Rotatividade dos profissionais da saúde: uma experiência prática

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A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço.

A rotatividade profissional, para Tonelli et al. (2018), é definida como uma permanente entrada e saída de pessoas de uma organização, sendo estas voluntárias ou involuntárias. Dentro das organizações sempre há rotatividade, estas podem ser positivas, desde que sejam de funcionários não essenciais que estejam executando determinada atividade e venham deixar a organização. Portanto, é importante ressaltar que a rotatividade pode acarretar em perdas de pessoas estratégicas para determinada vaga, causando assim o fator de interrupção das atividades e consequentemente prejudicando no desenvolvimento da organização.

A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço. Uma vez que o profissional que se encontra pertencente a instituição e conhece todo o funcionamento desta é afastado, a inserção de um novo profissional implicará em todo um processo de adaptação que poderá trazer consequências diversas para o serviço. De acordo com Gil (2006), a rotatividade dos profissionais de saúde resulta na perda de investimentos dos gestores que estão em processo de capacitação e qualificação dos profissionais para desenvolver novas práticas, como cursos de introdução aos princípios organizativos da saúde.

Outro fator que pode estar relacionado ao alto índice de rotatividade dos profissionais de saúde, pode estar interligado com a insatisfação relacionada a política da organização, pois se o profissional não acredita nesta política, o trabalho vai se tornar adoecedor e sem sentido. Para Medeiros et al (2010), os profissionais insatisfeitos com o trabalho podem apresentar maior probabilidade de fazerem parte da taxa de rotatividade. Na medida em que o profissional apresenta falta de realização e pouca motivação, começam a receber pouco reconhecimento no cargo, vivenciar constantes conflitos com a chefia e com os colegas, e ainda experimentam a incapacidade de realizar os objetivos do seu cargo.

Fonte: encurtador.com.br/hvCGR

Com o alto índice de rotatividade dos profissionais da saúde, os usuários do SUS podem apresentar dificuldade em construir novos vínculos e se dedicarem ao tratamento, devido a possibilidade da saída repentina do profissional que, por sua vez, colabora para um sentimento de insegurança. Campos e Malik (2008) acreditam que na saúde, a rotatividade pode gerar alguns impactos, como o comprometimento com os vínculos da equipe com os usuários, que pode afetar também no objetivo dos resultados esperados dentro do serviço, principalmente na Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois o seu foco está na atenção à família na comunidade, onde valorizam-se os vínculos estreitos entre família e profissional.

A rotatividade dos profissionais dos SUS pode afetar também o andamento do tratamento do usuário, pois o profissional pode vir a iniciar uma atividade e deixá-la inacabada por conta de sua saída da organização, causando um desamparo no processo até a chegada de outro profissional, que pode ou não dar continuidade a esta atividade. Sendo assim, alguns profissionais optam por não planejar atividades que requeiram um longo período de execução, como demonstra Pialarissi (2017, p. 2)

Comprometendo a relação do sistema com os trabalhadores e prejudicando a qualidade e continuidade dos serviços prestados em razão de consequências tais quais o alto índice de rotatividade dos profissionais e a impossibilidade de se fixar projetos com processos de planejamento de médio e longo prazos

Fonte: encurtador.com.br/mqtGS

Para Guimarães, Oliveira e Yamamoto (2013), um dos aspectos que pode comprometer a continuidade e o andamento das atividades é a rotatividade dos estagiários, pois pode vir a  causar nos usuários um recomeço constante das atividades, além da necessidade de (re)criar novos vínculos entre usuários e estagiários.

Dentro do âmbito de saúde alguns projetos são colocados em prática, mas devido a rotatividade dos profissionais alguns projetos não são finalizados. Segundo Polejack et al. (2015), a descontinuidade das ações planejadas, a frequente rotatividade dos profissionais, a descontinuidade das políticas e da gestão das mesmas, podem acarretar em implicações severas para o serviço e para o papel de cada profissional.

Uma experiência de rotatividade vivenciada na prática

            O estágio em ênfase B se apresenta como um dos campos de estágio que o acadêmico do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra precisa cumprir, como matéria obrigatória para sua formação. Diante das muitas possibilidades de atuação que foram ofertadas, as estagiárias escolheram o campo do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS AD 3).

Fonte: encurtador.com.br/LPQZ1

            As atividades no referido espaço foram iniciadas no mês de fevereiro de 2019, sob supervisão da psicóloga da instituição. Esse primeiro mês teve como objetivo principal a integração das acadêmicas ao campo, para que estas entendessem o funcionamento do serviço e acima de tudo pudessem estabelecer um bom vínculo com os usuários e com a equipe profissional.

            Diante da satisfatória integração, as estagiárias assumiram para si funções específicas, sendo: a condução de um grupo terapêutico sobre autoconhecimento, bem como a realização de atendimentos psicoterápicos individuais. Dessa forma, a inserção e atuação no campo começou a tomar forma e engajamento, e assim foi durante os meses de março e abril, até que o fenômeno da rotatividade acontecesse.

            A psicóloga supervisora tomou a decisão de não continuar mais trabalhando na instituição, por motivos específicos e pessoais. Como consequência da saída da Psicóloga, as estagiárias não puderam mais continuar na instituição, uma vez não permitida a permanência de estagiários atuando no campo sem um supervisor. Sendo assim, o abandono do campo ocorreu, e ocorreu de forma dolorosa para todos os envolvidos no processo: acadêmicas, supervisora, equipe e usuários.

            Tal abandono acarretou no desamparo dos usuários, que estavam sendo assistidos pelos grupos e pelos atendimentos individuais que eram conduzidos pelas estagiárias e pela supervisora. Além de implicar bastante nas relações de vinculação que haviam sido estabelecidas, fazendo com que todas experimentassem um sentimento de rompimento muito doloroso.

Fonte: encurtador.com.br/sFUY6

            O romper desse vínculo e suas consequências foram externalizadas na fala de alguns usuários, que ao saberem da saída das profissionais demonstraram inquietação e preocupação, questionando “por quem” e “como” eles seriam assistidos.

            Contudo, a nova realidade que se apresentava levou as acadêmicas a estagiarem em outro campo, agora a Secretaria Municipal de Saúde de Palmas (SEMUS), especificamente na área de gestão, sob supervisão da psicóloga Isabela Monticelli que se encontrava responsável pelo grupo condutor de Infectologia.

            Diante de todo o exposto, é possível perceber o quanto a rotatividade nos serviços de saúde existe e o quão nocivas elas são, tanto para os usuários dos serviços quanto para os profissionais envolvidos. Dessa forma, para as acadêmicas, ter vivenciado esse processo lhes fizeram perceber que, ao profissional da saúde pública é necessário sempre uma criatividade e expertise no que tange a sua atuação profissional, estando sempre atento para que o processo seja o menos prejudicial possível, para os usuários e para si mesmo.

            Tal expertise e atenção, pode se aplicar numa prática baseada num cuidado comprometido que seja efetivo enquanto o profissional estiver inserido naquele espaço de trabalho, tendo este a consciência de que fez o seu melhor dentro do tempo que lhe foi concedido. Além disso, entender que os usuários do serviço podem, por meio da sua atuação profissional alcançar um nível de autonomia que lhes façam ser os protagonistas de suas vidas, colaborando assim para a dissolução de vínculos de dependência não-saudáveis.

 

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Claudia Valentina de Arruda  and  MALIK, Ana Maria. Satisfação no trabalho e rotatividade dos médicos do Programa de Saúde da Família. Rev. Adm. Pública [online]. 2008, vol.42, n.2, pp.347-368. ISSN 0034-7612.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122008000200007.

GIL, C. R. R. Práticas profissionais em saúde da família: expressões de um cotidiano em construção. 2006. 318 f. Tese (Doutorado) – Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro.

Guimarães, S. B., Oliveira, I. F., & Yamamoto, O. H. (2013). As práticas dos psicólogos em ambulatórios de saúde mental. Psicologia & Sociedade, 25(3), 664-673

MEDEIROS, Cássia Regina Gotler et al. A rotatividade de enfermeiros e médicos: um impasse na implementação da Estratégia de Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, Lajeado Rs, v. 15, n. 4, p.1521-1531, jun. 2010.

PIALARISSI, Renata. Precarização do Trabalho. Rev. Adm. Saúde, São Paulo, Vol. 17, Nº 66, Jan. – Mar. 2017.

POLEJACK, Larissa. Psicologia e Políticas Públicas na Saúde: Experiências, Reflexões, Interfaces e Desafios. (2015), Porto Alegre, 1 ed.

TONELLI, Bárbara Quadros et al. Rotatividade de profissionais da Estratégia Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Revista da Faculdade de Odontologia – Upf, [s.l.], v. 23, n. 2, p.180-185, 22 out. 2018. UPF Editora. http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v23i2.8314.

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PRÉ-CAOS 2019: Urologista ministrará Minicurso sobre Sexualidade Masculina

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No primeiro semestre de 2019, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) trabalhará com o tema “Psicologia e Sexualidade – corpo, conhecimento e liberdade”. Com o intuito de oferecer uma prévia para o público sobre como será o congresso, a coordenação de Psicologia irá realizar um evento PRÉ-CAOS, que ocorrerá no dia 31 de outubro de 2018, no Ceulp/Ulbra, sob o título “SEXUALIDADE, DIVERSIDADE E LIBERDADE: PRÉ-CAOS 2019”.

Entre os convidados que irão ministrar os minicursos, o Médico Urologista Dr. Adelmo Negre irá ministrar o minicurso ´´Sexualidade Masculina: Saúde e Disfunções Sexuais. Negre é Médico (UFTM), especialista em Cirurgia Geral e Urologia (UFTM) Estágios de Aperfeiçoamento em Uro-Oncologia e Urologia Pediátrica pela Divisão de Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo-SP. Professor de Urologia junto à Coordenação do Curso de Medicina do Campus Universitário de Palmas da Fundação Universidade Federal Do Tocantins. Preceptor da Residência Médica e Internato, na área de Clínica Cirúrgica, da Fundação Universidade Federal Do Tocantins. Professor da LAUS – Liga Acadêmica de Urologia e Saúde do Homem Da Fundação Universidade Federal Do Tocantins.

As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pelo linkCom a participação no evento, os inscritos receberão certificado de 10 horas.

Confira a programação completa:

– Cine Alteridade Especial: filme “A garota dinamarquesa”, das 12h às 14h, sala 220 F;

– Minicurso 1: Sexualidade Masculina: saúde e disfunções sexuais, com Dr. Adelmo Aires Negre, das 15h às 17h, sala 221

– Minicurso 2: Terapia Sexual: a vida com mais prazer, com Sexóloga Glícia Neves da Costa, das 15h às 17h, sala 223

– Minicurso 3: Sexualidade Feminina: saúde e disfunções sexuais, com Dra. Marcia Cristina Terra de Siqueira Peres, das 15h às 17h, sala 227

– Teste rápido, com o Núcleo Henfil, das 17h às 19h, nas salas 424 e 425

– Sarau, das 17h às 19h, no hall do Núcleo Alteridade

– Mesa redonda, das 19h às 22h, no auditório central, com os profissionais:

– Dhieine Caminski, psicóloga, especialista em Saúde da Família (UNIVALI) e gerente de Saúde Mental da SEMUS – Palmas

– Gleidy Braga, jornalista e bacharela em Direito, especialista em Gestão e Políticas Públicas (FESPSP) e mestranda em Desenvolvimento Regional (UFT)

– Pierre Brandão, educador físico (CEULP), fisioterapeuta (FUNEC), mestre em Gerontologia (UCB) e doutor em Educação Física (UCB)

– Rafaela Alexandra Vieira, economista, especialista em Gestão Pública, Gestão de Pessoas. Gerenciamento de Projetos e Orçamento de Finanças Públicas e vice-presidente da ATRATO (Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins).

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Medos e surpresas: presenciei um parto no SUS

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Umas das experiências que marcou minha vida no SUS, foi presenciar o nascimento de um sobrinho no Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos , localizado em Palmas, no dia 14 de abril de 2015.

Cheguei ao ambiente com uma mistura de medo e entusiasmos, por ser o primeiro parto que iria assistir e por saber que era meu sobrinho que eu iria ver chegar ao mundo, então começou  surgir no meu organismo aquele sentimento de felicidade e medo ao mesmo tempo, comecei a pensar na possibilidade acontecer alguma complicação, durante o parto.

Chegamos por volta das 13:15h, ela passou pela triagem, onde foi feito o exame de toque, em seguida informam que tinha dilatado 2 centímetros (cm). Os profissionais orientaram a ela que andasse, pois ajudaria no processo de dilatação, eles pediram para que voltasse de meia em meia hora para acompanhar esse processo. Nesse primeiro momento, os profissionais foram ativos, passaram as orientações necessárias. Por volta das 16:40 da tarde a Rosa, passou pelo processo final de triagem, pois a dilatação já se encontrava á 4 cm.

Fonte: https://bit.ly/2tl99Ib

Ao chegar à sala de internação, Rosa foi atendida por um residente (estagiário de medicina) que mediu as contrações. O estagiário foi muito acolhedor, ainda brincou que não estaria ali para presenciar o parto, pois não seria no seu plantão, já que ia sair as 19:00. A Rosa afirmou que ele não estaria ali, pois  não iria ganhar antes das 22:00. Durante essa conversa ele colocou o soro para aumentar as contrações. Em meio os intervalos de contração o estagiário comentou que o esperado para ela entrar em trabalho de parto seria após as 20:00 horas.

Mas para a surpresa de todos, logo que o residente saiu da sala a Rosa começou a sentir contrações imediatas. Ver ela com dor me assustava muito, falava em chamar o estagiário ela não deixava por medo de ser alarme falso. Nesse momento eu fingia que tudo estava normal, para não deixar transparecer minha insegurança, pois o único sentimento que tinha naquele momento era sair daquela sala. Me vinha uma série de pensamentos/questionamento negativos, do tipo: e se der errado? E se ela tiver início de eclampse? Porque minutos antes de entrar em trabalho de parto, presenciei uma família angustiada pois a esposa de um deles havia passado por essa situação.

No meio desses meu pensamentos dolorosos, ela começou a ter contrações cada vez mais frequentes, e em um curto período de tempo. Foi perante as dores que ela me permitiu que chamasse o estagiário, fui até ele, falei que ela estava com muitas dores, ele sorriu, e ainda comentou, “não será agora”, mas já estou indo lá, aparentemente assim como ele, toda a equipe achou que era exagero.

 Ao chegar à sala ele fez todo o processo de medir a contração, foi nesse momento em que ele se assustou e me pediu para chamar a médica, porque ela já se encontrava em trabalho de parto, porém, antes mesmo que eu saísse da sala ele gritou: TRABALHO DE PARTO! A médica que estava acompanhada de outra residente chegou e iniciou todo o processo, em menos de 7 minutos o Henrique se encontrava no braço da mãe. A médica que fez o parto foi bastante dedicada, passou todas as orientações possíveis, manteve a calma durante todo o tempo e sempre que podia orientava. No final do procedimento, ela foi muito elogiada pela equipe, e a sala já se encontrava cheia, alguns faziam parte da equipe, outros estavam ali apenas para ver o parto e tumultuar a sala.

Fonte: https://bit.ly/2lhR2zh

Sobre o processo do parto em si, acredito que minha irmã recebeu todas as recomendações possíveis, a equipe fez um excelente trabalho, onde demonstraram se dedicarem o máximo no que estavam fazendo, o que me incomodou durante o procedimento foi a quantidade de pessoas na sala que não faziam parte da equipe. Logo após o parto, a paciente estava cheia de dor, então surge uma profissional com série de perguntas.

Acredito que esse seja um momento da mãe com a criança, não deveria ser interferido. A mãe ainda estava em processo de limpeza interna, nesse momento o cordão umbilical não havia  sido cortado, e ela estava sendo obrigada a responder um questionário. No mesmo momento surgiram uma série de profissionais daquele ambiente que não faziam parte da equipe daquele procedimento,  com comentário do tipo, “não acredito que alguém ganhou um menino aqui e eu não vi”,  ou “tive que vim conhecer essa pessoa que ganhou uma criança e não fez escândalo”. Essas foram algumas das frases que ela foi obrigada a ouvir no momento em que ela ficou no ambiente de parto, sendo que esse momento é único, deveria ser respeitado.

Ao chegar à internação, minha irmã recebeu todo o cuidado possível, teve atendimento psicológico, nutricionista, odontologista que orientou a mãe em alguns cuidados com a criança, como ensinar na amamentação, a cuidar da limpeza bucal. Durante a internação o bebê fez alguns exames e os que não foram feitos enquanto se encontrava internado foram remarcados.

O hospital doou utensílios higiênicos, como, absorventes e fraldas descartáveis. Os profissionais sempre orientaram a mãe em alguns cuidados com a criança, davam banho no bebê, e a equipe se mostrou bem capacitada. Estavam sempre passando nos leitos, se disponibilizando a tirar qualquer dúvida. O Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos, mostrou ter profissionais capacitados para a realização de partos e ao cuidado com a paciente no decorrer da internação.

Essa é uma das muitas experiências que tive com o SUS. Escolhi falar sobre ela  porque ouço muita crítica ao se tratar de partos no DONA REGINA, e a maioria com cargas de comentários negativas, e a experiência que presenciei no mesmo ambiente não tenho muito do que reclamar, por esse motivo parabenizo a equipe do SUS desse ambiente. Acredito que pode ser trabalhado com a equipe é a questão de deixar o momento pós-parto para a mãe e filho, pois é o primeiro contato entre os dois, e a questão de privacidade que os profissionais devem dar para o paciente que se encontra ali, pois é constrangedor para o paciente ouvir alguns comentários.

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Amor Líquido e Modernidade Líquida: os relacionamentos na contemporaneidade

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As relações humanas na contemporaneidade estão se tornando cada vez mais líquidas, onde incertezas, dúvidas, insegurança permeiam com frequência nos relacionamentos. Não há solidez e garantia de que se estará ao lado da pessoa escolhida para amar por toda a vida. Bauman (2004) analisa que na modernidade, o sujeito construía sua identidade a partir da comunidade a qual estava inserido. Porém, com o avanço da globalização e tecnologias, a subjetivação passa a ser em nível global, o individuo então, sente-se em conflito, ao ter, ele mesmo, que construir sua identidade, agora não mais fixa na família.

O ser humano está a cada instante mais insatisfeito com o que tem, e por vezes, não consegue identificar o que se quer realmente. Ao se envolver nessa dinâmica do pós-modernismo, onde a rapidez e a velocidade são características marcantes desse período, os relacionamentos familiares, amorosos, profissionais se tornam fragilizados. Segundo Bauman (1998) as principais características da modernidade líquida são os desapegos, a provisoriedade, o acelerado processo da individualização e o conflito entre liberdade e segurança.

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Fonte: http://rotinasinteligentes.blogspot.com.br/2015/09/zygmunt-bauman-amor-liquido-seguranca-e.html

Pessoas são tratadas como produtos, e quando não satisfazem mais os seus desejos e expectativas podem ser descartadas ou trocadas por outra que consideramos que seja o melhor para elas. Saladino (2008) acredita que na pós-modernidade os indivíduos não querem pagar o preço dos antepassados, em manter um relacionamento afetivo, pois, se eles não estão se sentido bem no relacionamento, os mesmos buscam outras pessoas, devido o relacionamento intensivo prejudicar a vida do indivíduo.

O presente ensaio visa analisar os relacionamentos na contemporaneidade, a partir das obras: “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos” e “Modernidade líquida”, do sociólogo Zygmunt Bauman.

O individualismo é bastante discutido na atualiade, pois atuamos num mundo em que as pessoas vivem para si próprias, fazendo com que o interesse individual seja mais importante que o coletivo. A liberdade individual é bem valorizada, podendo ser entendida como “viver da forma que bem desejar”, ter várias opções e ser livre para fazer suas escolhas (CHAVES, 2004).

A sociedade pós-moderna vive uma liberdade falsa, como “marionetes”, pois somos controlados de todos os modos. Segundo Bauman (2001), os indivíduos não tem total liberdade, pois eles não controlam suas próprias vidas.  A liberdade surge de um tipo de sociedade que promove mais liberdade individual e cada vez menos segurança, sendo assim, há menos referência de identidade e projetos futuros sólidos (BAUMAN, 1998).

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Fonte:https://quaseheroina.wordpress.com/category/mulherzinha/

Nesse mundo repleto de controle, no qual todas as experiências tem um propósito definido para a maioria das pessoas, Bauman (2001) afirma que “esse mundo não tem espaço para o que não tiver uso ou propósito. O não-uso, além disso, seria reconhecido nesse mundo como propósito legítimo” (BAUMAN, 2011, p. 66). Assim, na contemporaneidade a sociedade tem dificuldade nas escolhas objetivas, as quais podem provocar agonia na maioria nas pessoas, devido à exigência de reflexão acerca de tais escolhas.

Guahyba e Magalhães (2001), enfatiza que os jovens precisam escolher uma profissão e construir seu projeto de vida, onde eles devem estar cientes que não vão fazer uma escolha totalmente individual, pois o meio influencia em diversos aspectos, onde está inserido. O capitalismo então, se apropria dessa lógica, pois, o sujeito precisa ter uma identidade flexível para estar sempre pronto pra se inserir no mercado e adapto da moral do consumo.

Sobre essas inconstâncias da modernidade líquida, Fragoso (2011) analisa que:

No caso da experiência dos indivíduos na versão líquida da modernidade, a identidade é continuamente montada e desmontada. E tem de ser assim, visto que a busca fugaz da felicidade exige adaptabilidade e mudança constante, portanto prender-se a uma “identidade” pode ser o desfecho final de um destino infeliz (FRAGOSO, 2011, p. 1112).

Na atualidade vive-se uma ilusão de que a liberdade está sujeita a qualquer situação, tanto nas escolhas profissionais, conjugais, liberdade com seu corpo, em ser livre.

Bauman (2001) afirma que a sociedade contemporânea gosta de pensar que a identidade é algo exclusivamente, sendo sua “produção” de responsabilidade de cada pessoa. Entretanto, na pós-modernidade, o indivíduo não tem controle sobre suas próprias vontades, pois vive sendo influenciado por diversos meios, sem perceber que é levado a consumir o que a mídia impõe a elas. Tafuri (2010) acredita que:

Essa forma vazia, essa promessa de refabricação plástica da identidade reflete a espécie de liberdade oferecida pela sociedade de consumo: uma falsa liberdade, que se resume na escolha entre os diversos modos de vida comercializados, prontos para serem usados e descartados conforme a lógica da moda (TAFURI, 2010 p.12).

Bauman (2008) alerta que na sociedade de consumidores, antes de nos tornarmos sujeitos, somos mercadorias e que, uma vez que a subjetividade é pautada na lógica de mercadoria, esta precisa ser recarregada sempre para ser cumprir com o que é exigido de um produto vendível.

Desta forma, a sociedade contemporânea se torna adoecida pelo consumismo. Ao comprar algo material, não é apenas para se satisfizer, e sim para acompanhar a moda, para reafirmar, através de um produto, a sua subjetividade. Como ressalta Debord (1997), ao comprar um produto, o sujeito acredita que será tão feliz como promete o seu slogan, além disso, este sujeito vive na sociedade do espetáculo, ou seja, inverte o real. Assim, não há espaço para a introspecção ou sentimento, o que torna as relações superficiais.

Segundo Hall (2000) apud Garcia (2012), o consumo está atrelado a forma de como somos vistos pelo mundo, o que muitas vezes por ser identificado de maneira totalmente indispensável torna o ser humano um escravo do mercado de consumo, perdendo-se em sua própria identidade.

O sujeito, então, investe no consumo para se destacar e acredita que assim, irá sair da “massa”. Essa ideia de mercadoria também reflete na forma como nos relacionamos, como ressalta Bauman (2004):

A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço (BAUMAN, 2004. p. 11).

Bauman (2004) analisa que cada vez mais o amor tem sido banalizado. O consumismo e imediatismo, levam o sujeito a acreditar que as habilidades de amar se potencializam com as experiências amorosas, porém, como ressalta o autor, isso gera episódios intensos e curtos, pois sempre se acredita que o próximo relacionamento será mais bem sucedido.

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Fonte: http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FO-desejo-como-antidoto-para-o-querer-na-sociedade-de-consumo%2F4%2F34684

Dessa forma, na pós- modernidade o casamento e as promessas feitas no altar não são mais garantias de segurança, uma vez que a rotatividade nos relacionamentos geram medos e inseguranças, pois, não se sabe se ao final do dia o relacionamento ainda existirá com toda solidez quanto o era na modernidade (BAUMAN, 2001).

Portanto, percebe-se que o grande avanço global e tecnológico, e fomentação da individualidade, imediatismo e consumo na contemporaneidade, cria no sujeito a falsa ideia de liberdade, fazendo com que este invista menos nos valores sólidos e duradouros, em contrapartida, temos como resultado a liquefação dos relacionamentos humanos.

De fato, a evolução que ocorreu e ainda ocorre na pós-modernidade tem seu lado benéfico e maléfico, na qual, temos a tecnologia como um dos fatores, em que ao mesmo tempo em que aproxima pessoas, distancia as mesmas. Fazendo com que as relações se tornam fragmentadas. Usando-se da prerrogativa de liquidez, Bauman (2001) nos apresenta uma sociedade que muda seus hábitos e rotinas de maneira rápida e desconcertante. Os interesses coletivos são deixados para trás, enquanto a satisfação individual é exaltada, não se importando com o bem estar do próximo.

A busca pelo imediatismo se torna cada vez mais comum, e já está impregnado no nosso corpo social. Buscamos atalhos para chegarmos aos objetivos, segundo Bauman (2004) “… numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados.” (BAUMAN, 2004. p. 11). Destarte, temos a liquidez como uma fundamental característica da pós-modernidade, impactando desde os relacionamentos afetivos, até a nossa vida cotidiana, no trabalho, sonhos e objetivos que almejamos alcançar.

 

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Fonte: http://www.materiaincognita.com.br/wp-content/uploads/2016/04/amor-liquido.jpg

 

Referências:

BAUMAN, Z.. Modernidade Líquida, Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2001.

_____O mal-estar da pós-modernidade. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1998

_____Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2004.

_____Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2008.

CHAVES, J. Contextuais e Pragmáticos: Os relacionamentos amorosos na pós-modernidade. 2004, 212 f. Teses da UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Ed. Contraponto. Rio de Janeiro, 1997.

GARCIA, M. L. As relações de consumo no mundo contemporâneo. Brasilia, 2012. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,as-relacoes-de-consumo-no-mundocontemporaneo,38207.html Acesso em: 03 de setembro de 2016.

GUAHYBA, M.E.G.A; Magalhães, A.S. Escolha profissional na contemporaneidade: projeto individual e projeto familiar, Rev. bras. orientação profissional, vol.12, no.2 São Paulo, 2011.

TAFURI, Rodrigo; Liberdade e identidade na era pós-moderna: conflitos e contradições entre a abertura e a insegurança, Universidade Federal de Juíz de Fora, Juíz de Fora, 2010. Disponível em: <http://www.ufjf.br/graduacaocienciassociais/files/2010/11/Liberdade-e-identidade-na-era-p%C3%B3s-moderna-conflitos-e-contradi%C3%A7%C3%B5es-entre-a-abertura-e-a-inseguran%C3%A7a-parte2.pdf> acesso em: 03 de set. 2016.

SALADINO, Alejandra; Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos – Zigmunt Bauman. Rio de Janeiro, 2008.

TFOUNI, F.L.V e Silva, N; A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma. Rev. Mal  Estar e Subjividade. V 8 n.1 Fortaleza, 2008.

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