Quando Bia percebeu que não podia tomar decisões sem sentir o peso da mãe, entendeu que crescer era mais do que apenas idade ou espaço físico. Cada escolha parecia supervisionada, cada passo acompanhado, como se um fio invisível a prendesse. Era amor, sem dúvida, mas também controle, excesso de zelo, uma presença que nutria e ao mesmo tempo devorava.
Ela começou a entender que aquilo não era apenas sua mãe, mas algo maior: o arquétipo da Grande Mãe, aquela força que nutre e protege, mas que, quando exagera, sufoca. Jung chamaria essa presença de mãe devoradora: ligada emocionalmente ao filho, dominadora, possessiva. Um padrão antigo, coletivo, que vive no inconsciente e influencia personalidade, opiniões e relacionamentos.
Bia aprendeu, aos poucos, que era possível negociar com aquele amor intenso. Aceitar o cuidado sem perder autonomia, dizer “não” sem culpa, construir limites saudáveis. Descobriu que crescer significava integrar os opostos: respeitar a mãe, mas respeitar a si mesma, manter o vínculo sem se perder.
No final, a mãe devoradora continuava ali, mas agora coexistia com sua própria força. Bia compreendeu que a individuação, o processo de se tornar inteira, exigia coragem, autoconhecimento e a habilidade de transformar um amor sufocante em espaço de crescimento mútuo.
