Manejo da Ansiedade pela Terapia Cognitivo Comportamental

Compartilhe este conteúdo:

No transcorrer da nossa existência, experimentamos maiores ou menores níveis de ansiedade, de raiva, medo e preocupação, principalmente quando estamos diante de situações novas, difíceis ou que sejam importantes pra nós. Sendo assim, a ansiedade é uma manifestação fisiológica intrínseca e necessária ao ser humano, que exerce um papel gerador de motivação, estimulando os sujeitos a se prepararem para encarar as situações da vida. Além disso, ela é super importante para lidar com situações que ameacem ou desafiem os sujeitos. Segundo Barlow, ela é um sinal de alerta sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas necessárias para enfrentar os perigos presentes.

O problema está em quando esta reação natural perde sua função adaptativa e protetiva e torna-se patológica. Este sentimento estimula o indivíduo a entrar em ação, contudo, exageradamente, o que ocasiona exatamente o contrário do que se espera, impedindo que o sujeito aja de forma eficaz para resolver a situação.

Com a crescente globalização, o atual avanço tecnológico e o ritmo de vida do mundo contemporâneo, o crescente número de exigências, expectativas e pressões existentes sobre os indivíduos, traz dificuldades para os sujeitos se comportarem de forma saudável e equilibrada neste novo cenário que se apresenta.

Fonte: Imagem no Freepik

Os transtornos de ansiedade acometem pessoas que, geralmente, se preocupam intensamente .

Sendo assim, a ansiedade patológica acontece quando a preocupação se  manifesta de forma que se torna de difícil controle e produz um mal-estar significativo em várias áreas importantes da vida do sujeito, como no âmbito social, acadêmico, profissional, afetivo, etc. Segundo o DSM-5, o sintoma é de intensa inquietação e de uma preocupação desproporcional à situação ou ameaça, com intensidade e duração consideráveis (durante pelo menos 6 meses) causando grande sofrimento, prejuízos e comprometimento na vida diária da pessoa acometida, onde as preocupações decorrentes do problema sejam constantes e duradouras, a ponto de consumirem grande parte do seu tempo, impossibilitando o controle destes pensamentos intrusivos.

Existem algumas categorias dentro dos Transtornos de Ansiedade, como a ansiedade generalizada, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse póstraumático. Para que o indivíduo possa ser diagnosticado com algum destes transtornos, é necessário que os sintomas apresentados por ele cumpram os critérios diagnósticos definidos nos manuais de Psiquiatria.

O tratamento para pessoas com transtornos de ansiedade se dá através de uma      intervenção profissional adequada, com psicoterapia combinada (se necessário) com tratamento farmacológico. A Terapia Cognitivo Comportamental é uma prática baseada em evidências e foi considerada especialmente eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade. Esta abordagem amplamente reconhecida como o “padrão ouro” nos tratamentos de ansiedade, pois nenhum outro tipo de terapia possui tantas pesquisas que apoiem sua eficácia.

A TCC tem como princípio fundamental investigar a maneira como os indivíduos percebem e processam a realidade influenciará a maneira como eles se sentem e se comportam. O foco do tratamento TCC é encontrar soluções práticas para os gatilhos e sintomas de ansiedade que uma pessoa está experimentando. As sessões de TCC consistem em ensinar habilidades às pessoas para interromper e mudar pensamentos e comportamentos negativos ou problemáticos que ajudam a manter os sintomas e trazer prejuízos na saúde mental dos sujeitos. Os terapeutas cognitivo-comportamentais  tendem a ser mais estruturados em sua abordagem, com foco na solução, usando sessões para ensinar habilidades e conceitos específicos da TCC e encorajando o cliente a aplicar o que aprenderam entre as sessões, sempre de uma forma colaborativa entre cliente e terapeuta, buscando a melhor direção para atingir os objetivos.

As primeiras sessões de TCC podem abranger muitos detalhes, pois são as sessões avaliativas. O profissional tentará obter o maior número possível de dados em  uma anamnese minuciosa, com o máximo possível de informações relevantes para obter uma compreensão completa do cliente, seus sintomas e seus objetivos dentro da terapia. Eles também delinearão as expectativas de tratamento e um curso de tratamento proposto, tudo sendo feito de forma colaborativa entre cliente e profissional. Todas as sessões iniciais de terapia devem ter uma discussão sobre confidencialidade, consentimento e combinados relevantes ao tratamento. O plano de tratamento deve incluir metas realistas com um cronograma provisório de conclusão. Deve ser modificável e referido frequentemente nas sessões.

Fonte: Imagem de Mohamed Hassan por Pixabay

O foco do tratamento da Terapia Cognitivo Comportamental é encontrar soluções práticas para os gatilhos e sintomas de ansiedade.

As principais técnicas utilizadas dentro desta abordagem são:

          Psicoeducação da Ansiedade

 É importante fornecer uma psicoeducação para que o cliente entenda sobre seu transtorno de ansiedade específico, como os sintomas se formam, como eles são mantidos e o curso de ação proposto. Essa fase do tratamento pode levar apenas alguns minutos ou algumas sessões, dependendo da complexidade da situação e da compreensão de sua ansiedade.

        Registro de Pensamentos Disfuncionais- RPD 

Pedir ao cliente para registrar seus pensamentos, sentimentos e comportamentos é uma ferramenta de TCC usada com frequência. O processo pode ajudar o cliente a entender a si mesmo e sua experiência, mas também pode ajudar o terapeuta a entender melhor a pessoa e seu ponto de vista.

  • Pensamentos – especialmente durante os momentos em que experimentam estresse ou ansiedade (por exemplo, quaisquer pensamentos “e se” que aumentam a ansiedade)
  • Emoções – experimentadas e a intensidade dessas emoções (por exemplo, leve nervosismo versus pânico total);

Comportamentos e reações quando ansiosos, e quaisquer consequências ou recompensas a que esses comportamentos levam exemplo, perceber a evitação alivia a ansiedade de curto prazo, mas aumenta a ansiedade de longo prazo);

  • Circunstâncias externas ou internas que causam pensamentos, sentimentos e respostas específicas (por exemplo, ansiedade desencadeada por certas situações sociais ou ao pensar sobre o desconhecido);

        Reestruturação de pensamentos 

Reestruturar é uma habilidade que envolve interromper um pensamento desadaptativo e tentar repensá-lo de uma maneira mais útil. Por exemplo, uma pessoa pode reformular um pensamento ansioso sobre uma próxima consulta médica pensando nas maneiras como isso pode beneficiar sua saúde.

A reestruturação cognitiva pode ajudar as pessoas a ajustar seus pensamentos de forma a reduzir a ansiedade e levar a respostas mais eficazes, ajudando a pessoa introduzir padrões de pensamento mais racionais durante os momentos em que o pensamento de uma pessoa se tornou excessivamente emocional.

        Avaliação e teste de pensamentos

 Desafiar pensamentos envolve testar a precisão de um pensamento por meio de processos racionais, como listar evidências de que o pensamento é verdadeiro ou falso ou considerar outras explicações viáveis. Pensamentos ansiosos desafiadores podem reduzir a ansiedade e também reduzir decisões irracionais e impulsivas durante momentos de estresse ou preocupação.

Por exemplo, listar as evidências a favor e contra uma certa crença ou suposição é um método comum da TCC para desafiar pensamentos disfuncionais. Essa habilidade pode ajudar as pessoas a reconhecer quando seus pensamentos podem estar distorcidos por causa de sua ansiedade, em vez de acreditarem automaticamente que são verdadeiros.

        Exposição comportamental

 Como as pessoas ansiosas tendem a evitar situações que as deixam ansiosas, as tarefas de exposição são frequentemente recomendadas para limitar a evitação, reduzir a ansiedade e aumentar a confiança. Tarefas de exposição envolvem o enfrentamento gradual de situações temidas e a construção de situações mais intensamente temidas e evitadas.

Por exemplo, uma pessoa com medo de falar em público pode começar praticando um discurso na frente de um ou dois amigos e progredir para um pequeno grupo no trabalho. Os terapeutas da TCC também ensinam habilidades de relaxamento aos clientes (como respiração profunda ou relaxamento muscular) para se preparar para essas exposições. As exposições funcionam ajudando as pessoas a ganhar confiança em sua capacidade de enfrentar seus medos, ao mesmo tempo em que desenvolvem as habilidades para gerenciar melhor sua ansiedade.

Outro exemplo é o terapeuta auxiliar o indivíduo a identificar padrões de procrastinação, quando e onde é mais provável que eles apareçam e como resistir aos impulsos de procrastinar. Assim sendo, uma pessoa pode ser incentivada a dividir a tarefa em partes menores que sejam mais fáceis de concluir, em vez de fazer a tarefa toda de uma vez.

       Solução de problemas

 A solução de problemas envolve os clientes sendo encorajados a pensar nas opções e avaliar as possíveis consequências de curto e longo prazo de cada opção. Como muitos comportamentos motivados pela ansiedade são focados apenas em encontrar alívio de curto prazo, essas habilidades são necessárias para ajudá-los a tomar melhores decisões.

Por exemplo, cancelar planos pode ser tentador para alguém com ansiedade social porque significaria evitar uma situação desconfortável, mas pode levar ao isolamento, depressão e ainda mais ansiedade social a longo prazo. O uso de uma abordagem de solução de problemas pode identificar essas consequências com antecedência, ajudando a pessoa a evitar uma má escolha no momento.

          Ativação Comportamental

 A ansiedade tende a tornar as pessoas menos ativas social e comportamentalmente. As pessoas podem pensar que fazer menos e evitar seus problemas diminui a ansiedade, mas na verdade aumenta os sintomas. Portanto, os terapeutas trabalharão para que a pessoa vá a lugares, faça coisas e se envolva com outras pessoas para diminuir o impacto da ansiedade.

         Habilidades de relaxamento

As atividades de exposição e ativação comportamental induzirão níveis mais altos de ansiedade no curto prazo. Aprender e usar habilidades de relaxamento pode ajudar a amortecer o impacto da ansiedade e diminuir os sintomas de forma mais rápida e eficiente.

De acordo com Leahy (2011), as pessoas ansiosas costumam ter maneiras de pensar típicas, denominadas como distorções cognitivas ou erros cognitivos. Isso inclui pensamentos preocupados de ‘pior cenário’ ou ‘e se…’ que muitas pessoas “remoem” quando se sentem ansiosos e outros pensamentos negativos que uma pessoa tem sobre si mesmos ou suas vidas.

Fonte: Imagem no Pixabay

O objetivo principal da TCC é mudar os sistemas de significados dos pacientes para alterar suas emoções e comportamentos com relação às situações.

Beck (1997) nos traz que “pessoas com transtornos psicológicos […], com frequência, interpretam erroneamente situações neutras ou até mesmo positivas e, desse modo, seus pensamentos automáticos são tendenciosos”. Ao identificar tais pensamentos, examiná-los e corrigir os seus erros, os pacientes podem se sentir melhor.

Os erros cognitivos são erros de julgamento ou equívocos dos nossos pensamentos na forma de avaliar o que nos acontece. A catastrofização configura-se na antecipação do futuro em termos negativos e o paciente acredita que o que acontecerá será tão horrível que ele não vai suportar. Com a leitura mental, o paciente acredita que conhece os pensamentos e intenções de outros (ou que eles conhecem seus pensamentos e intenções) sem ter evidências suficientes. A generalização significa tomar casos negativos isolados e os generalizar, tornando-os um padrão interminável com o uso repetido de palavras como “sempre”, “nunca”, “todo”, “inteiro” etc.

A partir da reestruturação cognitiva pode-se, então, passar à resolução de problemas e possibilitar as escolhas conscientes do paciente, tornando-o mais autônomo para tomar suas decisões.

Para finalizar, gostaria de trazer aqui algumas técnicas que você pode experimentar por conta própria, mas dependendo do incômodo que você ou alguém que você conhece está enfrentando, é sempre indicado procurar uma avaliação precisa de um profissional habilitado para isso.

         *Tome consciência de seus pensamentos ansiosos

 Faça uma lista dos pensamentos que alimentam sua ansiedade, os pensamentos que a tornam maior e mais forte. Torne-se mais consciente desses pensamentos e de quais situações tendem a desencadeá-los.

          *Avalie seus comportamentos

 Faça uma lista de coisas que mudam em seu comportamento durante os momentos em que você está ansioso e avalie cada uma, considerando se é útil ou não. Lembre-se de considerar os efeitos de curto e longo prazo de cada comportamento. Você também pode usar esse modelo para ajudá-lo a tomar decisões, pensando nas possíveis consequências de cada opção.

          *Use afirmações positivas

 Escreva afirmações positivas em post-its e coloque-os estrategicamente em sua casa ou escritório. Podem ser pequenos lembretes ou frases que o convidem a respirar, fazer uma pausa ou solicitar que você diga algo pelo qual está ansioso.

          *Fale consigo mesmo como um amigo

 Normalmente, as pessoas falam consigo mesmas de uma maneira que nunca falariam com mais ninguém, ou seja, nossa autocrítica tende a ser   mais elevada. Combata essa conversa interna negativa falando consigo mesmo da mesma forma que falaria com um amigo ansioso durante os momentos em que sua ansiedade aumenta.

         *Tente uma ação oposta

 Como comportamentos, pensamentos e sentimentos estão todos conectados, agir com coragem ou confiança durante momentos em que você está ansioso às vezes pode fazer uma grande diferença. Essa técnica às vezes é chamada de “ação oposta” e pode ser usada para neutralizar sentimentos difíceis por meio de comportamentos que parecem opostos ao que você normalmente faria quando se sentisse assim. Por exemplo, quando você sente vontade de se isolar, encontrar uma maneira de se conectar com outras pessoas (por exemplo, trabalho voluntário ou passear com um amigo) pode ajudar a mudar seu humor.

 

REFERÊNCIAS:

 LENHARDTK, Gabriela; CALVETTI, Prisla Ücker. Quando a ansiedade vira doença? Como tratar transtornos ansiosos sob a perspectiva cognitivo-comportamental. Aletheia: Revista Interdisciplinar de Psicologia e Promoção de Saúde, Canoas, v. 50, pg 1-2, dez./2005. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S141303942017000100010 Acesso em: 10 abr. 2023.

OLIVEIRA, M. I. S. D. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: Relato de Caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Aracaju – SE, 7, n. 1, dez./2005. Disponível em: https://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=137. Acesso em: 6 abr. 2023.

NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. Terapia cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade: uma atualização das evidências empíricas. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4610618/. Acesso em: 15 abr. 2022.

 

Compartilhe este conteúdo:

Você sabe como sua filha se enxerga?

Compartilhe este conteúdo:

Entrevista para a revista Ana Maria com a psicóloga Fabíola Luciano

Transcrição de Fabíola Bocchi

Transtornos alimentares são mais comuns em meninas adolescentes. E a maneira como os pais se comportam faz toda a diferença no tratamento.

Comer exageradamente ou deixar o estômago vazio por tempo demais: se para uma mulher madura pode ser complicado estabelecer uma relação saudável com a comida, imagina então para uma adolescente.

Nessa fase de mudanças, por um lado existe a preocupação em ser aceita pelos colegas. E por outro, um bombardeio das redes sociais com fotos de atrizes, modelos e “musas” fitness da internet… Todas elas esbanjando um corpo magro e bem definido. Não à toa que estudiosos consideram que, nesta fase, o risco de desenvolver um transtorno alimentar aumenta muito. Leia mais sobre o assunto e saiba como proteger sua filha dessa cilada!

PARA COMEÇO DE CONVERSA:

“Transtornos alimentares são problemas de ordem psicológica”, esclarece Fabíola Luciano, psicóloga colaboradora do ambulatório de bulimia e transtornos alimentares da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Quem sofre com esses problemas tem uma alimentação “disfuncional”, e por isso pode acabar perdendo muito peso, engordando, ou prejudicando a saúde em função disso.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS?

ANOREXIA:

Tem como característica a recusa alimentar (e, portanto, a perda de peso). Geralmente, a motivação é uma preocupação extrema com o corpo, um perfeccionismo com relação ao próprio peso. Muitas das pessoas que desenvolvem o distúrbio acabam sofrendo também uma distorção da própria imagem, enxergando seus corpos maiores do que eles realmente são.

BULIMIA:

Quem sofre com o problema come muito compulsivamente. Daí começa a se sentir mal, assume comportamentos compensatórios para eliminar as calorias. Isso pode se dar provocando o vômito ou usando laxantes e diuréticos.

COMPULSÃO ALIMENTAR:

Neste caso a pessoa também se alimenta de maneira exagerada durante alguns episódios. A sensação é de que se está perdendo o controle, pois o comer já não está vinculado à fome: ou seja, a ingestão de comida é muito maior do que a sua real necessidade. Em seguida, vem o sentimento de culpa e de frustração.

Para cada dez mulheres que desenvolvem um transtorno alimentar, apena um rapaz é afetado. “existem questões sociais envolvidas. Em geral são elas que sofrem mais pressão com relação ao corpo e à estética”, ressalta a psicóloga.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

SINAIS DE ALERTA:

Se sua filha (ou seu filho) estiver apresentando comportamentos como estes, puxe uma conversa franca e procure ajuda psicológica:

  • Evita ir a restaurantes e se recusa a comer perto dos familiares;
  • Faz uso de inibidores de apetite, diuréticos ou laxantes;
  • Vai sempre ao banheiro depois de comer;
  • Toma banhos muito longos (e às vezes com música alta tocando);
  • Demonstra preocupação excessiva com o peso;
  • Come descontroladamente ou escondido dos demais.

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS:

Quantas vezes, sem perceber, não reforçamos dentro de casa a ideia de que as mulheres devem estar sempre magras? “Fulana era tão bonita, agora está gordinha”, “Essa blusa marca demais a minha barriga…” e até com os próprios filhos dizendo: “Você precisa parar de comer besteiras se não quiser engordar”. Tudo isso impacta na relação que eles constroem com a comida, uma vez que “as crianças e jovens podem internalizar esses discursos, alerta Fabiola. Em compensação, se os responsáveis prestam atenção em como anda a autoestima dos filhos e conversam sobre esse assunto em casa, a tendência é que os adolescentes se sintam acolhidos, entendam que o seu valor não está relacionado ao peso e não apelem para as radicalidades.

Fonte: Revista Ana Maria – Ed. 25

REFERÊNCIAS:

PSICÓLOGA FABIOLA LUCIANO. Você sabe como sua filha se enxerga? Disponível em: https://psicologafabiola.com.br/participacao-da-psicologa-fabiola-na-revista-ana-maria-sobre-transtornos-alimentares/. Acesso em: 6 jun. 2022.

Compartilhe este conteúdo:

Compulsão alimentar: “Overcoming Binge Eating”

Compartilhe este conteúdo:

O Dr. Christopher G. Fairburn, psiquiatra e pesquisador da Universidade de Oxford, é uma das maiores autoridades do mundo em problemas alimentares. Seu livro, que ainda não possui tradução para o português, Overcoming Binge Eating (“Vencendo a Compulsão Alimentar”) apresenta os fatos sobre a compulsão alimentar e inclui um programa detalhado para a superação da compulsão alimentar na bulimia nervosa e na obesidade.

A compulsão alimentar é provavelmente o transtorno alimentar mais comum, mas seu ciclo de vergonha e sentimentos de impotência podem dificultar a busca por ajuda. Trago aqui alguns pontos principais da entrevista dele para o canal  de saúde Medicine Net para fins de informação de como proceder após identificado um problema alimentar.

No quesito quão prevalente é a compulsão alimentar, ele aponta para as definições técnicas usadas por pesquisadores clínicos, e que essas definições são usadas para definir a compulsão alimentar clinicamente significativa.

Há duas características que precisam estar presentes para que um episódio de alimentação seja classificado como “compulsão”: a quantidade ingerida deve ter sido realmente grande para as circunstâncias da época; em outras palavras, o contexto é levado em consideração, por exemplo, é preciso comer mais no Natal para que um episódio alimentar seja classificado como compulsão, porque todo mundo come mais no Natal, e deve haver uma sensação de perda de controle sobre a alimentação no momento. Em outras palavras, a pessoa deve sentir que sua alimentação está fora de seu controle.

Fonte: encurtador.com.br/jswKW

Ele salienta o quanto é importante que haja esta perda de controle durante o episódio. Pois é essa característica que distingue a compulsão alimentar dos simples excessos que todos nós praticamos às vezes.

Algumas perguntas podem ajudar a identificar:

– Seus episódios compulsivos envolvem comer grandes quantidades de comida?

– Você se sente descontrolado na hora?

– Entre esses episódios de exagero, você faz muita dieta?

– Você fica doente ou vomita depois desses momentos?

Outro ponto importante a ser observado, é se a pessoa se preocupa constantemente com o que vai comer, como vai me sentir depois de comer, tem pensamentos como: “Hoje, não vou comer muito; vou comer isso e isso no café da manhã”, etc.

Muitas vezes a pessoa sente que está prestes a cometer um grande erro e está ciente de que não quer fazê-lo, mas se sente impotente. É uma experiência muito desagradável.

Outro ponto que ele descreve é a dificuldade das pessoas em conseguir lidar com emoções desagradáveis. Como forma de lidar com sentimentos ruins, elas usam a comida para suporte emocional e para ajustar seu humor.

Outro ponto é sobre fazer dietas e como isso facilita o quadro de compulsão alimentar, visto que logicamente o paciente sente mais fome do que o normal. Depois dos excessos, chega a culpa, a vergonha e outras emoções negativas, levando ao vômito induzido. Depois de um tempo, essa liberação de emoções negativas a curto prazo predisporia a voltar à dieta e a recomeçar.

“Fazer dieta cria desejo pelos alimentos que se está evitando e é por isso que as pessoas costumam comer compulsivamente os mesmos alimentos que estão evitando”.

Trago aqui uma figura que exemplifica como funciona este ciclo de compensação, onde a pessoa pode até ter a ideia de que compensar te a deixaria mais livre para comer o que quiser, mas a compensação é uma prisão que dá início a um ciclo que muitas vezes pode ser vicioso.

  1. Comer demais: a restrição leva a comer em excesso ou compulsivamente.
  2. Sentir culpa: arrependimento por não ter conseguido seguir a dieta e ter comido muito mais do que o recomendado.
  3. Compensar excessos: tentativa de corrigir o erro cometido ao comer demais
  4. Repete.

Durante a entrevista, ele faz uma distinção entre o que leva a pessoa a começar a compulsão alimentar e o que mantém sua compulsão alimentar. Sobre encontrar a causa da compulsão alimentar de uma pessoa, ele diz que este é um problema complexo e interessante. Se o objetivo é ajudar alguém a superar seu problema de compulsão alimentar, então a questão principal é por que eles estão comendo compulsivamente agora. Em outras palavras, a questão importante é: o que está mantendo o problema alimentar deles? O que é mantê-lo? Uma questão separada é: o que começou a compulsão alimentar da pessoa em primeiro lugar?

Muitas vezes as pessoas procuram ajuda para problemas de compulsão alimentar muitos anos depois de terem começado a comer compulsivamente. Nesse caso, o que os levou a comer compulsivamente – digamos, quando tinham 15 anos – pode não ser relevante para eles agora, quando têm 25 anos. Então, do ponto de vista da superação de um problema de compulsão alimentar, a questão é o que está mantendo a pessoa comendo compulsivamente agora, e não por que ela começou a comer compulsivamente há muitos anos.

Fonte: encurtador.com.br/mBGLX

Os tipos típicos de coisas que mantêm os problemas de compulsão alimentar são os seguintes:

– Ter regras rígidas sobre o que se deve e o que não se deve comer. Isso torna algumas pessoas propensas a comer compulsivamente.

– Não comer o suficiente em geral. Isso torna um fisiologicamente propenso a comer demais às vezes.

– Ter dificuldade em lidar com estados de humor desagradáveis. Isso, como discutimos anteriormente, torna algumas pessoas propensas à compulsão sempre que se sentem mal consigo mesmas.

Também traz na entrevista quais as principais consequências da compulsão alimentar a longo prazo para a saúde. Diz que não há efeitos adversos da compulsão alimentar em si, mas se alguém comer demais regularmente, corre o risco de desenvolver obesidade. Isso tem muitas consequências adversas para a saúde, como todos sabemos. O outro problema associado é se alguém purgar – isto é, vomitar ou tomar laxantes – após a compulsão alimentar, então a purga tem efeitos adversos na saúde.

Há boas evidências pesquisadas de que certos tipos específicos de terapia têm um efeito marcante nos problemas de compulsão alimentar. Da mesma forma, há certas evidências de que certos tipos de outras terapias são menos eficazes. Portanto, é importante obter o tipo certo de terapia.

Existem duas principais terapias baseadas em evidências. A primeira é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a segunda é chamada de Terapia Interpessoal. Ambas as terapias são bem conhecidas e bem testadas.

Em relação à tratamento medicamentoso, comenta que para pacientes com bulimia nervosa os medicamentos antidepressivos podem ser benéficos. Foi demonstrado que essas drogas reduzem a frequência de compulsão alimentar (e purgação), embora muitas pessoas não parem completamente. Os efeitos benéficos das drogas antidepressivas na bulimia acontecem quer a pessoa esteja ou não deprimida no humor – em outras palavras, não é necessário se sentir deprimido para necessariamente se beneficiar.

Deve-se acrescentar que não se sabe muito sobre quanto tempo dura o efeito benéfico das drogas antidepressivas em termos de seu efeito na compulsão alimentar. Em contraste, está bem estabelecido que os efeitos das duas psicoterapias que mencionadas anteriormente são, na maioria dos casos, duradouras.

Os objetivos prioritários do tratamento são que o paciente ganhe controle sobre a sua dieta, que as cognições sobre peso, silhueta e imagem corporal sejam modificadas e que as mudanças sejam mantidas a longo prazo.

A responsabilidade pela mudança é sempre do paciente, por isso lhe é atribuído um papel ativo. O terapeuta tem o papel de motivar, apoiar e fornecer informações e orientações.

A compulsão alimentar é um grande desafio, mas não é impossível vencê-lo. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar o tratamento adequado.

Fonte: encurtador.com.br/jBJP5

Referências:

MEDICINE NET. Compulsão Alimentar – Um bate Papo com Dr.Christopher Fairburn. Disponível em: https://www.medicinenet.com/script/main/art.asp?articlekey=56553. Acesso em: 12/05/2022.

Compartilhe este conteúdo:

Interfaces da Anorexia no filme “O Mínimo para Viver”

Compartilhe este conteúdo:

Restringir a alimentação ou passar por períodos de compulsão e purgação podem ser sinais de um transtorno alimentar. Se não tratados, os distúrbios alimentares podem ter efeitos devastadores na saúde mental e física do indivíduo.

“O Mínimo para viver”, tradução do filme “To the Bone”, é um filme lançado na Netflix em 2017 que mostra a história de Ellen sobre a luta contra a anorexia e o sofrimento que surge com esse transtorno alimentar.

O filme conta que Ellen abandonou a faculdade e está lutando para concluir o tratamento hospitalar para seu diagnóstico e, como resultado, volta a morar com o pai e a madrasta. A história segue Ellen através de seu processo de tratamento, que é auxiliado por familiares próximos, amigos e terapeutas que querem ajudá-la a continuar progredindo nessa busca pela cura. Este filme captura o impacto psicológico que a anorexia pode ter na pessoa e também na sua rede de apoio. Ele fornece uma visão sob a ótica do paciente, e seus pensamentos e sentimentos experimentados durante o diagnóstico e o tratamento do transtorno.

Após diversas internações e tratamentos frustrados Ellen conhece o médico Dr. William Beckham (Keanu Reeves), famoso pelo seu método nada comum de tratar doenças como a dela. Depois de se convencer que o tipo de tratamento que ele oferece é sua melhor e talvez até sua última opção, Ellen começa a frequentar a clínica de Beckham, um lugar diferente, mais confortável e com ares de lar, onde ela divide o teto com outros seis pacientes.

A trama demonstra a complexidade da doença, e todas as nuances que a envolvem. Não se trata apenas de voltar a se alimentar normalmente. Como em uma relação de causa e efeito, outras enfermidades podem surgir em decorrência da anorexia, desde o mal funcionamento de órgãos à osteoporose.

A decepção consigo mesma é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de alívio no seu sofrimento psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/finLP

A Anorexia Nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) caracterizado pela auto-inanição, ou seja, é a própria pessoa provocar um estado de debilidade extrema por falta de alimentação que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal. Se caracteriza também pela preocupação exacerbada da forma física e um medo extremo de comida.

A Anorexia Nervosa tem sido associada a vários fatores de risco e manutenção de transtornos. Os fatores de risco são quaisquer situações que aumentem a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Os fatores de manutenção predizem persistência de sintomas versus remissão ao longo do tempo em indivíduos já sintomáticos para um transtorno.

Em algumas cenas durante o filme, Ellen contava as calorias presentes na comida que estava em seu prato além de mostrar ela fazendo abdominais e medindo o braço para verificar se ela conseguia fechar a mão ao redor do bíceps. A menção ao uso de laxantes também aparece, além de mostrar a rotina da instituição na qual ela estava fazendo tratamento, com altos e baixos, recaídas e a real dificuldade do tratamento.

Estas cenas demonstram como a anorexia não só reflete na saúde física de alguém, como impacta muito a saúde mental do indivíduo, e tal fator é determinante no curso da doença. Como citado anteriormente, além da alteração física, há o medo de ganhar peso e alteração da imagem corporal e da consciência sobre o transtorno. Os pensamentos a respeito do problema influenciam fortemente na manutenção do transtorno, pois a pessoa se olha no espelho e enxerga alguém gorda ou que não está suficientemente magra, e não há evidências externas que façam a pessoa se convencer do contrário.

Nesses casos a tendência de o sujeito com anorexia falar que está com tudo sob controle ou de negar a doença é alta. Geralmente a busca por tratamento acontece já em um estado avançado e os prejuízos já estão muito acentuados.

O filme também enfatiza como é essencial a participação da família na prevenção e no curso do tratamento. É importante que os familiares estejam alinhados sobre o transtorno para o sucesso neste processo.

No caso da família da personagem principal, o filme mostrou as dificuldades que eles tinham de lidar com o transtorno. A mãe não suportou o quadro da filha e fez com que Ellen se mudasse para a casa do pai o qual é ausente e aparentemente irritado, tenta constantemente se manter alheio de todas as situações, encontrando pretextos para não se encontrar com a filha e não comparecer à terapia familiar.

A madrasta e a irmã são as mais presentes e as que mais encorajam o tratamento de Ellen, porém ambas (assim como a mãe também), fazem menções inadequadas que atingem ela, como por exemplo falar constantemente sobre como sua aparência está, e falas que não contribuem como  “coma Ellen” e “se você morrer eu te mato”.

Fonte: encurtador.com.br/uwDGQ

A Terapia Cognitivo Comportamental tradicionalmente se concentra em relatos baseados em sintomas, sugerindo que tanto o controle quanto a supervalorização do peso e forma física mantêm a AN. A TCC se baseia em dois princípios: o primeiro diz que nossas cognições têm influência sobre o nosso comportamento; o segundo refere-se ao fato de que o modo como agimos afeta nossas emoções e pensamentos.

Algumas características em relação à AN podem incluir: perfeccionismo clínico, baixa autoestima, intolerância ao humor e dificuldades interpessoais como focos adicionais de tratamento.

O tratamento pode conter diversas complicações, com probabilidade de recaídas, já que o fator psicológico tem muita influência, como ilustrado no filme. Utilizando técnicas cognitivas e comportamentais, a TCC busca aumentar a motivação para a mudança, aumentar diretamente o ganho de peso ao mesmo tempo em que aborda preocupações com peso e forma e se prepara para contratempos para manter os ganhos obtidos a longo prazo. A TCC também é importante para o trabalho da imagem corporal e dos padrões estéticos que são muito elevados nas pessoas com AN.

Dentre alguns objetivos, levar o paciente a desenvolver um padrão regular e flexível de alimentação é um grande passo na recuperação da saúde e bem estar deste indivíduo. E este resultado está intimamente ligado ao surgimento de um indivíduo com capacidade de tomar consciência, dar sentido, regular, aceitar, expressar e transformar a experiência emocional, usando-a de forma flexível e adaptativa para se conhecer, buscar formas saudáveis de agir consigo mesmo, nos seus relacionamentos e no mundo.

FICHA TÉCNICA

Título: O Mínimo para Viver
Dirigido por: Marti Noxon
Data de Estreia: 22 de janeiro de 2017
Duração: 107 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Comédia/Drama
País de Origem: EUA

REFERÊNCIAS

NARDI, Helena Beyer; MELERE, Cristiane. O papel da terapia cognivo-comportamental na anorexia nervosa. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100006. Acesso em: 31/05/2022.

VTM Neurodiagnóstico. Tratamento para anorexia e o filme “O Mínimo Para Viver”. Disponível em: https://vtmneurodiagnostico.com.br/cine_psiconeurologia/tratamento-para-anorexia-e-o-filme-o-minimo-para-viver/. Acesso em: 2/06/2022.

DESENVOLVIVER. O mínimo para viver: conscientizações e problematizações. Disponível em: https://desenvolviver.com/psicoterapia/o-minimo-para-viver-conscientizacoes-e-problematizacoes/#:~:text=%E2%80%9CO%20m%C3%ADnimo%20para%20viver%E2%80%9D%20%C3%A9,a%20realidade%20que%20este%20mostra.. Acesso em: 02/06/2022.

FRONTEIRAS PSICOLOGIA. Anorexia Nervosa e um Eu Emocional Perdido: Uma Formulação Psicológica do Desenvolvimento, Manutenção e Tratamento da Anorexia Nervosa. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00219/full#F1. Acesso em: 31 mai. 2022.

Compartilhe este conteúdo:

Oficina Avaliação e Intervenção Psicológica no Pré e Pós Operatório De Cirurgia Bariátrica

Compartilhe este conteúdo:

Durante a realização do III Simpósio de Avaliação Psicológica Tocantinense, que ocorreu no dia 25/05/2022, aconteceram diversas oficinas de avaliação psicológica em diferentes contextos, entre elas a Oficina de Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica, com a convidada Psicóloga Marília Pereira Batista. A oficina ocorreu das 14h00 às 17h00 e foi mediada pela estudante Ester Maracaípe.

A oficina teve início com a apresentação profissional da psicóloga, e seguida da explanação de como se dá o processo avaliativo para os pacientes que têm indicação para a cirurgia bariátrica.

Ela abordou inicialmente sobre o tema da obesidade, que é considerada uma doença crônica multifatorial, com diferentes graus de inflamação, as comorbidades associadas e como o tratamento pode ser dificultoso e complexo.

Fonte: Arquivo Pessoal

Discorreu sobre como é feito o diagnóstico (através do cálculo do IMC), e como existem fatores endógenos (genéticos, hormonais, psicológicos) e exógenos (hábitos alimentares, sedentarismo, qualidade do sono e fatores sociais) associados à doença.

Expôs posteriormente sobre no que se consiste a cirurgia bariátrica, e os critérios de indicação para a cirurgia segunda a resolução número 2131/2015 do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Sobre a idade permitida para a cirurgia, trouxe informações que pode ser feita abaixo de 16 anos (e quais os critérios estabelecidos para tal idade), acima de 16 anos, entre 18 e 65 anos e em quais situações pode ser feita acima dos 65 anos.

Além disso, elencada às doenças associadas à obesidade, que segundo o CFM são 21, o quanto a estigmatização social também é relevante neste processo.

Fonte: Arquivo Pessoal

Abordou sobre os principais procedimentos e técnicas cirúrgicas reconhecidas, e os critérios de contra indicação para cirurgia e discorreu sobre os possíveis riscos do procedimento, alertando sobre as consequências da não adesão das recomendações médicas para o pós operatório, além também dos benefícios, fisiológicos e psicológicos da realização do procedimento.

Comentou sobre como o pré-operatório otimiza a segurança e os resultados da cirurgia bariátrica, e como a saúde mental e emocional possuem grande participação no processo de preparação e recuperação da cirurgia.

Falou sobre a quantidade de sessões necessárias (de 10 a 12 sessões), para estabelecer um bom vínculo com o paciente e posteriormente investigar os aspectos emocionais, psiquiátricos e cognitivos que podem influenciar o resultado da cirurgia bariátrica.

Tratou da importância de se fazer uma entrevista de anamnese minuciosa, abordando as questões acerca da alimentação, a relação do paciente com a comida e atividade física, histórico e relações familiares, histórico de vida, sexualidade, motivações e conhecimento sobre o procedimento, a expectativa deste paciente, entre outros. Após esta etapa, segue-se com  testagem psicológica e aplicação de escalas não restritivas, depois vem o processo de psicoeducação, concluindo com a elaboração do laudo em si.

Ponderou sobre a elaboração do laudo, como tudo deve ser feito dentro das normas da resolução 06/2019 do Conselho Federal de Psicologia, com uma escrita sensível e coesa, seguida de uma sessão devolutiva, explicitando a importância do acompanhamento psicológico, assim como um apresentar empático por parte do profissional.

Finalizou discorrendo sobre como o profissional psicólogo pode auxiliar o paciente no processo de enfrentamento e conhecimento de suas emoções, e durante as mudanças comportamentais envolvidas durante todas as etapas. O trabalho do psicólogo no pós operatório é de grande auxílio a este paciente nas mudanças que irão ocorrer. Ele auxilia também no desenvolvimento de novas habilidades e resoluções de questões internas que poderão despontar após a realização do procedimento cirúrgico. Estes cuidados são imprescindíveis para o sucesso do procedimento e da melhora de qualidade de vida dos pacientes.

Compartilhe este conteúdo:

Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica

Compartilhe este conteúdo:

A cirurgia bariátrica e metabólica, também conhecida como cirurgia da obesidade, ou popularmente, redução de estômago, reúne técnicas com respaldo científico, destinadas ao tratamento da obesidade mórbida e ou obesidade grave e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ela. Inclusive, este tema será debatido durante o Simpósio de Avaliação Psicológica, que ocorre em 25 de maio no CEULP/Ulbra.

O tratamento da obesidade é multidisciplinar, e o psicólogo exerce um importante papel neste processo, e que será o responsável pela realização da avaliação psicológica. Por se tratar de uma cirurgia que implica em um impacto muito grande na anatomia do corpo do paciente e, consequentemente, em seu estado psicológico e emocional, é preciso um acompanhamento psicológico pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica para o sucesso da intervenção.

A avaliação psicológica neste contexto é um processo técnico-científico que têm início com uma entrevista semiestruturada minuciosa, onde o profissional fará um levantamento psicossocial do indivíduo, e será indispensável compreender quais são as expectativas em relação à cirurgia, além das alterações no estilo de vida, motivos que o levaram a realizar a cirurgia, entender se o paciente está preparado e principalmente se compreendeu sobre todas as alterações que ocorrerão em sua vida e se poderá colocá-las em prática. Este  suporte serve para a compreensão de todos os aspectos envolvidos, decorrentes do pré-cirúrgico e pós-cirúrgicos, para a aquisição de uma melhor qualidade de vida a longo prazo para o indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/blG45

É de extrema importância a aplicação de testes psicológicos para complementar todo o levantamento de informações realizado na entrevista, pois confere uma dimensão objetiva em relação ao estado psicológico do candidato.

Um dos principais objetivos da avaliação psicológica é a de proporcionar a compreensão das mudanças necessárias em relação ao período pós-operatório do paciente bariátrico, aumentando assim as chances de sucesso da cirurgia. A avaliação é imprescindível nesse processo, pois o paciente deve ter total segurança na tomada de decisões em relação ao processo, seja ele de realização imediata ou futura, ou na não realização.

Ao final do processo é feito um documento (laudo) que deve ser entregue ao paciente para que junto com seu médico avalie o melhor momento para a realização da cirurgia ou a opção da não realização.

 

REFERÊNCIAS

ALBERT EINSTEIN. OBESIDADE. Disponível em: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/obesidade. Acesso em: 07/05/2022.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA. A Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/a-cirurgia-bariatrica/. Acesso em: 07/05/2022.

MUNDO PSICOLOGIA. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.mundopsicologia.com.br/avaliacao-psicologica-para-cirurgia-bariatrica-contra-obesidade-e-compulsao-alimentar. Acesso em: 07/05/2022.

Compartilhe este conteúdo:

Tratamento padrão ouro nos transtornos alimentares

Compartilhe este conteúdo:

É uma ilusão achar que os Transtornos Alimentares estão limitados a pessoas obesas ou pessoas muito magras. Os distúrbios alimentares podem ocorrer em pessoas com um peso adequado, e alguns sinais e sintomas apresentados podem incluir comer escondido, sentir-se culpado após as refeições, possuir sensação de inadequação social e apresentar várias tentativas fracassadas de dieta.

Os transtornos alimentares podem ser definidos como um padrão ou hábitos alimentares inconsistentes ou distúrbios contínuos no padrão alimentar que muitas vezes levam a consequências perigosas, tanto em termos de bem-estar físico quanto mental de uma pessoa, e seus efeitos podem ser catastróficos.

Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento dos TA´s são dietas restritivas que podem piorar o quadro de obesidade pelo chamado efeito rebote, onde o indivíduo adquire uma obsessão por comida, passando grande parte do seu tempo pensando nisso.

Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,7% dos brasileiros sofre de distúrbios alimentares, mas na adolescência esse índice chega até a 10%.

Em tempos da cultura do espetáculo, através das redes sociais, o apelo social dos padrões de beleza, as dietas e as fórmulas milagrosas podem deixar as pessoas mais vulneráveis a desenvolver problemas nesta área. Em muitos casos, a pessoa não imagina que tem um problema.

Fonte: encurtador.com.br/prCT0

Resumidamente, os principais transtornos alimentares presentes são:

Anorexia: Ou anorexia nervosa, é um distúrbio no qual a pessoa vê seu corpo sempre com excesso de peso, mesmo que ela esteja claramente com baixo peso ou desnutrida. Existe um medo intenso de ganhar peso e uma obsessão para emagrecer, sendo a sua principal característica a rejeição a qualquer tipo de comida.

Bulimia: É caracterizada por episódios frequentes de compulsão alimentar, nos quais há um consumo de grandes quantidades de comida, seguido de comportamentos compensatórios como forçar o vômito, usar laxantes ou diuréticos, ficar sem comer e praticar exercícios em excesso para tentar controlar o peso.

Compulsão Alimentar: Um dos indicativos são episódios frequentes de comer exageradamente, mesmo quando não se tem fome. Existe uma perda do controle sobre o que se comer, mas não existem comportamentos compensatórios como vômitos ou uso de laxantes.

Ortorexia: É a preocupação exagerada com o que se come, levando a uma obsessão para sempre comer de forma certa, com alimentos saudáveis e extremo controle de calorias e qualidade.

Pica: É a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, que não são alimentos e não têm valor nutricional, como terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais.

Transtorno de Ruminação: A pessoa com esse transtorno regurgita repetidamente os alimentos tê-los ingerido, normalmente todo dia. Ela não tem nenhuma sensação de náusea nem ânsia de vômito involuntária. É possível que a pessoa mastigue novamente o alimento regurgitado e, depois o cuspa ou o engula novamente.

Fonte: encurtador.com.br/xHQR6

A utilização da terapia cognitivo-comportamental (TCC) em transtornos alimentares foi apresentado pela primeira vez por Fairburn em 1981. Seu foco era utilizar técnicas para ajudar os pacientes a terem maior controle comportamental sobre a alimentação, para auxiliar a mudança de atitudes em relação aos hábitos alimentares, ao peso e à imagem corporal (NUNES; ABUCHAIM, 2008).

Atualmente a TCC é reconhecida como a psicoterapia mais eficiente (padrão ouro) no tratamento dos transtornos alimentares. Ela trabalha com intervenção semi estruturada, objetiva e orientada para metas que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais.

De maneira geral o objetivo da TCC nos transtornos alimentares é diminuir os pensamentos negativos sobre a autoimagem corporal e a sua relação com a comida, e aumentar a capacidade dos pacientes de tolerar os mesmos, buscando possíveis alterações comportamentais e reduzindo os episódios compulsivos e outros sintomas associados.

Fonte: encurtador.com.br/hFS14

A TCC parte do princípio que o sistema de crenças de um indivíduo exerce um papel importante no desenvolvimento de seus sentimentos e comportamentos. Assim sendo, os pacientes com TA apresentam crenças distorcidas e disfuncionais acerca do seu peso, formato corporal, alimentação e valor pessoal, e estas crenças são significativas para a manutenção dos transtornos.

Uma das crenças nucleares distorcidas mais presentes nos pacientes é a que o seu valor como pessoa está inteiramente ligado a seu peso e formato corporal, deixando de lado ou não valorizando outros indicadores. Para pacientes com TA a magreza estaria associada à competência, superioridade e sucesso, estando intimamente ligado com a autoestima e autoconceito.

O sistema distorcido de crenças pode ser perpetuado em consequência de várias formas disfuncionais de raciocínio. Uma das tendências frequentemente encontradas é a de prestar atenção somente nas informações que confirmam suas crenças, ignorando ou distorcendo os dados que poderiam coloca-las à prova.

Fonte: encurtador.com.br/qILTW

Para modificar o sistema de crenças a TCC se utiliza de diversas técnicas. Uma delas consiste em ensinar o paciente a identificar pensamentos que possam ter alguma distorção. Em seguida ele é incentivado a analisar todas as evidências possíveis disponíveis que possam confirmar ou refutar o pensamento distorcido, fazendo com que ele se torne mais funcional. Uma variabilidade de estratégias pode ser usada para facilitar a modificação das crenças, por exemplo, o desenho da imagem corporal e a exposição gradual do corpo permitem que o paciente modifique suas crenças de que está gordo e de que será rejeitado em função disto.

Nesta abordagem são realizados trabalhos de flexibilização das crenças disfuncionais dos pacientes, através da reestruturação cognitiva e resolução de problemas. São utilizadas atividades com aplicações práticas, como metas pontuais e recompensas, dentro do contexto do tratamento.

É importante que os pacientes com transtornos alimentares tenham claro que o peso real não é o problema, mas, sim, questões importantes de crenças e estratégias que estão mantendo o transtorno alimentar. Um dos principais pontos para a eficiência do tratamento é a participação e o compromisso do paciente com a terapia, enfatizando as expectativas positivas do processo terapêutico e seus resultados.

REFERÊNCIAS

ALMEIDAB, M. D. E. P. E. D. M. Terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr 2002;SP, v. 24,p. 49-53, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/CJKXBkfr6wBxGV4t7zL4w9J/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 abr. 2022.

KERBER, A. B. M. D. L. F. I. A INFLUÊNCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA: Unisul, Florianópolis, 2005. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/20195/1/TCC%20finalizado%20Anna%20e%20Isa.pdf. Acesso em: 27/04/2022.

MÜLLER, Lilian. CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA ANOREXIA NERVOSA. Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, dez./2005. Disponível em https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/4971/TCC%20Lilian%20Muller.pdf?sequence=1. Acesso em: 21/04/2022.

VEJA. De ruminação a compulsão: os transtornos alimentares que afetam os jovens. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/de-ruminacao-a-compulsao-os-transtornos-alimentares-que-afetam-os-jovens/. Acesso em: 27 abr. 2022.

R7. OMS alerta que cerca de 10% dos jovens brasileiros sofrem de distúrbios alimentares. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/08/2020/oms-alerta-que-cerca-de-10-dos-jovens-brasileiros-sofrem-de-disturbios-alimentares. Acesso em: 3 mai. 2022.

CLAUDINO, J. C. A. A. M. Trantornos Alimentares. Braz. J. Psychiatry, SP, v. 22, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/P6XZkzr5nTjmdVBTYyJVZPD/. Acesso em: 27/04/2022.

TUA SAÚDE. 7 Principais Trantornos Alimentares. Disponível em:  https://www.tuasaude.com/principais-transtornos-alimentares/. Acesso em: 21/04/2022.

Compartilhe este conteúdo:

Um panorama geral sobre transtornos alimentares

Compartilhe este conteúdo:

Quando a comida faz o papel de vilão na vida de uma pessoa, e ela tem uma relação disfuncional com o ato de se alimentar, algo pode estar muito errado. Não sejamos ingênuos de achar que os transtornos alimentares são somente preocupações com comida e peso.  Na maioria das vezes é um panorama muito mais amplo do que isso.

Os transtornos alimentares (TA) fazem parte da categoria dos transtornos psicológicos que são caracterizados por distúrbios graves e persistentes nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções angustiantes associados ao comportamento de comer. São frequentemente associados a preocupações com comida, peso ou forma, ou com ansiedade sobre comer e as consequências de comer certos alimentos. Mas além disso, são condições complexas que começam a partir de uma combinação de fatores comportamentais, emocionais, psicológicos, interpessoais e sociais de longa data.

Os tipos de transtornos alimentares incluem compulsão alimentar periódica, anorexia nervosa, bulimia nervosa, e patologias ligadas como ingestão alimentar restritiva e uso de métodos inadequados para manutenção e perda de peso, além da prática de exercícios físicos de forma compulsiva. Esses comportamentos podem ser conduzidos de maneiras que se assemelham a um vício.

Fonte: encurtador.com.br/myCHW

O comer transtornado (CT) abarca todo tipo de comportamento alimentar disfuncional ou que possa ser conceituado como não saudável, tendo grandes chances de desenvolver um TA, como por exemplo dietas restritivas, uso de medicamentos para o controle de peso, jejum prolongado, utilização de substitutos para refeições como shakes ou suplementos, ingestão muito baixa de alimentos ou outros tipos de comportamentos que têm como objetivo reduzir a quantidade de alimento consumido e o controle de peso de forma problemática. O comer transtornado (disordered eating) pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de TA, visto que ele apresenta particularidades parecidas dos transtornos alimentares, o que muda é a frequência e gravidade dos sintomas, que são diminuídos.

Os transtornos alimentares são condições muito graves que afetam a função física, psicológica e social, e abrangem até 5% da população, na maioria das vezes se desenvolvem na adolescência e na idade adulta jovem (de 12 a 35 anos). Normalmente estão mais relacionados às mulheres, mas todos estes comportamentos podem ocorrer em qualquer idade e afetar qualquer gênero.  Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do número de homens acometidos, embora a proporção estimada seja de um para cada 10 casos.

Fonte: encurtador.com.br/jmJQX

Geralmente ocorrem em conjunto com outros transtornos, como transtornos de humor e ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e problemas de abuso de álcool e drogas. As evidências sugerem que os genes e a hereditariedade desempenham um papel importante, motivo pelo qual algumas pessoas correm maior risco de apresentar em algum momento da vida um transtorno alimentar, mas esses distúrbios também podem afetar aqueles sem histórico familiar da doença. Pessoas que sofrem de uma dessas condições costumam usar a comida na tentativa de compensar sentimentos e emoções que, de outra forma, podem parecer esmagadores. Para alguns, fazer dieta, compulsão e purgação podem começar como uma maneira de lidar com emoções dolorosas e se sentir no controle de suas vidas. Mas, ao passar do tempo, esses comportamentos prejudicarão a saúde física e emocional deste indivíduo, sua autoestima e o senso de competência e controle.

A literatura traz algumas características de personalidade que podem ser percebidas nas pessoas que possuem algum TA. Estudos apontam que eles podem vir em forma de uma preocupação em excesso com a aprovação social, alterações na sua percepção corporal, tentativa de se encaixar nas expectativas dos pais, sentimento de vazio e sintomas depressivos. A hipervalorizarão da magreza na atualidade pode contribuir para sentimentos de depressão, culpa, raiva, estresse e insegurança nas pessoas menos confiantes que se percebem longe de um padrão socialmente valorizado do corpo ideal.

O DSM-5 traz como sinais e sintomas da anorexia nervosa por exemplo alguns critérios como a recusa em manter o peso corporal saudável, medo intenso do ganho de peso ou de se tornar obeso, ainda que esteja abaixo do peso, distorção na forma de perceber o corpo e o peso, ou negação da seriedade da atual perda de peso. Em mulheres, consideram-se como critério diagnóstico a ausência de menstruação e restrições alimentares com um padrão alimentar atípico e extrema perda de peso, induzida e mantida a todo custo, além de um medo intenso de engordar. Já para a Bulimia Nervosa incluem episódio de compulsão alimentar seguido de comportamentos compensatórios (episódio bulímico). Desse modo, a preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduz a uma alternância entre uma ingestão excessiva de alimentos e vômitos autoinduzidos, ou até uso de métodos purgativos, como estratégias compensatórias para o grande volume de alimentos ingeridos (Associação Americana de Psiquiatria, 2003).

Fonte: encurtador.com.br/fxIMX

Como os transtornos alimentares têm causas multifatoriais, e levando em consideração a complexidade dos transtornos, tanto no início dos sintomas como na manutenção do quadro como um todo, o tratamento dos TA deve envolver uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionista, endocrinologista, psicólogo e psiquiatra. O tratamento deve abordar complicações psicológicas, comportamentais, nutricionais e outras complicações médicas. A ambivalência em relação ao tratamento, a negação de um problema com a alimentação e o peso ou a ansiedade sobre a mudança dos padrões alimentares não são incomuns, mas com técnicas comportamentais o paciente pode começar a perceber algumas mudanças, como maior controle da ansiedade, diminuição dos sintomas, maior auto controle, diminuição do sentimento de culpa, desenvolvimento de estratégias para lidar com as crises, melhora da autoestima, equilíbrio do peso e a mudança na relação com o ato de comer e com o corpo, deixando de enxergar a alimentação como vilã e fazendo as pazes com o comportamento de comer.

O tratamento deve ter como objetivo restaurar a nutrição adequada do paciente, e a compulsão e o exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

REFERÊNCIAS

Comer transtornado e o transtorno de compulsão alimentar e as abordagens da nutrição comportamental. Revista Interciência, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Cxfh6QpdC9cM57xLsQZjFfv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 04/04/2022.

Aconselhamento em saúde: fatores terapêuticos em grupo de apoio psicológico para transtornos alimentares. Estudos de Psicologia, 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/302-Texto%20do%20artigo-1229-1-10-20210713.pdf. Acesso em 05/04/2022.

Compartilhe este conteúdo:

O “Encanto” das relações transgeracionais na formação das crenças

Compartilhe este conteúdo:

Encanto, filme da Walt Disney Animation Studios, lançado em dezembro de 2021, literalmente “encantou” o público e está prestes a concorrer ao Oscar de 2022 na categoria de Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora.

O filme conta uma história extraordinária sobre uma família que possui poderes únicos, e vivem nas montanhas da Colômbia em uma casa mágica.

A história e a construção dessa narrativa iniciam quando a jovem Alma Madrigal foge com seu marido e seus filhos trigêmeos, Julieta, Pepa e Bruno por causa de um conflito armado, e o marido acaba morrendo tentando proteger eles e outras pessoas da vila. Alma consegue salvar seus filhos, e a vela que ela estava segurando adquire poderes mágicos – um “milagre” – e acaba derrotando seus perseguidores. Depois disso eles se refugiam nas montanhas, e formam uma comunidade ali.

 Cada membro da família em um dado momento da vida é contemplado com um dom único, com habilidades sobre-humanas, e com esses dons eles servem esta comunidade, todos com excessão de Mirabel, a filha mais velha de Julieta, que é a protagosnista calorosa e espirituosa do filme.

Desde o início do filme, se pode perceber na fala da Mirabel um pouco da dinâmica desta família. A avó trata ela de forma diferente dos outros, ela é vulnerável ao desprezo desta família, que a exclui em vários momentos por ela não ter recebido um presente (por razões desconhecidas). A própria existência de Mirabel é vista como prejudicial à família. Espera-se que ela permaneça em um canto, fora de vista. Ela é deixada de fora dos retratos de família e menosprezada.

Fonte: encurtador.com.br/nxCRX

A postura da avó é de muita arrogância, é autoritária, impondo e centralizando o seu poder. Durante o enredo percebemos sua rigidez e agressividade, inclusive responsabilizando a neta da possível destruição da família, após uma previsão feita por seu filho Bruno, que tem uma visão que ameaça a morada mágica da família e, após isso ele se retira para um exílio para proteger ela e a si mesmo, bem como sua família, pois a matriarca Madrigal não tolera rachaduras em suas fundações.

Dentro da psicologia chamamos isso de ambiente invalidante, onde por mais que a família pode ser a coisa mais importante para um indivíduo,  ainda assim pode ser impregnada de toxicidade e ser motivo de adoecimento psíquico. No enredo, por exemplo, a sensação dela de não fazer parte daquela família, de não conseguir corresponder às expectativas da matriarca, o peso de tudo isso, somados ao medo e à culpa impactam muito Maribel. E neste olhar psicológico, podemos perceber a autenticidade emocional da protagonista.

Ao contrário do que muitos pensam, sentir-se bem ou feliz o tempo todo não é uma receita para o bem-estar, como descobriram os pesquisadores da emoção.

Pessoas com maior flexibilidade de experimentar emoções positivas e negativas em seu ambiente apropriado mostram maior capacidade de resiliência do que pessoas com menos flexibilidade. Embora Mirabel abra o filme com uma introdução otimista dos poderes da família, desviando as perguntas das crianças da vila sobre o dom dela, e mesmo que durante a cerimônia milagrosa de seu primo mais novo ela diz para si mesma: “Não fique chateada ou com raiva. “Não se sinta arrependida ou triste.” “E eu estou bem, estou bem demais; mas me sinto deixada pra trás, não dá mais…, e mais pra frente, “eu não estou bem”, ela continua expressando sua frustração por não ter um dom mágico e estar cansada de “esperar por um milagre”.

Fonte: encurtador.com.br/fpzDE

Talvez seja exatamente porque ela não está completamente emaranhada na família que ela adquire a capacidade de ver as coisas como elas são, não como elas idealmente deveriam ser. Assim, só ela pode ver as rachaduras na casa da família muito antes de qualquer outra pessoa (exceto o tio Bruno). A avó acha suas preocupações ameaçadoras e a repreende fortemente, dizendo que ela está imaginando coisas, ou pior, causando a destruição da família.

“Honrar o milagre” era a coisa mais importante para esta avó. Para ela, o valor desta família esta intimamente atralado ao milagre, desta forma percebemos as crenças e o funcionamento dessa família, a tradição, no que eles acreditam, e o que fala mais alto. Eles deveriam manter esses dons a qualquer custo (inclusive ao custo da saúde psicológica dos familiares).

Luíza, por exemplo, se mostra muito ansiosa, tendo que aguentar um peso que ela já não sente que tem forças para suportar. Ela não sabia dizer não, assumia a responsabilidade de ajudar e satisfazer as expectativas de todos. Izabela também, por ter que ser perfeita, fazer tudo certinho, manter seu padrão de beleza, e o custo desta autoimagem. Mas o dom estava acima de tudo, da liberdade e das necessidades dos membros dessa família. A avó se mostra completamente decepcionada com Mirabel, e fica claro como ela não estava disponível para validar as emoções dos seus filhos e netos.

Nenhum deles tinha liberdade de escolha, e nem abertura para falar como se sentiam em relação ao dom recebido, e o que ele representava na sua vida.

Vai se percebendo os inúmeros sofrimentos e prejuízos emocionais, inclusive na formação nas crenças nucleares de todos eles. A forma como o adulto se relaciona com a criança é internalizado pra ela, essa percepção do mundo a criança aprende na relação estabelecida com a família. Onde tem aceitação, amor, liberdade, ela começa a perceber o mundo a partir dessa relação, e da mesma forma quando existe uma relação disfuncional, autoritária, rigorosa, exigente e rígida vai trazer a criação de crenças disfuncionais que acompanham o indivíduo ao longo de toda a vida.

Segundo a Terapia Cognitivo Comportamental, as crenças nucleares são formadas desde a infância, se solidificam e se fortalecem ao longo da vida. Elas representam o nível cognitivo mais profundo, são ideias absolutistas e rígidas, enraizadas e cristalizadas, e formam como é chamada – a tríade cognitiva, que nada mais é do que o jeito de se perceber como pessoa, perceber os outros e enxergar o mundo.

Um terapeuta da TCC consegue fornecer ferramentas suficientes para colaborar com a mudança do sistema de crenças distorcidas do paciente, para assim, permitir que o sujeito que sofre com a visão irreal de si, dos outros e do mundo consiga fazer uma reestruturação cognitiva e adquirir uma flexibilidade psicológica, conseguindo modificar sua percepção, sua forma de se sentir e de se comportar para melhor, proporcionando à pessoa uma vida mais realista, adaptativa e leve.

O filme consegue captar esse belo encontro entre as gerações, cheio de dor e tristeza, mas também de esperança, nesta dualidade da família.

No final, a avó Alma encontra Mirabel chorando no rio onde seu marido Pedro morreu, e finalmente assume a responsabilidade por colocar muita pressão sobre a família e admite que esqueceu que seu verdadeiro presente não eram seus poderes e milagres, mas sim a própria família. Seu modo rígido de conduzir a família se tornou disfuncional, e ela então flexibilizou esse modo de funcionamento para haver a reconciliação entre elas.

Na conclusão do filme, Mirabel não recebe poderes em forma de magia, mas ela recebe seu lugar na família e, por sua vez, descobre como a geração de sua mãe e a dela carregavam o peso de seus poderes. Seu dom especial é o amor e seu controle sobre o grande coração da família. Assim como a casa foi sendo construída ao redor deles, os Madrigals se reconstroem como uma família que pode ser inteira e estável. Eles ganham uma nova base, uma fundação que lhes permitirá ser quem eles querem ser, com dons ou sem dons. Eles são mais fortes do que eram no início, tudo graças à capacidade de Mirabel de ser vulnerável. A beleza e o amor que vem das histórias das famílias, as pressões implacáveis e a tristeza muitas vezes produzida deste contexto familiar, é um convite a olharmos mais de perto, de entender a história e a origem das tradições. Podemos conhecer os pais e familiares que enterraram seus traumas em nós e aprender com eles, assim como Maribel fez quando perdoou a avó. Podemos tentar enxergar além do sofrimento transgeracional, esta bagagem trazida pelos nossos antepassados, buscando tirar o melhor proveito dessas experiências, tanto boas como ruins, e aprender com elas.

FICHA TÉCNICA

Título original: Encanto

Ano de Produção: 2021

Diretores: Byron Howard, Charise Castro Smith e Jared Bush

Gênero: Animação, Família, Fantasia

Países de Origem: Colômbia e EUA

REFERÊNCIAS

Encanto, Disney, 2021. Disponível em: https://disney.com.br/filmes/encanto. Acesso em 18/03/2022.

Encanto, Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Encanto_(filme). Acesso em 18/03/2022.

O que é um Trauma Transgeracional, A mente é maravilhosa, 2021. Disponível em: https://amenteemaravilhosa.com.br/trauma-transgeracional/. Acesso em 18/03/2022.

Saiba o que são crenças e como trabalhá-las na TCC, CETCC, 2020. Disponível em: encurtador.com.br/fuF14. Acesso em 21/03/2022.

Compartilhe este conteúdo: