Ocorreu no dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, que contou com uma mesa redonda para a abertura do evento
No dia 25 de Maio (25/05) ocorreu o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica no CEULP/ULBRA. O evento, que durou o dia todo, contou com uma mesa redonda, oficinas, apresentação cultural e uma palestra de encerramento. O simpósio teve como pauta os diversos aspectos da avaliação psicológica nos âmbitos da prática profissional da Psicologia.
Como abertura do evento, foi realizada uma mesa redonda às 09h30. Essa mesa redonda contou com as psicólogas convidadas: Keila Barros Moreira, Ana Beatriz Dupré Silva, e com Ester Borges de Lima Dias como representante da Psicotestes, apoiadora do evento. A mediadora foi Ruth do Prado Cabral, docente de Psicologia da CEULP/ULBRA. O foco da mesa redonda foram as diversas técnicas e métodos utilizados na avaliação psicológica, e também como ela se dá na prática de cada uma das convidadas.
No início da mesa redonda, logo depois da apresentação de cada uma das convidadas, a psicóloga Ana Beatriz Dupré abriu levantando a Resolução 09/2018, que foi estabelecida pelo Conselho Federal de Psicologia como as diretrizes para a Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos.
Foram levantadas por Ana Beatriz Dupré também questões sociais como o fato de o psicólogo está como alguém que sempre está sendo avaliado socialmente, por ser uma pessoa que “sempre avalia”. A avaliação é o ponto de partida para as intervenções, e não a ‘chegada’, e não há a obrigatoriedade de entregar um laudo que possua um diagnóstico com DSM-V e CID-10. Ana Beatriz também frisa que é necessário focar no que é demandado, e não no que você vê além disso, por conta de isso gerar muitas ramificações dentro do processo de avaliação psicológica.
Fonte: Acervo da Autora
A psicóloga Keila Barros Moreira complementou a fala da psicóloga Ana Beatriz, levantando também questões da complexidade do percurso histórico. Existe algo de fundamental em entender a história que trouxe a sociedade ao momento presente, e os impactos que esses percursos geram nos avaliandos. Ela também levantou os questionamentos sobre como o psicólogo atua em relação aos fracassos escolares e as diferenças individuais, pois existem vieses diferentes. O psicólogo atua em uma forma de rotular e excluir, descontextualizar, ou de inclusão e compreensão? Tal contextualização é algo importante na formatização da avaliação.
Keila levantou também a necessidade de se trabalhar pela Avaliação Terapêutica, proposta por Stephen Finn, Constance Fischer, e colaboradores. Nessa proposta dos autores, é feita uma avaliação psicológica colaborativa entre o avaliando e o avaliador, no qual o teste psicológico é usado como centro de uma intervenção terapêutica de um tempo limitado, de uma forma que os testes servem para dar luz e incentivar o processo de melhora e/ou cura. Outra questão questionada por Keila Barros é a necessidade de se entender as diferenças nas vivências pessoais dos avaliandos, lembrando a todos os que assistiam a mesa redonda de eventos como a Apartheid, a supremacia branca, questões históricas e de gênero que trazem diferenças nas lentes das quais a pessoa que é avaliada vive, e os percursos feitos. Existe a necessidade na avaliação de enfatizar as potencialidades do avaliando, e não as dificuldades.
A psicóloga representante da Psicotestes, parceira do evento, trouxe como ponto importante a evolução do processo de avaliação psicológica por conta da possibilidade de avaliação e testagem de forma online, situação que foi necessária durante a pandemia e o isolamento social. A pandemia de COVID-19 tirou o psicólogo de sua zona de conforto, colocando-o para criar e inovar. Também tem a necessidade de atenção às orientações da APA (American Psychological Association) para a aplicação de testes.
A mesa redonda teve encerramento com perguntas por parte da plateia, que perguntaram sobre a adaptação para a modalidade online, assim como questões políticas.
Fonte: Acervo da Autora
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(En)Cena entrevista a psicóloga Keila Barros Moreira
No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a psicóloga Keila Barros Moreira
O 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica contará com uma mesa redonda como abertura do evento, tendo como convidadas as psicólogas Ana Beatriz Dupré Silva, Keila Barros Moreira, e Ester Borges de Lima Dias. A psicóloga responsável pela mediação será Ruth Prado Cabral como mediadora. O tema a ser abordado é “Métodos e Técnicas da Avaliação Psicológica”.
Através da estagiária Giovanna Gomes, foi feita uma entrevista para o (En)Cena com a psicóloga Keila Barros Moreira, psicóloga que será uma das três convidadas a participarem da mesa redonda do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. Como uma forma de aproximar os inscritos dos convidados, a psicóloga respondeu algumas perguntas do (En)Cena.
Ao ser perguntada sobre a sua área e tempo de atuação, a psicóloga respondeu:
Atuo na clínica desde 2014 em consultório próprio, percurso que se materializou em 2019 na criação da – Nova Instituto de Psicologia, onde além de mim atendem mais 6 psicólogos.
Sou Especialista em Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais e mestranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Saúde da UFT, onde estou pesquisando métodos educativos sobre luto para trabalhar transgeracionalmente com os idosos da Universidades da Maturidade – UMA e seus familiares.
Fonte: encurtador.com.br/fkqKP
Ao falar sobre como é a caracterização da avaliação psicológica no país, a psicóloga fala sobre a necessidade da Psicologia de superar o paradigma construído na história da Psicologia de rotular, diagnosticar, adequar, ajustar as pessoas em um perfil ou em perfis específicos.
Eu vejo que em nível de Brasil ainda precisamos superar o paradigma construído na história da Psicologia de rotular, diagnosticar, adequar, ajustar as pessoas em um perfil ou em perfis específicos. É uma luta histórica de a psicologia deixar de atuar nesse sentido e atuar respeitando as singularidades humanas e as diversas formas de manifestar tais singularidades.
Em nível de Estado, atuei como conselheira do Conselho Regional de Psicologia da 23ª Região – Tocantins, no triênio 2016 a 2019. Estive como presidente da COF – Comissão de Orientação e Fiscalização em parte desse período. Estive como membro da Comissão de Psicologia Clínica do CRP/23 de janeiro/2020 a fevereiro/2022.
Enquanto conselheira, além de Palmas, visitei várias cidades do Tocantins, orientando e fiscalizando os profissionais. O que víamos com maior frequência, era a falta de conhecimento dos psicólogos sobre o processo de avaliação, o que acabava incorrendo em erros e faltas éticas.
É responsabilidade do profissional se qualificar, buscar conhecimentos e aceitar somente serviços para os quais esteja apto para realizar com rigor técnico e ético como prevê nosso Código de Ética.
Os CRP’s também devem fazer o que lhes cabe, orientar e fiscalizar. Porém, na prática, os Conselhos não têm ‘pernas’ para fazer o que deveriam.
O número de profissionais só tem aumentado e os Conselhos atuam com uma equipe muitas vezes reduzida e com pouca estrutura para o tamanho das demandas, e apesar da boa vontade e dedicação dos conselheiros e equipe não dão conta de atender tudo o que deveriam.
Percebo que o CFP tem oferecido espaços de construção conjunta com os CRP’s na atualização das orientações à categoria. Eu mesmo participei desse processo de atualização da resolução que orienta a confecção dos documentos emitidos pelo psicólogo, incluindo os oriundos de avaliação psicológica, infelizmente esse momento ocorreu com pouca adesão da categoria, não só no Tocantins, mas em todo o Brasil. A resolução citada, é a 06 de 2019, que foi disponibilizada inclusive comentada, no intuito de fazer com que fosse acessível para o maior número de profissionais.
Eventos como o que irá acontecer têm um importante papel, de criar espaços de diálogos e trocas que possibilitem uma formação crítica, técnica e ética desses profissionais.
Fonte: encurtador.com.br/dwNOY
Ao ser perguntada sobre como é realizada a avaliação psicológica na prática de trabalho atual dela. Keila Barros aponta a necessidade de uma postura curiosa e provocativa, muito retratada dentro da Psicologia Sistêmica.
Para mim, o primeiro passo, a partir de uma postura curiosa, é buscar entender a demanda e provocar o demandante sobre os motivos que a(o) trouxeram para a avaliação psicológica. Não é incomum perceber que a demanda é externa e que não é o mais urgente no momento. Por exemplo, alguém que está sofrendo por não se enquadrar nas demandas escolares, e o nível de sofrimento se sobrepõe à necessidade do processo avaliativo. Talvez a situação exija outras formas de atuar, como a psicoterapia, orientação aos pais. Alguns questionamentos devem ser feitos inicialmente, como por exemplo: Porque buscaram a avaliação? O que significa a avaliação? O que buscam avaliar? Como está o contexto desse indivíduo? O contexto tem influenciado na demanda? Avaliação é uma necessidade de quem? Quais são as expectativas do processo avaliativo? Como se sentem com o que escutam de si e do outro sobre esse processo?
Muitas vezes na sociedade competitiva e acelerada que vivemos, como pouco ou nenhum tempo de viver as emoções, os ciclos e processos, com o intuito de uma resposta/solução rápidas, buscamos diagnosticar comportamentos humanos e esperados em processos de mudanças como, por exemplo, a transição da infância para a adolescência, mudança de cidade e trabalho, separação, lutos…
O que estou tentando dizer, é que precisamos de um olhar crítico como psicólogos, para não aderir mais ao lugar de avaliar e ajustar as pessoas, em prol da padronização ou de um sistema educacional ou político. Precisamos normalizar as nossas humanidades, que nos coloca como seres que tem qualidades, limites, vulnerabilidades e necessidades, que não vão saber ou dar conta SEMPRE, é isso não é um defeito ou atestado de incompetência, é nossa humanidade se manifestando, é deveria estar tudo bem.
Quando necessária a avaliação psicológica precisa ser realizada com todos os critérios éticos e técnicos, levando em consideração seu caráter dinâmico e não cristalizado. Deve ser fundamentada na abordagem e pressupostos teóricos do profissional, o documento deve ter uma linguagem acessível, e deve ser construído a partir de um raciocínio que leve em consideração as singularidades, os diversos contextos relacionais e territórios sociais vivenciados pelo sujeito, a nível micro e macro.
Sobre existir algum aspecto da avaliação psicológica da qual ela considera mais importante de ser praticado com habilidade e/ou cautela, a psicóloga responde:
Devemos ser curiosos, atentos, bom ouvintes, com a capacidade de realizar perguntas reflexivas e provocativas, de analisar e contextualizar, de distinguir as pistas do caminho percorrido com o avaliando sem a interferência das hipóteses levantadas pelo demandante e das nossas próprias crenças. Trata-se de um processo imprevisível, inédito e surpreendente!
Precisamos também ter questionamentos e críticas com relação ao processo avaliativo, se não, corremos o risco de incorrer nos mesmos erros do passado.
A Avaliação Psicológica como campo do saber tem servido a que? Ou a quem?
Em que medida ainda temos servido aos desejos da normatização/adequação? Os diagnósticos psicológicos têm contribuído com o que ou quem? Qual o impacto dos diagnósticos na vida das pessoas? Um diagnóstico define alguém?
Recentemente houve a tentativa de incluir a velhice como patologia no CID 11, sem contar a patologização de comportamentos infantis e da adolescência, não deveríamos questionar qual tem sido o nosso papel social em tudo isso?
Apesar de ter construído algumas respostas a partir da minha experiência, meu objetivo aqui não é esse, dar respostas… mas sim, provocar reflexões sobre o que temos feito, como temos feito e qual o impacto do que temos feito no outro, mas também em nós.
Fonte: encurtador.com.br/elvG9
Dentro da avaliação psicológica, existe sempre uma divergência entre a utilização ou não de testes. Por conta disso, foi levantada a pergunta entre a relação de vantagem e desvantagem da não utilização de testes, e a psicóloga respondeu:
Não colocaria dessa forma, é algo bem complexo para ser respondido de maneira simples. A partir da identificação de qual é o objetivo da avaliação, da demanda, especificidades do avaliando e contexto, o psicólogo deve se questionar quanto aos métodos mais adequados para seus objetivos. Há uma diversidade de técnicas e instrumentos, entre eles os testes. Os testes cabem em todas as demandas? Penso que esta é uma boa pergunta para começar.
Por exemplo, uma avaliação para laqueadura, se com uma anamnese detalhada a pessoa demonstra ter um planejamento familiar, transmite segurança, tem consciência dos riscos de fazer um procedimento irreversível, eu preciso aplicar um teste para confirmar o que já está claro? Ou os testes são uma forma de quantificar e validar as percepções do psicólogo? Será que eles auxiliam para que os documentos psicológicos sejam mensuráveis e confiáveis?
Existe sempre a expectativa de que a avaliação psicológica deve fornecer respostas ou hipóteses de uma forma diretiva. Em relação a isso, Keila Barros responde e até mesmo cita autores contemporâneos como uma forma de reflexão e contribuição sobre o assunto.
Eu penso que a psicóloga(o) deve estar muito atenta, não só sobre quais são os objetivos e percurso da avaliação psicológica, mas também sobre a complexidade das pistas/respostas. É importante, como já disse, deixar claro o caráter não cristalizado do processo avaliativo. A avaliação psicológica, trata-se de um retrato do momento presente do indivíduo. Então ela não define, ela não restringe àquela pessoa há um jeito de ser e viver. Se isso não ficar claro para o profissional, infelizmente para o demandante ficará menos ainda.
Considero importante também, enfatizar os aspectos positivos do indivíduo, e principalmente, apresentar os aspectos tidos como ‘negativos’ como parte da constituição desse sujeito. Não é algo que deva ser negado ou excluído de nossa completude, ou do qual deveríamos nos envergonhar, faz parte de nosso universo interior. Mesmo que desejemos mudar comportamentos, não deveríamos vê-los como pecados capitais. Eu sei que essa tem sido uma construção social, buscar a perfeição, atender estereótipos/padrões pré-definidos etc. precisamos trabalhar arduamente para transpor esse paradigma de uma vez por todas.
Distingo que muitos autores e teorias contemporâneas convergem e contribuem nesse sentido. Maturana (2002), Rosenberg (2006), Aun, Vasconcellos e Coelho (2012), Bauman (2014), Brown (2013), Santos (2019) trazem cada um à sua maneira, reflexões que nos levam à necessidade de acolher como parte de nós nossas vulnerabilidades e sentimentos que embasam comportamentos considerados negativos, que respaldam nossas necessidades, isso nos fortalece, nos liberta das prisões dos estereótipos sociais, nos conecta com nossa essência.
Primeiro porque as nossas multifacetas constituem nossa singularidade humana; segundo, eu só posso mudar em mim, o que reconheço existir; terceiro, é preciso distinguir, se a mudança é algo que escolho/desejo/necessito ou é uma demanda externa que busca me enquadrar em comportamentos padrões? Quarto, eu não me torno alguém defeituoso por ser diferente, por ser quem sou, quando nós acolhemos, somos capazes de mudanças extraordinárias e também como assinala Maturana, de aceitar o outro como genuíno outro na relação.
No final da entrevista, foi feito o seguinte questionamento: Que competências um psicólogo necessita para realizar avaliação psicológica?. Do qual a nossa psicóloga entrevistada respondeu:
Acho que respondi essa na quarta pergunta rsrs! Além de muito do que já foi citado, precisa se identificar com os constructos do processo avaliativo, por favor, não fazer por fazer! Deve aprofundar, se qualificar, buscar conhecimentos que o capacitem para desenvolver um bom trabalho. Como já dito, respeitando os aspectos legais, éticos e técnicos do processo. E principalmente, tendo um olhar curioso e raciocínio crítico do processo avaliativo e de seus impactos no sujeito e sociedade.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
MATURANA, H. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Tradução de José Fernando Campos Fortes. 3ª Reimpressão. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2002.
SANTOS, E. Educação Não Violenta: Como estimular autoestima, autonomia, autodisciplina e resiliência em você e nas crianças. Editora: Paz & Terra, 2019.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 2 ed. São Paulo: Ágora, 2006.
AUN, Juliana Gontijo, VASCONCELOS Maria José Esteves & COELHO Sônia Vieira. Atendimento Sistêmico de famílias e redes sociais: Volume I – Fundamentos Teóricos e Epistemológicos. 3ª edição, Ed. Belo Horizonte: Ophicina da Arte & Prosa, 2012.
BROWN, Brené. A coragem de ser imperfeito. trad. Ana Rita Mendes ; rev. Maria João Amorim. – 1ª ed. – Amadora : Nascente, 2013. – 237, [1] p. ; 24 cm. – Tít. orig.: Daring greatly. – ISBN 978-989-668-199-0
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Dra. Ana Beatriz Dupré é convidada do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica
No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a psicóloga Ana Beatriz Dupré
O 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica contará com uma mesa redonda como abertura do evento, tendo como convidadas as psicólogas Ana Beatriz Dupré Silva e Keila Barros Moreira, e a psicóloga Ruth Prado Cabral como mediadora. O tema a ser abordado é “Métodos e Técnicas da Avaliação Psicológica”.
Através da estagiária Giovanna Gomes, foi feita uma entrevista para o (En)Cena com a psicóloga Ana Beatriz Dupré, psicóloga que será uma das duas convidadas a participarem da mesa redonda do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. Como uma forma de aproximar os inscritos dos convidados, a psicóloga respondeu algumas perguntas do (En)Cena.
Ao ser perguntada sobre a sua área e tempo de atuação, a psicóloga respondeu:
“Sou psicóloga Analista do Comportamento, Acreditada pela ABPMC (012/2018), com Doutorado em Ciências do Comportamento, Mestre em Psicologia, com Formação em Terapia Comportamental e Especialista em Avaliação Psicológica”.
A Psicologia é minha segunda formação; a primeira é Administração de Empresas. Em Psicologia estou formada há 24 anos e tenho atuado em clínica e na docência.”
Ao falar sobre como é a caracterização da avaliação psicológica no país, ela referencia a resolução Nº 9, de 25 de Abril de 2018 publicada pelo Conselho Federal de Psicologia, que diz:
“Art. 1º – Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas.”
Acervo da entrevistada
Ela pontua também:
“A partir destas Diretrizes e de outros documentos publicados pelo CFP, nota-se que a atuação do profissional segue certos critérios que devem ser resguardados, tanto com relação aos procedimentos, quanto com relação aos cuidados com seu preparo para atuação.”
Ao ser perguntada sobre como é realizada a avaliação psicológica na prática de trabalho atual, novamente a psicóloga Ana Beatriz pontua os quesitos que são inerentes a uma avaliação, pois a mesma já tem a definição apresentada em forma de diretrizes:
A Avaliação é uma investigação que parte de uma demanda (e ao final, deve dizer algo sobre essa demanda, dando encaminhamentos, num dos vários tipos de documentos que o profissional de psicologia pode emitir);
Essa investigação vai partir dos estudos que compõem os materiais da Psicologia, os quais o profissional pode pesquisar a qualquer momento mas, espera-se, que já façam parte dos materiais estudados ao longo do tempo pelo profissional, afinal, a formação é contínua e não pode ser negligenciada;
A partir destes pontos o profissional vai levantar algumas hipóteses sobre o que está acontecendo na situação a partir que será avaliada (que não necessariamente será de uma única pessoa), escolhendo a(s) forma(s) como vai levantar as informações necessárias para poder se manifestar;
Essas escolhas vão levar a escolhas como a de se vai ou não usar testes psicológicos ou outros materiais e essas escolhas serão influenciadas por muitas variáveis;
Daí parte-se para o levantamento dos dados, a análise desses dados e, posteriormente a integração desses resultados, a ponto de se poder falar algo daquela demanda, fazendo encaminhamentos.
“Então, em minha prática, de forma geral, sigo esses passos.
Também foi dessa forma que procurei ensinar os discentes que fizeram disciplina comigo desse tema, sempre enfatizando questões éticas, a necessidade de não perder de vista a pessoa em si e se preocupar muito com a produção do documento e sua entrega, que podem gerar um impacto muito grande na vida da pessoa.”
Sobre existir algum aspecto da avaliação psicológica da qual ela considera mais importante de ser praticado com habilidade e/ou cautela, a psicóloga responde:
“Acho que tudo que tentei passar até agora é de suma importância. Mas pensando do lado do profissional que faz a avaliação, acredito que o mais importante é que entenda que o documento que ele produzir vai ter muito impacto e que, por isso, ele precisa fazer tudo com cuidado, responsabilidade e muito estudo.”
Dentro da avaliação psicológica, existe sempre uma divergência entre a utilização ou não de testes. Por conta disso, foi levantada a pergunta entre a relação de vantagem e desvantagem da não utilização de testes, e ela respondeu:
“Não gosto de colocar as coisas nestes termos. Se eu considerar apenas a minha abordagem, a observação da pessoa em várias situações daria conta de responder muito. Mas tudo é importante e são muitas variáveis que interferem nas decisões. Às vezes o profissional gostaria de um teste para avaliar certo aspecto mas não há um disponível para a faixa etária do avaliando, e ele terá que arrumar uma forma para investigar o que está sendo solicitado. Então, o mais importante é o profissional se preocupar em avaliar. Gosto muito da combinação das duas formas, principalmente porque o teste acaba corroborando com o que você observa, dando força para o documento final.”
Existe sempre a expectativa de que a avaliação psicológica deve fornecer respostas ou hipóteses de uma forma diretiva. Em relação a isso, Ana Beatriz responde:
“A ideia é que, ao final do processo, o profissional consiga elementos que descrevam e expliquem o que foi demandado, dando encaminhamentos para ajudar na situação. A avaliação pode ser um momento para uma linha de base, ou um momento inicial antes de intervenção, ou pode ser um momento de acompanhamento de intervenções que estão ocorrendo. Em cada um desses casos, ao final, o profissional produzirá documentos diferentes.”
No final da entrevista, foi feito o seguinte questionamento: Que competências um psicólogo necessita para realizar avaliação psicológica?. Do qual a nossa psicóloga entrevistada respondeu:
“Ser ético, ser bom ouvinte, ser bom observador, ser estudioso, ser criativo, escrever bem, pois produzirá muitos documentos.”
A música lançada em 2007 traz uma reflexão sobre o ‘mal envelhecimento’ das músicas e o uso de estereótipos em letras que são cantadas até hoje
‘Ur So Gay’ (tradução literal: você é tão gay) é uma música que foi lançada em Novembro de 2007, escrita por Katy Perry e Greg Wells, fazendo parte do álbum ‘One of the Boys’. Lançada com o intuito de debochar do seu ex-namorado, que de acordo com a cantora “deveria ser gay”.
No livro Homossexualismo Masculino, de Jorge Jaime, da década de 1950, o autor nomeava gays de “doentes sexuais” e de “doentes infelizes” (GREGORI, 1998). Em contrapartida, olhando do ponto de vista da Psicologia, Freud, em 1903, já afirmava que a homossexualidade não deveria ser tratada como doença (VIEIRA, 2009). Vale também apontar que o termo “homossexualismo” também não está mais em uso pois o sufixo -ismo se refere a doenças, coisa que a sexualidade não é.
De acordo com o colocado por Freud em relação a homossexualidade ser caracterizada como uma doença, o teórico coloca que a homossexualidade não é algo a ser tratado nos tribunais. (…). Eu tenho a firme convicção de que os homossexuais não devem ser tratados como doentes, pois uma tal orientação não é uma doença. Isto nos obrigaria a qualificar como doentes um grande número de pensadores que admiramos justamente em razão de sua saúde mental (…). Os homossexuais não são pessoas doentes (Freud, 1903 apud Menahen, 2003, p. 14).
Originalmente, a música não tem a intenção de ferir a comunidade LGBT+. De acordo com diversas entrevistas da cantora dadas na época, a intenção dela era apenas apontar as falhas de caráter de um homem hétero do qual ela se relacionou, homem do qual o problema dele é que ele tinha “muito em comum” com os homens gays. Vale lembrar que só porque a pessoa não tem intenção de ferir outros com o que ela trás a frente, com o que ela diz, não quer dizer que isso realmente irá acontecer.
“(Your mind may refuse to believe)
I hope you hang yourself with your H&M scarf
While jacking off listening to Mozart
You bitch and moan about LA
Wishing you were in the rain reading Hemingway”
Já no primeiro verso da música, os ouvintes conseguem ouvir uma agressividade em suas palavras. De tradução literal, o trecho acima diz: (A sua mente pode se recusar a acreditar) / Eu espero que você se enforque com a sua echarpe da H&M / Enquanto se masturba ouvindo Mozart / Você geme e reclama de Los Angeles / Desejando que estivesse na chuva lendo Hemingway.
Permeada de estereótipos da figura gay, a música trata o homem (o personagem da música), como um homem que não pode ser outra coisa além de gay por conta de seus gostos de moda e de consumo de conteúdo. A cantora, com tanta raiva do personagem, chega até mesmo a desejar com um tom de ‘bom humor’ a morte dele.
“You don’t eat meat and drive electrical cars
You’re so indie rock, it’s almost an art
You need SPF forty-five
Just to stay alive”
Nesse outro verso da música, Katy Perry canta: Você não come carne e dirige carros elétricos / Você é tão indie rock, que é quase uma arte / Você precisa de SPF quarenta e cinco / Só pra continuar vivo. Em uma série de micro agressões aos gostos do personagem, as letras atingem homens héteros e gays.
Existem uma série de ‘regras’ que ditam o que está dentro do ser homossexual ou não. “1. Todo gay tem dentro de si uma mulher acorrentada; 2. Todo homossexual é um viciado em sexo, um sexófilo insaciável; 3. Homossexualidade seria sinônimo decópula anal; 4. Todos os gays são potencialmente perigosos molestadores de crianças e; 5. Os homossexuais são transmissores da peste gay” (MOTT, 2003, p.33). Em 2007, quando a música foi lançada, essas regras sociais ainda eram vigentes.
O homem, hétero, dado como macho alfa, não pode ter escolhas que remetem a uma seletividade. O não comer carne, não dirigir carros que emitam uma maior poluição, cuidar da pele, com toda a certeza não passam nessa peneira que dita o que é “macho”. Porque o homem tem que ser, como na música de João Carreiro e Capataz, Bruto, Rústico e Sistemático.
Nas suas letras, a artista faz um viés errado entre papéis de gênero e sexualidade. Tudo que é associado ao gênero e as expectativas esperadas da pessoa de tal gênero, se tratam de papéis de gênero. As culturas tendem a ter diferentes perspectivas sobre tais expectativas.
Como explicado por Grossi (2000) “gênero é um conceito que remete à construção cultural coletiva dos atributos de masculinidade e feminilidade (que nomeamos de papéis sexuais); que identidade de gênero é uma categoria pertinente para pensar o lugar do indivíduo no interior de uma cultura determinada e que sexualidade é um conceito contemporâneo para se referir ao campo das práticas e sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos.”
E por fim, para encerrar a música, a cantora Katy Perry canta de uma forma um pouco indignada:
You’re so gay and you don’t even like boys
No, you don’t even like
No, you don’t even like
No, you don’t even like penis!
Com tradução literal: Você é tão gay, e você nem gosta de homens / Não, você nem gosta / Não, você nem gosta / Não, você nem gosta de pinto! E assim, finalizando uma música que agride tanto homens héteros como homossexuais.
REFERÊNCIAS
Are Katy Perry’s lyrics homophobic? Disponível em: <https://themusicalhype.com/katy-perry-ur-so-gay-controversial-tunes/>. Acesso em: 18 de mar. de 2022.
CAMPO, Amanda de Andrade. ORMANEZE, Fabiano. A “Cura Gay” em revista: O estereótipo sobre homossexual nos discursos da Veja e Junior. Caderno de Letras, nº 32, p. 11-37. Set-Dez – 2018.
Freud e a Homossexualidade. Disponível em: <https://ralasfer.medium.com/freud-e-a-homossexualidade-105540482ada>. Acesso em 11 de mai. de 2022.
GROSSI, M. P.. Identidade de Gênero e sexualidade. Estudos de Gênero – Cadernos de Area 9, Goiânia, v.9, p.29-46, 2000.
Katy Perry, Ur So Gay | Controversial Tunes. Disponível em: <https://themusicalhype.com/katy-perry-ur-so-gay-controversial-tunes/>. Acesso em: 18 de mar. de 2022.
OLIVEIRA, Rubenilda Silva. SIMÕES, Maria do Perpétuo Socorro Galvão. Do Sodomita ao Homoafetivo: Estereótipos Gays na Literatura. Dossiê Literatura e cultura cabo-verdianas, v.30, , p.145-161, jul.-dez., 2018.
Ur So Gay (song) | The Katy Perry Wiki. Disponível em: <https://katyperry.fandom.com/wiki/Ur_So_Gay_(song)>. Acesso em: 18 de mar. de 2022.
Ur So Gay (Tradução) – Katy Perry. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/katy-perry/1115109/traducao.html>. Acesso em 18 de mar. de 2022.
No dia 25 de Maio (25/05) ocorrerá o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. O evento, que irá durar o dia todo, contará com uma mesa redonda, oficinas, apresentação cultural e uma palestra de encerramento. O simpósio terá como pauta os diversos aspectos da avaliação psicológica, como oficinas sobre a avaliação psicológica para manuseio de armas de fogo, pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica, e incluindo também oficinas que englobam os aspectos das avaliações neuropsicológicas em diferentes contextos.
O evento irá ocorrer presencialmente, no prédio do CEULP/ULBRA. Como realizadores do projeto, serão contadas as instituições: Serviço Escola de Psicologia (SEPSI), Laboratório de Medidas e Avaliação Psicológica (LAMAP), Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), Educação Continuada, e o curso de Psicologia do CEULP/ULBRA. Além dessas instituições, será contado também o apoio do Conselho Regional de Psicologia do Tocantins, e da Psicotestes, loja que trabalha com a venda de materiais e testes psicológicos e neuropsicológicos.
Guarde essa data na sua agenda e venha aproveitar esse dia conosco! Logo serão lançadas mais informações, fique ligado no instagram do (En)cena (@encenasaudemental) e no instagram da Psicologia do CEULP/ULBRA (@psicologiaceulp) para saber mais sobre o cronograma do evento e as oficinas.
Para informações adicionais, entre em contato com o SEPSI pelo número: (63)3223-2016.
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O uso de frases em inglês por BTS como um reforço positivo de amor próprio
Desde 2013 o grupo de k-pop vem levantando reflexões de protesto e usando frases de afirmação positiva em inglês para o incentivo da saúde mental e do amor próprio.
O nome “BTS” não soa estranho para a maior parte dos fãs de música. O BTS é o grupo coreano que atualmente está na frente do movimento de popularidade da música coreana, e que já está na indústria faz nove anos. Lançado em 2013, o grupo é composto por sete membros que variam de 29 a 24 anos de idade.
Da mesma forma que o nome “BTS” não é estranho para os que acompanham música, a psicologia não é completamente desconhecida pelos artistas. Em 2019 o grupo lançou a trilogia “MAP OF THE SOUL”, que tem sua base inspirada nas teorias propostas por Carl Jung, mais especificamente nas descritas no livro “Mapa da Alma” lançado em 1998, por Murray Stein. Muito além do título do álbum, as letras e os títulos das músicas se aprofundam muito nos conceitos de Jung, compilados por Stein.
Persona, shadow (sombra), ego, não são só o nome de arquétipos e termos trabalhados por Carl Jung mas também se tornaram a tríade que segura o conceito de cada um dos álbuns. Nas músicas, intituladas persona, shadow, e ego respectivamente, são expostos cada um desses conceitos em sua forma artística e clara para um público que, grande parte, só aprendeu sobre a psicologia analítica depois de ouvir os álbuns, se interessar no assunto, e ler o livro de Murray Stein.
Mas além do aprofundamento do BTS nos estudos de Carl Jung, o BTS já tem proposto histórias que falam muito sobre a saúde mental, sobre estender a mão uns para os outros. Em uma de suas músicas mais famosas, eles cantam:
“Ay, you never walk alone”
You never walk alone – BTS
A tradução literal, ay você nunca caminha sozinhx, se tornou fonte de inspiração para diversos fãs e ouvintes, ainda mais pelas palavras usadas nas músicas sendo em inglês.
De acordo com o site Statista, em 2021 foi constatado que 1.35 bilhões de pessoas são fluentes em inglês. Esse dado conta tanto com as pessoas que usam inglês como língua nativa, como os que usam como uma segunda língua. Se comparado com o coreano, dos quais não há estatística oficial em relação aos que usam como segunda língua, apenas 77.3 milhões usam essa língua como a primeira língua. Entre o uso do inglês versus o coreano para trazer frases de impacto positivo, a escolha acaba sendo óbvia.
“You’ve shown me I have reasons I should love myself” Answer: Love Myself – BTS
A tradução literal do trecho citado acima, você me mostrou que eu tenho motivos, eu devo amar a mim mesmx, é de uma música extremamente significativa que fala sobre amor próprio. Com o título que pode ser traduzido como resposta: amar eu mesmx, BTS narra no decorrer da história a luta para atingir o amor próprio, sobre o fato de que os padrões que exigimos dos outros, são na verdade mais duros conosco mesmos.
Dentre as existentes abordagens da Psicologia, a análise do comportamento explora os tipos de comportamento, além de reforçadores que ajudam na manutenção desses comportamentos.
Skinner (1957/1978) define que comportamentos verbais: a) são comportamentos reforçados mediacionalmente; b) devem ter pelo menos um falante e um ouvinte (episódio verbal); c) falante e ouvinte devem pertencer à mesma comunidade verbal, ou seja, as práticas de reforçamento que controlam seus comportamentos devem ser similares. Nas músicas, nós temos falantes e ouvintes, que de certa forma não pertencem à mesma comunidade verbal mas que podem pertencer rapidamente, graças a ajuda de tradutores. Os comportamentos verbais estão ligados ao processo de correspondência verbal.
A correspondência verbal, por sua vez, de acordo com Medeiros (2012), os estudos em correspondência verbal investigam diferentes tipos de cadeias que variam conforme a ordem de emissão dos comportamentos verbais e não verbais. As principais cadeias são: a cadeia fazer-dizer; a cadeia dizer-fazer; e por último, a cadeia dizer-fazer-dizer (Beckert, 2005; Weschler & Amaral, 2009).
Relacionando ambos os fatos teóricos e práticos que ocorrem ao se cantar uma música, as palavras em inglês usadas por BTS, frases de fácil acesso e repetição, causam uma cadeia de dizer-fazer-dizer. Dentre os fãs, há uma clara internalização das falas de amor próprio que por efeito refletem em seus comportamentos. Ao ouvir as músicas repetidas vezes, há um reforçamento positivo pois se seus ídolos estão falando sobre o quão difícil foi, e que finalmente eles podem alcançar o amor próprio, os fãs se sentem validados em sua luta pelo amor próprio e as suas dificuldades de se encaixar.
“I’m the one I should love in this world” Epiphany – BTS (Jin)
O último trecho citado, eu sou a pessoa que eu devo amar neste mundo, faz parte de uma música que descreve uma epifania: eu sou a principal pessoa da minha vida, e por isso eu devo me amar não importa as minhas falhas.
REFERÊNCIAS:
“Answer: Love Myself” by BTS promotes self love. Disponível em: <https://tricolortimes.com/4615/showcase/answer-love-myself-by-bts-promotes-self-love/#:~:text=The%20song%20%E2%80%9CAnswer%3A%20Love%20Myself,who%20are%20learning%20self%20love.>. Acesso em 18 de mar. de 2022.
How BTS taught me to love myself. Disponível em: <https://assembly.malala.org/stories/how-bts-taught-me-to-love-myself>. Acesso em 18 de mar. de 2022.
Jung lovers: BTS delve into psychology on their album: Map Of The Soul. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-47965524>. Acesso em 18 de mar. de 2022.
MEDEIROS, Fabio Hernandes de. Contingências de reforçamento positivo e punição negativa na correspondência verbal. 2012, TCC (graduação) – Curso de Psicologia, Faculdade da Educação e Saúde (FACES). Brasília, 2012. Disponível em: <https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/123456789/2610>. Acesso em 18 de mar. de 2022.
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O sofrimento causado pela sexualização de Britney Spears
Os efeitos da sexualização extrema a qual Britney Spears foi submetida desde os seus dezesseis anos de idade deixaram marcas de traumas e a fizeram viver sob a tutela de seu pai (igualmente abusivo) por treze anos.
Giovanna Gomes
Britney Spears é uma cantora de música pop americana que marcou gerações e se tornou um dos ícones de mulheres e da comunidade LGBT+. Aos dezesseis anos com o seu início de carreira com a música baby, one more time, ela foi exposta à mídia mundial sexista. Infelizmente, o histórico de sofrimento com a misoginia e a sexualização datam muito antes do seu debut na indústria musical. É dito pela mídia e por diversos fãs, que antes de se tornar uma mulher antes de ao menos se tornar uma pessoa.
Quando ela tinha 10 anos de idade, ao participar do programa americano Star Search, o apresentador do programa perguntou para ela se ela possuía um namorado. O apresentador Ed McMahon, de 69 anos, ao ouvir a resposta “não” de Britney, então disse “e quanto a mim, eu não sou mal?”. Assim, assediando uma menina que além de menor de idade, tinha 59 anos a menos do que ele.
O clipe de baby, one more time, foi o início de uma narrativa pública, montada por outros e que forçou Britney a se tornar a personagem principal de objetificação sexual. No vídeo clipe em que Britney tem apenas 16 anos, ela aparece com um uniforme escolar católico, com a camisa sugestivamente amarrada e com o cabelo preso no estilo maria chiquinha por scrunchies rosas. Look que hoje é usado como fantasias de festa, a própria empresa que a gerenciava utilizou desses dispositivos de sexualização para divulgá-la. A chamaram de “North America’s unspoken Lolita”, ou seja, a Lolita norte americana não mencionada.
https://bityli.com/IbVi2M5
Sem a existência de mídias sociais, a imagem da jovem Britney Spears foi vendida como a versão americana de Lolita, por Vladimir Nakobov.
Quem é Lolita? A edição feita pela Editora Alfaguara descreve o livro como: “Polêmico, irônico e tocante, este romance narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador.”. O livro se passa no ponto de vista de Humbert Humbert, que abusa sexualmente de uma menor de idade. Atualmente rotulado como um “romance”, o livro gerou o termo “Lolita”, que serve para rotular mulheres menores de idade no início da puberdade que são vistas como objetos de desejo sexual.
Depois do lançamento de baby, one more time, a cantora foi cada vez mais encurralada como uma figura sexualizada. A construção de sua carreira usando roupas curtas e justas, os conceitos desenvolvidos através dos clipes e de suas aparições públicas, e até mesmo o uso de sua voz em uma tonalidade muito similar a de gemidos foram como dar abertura para homens maiores de idade a verem como um objeto sexual. Aos dezessete anos de idade, ela estampou a capa da edição americana da revista Rolling Stones, usando um sutiã de biquíni e shorts justos de cetim. Em paralelo ao look do qual a artista utilizou, a menção ao quão jovem ela é, é clara e forte na foto de capa: Britney ‘embalando’ um urso de pelúcia dos Teletubbies, mais especificamente Tinky Winky.
https://bityli.com/xvFEzR
Tal exposição não seria aceitável nos dias de hoje, porém em 1999, ano em que haviam pouquíssimas leis que protegessem mulheres e crianças, não havia nada que impedisse a revista e a empresa que a gerenciava de impedir ou simplesmente não expô-la de tal forma. Os conflitos de identidade em relação a Britney começaram a surgir, não pelo seu talento, mas sim pelo seu corpo — de uma menor de idade, em um momento no qual a diziam quem ela deveria ser.
A partir desse momento, a virgindade de Britney se tornou um ponto focal de matérias e histórias relacionadas a ela. Não havia espaço para que ela falasse sobre sua arte sem que os repórteres perguntassem a ela se ela havia feito ou não. Quase atingindo a idade de dezoito anos, diversos homens adultos fizeram contagens regressivas para que ela atingisse a maioridade — fato que também aconteceu com as gêmeas Olsen alguns anos depois. As pessoas ao redor dela, incluindo seus produtores e familiares, incentivaram esse comportamento.
Alguns anos depois, várias performances sexualizadas em premiações de fim de ano depois, o relacionamento de Justin Timberlake e Britney Spears chegou ao fim. E como diversas outras pessoas ao redor de Britney, Justin Timberlake teve sua parte de lucro em cima da sexualização de Britney. Na tour 20/20 em 2002 ele revelou ao mundo que Britney não era, de fato, ainda mais virgem.
Sexualidade, sensualidade e desejo se confirmaram como as principais características da figura de Britney Spears, e ela se tornou nada além disso para o público. Em um processo de identidade e autoconhecimento em frente a um público de milhões que a acompanhavam, Britney que já não era vista como uma pessoa desde os seus dezesseis anos de idade, ficou atrelada à essa personalidade.
Traumas relacionados à performances e ao comportamento das pessoas ao seu redor depois, Britney começou a lutar para ser vista como uma pessoa durante os anos de 2004-2007, o que o público geralmente chama de meltdown era (em português conhecido como era de colapso). Em busca de ter uma família nuclear que não a veria como um objeto de desejo, ela se casou e teve dois filhos. Depois de uma vida toda perdida na persona pública que ela construiu, sem realmente se conhecer e completamente silenciada pelas pessoas ao seu redor, Britney se divorciou do marido e se tornou ‘meme’ pela sua falta de saúde mental. Memes são feitos para serem engraçados, e o público da época se divertiu ao chamá-la de louca da mesma forma que se divertiu ao chamar uma menor de idade de “sexy” e “gostosa”.
Cabeça raspada, com diversas crises psicológicas, Britney já não era mais uma figura sexy, ela havia perdido o seu sex appeal. A Lolita da nação se tornou uma chacota, estampas de camiseta, debochada e criticada. Destruindo carros de paparazzi que a perseguiam, fazendo uso de substâncias, a saúde mental de Britney foi aos poucos sendo consumida.
Um ano depois, entre internações clínicas e psiquiátricas, ela foi colocada sob a tutela de seu pai, Jamie Spears.
O movimento ‘Free Britney’
https://bityli.com/i5BWIB
A tutela mantida pelo pai garantia a ele restrição a todos os aspectos da vida dela, incluindo monetário e também controle sobre o próprio corpo da Britney. Durante essa tutela que durou treze anos, o pai a obrigou até mesmo a fazer uso de métodos contraceptivos para que ela, de hipótese alguma, pudesse ter mais filhos.
Britney já afirmou diversas vezes o seu desejo de ter mais filhos, de construir uma família. Porém esse desejo foi impedido pelo pai através da inserção e manutenção de um DIU contra a vontade de Britney. Jamie Spears dizia que isso era para o bem da saúde mental dela. Além disso, o controle do pai dela sob a sua vida também afetava até mesmo a liberdade da artista de namorar outras pessoas, de quais músicas ela lançava e o que ela vestiria. A tutela se tornou uma força opressiva e controladora na vida dela, Britney Spears até mesmo disse que o tutor tinha “muito, muito controle”.
No julgamento do caso, Britney Spears contou também que foi drogada e forçada a se apresentar em shows contra a sua vontade. Ela não possuía acesso livre ao seu celular e documentos, fazia exames de sangue semanalmente, e até mesmo não poderia ter uma porta no próprio quarto. Caso ela não fizesse os shows, ela seria impedida de ver os filhos e o atual namorado.
O movimento Free Britney surgiu promovido pelos fãs e apoiado pela própria Britney Spears para acabar com a tutela do pai (tutela que atualmente foi passada para o contador John Zabel por um período provisório). Vários artistas, por motivos claros, também apoiaram a hashtag como Khloe Kardashian e Sarah Jessica Parker. O movimento surgiu oficialmente em Abril de 2020, mas tomou força em Junho e Julho de 2020. Nesse período, houveram mais de 100,000 posts na hashtag #FreeBritney no Instagram, e mais de 100 milhões de views nessa mesma hashtag no Tiktok.
Em Fevereiro de 2021 houve também a publicação do documentário Framing Britney Spears (que está disponível na Google Play). O documentário mostra várias falas de pessoas que acompanharam a carreira e a vida de Britney, e também mostra através da visão atual como foi o processo de hipersexualização sofrido por Britney desde os seus dezesseis anos de idade. O documentário serviu para alimentar a chama do movimento Free Britney, e mostrou também ao público que não sabia dos acontecimentos os reais motivos do sofrimento ao qual Britney passou.
É com alegria que se pode dizer que atualmente, ela está livre da tutela de Jamie Spears e que logo, após treze anos de ‘cárcere’, poderá realmente ir de encontro com a sua liberdade.
REFERÊNCIAS
Bodacious Britney Spears on Rolling Stone. Disponível em: <https://www.popsugar.com/love/photo-gallery/21173344/image/21174427/Bodacious-Britney-Spears-Rolling-Stone>. Acesso em 22 de Out. de 2021.
Britney Spears: Singer’s conservatorship case explained. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-us-canada-53494405>. Acesso em 18 de Out. de 2021.
Fans fuming after Framing Britney Spears documentary exposes sexualisation of her during her teenage years. Disponível em: <https://www.perthnow.com.au/entertainment/celebrity/fans-fuming-after-framing-britney-spears-documentary-exposes-sexualisation-of-her-during-her-teenage-years-ng-b881791636z>. Acesso em 22 de Out. de 2021.
On Britney Spears, sexual agency, and the construction of a pop star. Disponível em: <https://ontheaside.com/music/on-britney-spears-sexual-agency-and-the-construction-of-a-pop-star/>. Acesso em 18 de Out. de 2021.
O que significa o movimento Free Britney. Disponível em: <https://vogue.globo.com/atualidades/noticia/2021/06/o-que-significa-o-movimento-free-britney-aqui-esta-tudo-o-que-voce-precisa-saber.html>. Acesso em 22 de Out. de 2021.
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As Meninas Superpoderosas como referências da figura feminina
Os efeitos do trio Meninas Superpoderosas como uma influência da geração, três personagens com personalidades completamente diferentes se tornando referências do que é ser mulher sem ser princesa.
Giovanna Gomes
O ano é 2004. As crianças ligam a TV logo de manhã cedo para ver desenho, e as meninas ficam focadas em um desenho de super-heroínas. De cores verde, azul, e rosa, pequenas meninas batem em bandidos e defendem a cidade de vilões malignos.
Essa geração cresce, influenciadas pelas figuras femininas delicadas e pequenas que é possível ser heroínas. Não é necessário ser princesas delicadas para serem importantes, surge um desprincesamento em uma geração.
As Meninas Superpoderosas, com nome original de Powerpuff Girls, é uma série de animação que foi exibida no Brasil entre os anos de 1998 até 2005 pela Cartoon Network e SBT. Criada por Craig McCracken, o desenho possui três personagens femininas principais, um cientista tomando o lugar de figura paterna, e diversos vilões (alguns deles até mesmo quebrando normas de gênero, como o personagem Ele).
Lindinha, Florzinha e Docinho são As Meninas Superpoderosas. As três meninas, cada uma com uma cor representativa (Lindinha azul, Florzinha rosa, e Docinho verde), são meninas pequenas, com braços e pés com pontas arredondadas, cabeça um pouco grande para o corpo, e no geral um design inclinado para a fofura. Os episódios contam as façanhas dessas três meninas, na cidade de Townsville As meninas foram geradas a partir de uma experiência genética realizada pelo professor Utônio, cientista de um centro de pesquisa e a referência paterna das crianças.
Tal geração é contada em todos os episódios na abertura, e é muito possível encontrar pessoas que saibam de cor as falas usadas para explicar a origem das personagens heróicas.
“Açúcar, tempero e tudo que há de bom Estes foram os ingredientes escolhidos para criar as garotinhas perfeitas Mas o professor Utônio, acidentalmente, acrescentou um ingrediente extra na mistura O elemento X! E assim nasceram as meninas Superpoderosas, usando seus ultra-super poderes Florzinha, Lindinha e Docinho, têm dedicado suas vidas Combatendo o crime, e as forças do mal!”
Um spoiler que não é contado na abertura, é que na verdade quem derruba o Elemento X não se trata do professor, e sim de seu assistente, um macaco. Tal macaco cresce, se desenvolve, e por ter sua atenção ‘roubada’ das meninas se torna o principal vilão da série, denominado Macaco Louco.
Cada menina superpoderosa tem sua característica e personalidade marcante. Cada uma delas influenciou milhares de meninas, que anos depois se tornaram mulheres, a serem diferentes. Novamente não é preciso ser princesa para ser (algo que a Disney na época não concordava muito visto que as princesas eram exaltadas como o auge da feminilidade). Porém, em diversos momentos a animação mostra reforços do estereótipo de menino/menina, Mas em contraponto elas frequentemente quebram o local de figura passível que aguarda ser salva por um homem.
Vamos começar pela Lindinha. Com sua estética em azul, Lindinha é a personagem loira que usa chiquinhas, de vestido e olhos azuis. Visivelmente mais delicada e sensível do que as outras meninas, Lindinha é a que mais se encaixa no papel de bebê do grupo (tanto é que em muitos momentos ela é chamada de “bebê” pela própria Docinho).
Fonte: https://bityli.com/9qhBVLL
Cheia de contradição, a personagem Lindinha faz o possível para demonstrar que além da sua personalidade e seu exterior, ela consegue ser durona. Isso é um questionamento, uma quebra de imagem, que diversas mulheres passam. Há uma identificação por parte de diversas meninas que são consideradas ‘delicadas demais’, ‘fofas demais’, ‘pequenininha’, e não desejam ter apenas esse rótulo. Em Lindinha as meninas encontraram uma personagem que está em contato com a sua leveza mas que nem sempre quer que esse seja o resumo do seu exterior.
Depois partimos para Florzinha. Marcada pela cor rosa (que muitas vezes aparece como vermelho). Com um laço vermelho grande na cabeça, cabelos ruivos, vestido e olhos cor de rosa, Florzinha é dada como ‘perfeitinha’. Vaidosa, geralmente quem toma a frente no comando das meninas, inteligente e perfeccionista, é difícil ver meninas que tinham a personagem Florzinha como sua favorita.
Fonte: https://bityli.com/9qhBVLL
O histórico que a maior parte das mulheres têm em relação a Florzinha remete muito ao processo de competitividade feminina. A mídia constantemente incentiva mulheres a competir entre si: competir por um cargo, competir por um homem, competir até mesmo por um vestido. As mulheres da mídia que são retratadas como a inimiga da protagonista tendem a ser como Florzinha: perfeitas em quase todos os aspectos.
A última personagem a ser retratada é a Docinho. Com olhos e vestido verde, Docinho tem os cabelos curtos e expressão forte. É ela quem desafia a figura de delicadeza feminina de forma mais acentuada entre as três.
Fonte: https://bityli.com/9qhBVLL
Docinho é retratada o tempo todo como impulsiva, de humor explosivo, com uma agressividade maior do que as outras. Dentre as três, é ela quem mais desafia a figura de que meninas, mulheres, têm que ser princesas. É a partir de Docinho que se ergue o maior fator de desprincesamento proposto pelas personagens principais. Em Docinho, as meninas encontraram uma figura a quem se inspiraram quando precisavam ser fortes. Quando precisavam brigar por algo que queriam, quando viam alguma injustiça, ou simplesmente quando não queriam ser princesas.
Todas as três personagens trazem aspectos diferentes da figura feminina das quais as meninas puderam se espelhar. Em diversos personagens, é possível ver as protagonistas brigando contra estereótipos de gênero atribuídos ao gênero feminino ao mesmo tempo em que não se perdem da sua essência. Um exemplo disso é a relação entre Lindinha e Docinho. Lindinha, por mais que queira ser durona, está feliz e confortável com a sua personalidade e seu exterior mais amável, enquanto Docinho não tem vergonha ou medo de ser durona. Em diversos momentos é possível ver a troca entre essas personagens em relação às suas personalidades, mas em momento algum elas se tornam figuras descaracterizadas de si mesmas.
REFERÊNCIAS:
ALVES, Caroline Francielle; OLIVEIRA, Maria Regina de Lima. “Não me chama de princesa”: o mito da fragilidade feminina e o desprincesamento em “As meninas super poderosas”. II SEJA – Gênero e Sexualidade no Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), 2017, Junho. V. 2. Pag. 36-49.
SALGADO, Raquel Gonçalves. Da menina meiga à heroína superpoderosa: infância, gênero e poder nas cenas da ficção e da vida. Cad. Cedes, Campinas, 2012. Jan-Abr. Vol. 32, n. 86, p. 117-136.
Tema inicial – Powerpuff Girls (Meninas Super-Poderosas). Disponível em: <https://www.letras.mus.br/powerpuff-girls-musicas/1102948/>. Acesso em 17 de Nov. de 2021.
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Hometown Cha-Cha-Cha: sobre trauma, simplicidade, cura e rede de apoio
Série sul-coreana retrata de uma forma calorosa o recomeçar, as formas das quais uma pessoa lida com seus traumas, e a criação de novos laços.
Você está destinada a encontrar situações inesperadas na sua vida. Mesmo que você use um guarda chuva, você vai acabar encharcada. Só coloque suas mãos pra cima e dê boas vindas à chuva (Hong Du Sik)
Esse texto contém spoilers sobre a série e o final de alguns personagens, então tenha cuidado ao ler caso não goste de spoilers e essa série esteja na sua lista de para assistir.
Hometown Cha-Cha-Cha é uma série sul-coreana que foi lançada em Agosto de 2021, exibida no canal coreano TVN e distribuída internacionalmente pela Netflix. Com uma história contada de forma sensível, acolhedora e divertida, o k-drama foca na adaptação de uma dentista de Seul que se muda para o interior, para abrir uma clínica e um faz-tudo (literalmente) que viveu a sua vida inteira nesse vilarejo.
Yoon Hye Jin (Shin Min-a) é uma mulher adulta, dentista que perdeu a sua mãe quando era jovem. Ela atende em uma clínica popular de Seul, porém ao entrar em conflito com a sua chefe antiética (que fazia procedimentos nos pacientes sem necessidade, e cobrava a mais pelos procedimentos), ela pede demissão e vai parar em Gongjin, um vilarejo à beira do mar. O vilarejo é de certa forma significativo para Hye Jin, já que ela costumava ir lá com os seus pais antes de sua mãe morrer. Ela decide abrir uma clínica lá, como uma forma de ganhar dinheiro e ter independência empregatícia.
Já em Gongjin, Hong Du Sik (Kim Seon-Ho) é literalmente um faz-tudo no vilarejo, e possui licença para praticar quase todas as funções possíveis (desde barista à engenheiro). Extremamente atencioso, principalmente com os idosos, Du Sik trabalha ajudando todos do vilarejo, e tira folga um dia por semana. Du Sik foi abandonado pelos seus pais e criado por seus avós, mas um dia durante a sua infância o avô dele acaba falecendo e Du Sik se culpa pelo resto da vida por ter perdido.
Na análise do comportamento, nossos comportamentos são ditados por regras, contingências e consequências. De acordo com De-Farias (2010) e Skinner (1969/1984), regras são estímulos discriminativos verbais que descrevem ou especificam uma contingência. Contingências são relações do tipo “se… então…”.
Hong Du Sik, ao perder seu avô e ser abandonado pelos seus pais, desenvolve um repertório de contingências que representa um padrão de fuga de emoções e de se ter uma real proximidade com alguém através de qualquer tipo de amor. Se ele amar alguém, então essa pessoa definitivamente irá morrer ou irá abandoná-lo. Essa contingência se intensifica quando, ao já estar emocionalmente envolvido com Hye Jin, sua avó Kim Gam Ri morre dormindo. Du Sik é mais uma vez atingido pelo luto e suas contingências de abandono se intensificam.
Como telespectadores, é claro para nós que estamos de fora o quão distorcida a realidade é através das autorregras e contingências de Du Sik.
Um dos pontos mais calorosos sobre a série se trata dos moradores do vilarejo. Um trio de senhoras idosas (em que uma delas inclui sua avó) que ao mesmo tempo que demonstram sua idade e conhecimento, são como três melhores amigas adolescentes. Um cantor que só fez sucesso com uma música, e sua filha fã de um grupo de k-pop (grupo do qual mais tarde vai gravar um programa de TV no vilarejo). Uma mãe divorciada do seu marido que é prefeito do vilarejo, no qual ambos possuem uma amiga que na verdade é apaixonada pela mãe divorciada, quebrando assim estereótipos de heterossexualidade e nos apresentando de uma forma quase dolorosa a realidade de muitas mulheres lésbicas maduras. O melhor amigo de Du Sik e sua esposa que está grávida do segundo filho, da qual se sente negligenciada pelo marido por estar grávida e não ser tão bonita como antes.
A série é a demonstração mais clara de quão importante é uma rede de apoio. Cada personagem apresentado, mesmo que seja apenas por alguns minutos de cada episódio, serve como apoio para o outro ao praticar cuidados e atenciosamente ajudar uns aos outros a superar seus traumas e dificuldades. Du Sik, sendo o ponto em comum em todos eles ou não, tem dificuldade em aceitar apoio da sua rede quando está em sofrimento, mas aos poucos compreende que sozinho não consegue lidar com tudo, da mesma forma que as pessoas que ele ajuda.
“Você pode chorar se quiser. Deve ter sido tão difícil pra você. Você deve ter escondido a dor tão profundamente. Você carregou um fardo tão pesado. Você pode se sentir triste quando estiver comigo. Você pode me mostrar a sua dor. Você pode chorar.” (Yoon Hye Jin)
O drama nos faz refletir nos traumas e nos efeitos deles no presente, da mesma forma em que nos trás o calor ao ver o funcionamento de uma rede de apoio funcional, além de relacionamentos familiares funcionais e disfuncionais que refletem a realidade em uma abordagem não punitiva e não agressiva.
REFERÊNCIAS
Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Ana Karina C. R. de-Farias & colaboradores. Porto Alegre : Artmed, 2010.
Hometown Cha-Cha-Cha: Série sul-coreana de drama aposta na simplicidade e serendipidade. Disponível em: <http://www.benoliveira.com/2022/01/hometown-cha-cha-cha-serie-coreana-drama-simplicidade-serendipidade.html>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.
HOMETOWN CHA-CHA-CHA | ANÁLISE PSICOLÓGICA – YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X7Y5M-gwcEc>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.
The Best Quotes From The Korean Drama, ‘Hometown Cha-Cha-Cha’. Disponível em: <https://www.cosmo.ph/entertainment/hometown-cha-cha-cha-best-quotes-a4575-20211024>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.