ansiedade e depressão.
- Falta de apoio emocional.
- Dificuldade de acesso a recursos e informações.
Com base nessas demandas, priorizamos as necessidades dos usuários, focando em suporte emocional e saúde mental. As intervenções foram planejadas para fortalecer a rede de apoio interna e promover um ambiente de solidariedade.
As ações aconteceram no pátio da instituição no dia 25/05/2024, às 16h, e foram divulgadas com o apoio dos funcionários e voluntários. O projeto consistiu em duas dinâmicas para promover interação, expressão de sentimentos e fortalecimento de laços.
A primeira dinâmica, “Um fato curioso sobre mim”, foi conduzida por Giovanna. O objetivo foi “quebrar o gelo” e criar um vínculo entre os participantes. Cada pessoa escreveu um fato curioso sobre si em um post-it, anonimamente. Em seguida, os post-its foram lidos em voz alta e o grupo tentou adivinhar a quem cada fato pertencia. Ao final, os participantes puderam compartilhar mais detalhes, promovendo um momento de descontração e socialização.
A segunda dinâmica, “Bolo dos Sentimentos”, teve como objetivo promover a colaboração e a expressão de sentimentos. Utilizamos um bolo decorativo como metáfora para as experiências vividas na casa de apoio. Os participantes foram convidados a se apresentar, dizer como se sentiam e, em seguida, a escrever ou desenhar algo que representasse um momento significativo na instituição. Os papéis foram colados em um mural, formando o “Bolo dos Sentimentos”. A discussão final sobre as histórias compartilhadas reforçou a importância do apoio mútuo, criando um senso de comunidade e suporte.
Para encerrar a intervenção, o bolo real foi compartilhado com todos, reforçando a ideia de que a contribuição de cada um foi fundamental para criar algo positivo.
A Casa de Apoio Vera Lúcia desempenha um papel crucial ao fornecer suporte a pacientes de diversas regiões que buscam tratamento especializado em Palmas. Ao oferecer hospedagem e apoio, a instituição se alinha às políticas públicas de saúde e assistência social, complementando o Sistema Único de Saúde (SUS) e garantindo acesso a tratamentos que seriam inacessíveis para muitos.
No entanto, a Casa de Apoio enfrenta desafios importantes, como a necessidade de recursos contínuos para manter e expandir seus serviços. A realidade dos pacientes e acompanhantes destaca a urgência de fortalecer as políticas públicas, garantindo que todas as pessoas, independentemente de sua origem ou condição, tenham o suporte necessário para o tratamento e bem-estar.
Minha participação nesta intervenção foi uma experiência profundamente enriquecedora. Do planejamento à execução da dinâmica “Bolo dos Sentimentos”, pude vivenciar de perto os desafios e a resiliência dos pacientes e seus familiares. O ambiente de acolhimento do pátio permitiu que as pessoas compartilhassem suas angústias, medos e vitórias, reforçando a importância do suporte emocional no processo de tratamento.
Este trabalho me permitiu aplicar o conhecimento teórico e me conectar de forma empática com cada participante. Fui inspirada a valorizar a importância do acolhimento e do apoio integral à saúde. A experiência reafirmou meu compromisso em buscar formas de contribuir para a vida daqueles que enfrentam desafios tão significativos.
REFERÊNCIAS
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VASCONCELOS, Isabella. Quebra gelo: a dinâmica para potencializar a integração de equipes. 01 de set de 2020. Disponível em: https://www.tuacarreira.com/quebra-gelo/#google_vignette. Acesso em: 17 maio 2024.
