Zeus – O Senhor do Olimpo

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Zeus é a divindade suprema dos gregos. Seu nome significa: “o deus luminoso do céu”. Pai da maioria dos deuses, era o grande regente do Olimpo a quem todos os deuses respeitavam. Senhor dos raios e de tudo que se refere à atmosfera. Seu representante romano é Júpiter e eu representante africano é Xangô.

A estátua de Zeus em Olímpia foi construída no século V a.C. por Fídias, em homenagem ao rei dos deuses gregos — Zeus.

Zeus é filho de Cronos e Réia, sendo o filho mais novo de seus irmãos. É comumente retratado como marido da deusa Hera, tendo como ela incontáveis desavenças devido as suas traições.

Jupiter and Juno – Frans Christoph, data desconhecida.

Devido as suas inúmeras aventuras eróticas foi pai de vários deuses como: Ares, Hermes, Dioniso, Apolo, Artemis, Atena e Perséfone. Foi também pai de vários heróis e semideuses como: Heracles, Perseu, Helena, Minos e também das Musas.

Para compreendermos o mito e o arquétipo de Zeus é importante compreendermos seu pai Cronos.

Cronos teve seis filhos com Reia: Héstia, Demeter, Hera, Hades, Posseidon e Zeus, mas temendo ser destronado por um de seus filhos, assim como seu pai Urano foi, passou a engoli-los. E infelizmente se converte em tirano ainda pior que seu pai.

Quando Zeus estava prestes a nascer, sua mãe Reia procurou Gaia e concebeu um plano para salvá-lo, para que Cronos fosse punido por suas ações contra Urano e seus próprios filhos. Reia deu à luz a Zeus na ilha de Creta, e entregou a Cronos uma pedra enrolada em roupas de bebê, que ele prontamente engoliu.

Zeus foi escondido por Gaia nas profundezas de um antro inacessível, nos flancos do monte Egéon. Lá ele foi amamentado pela cabra Amaltéia, que ao morrer foi transformada em uma constelação por Zeus.

Atingida a idade adulta, Zeus tendo-se aconselhado com Métis, a Prudência, que lhe deu uma droga à qual levou Cronos a vomitar os filhos que havia engolido. Apoiando-se nos irmãos e irmãs, devolvidos à luz, Zeus, para se apossar do governo do mundo, iniciou um duro combate contra o pai e seus tios, os Titãs.

De acordo com esse mito vemos que o deus dos raios e dos trovões se preparou desde a infância para assumir o governo do mundo. Pois conforme Brandão (1986):

“Zeus veio ao mundo na matriarcal ilha de Creta e, de imediato, foi levado por Géia para um antro profundo e inacessível. Trata-se, claro está, em primeiro lugar, de uma encenação mítico-ritual cretense, centrada no Menino divino, que se torna filho e amante de uma Grande Deusa. Depois, seu esconderijo temporário numa gruta e o culto minóico de Zeus Idaîos, celebrado numa caverna do monte Ida, têm características muito nítidas de uma iniciação nos Mistérios.”

Sabemos pelos mitos e contos de fadas que o rei é um representante direto do Self, um princípio divino na consciência coletiva e que deve ser renovado constantemente. Isso ocorre quando as qualidades positivas da consciência, como a continuidade, perdem o contato com a corrente irracional da vida e tendem a tornar-se mecânicas. Por essa razão pode-se dizer que esse símbolo tem necessidade de renovação constante, de compreensão e contato, pois, de outro modo, corre o perigo de se tornar uma fórmula morta — um sistema e uma doutrina esvaziados de seu significado e tornar-se uma fórmula puramente exterior (Von Franz, 2005).

Cronos e Urano eram pais devoradores e castradores. Tudo o que simbolizava nova vida era por eles removido. Cronos como filho não conseguiu se livrar dessa maldição familiar e perpetuou-a em sua atitude.

Zeus então representa uma renovação na ideia e concepção da paternidade. Ele quebra uma maldição e acaba sendo o representante de ideais espirituais mais elevados.

Após a batalha contra os Titãs, Zeus dividiu o mundo com seus irmãos mais velhos: Zeus ficou com o céu e o ar, Posseidon com as águas e Hades com o mundo dos mortos (o mundo inferior). A antiga Terra, Gaia, não podia ser dividida, e, portanto ficou para os três, de acordo com suas habilidades – o que explica porque Posseidon era o “sacudidor da terra” (o deus dos terremotos), e Hades ficava com os humanos que morreram.

É digno de nota que Zeus não dividiu nada com suas irmãs mulheres e ainda se apossa da Terra, Gaia, simbolizando o início do patriarcado com suas leis, normas e princípios espirituais. Tanto que Hera sua esposa, que antes era uma Grande Mãe não possuía o mesmo poder que o marido, sendo renegada a função de esposa.

Suas inúmeras conquistas amorosas mostram que Zeus era um deus da fertilidade, fruto de sua iniciação dentro do interior da Terra.

Além disso, ele é o deus dos fenômenos atmosféricos, o qual é responsável por derramar as chuvas, por isso que dele depende a fecundidade da terra. Essas uniões de Zeus refletem claramente a união de um deus dos fenômenos celestes, com divindades telúricas, da Terra. Simbolizando a união do racional com o irracional, caos e ordem, consciente e inconsciente.

Podemos afirmar então que Zeus é o arquétipo do chefe de família patriarcal. Representando a luz da consciência, enquanto deus do relâmpago, e do espírito e da inteligência racional. Ele simboliza a cólera celeste, a punição, o castigo caso a autoridade seja ultrajada. É a fonte de justiça, da lei e das normas.

Mas como todo arquétipo, esse também possui seu lado sombrio. O temor de que sua autocracia, sua dignidade e seus direitos não fossem devidamente acatados e respeitados tornaram Zeus extremamente sensível e sujeito a explosões coléricas, não raro calculadas (Brandão, 1986).

Portanto esse arquétipo simboliza também o sentimento de inferioridade intelectual e moral que pode transforma o individuo em um ser autoritário e hipócrita. Mas também simboliza nossas aspirações mais elevadas, nosso código de ética interno, nossa autoridade interna e nossa capacidade de criação de nova vida.

Referências:

BRANDÃO, J. S. – Mitologia Grega – vol I. Petrópolis: Vozes 1986.

SHAMAN-BURKE, J. & GREENE, L. – O Tarô Mitológico. 27 edição. São Paulo: Arx. 2003.

VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. Paulus. São Paulo: 2005.

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Apolo e a sombra da distância emocional

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Apolo nasceu em um dia sete. Sete é, pois, o número de Apolo. Filho de Leto e Zeus e irmão gêmeo de Artemis. Ao nascer ganhou de seu pai Zeus um arco e flecha de ouro e uma lira.

Conhecido pelos romanos também como Apolo ou Febo (brilhante, reluzente).

Apolo de Belvedere, autor desconhecido, com restaurações de Giovanni Montorsoli. Vaticano.

Apolo é um deus solar, mas Em suas origens, estava indubitavelmente ligado à simbologia lunar. Brandão (1986) cita que no primeiro canto da Ilíada Apolo era um deus vingativo:

“O Senhor Arqueiro, o toxóforo; o que porta um arco de prata, o argirótoxo. Violento e vingativo, o Apolo pós-homérico vai progressivamente reunindo elementos diversos, de origem nórdica, asiática, egéia e sobretudo helênica e, sob este último aspecto, conseguiu suplantar por completo a Hélio, o “Sol” propriamente dito.”

Pelo fato de possuir muitas influências se tornou um deus complexo, possuindo inúmeras funções. Apolo possui na Mitologia mais de duzentos atributos.

É um deus agrário protetor dos campos com seus rebanhos e pastores. Ele também é o deus da cura, sendo um médico infalível. Representa as expiações relativas aos homicídios, mostrando ser também é um purificador da alma. Incentivava e defendia pessoalmente aqueles cujos atos violentos estivessem de acordo com suas normas, como foi o caso de Orestes, que assassinou a própria mãe Clitemnestra.

Deus do oráculo de Delfos era um fiel interprete da vontade de Zeus. Senhor da poesia, da música e do canto, era o senhor das Musas.

Apolo e as Ninfas, de François Girardon (1666-73 a.C.).

Mas além de tudo era um deus da luz, vencedor das forças ctônicas (foi ele quem matou a serpente Piton e assumiu o oráculo de Delfos).

Apolo era belo e teve inúmeros amores, mas o Deus da beleza masculina costuma ser um fracasso nessa área. Seus amores geralmente terminam de trágica.

Isso porque Apolo em uma de suas lendas costumava zombar de Eros, pois julgava que o arco e a flecha eram atributos seus, e que certamente considerava que as flechas do filho de Afrodite não passavam de brincadeira. Acontece que Eros possuía na aljava a flecha que inspira amor e a que provoca aversão. Para se vingar do filho de Zeus, feriu-lhe o coração com a flecha do amor e a ninfa Dafne com a da repulsa e indiferença. Foi assim que, apesar da beleza de Apolo, a ninfa não lhe correspondeu aos desejos, mas, ao revés, fugiu para as montanhas. O deus a perseguiu e, quando viu que ia ser alcançada por ele, pediu a seu pai Peneu que a metamorfoseasse e ela se transformou em loureiro, a árvore predileta de Apolo.

Apolo y Dafne, de Bernini. (1622-1625).

Em seu templo em Delfos há inscritos seus dois mais famosos preceitos: “Conhece-te a ti mesmo” e “Nada em excesso”. A planta sagrada e os cisnes são a ele consagrados, como também o corvo, o urubu, a serpente e o lobo.

Apolo, juntamente com Hermes, são os filhos preferidos de Zeus, isso significa que os dois deuses se sentem a vontade nos domínios do pai, ou seja, Apolo é um Deus do patriarcado.

Como Deus do patriarcado ele favorece o logos, o pensar antes de sentir e reagir, a objetividade e a racionalidade. Ele é aquele que busca o equilibro entre os desejos no sentido de uma espiritualização deles em prol do desenvolvimento da consciência.

Como arqueiro, Apolo representa aquele que busca atingir um alvo, um centro interior. Como foi dito em Artemis acertar um alvo, ou atingir uma meta requer uma intuição e inteligência instintiva, que não vem da mente racional.

E é justamente por isso que Apolo necessita de Artemis uma deusa matriarcal. Os irmãos mostram que para se atingir um alvo e para iniciar o processo de individuação é necessário que feminino e masculino ajam juntos e que se busque esse equilíbrio entre as duas forças. Ela é a intuição lunar e ele a luz da consciência.

O tema do casal de irmãos é muito comum em mitos e em contos. Temos por exemplo o conto de fadas João e Maria onde os irmãos devem se unir para enfrentar um perigo e resolver uma situação difícil e nebulosa.

O casal de gêmeos geralmente configuram uma contradição não resolvida, um conflito entre os opostos feminino e masculino, mas dessa tensão é que surge a força criadora que soluciona o problema e traz a consciência.

Apolo é um defensor da lei e da ordem, mesmo na música vemos que ele busca o equilíbrio e que as emoções devem ser moderadas. Ele se opõe ao caos do matriarcado. De certa forma a lei e a ordem são importantes para que possamos colocar em ordem nossas emoções caóticas e vermos a situação com mais distancia e esse é o lado positivo desse arquétipo.

O lado sombrio disso se encontra nas características escuras do deus. Apesar de ser um deus puro, higienizador e defensor da moderação, ele apresenta rompantes de vingança que beiram a crueldade.

A sombra desse arquétipo se encontra na distância emocional, devido a falta Eros, de quem Apolo tanto zombou. E isso causa uma incapacidade de intimidade e arrogância em suas capacidades intelectuais. Apolo gera uma inflação no ego devido a sua ilusória perfeição, o que conseqüentemente leva a rejeição no campo do amor.

Apolo e Hércules disputando a trípode, pintura em vaso do Pintor de Taleides, c. 520 a.C.

Uma forma de amenizar isso se encontra em seu irmão sombrio Dioniso.

Dioniso representa o caos, o desmembramento e os instintos. É um deus com essência feminina, pois foi criado entre as mulheres. Dioniso é um deus da musica também, mas esse faz amor com a música enquanto Apolo busca a técnica e a perfeição.

Apolo deu espaço a Dioniso em Delfos, onde revezava com ele metade do ano. Isso mostra que esse arquétipo pode gerar um aumento de consciência devido a sua capacidade solar, mas deve sempre ser equilibrado pela luz da lua representado por Artemis ou pelos instintos, intensidade emocional e prazer simbolizados por Dioniso.

 

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Hera – A grande mãe

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Hera é a grande deusa da Mitologia Grega. A rainha dos deuses é irmã e esposa de Zeus. Em Roma é conhecida como Juno. Preside o casamento e a fidelidade conjugal.

O nome Hera significaria a Protetora, a Guardiã. É uma deusa solene, e comumente retratada com o pólos (uma coroa usada por várias deusas).

Sua ave favorita é o pavão por possuir muitos olhos como os quais podem vigiar o esposo. O lírio, símbolo da pureza e a romã, símbolo da fecundidade também lhe eram consagrados. A vaca também lhe está associada, sendo um símbolo da Grande Mãe, mas no caso de Hera, daquela que derrama o leite dos céus, da via-láctea.

Junto com Zeus, ela exerce uma ação poderosa sobre os fenômenos celestes. Hera pode desencadear tempestades e comandar os astros que adornam a abóbada celeste. O casal celeste controla o sol e a chuva que promovem a fecundação da terra.

Hera é uma deusa cretense, sendo uma transposição da grande Mãe. Como grande Mãe teve um culto especial na Lacônia, Arcádia e Beócia em seu aspecto de fecundidade. Mas posteriormente ela foi convertida em deusa do casamento.

Geralmente retratada como ciumenta, agressiva e vingativa. Vive se vingando das traições do marido, perseguindo as amantes e os filhos do adultério. Uma de suas vítimas foi Heracles (Hércules) a qual impôs os célebres 12 trabalhos.

Conforme Brandão (1986), Hera é a esposa rabugenta de Zeus. A deusa que nunca sorriu! Penetrando nos desígnios do marido, vive a fazer-lhe exigências e irrita-se profundamente quando não atendida com presteza. Para ela os fins sempre justificam os meios. Para atingi-los usa de todos os estratagemas a seu alcance: alia-se a outros deuses, bajula, ameaça, mente.

Mas apesar da mitologia grega enfatizar a humilhação e a índole vingativa de Hera, ela era por contraste grandemente honrada e venerada. A despeito da infidelidade de Zeus, a relação dos dois nunca foi muito normal. A raiva e a vingança pontuam sua relação em outros aspectos, mostrando que elas se originam de outro motivo.

Certa vez, como narra o mito de Narciso, Hera discutia com o marido para saber quem conseguia usufruir de maior prazer no amor, se o homem ou a mulher. Como não conseguissem chegar a uma conclusão, porque Zeus dizia ser a mulher a favorecida, enquanto Hera achava que era o homem, resolveram consultar Tirésias, que tivera sucessivamente a experiência dos dois sexos. Este respondeu que o prazer da mulher estava na proporção de dez para um relativamente ao do homem. Furiosa com a verdade, Hera prontamente o cegou (Brandão, 1986).

Dificilmente podemos citar uma história mítica onde Hera não tenha uma participação mais ou menos importante.

Podemos citar como seus principais mitos (Wikipédia, 2014):

  • Seu casamento com Zeus: e a sedução feita pelo deus sob a forma de um pássaro cuco;
  • O nascimento de Hefesto: que ela teria gerado sozinha e lançado do céu, porque ele era aleijado;
  • Sua perseguição aos consortes de Zeus: especialmente Leto, Semele e Alkmene;
  • Sua perseguição aos filhos bastardos de Zeus, como Herácles;
  • A punição de Ixion que foi acorrentado a uma roda de fogo por tentar violar a deusa;
  • A assistência aos Argonautas em sua busca pelo velo de ouro, sendo o líder Jasão um de seus heróis favoritos;
  • O julgamento de Paris, no qual ela concorreu com Afrodite e Atena, para o prêmio da maçã de ouro;
  • A Guerra de Tróia, em que ela favoreceu os gregos;

Hera é uma deusa obstinada e com uma disposição a brigas, que às vezes fazia seu próprio marido tremer. Tanto que um dos poucos filhos que ambos tiveram foi Ares, o deus da guerra. Simbolizando os conflitos conjugais do casal, mas também a discórdia e a rixa entre o patriarcado e o matriarcado que havia perdido a sua força.

Essa disposição para a briga já fez com que Zeus batesse várias vezes nela. Hera geralmente cede diante da raiva do marido, mas recorre à astúcia e intrigas para atingir seus objetivos. Hera é a deusa que apresenta qualidades e defeitos de forma mais marcante em todo panteão grego.

Ela se consolidou como deusa do casamento na época em que as regras, normas e leis do patriarcado entravam em vigência e nesse caso eles necessitavam de um representante da monogamia. O que é muito estranho para uma deusa representante da Grande Mãe ser eleita de forma a simbolizar uma lei, já que o matriarcado é justamente pontuado pela falta de regras e pela sensualidade e fecundidade.

Hera pode ser considerada uma deusa ferida, em sua feminilidade. Pois como uma poderosa deusa da fecundidade e que precedeu Zeus em veneração, ela assume um papel secundário que lhe foi dado a lado do marido com o advento do patriarcado. Zeus é o macho fecundador e ela apenas a sua consorte. Seus aspectos de fecundidade foram relegados suprimidos.

Como vimos na discussão da sexualidade masculina e feminina entre o casal celeste, Hera passou assumir um requisito patriarcal para organização da instituição familiar, a fidelidade. Enquanto que Zeus, inquestionavelmente pai e soberano dos deuses é uma expressão exuberante do fertilizador, que é a característica essencial da sensualidade matriarcal (Byington, xx).

Entretanto ela ainda carrega consigo traços matriarcais, como o famoso “olho por olho, dente por dente”. E enquanto feminino desprezado e humilhado ela então passa a perseguir e se vingar justamente das mulheres isentado seu esposo do adultério. É como se ela quisesse dizer: “Já que sou humilhada você também será!”. No plano pessoal vemos Hera em muitas mulheres que em nome da instituição do casamento suporta agressões e infidelidade. Anulando seus desejos em prol da imagem de esposa perfeita.

O arquétipo de Hera proporciona capacidade de estabelecer elo, de ser leal e fiel, de suportar e passar pelas dificuldades com companheiro (Bolen, xx). Em termos psicológicos ela simboliza um amadurecimento da psique onde homens e mulheres assumem um compromisso de lealdade com seus processos psíquicos e suportam as provações em nome de algo maior, que não se sabe explicar nem nomear. Esse compromisso pode ser projetado no outro, entretanto, é um compromisso consigo mesmo.

O casamento é uma forma de se chegar à totalidade e iniciar o processo de individuação e Hera representa a fidelidade ao inconsciente e ao próprio processo de individuação. Seu amor é um amor amadurecido, em oposição ao amor erótico e passional de Afrodite, e por isso Hera tinha nessa deusa sua maior rival.

Ela representa o amor onde a fase da paixão acaba e as projeções começam a serem retiradas e passamos a ver o cônjuge como ele é, sem os idealismos do animus ou da anima. E nesse momento, em que vemos o outro como ele é, podemos nos sentir traídos, pois aquele homem ou mulher com quem nos casamos não é mais o mesmo. Na verdade vemos a pessoa sem as máscaras e nossas ilusões caem trazendo uma carga de sofrimento. Mas é nessa hora que a personalidade pode dar um salto de desenvolvimento com a assimilação das qualidades que projetávamos em outro.

O arquétipo de Hera é poderosíssimo e extremamente realizador. É um símbolo da coniunctio, operação alquímica onde ocorre o casamento sagrado com nossa contraparte interior (animus ou anima). Entretanto é um dos mais destrutivos em seu aspecto negativo. Por essa razão, Hera era adorada e ao mesmo tempo desprezada.

Hera e Zeus formam um par de opostos em nossa psique, nossas necessidades de união e compromisso e nossas necessidades de transgressão as normas e fecundidade que gera um processo criativo. Ficar preso demais as regras e leis pode ser estagnador e nocivo, e ficar preso à pura sensualidade não traz desenvolvimento psíquico, nem amadurecimento. Por isso Hera e Zeus representam duas forças colossais com as quais a humanidade tenta se entender a séculos. E a busca do equilíbrio entre elas é algo que demanda muita energia e trabalho.

Quando o arquétipo de Hera é constelado, sabe-se que há uma busca de comprometimento da psique, uma união sagrada ocorrerá em breve, mas que trará também o estigma da traição e da transgressão que poderá gerar frutos se ambas forem compreendidas e reverenciadas.

 

 

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Ares e o arquétipo da força física

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Ares na mitologia grega era o deus da guerra, da ação imediata e da força física masculina. Único filho de Zeus e Hera foi rejeitado pelo pai, uma vez que este não se agradava dos modos agressivos do filho.

É um deus impulsivo, belicoso e extremamente emocional. Em Roma era chamado de Marte, sendo além de Deus da guerra, da agricultura. Todavia, como os romanos eram um povo belicoso, o deus Marte era tido em alta conta, enquanto que os gregos não o respeitavam nem o honravam (com exceção de Esparta).

Atena, sua irmã, também era uma deusa da guerra, entretanto, Atena era de guerra estratégica, enquanto Ares tende mais a violência da guerra, à força bruta e à sede de sangue.

Uma curiosidade em seu mito é que Hera, sua mãe escolheu Príapo para ser tutor de Ares. Príapo treinou o Deus para ser primeiro um perfeito dançarino para depois treiná-lo para ser guerreiro (Bolen, 2005).

Ares teve muitos filhos e consorte, mas seu caso mais conhecido foi com Afrodite. Com ela teve um caso extraconjugal (Afrodite era casada com Hefesto).

Impressionada pelo vigor do jovem guerreiro, Afrodite se entrega aos encantos de Ares. Hefesto, com a ajuda de Hélios (o deus Sol), descobriu o adultério e planejou sua vingança. Em segredo forjou uma rede muito fina, quase invisível, porém muito forte que não podia ser destruída, e pendurou-a sobre o leito.

Quando Ares e Afrodite adormeceram, Hefesto soltou a rede sobre ambos e chamou todos os deuses para testemunhar o adultério.

Os dois tiveram como filhos Deimos (pânico) e Phobos (medo). Tempos depois tiveram uma filha Harmonia (que foi posteriormente mulher de Cadmo, rei de Tebas) estabelecendo uma ligação equilibrada entre o amor e a paixão violenta.

Ares também participou da guerra de Tróia, estando ao lado dos troianos assim como Afrodite,Artemis e Apolo.

A imagem arquetípica de Ares corresponde à força física, representando os instintos guiados pela vontade que não medem consequências. Corresponde também àcompetição e às reações intensas e apaixonadas (lembrando que ele foi amante da deusa do amor).

Ele está presente todas as vezes que reagimos emocionalmente de forma brutal e intensa. Ele é emoção a flor da pele. Por várias vezes defendeu seus filhos e filhas e os vingou. Sendo, portanto, o arquétipo daquele que entra em uma luta pelos que lhe são caros.

Símbolo da raiva, da ira, da indignação, mas também da coragem para a luta necessária e para a sobrevivência. Ares simboliza o contato com os sentimentos fortes e com o corpo (vide que ele era um dançarino também), coisas rejeitadas pela razão vigente no patriarcado.

Por isso Zeus, símbolo máximo do patriarcado o desprezava. Para os gregos o pensamento e a racionalidade eram de suma importância e reações emocionais não eram vistas com bons olhos. Ainda hoje um homem que dança é visto de forma pejorativa, mas o interessante é que Ares contradiz essa imagem, pois se trata do Deus mais viril do Olimpo.

Mas as forças instintivas, que fazem com que corpo e emoção ajam juntos não devem ser desprezadas. Ares é o nosso lado espontâneo que gosta de se expressar de forma física.

A dança pode ser uma forma de lidar com essa força interior que age dentro de nós. Basta lembra que nas antigas culturas tribais os guerreiros dançavam antes de entrarem na luta. A dança então pode ser considerada uma forma sublimada da guerra.

Entretanto, como aponta Bolen (2005), o arquétipo de deus grego sedento por sangue evoluiu para o arquétipo de Marte romano. Nessa transição ele se tornou o protetor e defensor da comunidade. Se tornando aquele que luta pela segurança e pelos direitos dos outros. Ou seja, um grande líder.

 

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Poseidon – o arquétipo incoercível das fortes emoções

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Na mitologia grega, Posídon também conhecido como Possêidon, assumiu o estatuto de deus supremo do mar, assim como Netunoromano.

Possivelmente tem origem etrusca como Nethuns. Também era conhecido como o deus dos terremotos. Os símbolos associados a ele com mais freqüência são o tridente e o golfinho.

A origem de Posídon é cretense, como atesta seu papel no mito do Minotauro. Na civilização minóica era o deus supremo, senhor do raio, atributo de Zeus no panteão grego, daí o acordo da divisão de poderes entre eles, cabendo o mar ao antigo rei dos deuses minóicos.

Um dos filhos de Cronos e Reia, foi regurgitado pelo pai Cronos juntamente com seus irmãos Héstia, Deméter, Hera, Zeus e Hades.

Após Zeus destronar o pai Cronos, houve uma divisão dos reinos entre ele e os irmãos Hades e Posidon. Hades herdou o reino dos mortos, Zeus os céus e Posidon o fundo dos mares. Portanto Posidon tem caráter de rei. Ele reina em seu império líquido, à maneira de um “Zeus marinho”, tendo por cetro e por arma o tridente, que os poetas dizem ser tão terrível quanto o raio.

Tinha como representantes o cavalo e o touro, simbolizando instintos, a sexualidade e a fertilidade, uma vez que todas as investidas sexuais dele geraram filhos. Mas, enquanto os filhos de Zeus eram heróis benfeitores da humanidade, os filhos de Posídon, em sua maioria, eram gigantes terríveis e violentos.

Ele teve vários amores e foi casado com Anfitrite, com quem teve o gigante Tritão, a qual assim como Zeus, a traia constantemente. Entretanto, enquanto Zeus se disfarçava para seduzir suas conquistas, Posidon usava de força e estuprava as deusas e mortais com quem se relacionou.

Posídon representa o arquétipo da vingança e do ressentimento (vide sua perseguição de dez anos contra Odisseu). Ele é implacável quando contrariado, onde ele mostra sua face destrutiva e regressiva.

Deus dos mares, dos navegantes e dos maremotos. Pode ser considerado o representante do inconsciente, vasto, misterioso e imprevisível.

Para compreender melhor o caráter do Deus, basta atentar para o mar, seu símbolo. O mar pode simplesmente de uma hora para outra passar de um momento calmo, de tranqüilidade para um momento turbulento como fortes ondas. Basta observar quando ocorrem Tsunamis, que são ondas gigantes causadas por abalos sísmicos submarinos. Elas são imprevisíveis e ocorrem de uma hora para outra.

Posidon é também o arquétipo das fortes emoções, possuindo a capacidade de penetrar no reino do inconsciente onde se localizam os nossos afetos mais profundos e aterrorizantes.

A lenda do Minotauro ilustra bem isso. Após assumir o trono de Creta, Minos passou a combater seus irmãos pelo direito de governar a ilha. Rogou então a Posidonpedindo que lhe enviasse um touro branco como a neve, como um sinal de aprovação ao seu reinado. Uma vez com o touro, Minos deveria sacrificá-lo em homenagem ao deus, porém decidiu mantê-lo devido a sua imensa beleza. Como forma de punir Minos, a deusa Afrodite fez com que Pasífae, mulher de Minos, se apaixonasse perdidamente pelo touro vindo do mar o Touro Cretense. Pasífae pediu então ao artesão Dédalo que lhe construísse uma vaca de madeira na qual ela pudesse se esconder no interior, de modo à copular com o touro branco. O filho deste cruzamento foi o monstruoso Minotauro.

Parsífae cuidou dele durante sua infância, porém eventualmente ele cresceu e se tornou feroz; sendo fruto de uma união não-natural, entre homem e animal selvagem, ele não tinha qualquer fonte natural de alimento, e precisava devorar homens para sobreviver. Minos, após aconselhar-se com o oráculo em Delfos, pediu a Dédalo que lhe construísse um gigantesco labirinto para abrigar a criatura, localizado próximo ao palácio do próprio Minos, em Cnossos. O Monitauro foi posteriormente morto pelo herói Teseu.

Mais uma vez aqui vemos o caráter vingativo e rancoroso do Deus. Entretanto, o que chama a atenção é que Possêidonrepresenta, por meio do touro e do Minotauroainstintividade mais crua e mais escondida no ser humano. Aquela que não ousamos nomear, nem falar e que escondemos em nossos labirintos.

No Tarot Mitológico, de Liz Greene e Juliet Shaman-Burke, a lâmina A Torre, é representada pelo labirinto do Minotauro e um Posseidon irado destruindo-a. Sobre ela vale a pena destacar o seguinte comentário.

“A Torre partida pelo deus retrata a destruição de antigos padrões. Ela é a única estrutura construída pelo homem presente nos Arcanos Maiores, e exatamente por isso representa as estruturas tanto internas como externas que construímos para servirem de defesa contra a vida e como esconderijo para os aspectos negativos e menos agradáveis de nossa personalidade.

De um modo geral, a Torre é a imagem das fachadas socialmente aceitáveis que adaptamos para esconder nossa fera interior. Ela é a estrutura dos falsos valores ou daqueles já superados, daquela postura diante da vida que não se origina do ser como um todo, mas que vestimos como a roupa de um determinado personagem de uma peça, apenas para impressionar a platéia. A Torre também representa as estruturas que construímos no mundo externo para completar o nosso eu incompleto.”

Ao longo de nossa vida construímos fachadas socialmente aceitas e acabamos por reprimir nossas emoções mais fortes e instintos animalescos. Mas essas emoções e instintos contidos no inconsciente ganham força e podem explodir e se voltar contra nós.

Quando esse arquétipo é ativado em nossa psique, pode trazer a tona afetos reprimidos inundando a consciência e tomando o ego. As emoções, representadas pelo mar de Posseidon podem ser destrutivas, mas também podem trazer a tona sentimentos profundos reprimidos para que possam ser trabalhados à luz da consciência, expandindo nossa visão sobre nós mesmos e nos tornando mais humildes e humanos.

Portanto no reino de Posidon não há somente ódio e fúria, mas existe também, assim como o fundo dos oceanos, uma beleza insondável e uma riqueza desconhecida.

Os símbolos a eles associados: o Tridente, o Cavalo e o Touro mostram sua sexualidade desenfreada e também sua fertilidade. O Tridente é um símbolo fálico triplo que conforme Bolen (xxx) indicava a sua função como par da deusa tripla.

Portanto, Posidon precisa fecundar. Ainda segundo Bolen (xxx), Posidon é o marido da terra, sendo a umidade propicia à vida, necessária para que a terra seja fértil.

Mas também se pode observar em Posidon um caráter regressivo ainda preso a mãe. Falta-lhe a objetividade masculina, presentes em outros deuses como Zeus, Hermes e Apolo, para lhe trazer o equilíbrio.

Essa sexualidade indiscriminada é mais comum em homens, mas encontramos algumas mulheres sem nenhum controle de seus apetites. E enquanto a sexualidade está indiscriminada a nova vida gerada se apresentará de forma monstruosa.

Um dos caminhos para a discriminação desse aspecto sexual e fecundador de Posidon está no mito de Medusa. Posidon estuprou Medusa, no santuário de Atena. Esta puniu a jovem transformando-a em uma Gorgona, cujo olhar petrificava quem ousasse encará-la. Medusa viveu em uma caverna até ser decapitada por Perseu. Após sua morte, dela saiu o cavalo alado Pegasus.

O mito mostra que a libido indiscriminada pode se transformar. O Pégasus é diferente do cavalo comum, ele é símbolo da inteligência, espiritualidade e capacidade criativa. Além disso, Medusa era uma mortal que foi fecundada por Posidon e dele herdou suas características vingativas e rancorosas.

Portanto, nossos aspectos monstruosos como a vingança, o rancor, o ódioe as emoções descontroladas que por vezes irrompem do inconsciente mais profundo, devem morrer. E devem morrer pelas mãos da lógica e da objetividade, representadas pela espada de Perseu. Não de forma a reprimi-las, mas de forma a passar por um sacrifício. O sacrifício de nossos aspectos infantis e regressivos, aquele nosso lado que não aceita ser contrariado. Somente assim o instinto de Posidon, pode se colocar a serviço da inteligência e da criatividade mais elevada.

 

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Artemis – a deusa dos instintos

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Artemis ou Artemisia é uma deusa da lua, da caça e da vida selvagem. É filha de Zeus e Leto e irmã gêmea de Apolo. Em Roma recebeu o nome de Diana.

A lenda conta que Leto grávida de Zeus procurou um local tranqüilo para poder dar a luz aos bebês. Devido às ira de Hera, nenhum local a acolheu, pois temiam a retaliação da mulher de Zeus. Foi então que a estéril e flutuante Ilha de Ortígia, que não pertencia à Terra e, portanto, não tendo o que temer da parte de Hera, abrigou a amante de Zeus. Leto, contorcendo-se em dores, esperou nove dias e nove noites pelo nascimento dos gêmeos, pois Hera segurou a deusa dos partos com ela. Leto deu à luz primeiramente a Ártemis e depois, com a ajuda desta, a Apolo. Vendo os sofrimentos por que passara sua mãe, Ártemis jurou jamais casar-se e manteve-se sempre virgem.

Artemis ganhou de seu pai Zeus, um arco e flechas de prata, além de uma lira do mesmo material (seu irmão Apolo ganhou os mesmos presentes, só que de ouro).

Ela tornou-se rainha dos bosques e possuía uma corte de Ninfas, as quais fizeram um juramento de total desapego á figuras masculinas. É representada com túnica curta, pregueada, à maneira das jovens espartanas.

Artemis é uma deusa virgem assim como Héstia e Atena. Mas é indomável, vingativa e feroz. Além disso, seu aspecto virginal não a impedia de velar também sobre a fecundidade feminina.

O caçador Actéon foi uma de suas vítimas. O jovem caçador em uma noite de estio, nas encostas do monte Citéron e, tendo seguido a Deusa, surpreendeu-a banhando-se nas águas frescas de uma fonte. A deusa atirou-lhe um punhado de água no rosto e Actéon foi metamorfoseado em veado e despedaçado pelos próprios cães, que não o reconheceram (Brandão, xxx).

Ártemis não vivia no Olimpo, seu habitat eram campos e florestas, em meio aos animais que neles habitam. Era protetora das Amazonas, também guerreiras e caçadoras, e independentes do jugo do homem. Era a única juntamente com Dioniso, que sempre foi acompanhada por um cortejo alvoroçado e buliçoso. Seus animais prediletos eram a corça, o javali, o urso e o cão e, entre as plantas preferidas, estavam o loureiro, o mirto, o cedro e a oliveira.

Brandão (xxx), afirma que houve, na realidade, duas Ártemis: uma asiática, cruel, bárbara, sanguinária, bem dentro dos padrões da mentalidade religiosa de uma Grande Mãe oriental; outra européia, cretense, ocidental, voltada, como se há de ver em seguida, para a fertilidade do solo e da fecundidade humana.

Para compreender Artemis enquanto imagem arquetípica é necessário compreender a lua, satélite a ela associado. A Lua está associada ao feminino, regendo o ciclo menstrual da mulher, as marés e a fertilização dos animais e das plantas. Inconstante e mutável, ela é fonte de umidade e de brilho à noite. Sua luz é doce, difusa e terna. Por isso sua associação a mulher.

A cada fase da Lua, os gregos associaram uma deusa. Selene correspondia mais ou menos à Lua Cheia; Ártemis, ao Quarto Crescente; e Hécate ao Quarto Minguante e à Lua Nova, ou seja, à Lua Negra (que também pode ser representada Perséfone).

A Lua revela o principio feminino da vida em três fases. A fase donzela,mãe e anciã. E Artemis revela justamente a faseda donzela, da virgem. Ela é, portanto uma deusa ligada aos processos matriarcais. Tanto que em seu mito ela sempre defende sua mãe, mostrando que simboliza um aspecto do Matriarcado.

Por ser seu habitat as florestas, podemos supor que Artemis rege o inconsciente, as regiões obscuras da mente, nossos aspectos instintivos e primitivos e regiões ainda inexploradas da psique, uma vez que tudo isso simboliza a floresta.

Como Deusa virgem estava imune a relacionamentos, mostrando um aspecto de inteireza, completude, unicidade e integridade. Com o advento do patriarcado, a mulher passou a se sentir na obrigação de se casar, de ter um relacionamento, obrigação esta que não era imposta ao homem. As Deusas virgens nos mostram que a mulher pode escolher não se casar e mesmo assim se sentir autoconfiante e inteira.

Outro símbolo importante a ser falado é o do arco e flecha. O arco e flecha é considerado uma invenção extremamente inteligente, fruto da intuição, que veio para trazer melhorias e mais segurança na hora da caça. Para utilizá-lo é necessário não apenas ter uma boa pontaria, mas um estado psicológico adequado. Estar irritado antes de uma caçada era sinônimo de errar o alvo. E a Deusa nunca errava um alvo.

Portanto, Artemis simboliza a busca de um centro interior, onde há equilíbrio. Acertar um alvo, ou atingir uma meta requer uma intuição e inteligência instintiva, que não vem da mente racional.

Artemis então nos ensina que durante o processo de individuação, onde a meta é estar consciente e em constante relação com o Self, nosso centro interior, é necessário muita paciência. Não adianta tentar acelerar a conscientização de aspectos obscuros. Isso demanda tempo e espera.

Enquanto irmã gêmea de Apolo podemos fazer algumas abstrações. Na Mitologia Sol e Lua são geralmente retratados com irmãos, ou amantes. A Lua não possui luz própria e reflete a luz do Sol. A Lua símbolo do inconsciente e o Sol símbolo da consciência representam um par de opostos. Representam também os aspectos progressivos e regressivos da psique.

Sobre a questão dos gêmeos Brandão (xxx) nos diz:

“Adorados, mas igualmente temidos, os gêmeos estão sempre carregados de um valor intenso: na África ocidental são mágicos, mas entre os bantus eram sacrificados. Em todas as tradições, os gêmeos, deuses ou heróis, lutam entre si, altercam, mas se auxiliam, denunciando, dessa maneira, a ambivalência de sua situação, símbolo da própria situação de cada ser humano dividido em si mesmo, ou seja, a tensão interna de um estado permanente. O medo e a angústia do primitivo diante do aparecimento de gêmeos configuram o temor da visão exterior de sua ambivalência, o receio da objetivação das analogias e das diferenças, a apreensão de uma tomada de consciência individuante, o medo da ruptura da indiferenciação coletiva. No fundo, os gêmeos configuram uma contradição não resolvida.”

Essa contradição representa a nossa luta pela individuação, nossas oposições interiores exteriores. Nossos conflitos com as demandas externas e internas: se devemos atender o coletivo ou atender nossas demandas internas, se devemos seguir os instintos e liberá-los ou usar de moderação e autocontrole.

Mas essa tensão entre opostos é justamente a força criadora da consciência. Esses opostos são gêmeos, ou seja, contém algo do outro em si.

Portanto devemos suportar essa tensão representada pelos gêmeos Artemis e Apolo para que a função criadora, a função transcendente apareça e nos traga a consciência necessária para ampliar nossos horizontes e para que então possa ocorrer a coniunctio, a conjunção dos opostos.

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Eros e o desejo incoercível dos sentidos

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Eros significa desejo incoercível dos sentidos. É o Deus do Amor, o mais belo entre os deuses. É um Deus de natureza mutável, que tira os sentidos e o juízo tanto dos mortais quanto dos imortais.

É uma força agregadora, poderosa e assustadora.

Na antiga Teogonia de Hesíodo, o nascimento do Universo é descrito da seguinte forma: No princípio era o Caos (vazio primordial, vale profundo, espaço incomensurável), matéria eterna, informe, rudimentar, mas dotada de energia prolífica; depois veio Géia (Terra), Tártaro(habitação profunda) e Eros (Amor), a força do desejo. O Caos deu origem a Érebo (escuridão profunda) e a Nix (Noite). Nix gerou Éter e Hemera (Dia). De Géia nasceram Urano (Céu),Montes e Pontos (Mar) (BRANDÃO, 1986).

Nessa descrição da formação do Universo podemos observar que Eros é uma força primordial, ainda da era Matriarcal. É uma força fundamental do mundo. Com o advento do patriarcado Eros, como potencia sexual desenfreada se submeteu ao Logos, a ordem, a lei e a razão.

Platão, em O Banquete, descreve Eros como um demônio. Com isso ele quer dizer, que Eros é um intermediário entre os deuses e os homens e, como o deus do Amor está a meia distância entre as pessoas. Ele preenche o vazio, tornando-se, assim, o elo que une o Todo a si mesmo.

Eros é a energia do Amor, é uma força propulsora que move o mundo, mas que nunca se satisfaz. Sempre inquieto busca a satisfação de sua carência na plenitude.

Mas a origem de Eros foi se alterando conforme relata Brandão (1986).

“Umas afirmam ser o deus do Amor filho de Hermes e Ártemis ctônia ou de Hermes e Afrodite urânia, a Afrodite dos amores etéreos; outras dão-lhe como pais Ares e Afrodite, enquanto filha de Zeus e Dione e, nesse caso, Eros se chamaria Ânteros, quer dizer, o Amor Contrário ou Recíproco. As duas genealogias, porém, que mais se impuseram, fazem de Eros ora filho de Afrodite Pandêmia, isto é, da Afrodite vulgar, da Afrodite dos desejos incontroláveis, e de Hermes, ora filho de Ártemis, enquanto filha de Zeus e Perséfone, e de Hermes. Este último Eros, que era alado, foi o preferido dos poetas e escultores.”

Eros geralmente é retratado como um menino loiro, alado que nunca cresce. Essa persona inocente e travessa mostra que o amor é incompatível com a razão, por isso ele é considerado um Deus perigoso para nossa cultura centrada no Logos. Uma vez que o amor faz com que percamos o controle e forças desconhecidas passem a agir em nossa psique. E a última coisa que o ego quer é perder o controle.

Além disso, o fato de Eros ser criança mostra que o amor é irresponsável, que se diverte com os seres. Mas Eros é visto dessa forma somente em culturas com um ego centrado no Logos, pois tudo o que é desconhecido, intangível e incontrolável, lhe causa angustia. A razão precisa de explicações sempre e o amor não se explica.

O mito Eros e Psique narra uma das formas onde o amor pode amadurecer. O mito narra a estória de Psique (a Alma) e de sua saga para reaver o Amor (Eros), seu marido.

No começo Eros era infantilizado, Psique não podia ver seu rosto. Ou seja, o amor tinha que ser cego. Mas quando Psique empreende uma jornada iniciática em busca desse amor ela amadurece e conseqüentemente, Eros também, se libertando do aspecto infantilizado do amor e transcendendo a mera paixão sexual.

O interessante nesse mito é que o Amor amadurecido somente vem a nós quando o perdemos. Perder um grande amor faz com que nos voltemos para nosso interior em busca de compreensão. A dor e o sofrimento pela perda do amor são grandes impulsionadores do processo de individuação.

Pois o perder-se alguém no amor é uma espécie de morte, a morte de uma existência puramente centrada no ego. Assinala uma fase nova na nossa evolução para um centro transcendente (NICHOLS, 2007).

Eros subverte velhos padrões de lei e ordem. Mentes muito focadas na razão são pegas de surpresa por ele. Pois somente o amor consegue abrir caminho para a chegada de uma nova vida.

Ele une opostos e ativa a libido que impele a ação. Os apaixonados estão propensos a um ato heróico, uma ação na busca da completude encontrada no encontro com o outro.

O ego sempre busca a divisão, a separação. Dividimos-nos em classes sociais, sexo, cor, idade, profissão, etc. O Amor busca a união dos diferentes, busca um centro unificador não mais com a inconsciência do Caos primitivo de onde ele provém, mas uma união com consciência.

Ao nos entregarmos ao Amor, encontramos nossa parte reprimida e inconsciente no outro.

 

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Héstia e o fogo sagrado da purificação

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Héstia, para os gregos, Vesta para os romanos, é uma deusa que simboliza os laços familiares, o fogo da lareira e a cidade. De acordo com a mitologia, é filha de Cronos e Reia, sendo uma das doze divindades olímpicas, e irmã mais velha de Demeter, Hera, Zeus, Poseidon, Hades.

Héstia era uma deusa casta. Rejeitou todas as investidas amorosas para se manter virgem, especialmente do belo Apolo e de Poseidon.Jurou virgindade perante seu irmão Zeus, e dele recebeu a honra de ser venerada em todos os lares e de ser incluída em todos os sacrifícios e permanecer em paz, em seu palácio, cercada do respeito de deuses e mortais.

Era representada como uma mulher jovem, com uma larga túnica e um véu sobre a cabeça e sobre os ombros. Havia imagens nas suas principais cidades, mas sua figura severa e simples não ofereceu muito material para os artistas. Sendo a mais velha entre os irmãos, Héstia era a mais sábia e a mais honrada e, além disso, evitava completamente o poder.

Uma Deusa com um temperamento introvertido, cujo enfoque era a interioridade e a espiritualidade. Estava mais para um conceito abstrato, o conceito do fogo, da lareira, do que para uma personificação como os outros deuses. Bastava o fogo para representá-la. Isso explica o fato de ela não ser tomada como uma divindade pessoal.

Conforme Junito Brandão (1986), Héstia é a personificação da lareira colocada no centro do altar; depois, sucessivamente, da lareira localizada no meio da habitação, da lareira da cidade, da lareira da Grécia; da lareira como fogo central da terra; enfim, da lareira do universo. É, portanto, a lareira em sentido estritamente religioso.

Personificação da moradia estável, onde as pessoas se reuniam para orar e oferecer sacrifícios aos deuses. Sendo, adorada como protetora das cidades, das famílias e das colônias.

Héstia simbolizava o lar e o centro sagrado onde se encontra nossa interioridade. Esse significado de interior e centralização faz alusão ao Self. Sendo que o processo de individuação é uma constante busca de relacionamento com esse centro chamado Self, ousi-mesmo. Podendo ter como alegoria a volta para casa, para o lar, para a intimidade mais profunda.

Outro aspecto interessante, é que os antigos costumavam se reunir ao redor do fogo da lareira para contar histórias. Esse círculo remete a umamandala. E reunir-se ao redor de um centro contando “causos” nada mais é que um acesso ao inconsciente coletivo.

Enquanto arquétipo, então, pode-se afirmar que Héstia representa a atenção para o centro espiritual da personalidade.Um arquétipo de centralização interior.

Portanto, pode-se afirmar que a interiorização é extremamentenecessária para a busca do si mesmo. Uma vez que o processo de individuação é bastante solitário. Não dá para individuarmos em meio a uma multidão, ou em um barzinho.

Portanto, Héstia vem nos mostrar, por meio do seu mito, que momentos de solitude são essenciais para esse desenvolvimento. Apesar de não ser uma deusa aventureira como Artemis e Atena, Héstia compartilha com essas duas deusas o título de virgem. Ou seja, ela não era vitimada pelas divindades masculinas ou pelos mortais. Isso lhe confere um caráter de inteireza, unicidade e integridade. Outra referência à totalidade. Estar inteiro em si mesmo, é a meta da individuação.

Outra característica importante dessa deusa é a sua ligação com o fogo. Na antiga Roma, as Vestais (sacerdotisas da deusa Vesta, a Héstia romana), deveriam permanecer virgens durante todo o sacerdócio, que durava cerca de 30 anos. E durante o sacerdócio a principal atividade desenvolvida por elas, era a de manter o fogo sagradoaedesvestae, localizado ao lado da Casa das vestais e ao sudoeste do Fórum Romano, sempre aceso.

O fogo é o representante das paixões, das fortes emoções que queimam a pele, do desejo, da libido. O fogo queima, reduz às cinzas. Também é um elemento que opera no centro das coisas, pois écentrado em si mesmo. Além disso, ele está em constante evolução, pois não consegue ficar “parado”.

O elemento fogo é um dos mais frágeis dentre os quatro elementos. Basta observá-lo e perceber que tanto a água, quanto o ar e a terra podem eliminá-lo. É o único elemento que pode ser extinto. Portanto, vemos um paradoxo no fogo, além de ser extremamente destrutivo ele possui em si a fragilidade.

Na Alquimia, o fogo estava ligado àoperação conhecida como Calcinatio. Cujo processo químico consiste no intenso aquecimento de um sólido a fim de retirar dele toda a sua água.

Retirar toda a água significa evaporar as emoções que não servem mais. É uma renovação das emoções, pois a água parada cria limo, atrai insetos e perde, portanto a sua pureza, contaminando a psique com o veneno da emoção não trabalhada. Mas como um elemento que simboliza emoções fortes, destrutividade, libido e até sexualidade pode estar relacionado a uma deusa comedida, virgem e pura?

Parece incoerente, mas não é. Edinger(1995) diz que o processo da Calcinatio vem da frustração dos desejos famintos e instintivos. Somente a provação do desejo frustrado pode levar ao desenvolvimento da personalidade.

Portanto, suportar a frustração do desejo (representado em Héstia pelo desejo sexual) leva a interiorização e ao centro de si mesmo. A queima dos afetos pelo fogo leva a uma desidentificação com eles.

A pureza de Héstia nos lembra que o fogo destrói tudo o que é impuro, sendo então,o arquétipo de purificação. A purificação pela compreensão, levando a conscientização dos instintos até então inconscientes, os levando então a sua forma mais espiritual, pela luz da verdade e da consciência.

Héstia, portanto, simboliza o significado da personalidade, conferindo um ponto de referência interior que permite ao indivíduo permanecer firme em meio da confusão, desordem e afobação do dia-a-dia. Com Héstia entramos em contato com a luz e o calor interior nos sentindo aquecidos pelo fogo espiritual do si-mesmo.

 

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Hermes: o guia das almas

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O Deus Hermes é um deus extremamente popular na Mitologia Grega. É uma divindade muito antiga, já sendo cultuado na história pré-Grécia antiga.

Cheio de atributos, é um deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da divinação, das estradas e viagens, entre outros atributos.

Filho do deus Zeus e da deusa Maia, nasceu em um dia quatro (número que lhe era consagrado), em uma caverna do monte Cilene, ao sul da Arcádia. O menino revelou-se de uma precocidade extraordinária, apesar de enfaixado e colocado no vão de um salgueiro, árvore sagrada, símbolo da fecundidade e da imortalidade, o que traduz, de inicio, um rito iniciático.

No mesmo dia em que veio à luz, desligou-se de suas faixas, dando uma demonstração clara de seu poder de ligar e desligar, e viajou até a Tessália. Lá furtou uma parte do rebanho de Admeto, guardado por Apolo.

Efetuou o furto amarrando ramos na cauda dos componentes do rebanho, para que, enquanto andassem, fossem apagando os próprios rastros. Chegando a uma gruta sacrificou duas novilhas aos deuses, dividindo-as em doze porções, embora os deuses olímpicos fossem apenas onze. Nesse instante Hermes acabava de promover-se a décimo segundo e a mensageiro dos deuses.

Após esse episódio, encontrou uma tartaruga no caminho, retirou-lhe a carapaça e, com as tripas das novilhas sacrificadas, fabricou a lira. Mostrando toda sua inteligência.

Hermes e Argos – Negri Petri 1635-40.

Apolo, irmão de Hermes, descobriu o roubo e o acusou formalmente perante Maia, que negou que pudesse o menino, nascido há poucos dias, ter praticado semelhante delito. Apolo apelou para Zeus, que interrogou ao filho, persistindo este na negativa. Zeus, convencido da mentira do filho, obrigou-o a prometer que nunca mais mentiria. Zeus, contudo, acrescentou que Hermes não estaria obrigado a dizer a verdade por inteiro.

Como Apolo encantado com o som que Hermes arrancava da lira, trocou seu rebanho roubado pelo instrumento.

Em outra ocasião, Hermes criou a “flauta de Pã”. Tendo Apolo gostado da flauta, propôs-lhe uma troca: ofereceu em troca o “cajado de ouro” (Caduceu), que usava para guardar o gado. Hermes aceitou, pedindo, além do cajado de ouro, lições de adivinhação.

Apolo assentiu. Desse modo, o caduceu de ouro passou a figurar entre os atributos principais de Hermes, que, de resto, ainda aperfeiçoou a arte divinatória, auxiliando a leitura do futuro por meio de pequenos seixos.

A Mitologia descreve Hermes como uma divindade complexa, com muitos atributos e funções.

Suas principais qualidades são a flexibilidade, inconstância, imparcialidade, ausência de fixação, e também a sedução, a mentira, a adivinhação e astúcia. Mas principalmente a inteligência.

Hermes é o deus da inteligência no sentido mais amplo do termo.

Devido ao roubo do rebanho, Hermes se tornou um deus agrário, protetor dos pastores nômades e dos rebanhos.

Pela astúcia utilizada ao furtar o rebanho de Apolo, pode-se observar no deus qualidades de “Trickster”.

Conforme Carl Jung (2002) o Trickster possui uma tendência às travessuras astutas, em parte divertidas, em parte malignas, mutabilidade, dupla natureza animal-divina, vulnerabilidade a todo tipo de tortura e uma proximidade a figura de um salvador.

Hermes, então, enquanto Trickster representa o símbolo de tudo que remeta a astúcia, ardil e trapaça; sendo considerado amigo e protetor dos comerciantes e dos ladrões.

Além disso, é considerado o “menos olímpico dos imortais”, pois sempre gostou de se misturar com os homens. Zeus disse-lhe certa vez; -“Hermes, tua mais agradável tarefa é ser o companheiro do homem; ouves quem estimas”, ampliando-lhe, assim, as funções e tornando-o companheiro do homem e dispensador de bens.

É também regente das estradas, pois se locomove com incrível velocidade, devido às sandálias aladas que usa.

Hermes não se perdia na noite devido ao seu domínio sobre as trevas, o que o torna um deus lunar.

Conhecedor dos caminhos, sem ponto fixo e sem morada definida, Hermes é o mensageiro dos deuses entre eles, e mensageiro entre deuses e homens. É aquele que transmite toda ciência secreta.

Hermes possui parentescos como o romano Mercúrio, o africano Exu, o egípcio Thot e o hindu Ganesha. Ambos representantes do mensageiro e deuses de grande inteligência e astucia.

No âmbito da psicologia analítica, Hermes pode ser considerado o arquétipo do psicopompo.

Psicopompo é uma palavra que tem origem no grego psychopompós, junção de psyché (alma) e pompós (guia) e designa um ente cuja função é guiar ou conduzir a percepção de um ser humano entre dois ou mais eventos significantes. Este guia interior pode ser de natureza humana, (na mitologia grega como Ariadne), animal (coelho de Alice no País das Maravilhas) ou espiritual (como no caso de Hermes).

Hermes por diversas vezes conduziu as almas dos mortos a Hades, e também as trouxe à luz, quando solicitado. Um exemplo disto é quando Hermes conduz Perséfone do mundo de Hades novamente para a sua mãe Demeter.

Portanto, a capacidade desse Deus de lidar com os três níveis – o inferior, o terreno e o superior, o torna capaz de trazer mensagens do inconsciente para a consciência, possibilitando que os conteúdos reprimidos (sombra) e o nosso lado não digno sejam elaborados e resignificados. Sendo então, um aquele que possibilita a revelação de um símbolo ou sentido de orientação, necessário para a continuidade da trajetória individual de quem o encontra.

Quando o indivíduo se encontra em um estado de identificação unilateral com o ego e a vida consciente, podemos ser surpreendidos por eventos que desestruturam nosso equilíbrio emocional. Nessas ocasiões Hermes se fará presente, fazendo traquinagens a fim de restabelecer a integridade psíquica, e promovendo a enantiodromia, levando o indivíduo a lidar com o seu inconsciente por meio de neuroses, somatizações e outras dificuldades psíquicas.

Hermes é também a inspiração criativa. É aquele que guia a idéia certa, a palavra certa no momento certo.

Sua presença se constela muitas vezes no processo psicoterapêutico conduzindo o individuo em sua transmutação e em seu processo de individuação.

Portanto, a presença deste arquétipo é de grande importância para o processo de individuação, uma vez que o individuo deve aprender a negociar (assim como Hermes negociou com Apolo) com as demandas do inconsciente e do mundo externo.

Além disso, esse arquétipo vem nos lembrar que ato de se tornar consciente, deve passar pelo nosso lado menos bonito, menos digno, aquilo que não agrada o coletivo e que constantemente desprezamos, mas que é extremamente necessário para entrarmos em contato com outros lados de nossa personalidade. Pois somente aquilo que evitamos é que pode nos curar!

Hermes tem o poder de lutar contra as forças sombrias, porque as conhece. Ele conhece o lado bom e ruim. Sabe distinguir opostos e lidar com eles. Ele possui a flexibilidade de se deslocar entre os opostos e não se identificar fortemente com nenhum dos lados.

Não sendo apenas um deus olímpico, mas igualmente ou, sobretudo um “companheiro do homem”, pode fornecer o conhecimento a todo aquele que o buscar tornando-se invulnerável a toda e qualquer obscuridade. Aquele que é iniciado pelo luminoso Hermes é capaz de resistir a todas as atrações das trevas, porque se tornou igualmente um “perito”.

 

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